Tem-se falado muito do rapaz que grita com sotaque do norte sobre trabalhar 126 horas por dia. Parece que foi chamado ao dever cívico pelo mais energúmeno dos nossos governantes o que, de facto, não espanta ninguém. Estão bem um para o outro, são ambos enormes armazéns dessa matéria tão fértil que com os anglófonos aprendemos a chamar de trampa de boi.
Mas toda a gente tem o direito de defender as suas ideias. O Relvas tem o direito de cantar a Grândola, embora conviesse aprender a letra e o rapaz que usa sapatilhas e já esteve razoavelmente perto do Zuckerberg, tem o direito de dizer que temos que trabalhar muito, muitas horas, fazendo a mesma coisa 200 vezes até sair perfeito.
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Eu, que já apalpei o rabo í Nina Hartley (mesmo), acho que tenho o direito de defender o meu ponto de vista que é exactamente o oposto. Trabalhar é uma merda. Trabalhar é cansativo e aborrecido. Fazer a mesma coisa 200 vezes até sair bem é imbecil e sinal de falta de organização e de conhecimento da área em que se está a trabalhar.
Nós devemos é maravilhar-nos. Devemos ou trabalhar o mínimo indispensável para ficarmos com rendimento e tempo livre para irmos viver o resto da nossa vida ou arranjarmos um trabalho que nos dê prazer fazer e se confunda ou complemente com naturalidade essa vida.
Devemos ir para o trabalho para fazer coisas para nós e para as pessoas para quem trabalhamos, sejam clientes ou colegas ou mesmo para o patrão. E não para fazer horas, para queimar tempo, para podermos dizer que estivemos 22 horas no escritório todos os dias desta semana.
E o que produzimos? Não interessa? Não só interessa… é o que interessa.
Mas não me espanta que o Governo tenha ido buscar o macaquinho cujo sotaque parece fazer parte da actuação: este é o Governo que acha que é eliminando feriados e dias de férias que se produz mais, num país onde as pessoas passam mais horas no trabalho do que no resto da Europa e no entanto produzem menos do que a média.
Ou fazemos algo de que nos orgulhamos e nos dá prazer ou fazemos algo só para ganhar dinheiro para irmos buscar o prazer a outro lado. O prazer, o lazer, a aprendizagem, o amor, o contacto com de quem gostamos, a descoberta de sítios, sejam locais ou mundos imaginados – estes devem ser alguns de muitos objectivos das pessoas.
Motivar, só por motivar é idiota. Falar muito e fazer pouco é inútil. Todo o sistema em cima do qual a nossa sociedade está montada, está podre. Não estamos a evoluir no sentido de uma libertação das pessoas, da elevação do seu potencial humano, estamos a moer metal e a ficar parados, estamos a fazer a mesma coisa, vezes sem conta e a esperar resultados diferentes. Arranjamos rapazolas cuja vida é ganhar dinheiro a gritar para audiências e pomo-los a gritar para audiências, na esperança de que se levantem e vão trabalhar para pagar impostos, para alimentar a máquina, por podre que esteja, porque toda a gente deve cada vez mais dinheiro a toda a gente e precisamos mesmo de motivar as pessoas a matar-se a trabalhar, sem olhar a quê, nem a quem, para “alavancar sinergias e gerar riqueza”, para voltar a alimentar a máquina.
E não se educam os povos e não se libertam as pessoas e não se valoriza aquilo que realmente faz de nós seres humanos e não macacos de gravata, aos guinchos uns para os outros, a ver quem faz mais horas, quem dorme menos, quem mais ignora a família e os amigos para obter um sucesso vácuo e dinheiro para exibir aos outros macacos.
No dia 11 de Março, o meu filho Tiago completou seis anos de idade.
Confesso que não me têm sido fáceis, os últimos tempos. Também não tenho escrito aqui muito, já que substituí um pouco este blog por umas notas pessoais e pelo livro que ando a escrever. Mas agora levam comigo, ou não levam, conforme vos aprouver mudar de feed, ou saltar de tab, ou pelo contrário.
Não tem sido fácil, porque apesar da passagem to tempo, ainda não arranjei maneira de conciliar os filhos que tenho com o que não tenho. E sempre que há um marco na vida do Tiago ou da Joana, não consigo (e não quero), evitar pensar no Alexandre. O sexto aniversário do Tiago é um desses marcos.
Como é que se dá a volta a uma coisa destas? Por um lado, a alegria e felicidade de quem tenho, de ver o Tiago crescer, chegar aos seis anos, a escassos meses de entrar para a escola primária, por outro, pensar que o Alex faria este ano já 8 anos e estaria prestes – imagino – a ir para a terceira classe.
Não o tenho. E se o tivesse, se calhar não tinha o Tiago, ou não tinha a Joana.
Já passaram quase oito anos, é verdade. E sinto-me um pouco cansado de ser o gajo que fica calado para não aborrecer as outras pessoas com histórias de bebés mortos. É a vida. Por acaso, esta é a minha. As vossas terão outros eventos, quiça tão ou mais fodidos. Mas esta é a minha.
E sim, adoro os meus filhos, não poderia de forma absolutamente alguma considerar sequer a hipótese de não ter um deles para ter o que não tive. Mas há dias em que, loucura absoluta, me apetecia ter os três. E porque não os três?
Fui obrigado a separar-me de um filho de uma forma clínica. Não estive com ele, não o pude ver, senão no funeral – daquela forma… obscena, levado por um funcionário que faz aquilo todos os dias e se está a borrifar, porque senão borrifar, não aguenta o trabalho que tem, que me disse, enquanto esperava í porta do cremátorio: “escusa de esperar, aquilo não sobra nada”. “Aquilo”. E é verdade: Não sobra nada. Não me resta nada. Uma imagem esbatida, uma memória fugaz. E muitas noites sem dormir, ainda hoje, ainda agora, quase oito anos mais tarde.
E agora sinto-me obrigado a não falar disso, a não mencionar o assunto, a tentar ser educado com todas as pessoas que insistem que tenha mais filhos com a frase: “então e o terceiro?”, não se apercebendo que para mim, o terceiro é a Joana e que não há nada que mude isso.
E não estou a ser dramático, é mesmo assim. Não estou aqui para agradar a ninguém, nem desagradar a ninguém. Esta é a minha realidade e é a ela que me agarro. Estou aqui, estou a meio da vida – se puder viver tantos anos – e sim, um gajo começa a pensar e repensar muitas coisas; começa a questionar as escolhas, a reviver decisões, a pensar no que ainda pode mudar e naquilo que se tornou já imutável. E se tenho três grandes questões na minha cabeça que todos os dias me agitam e todas as noites me acordam, a sensação de vazio deixada pelo meu filho é uma delas; não só porque ele não sobreviveu, mas também porque não pude guardar dele uma recordação digna.
Mas é assim. Fica um nome, fica a memória esbatida. Ficam dois irmãos que espero que sejam felizes por três.
Ontem, o Tiago explicava-me que um colega dele sofria de um problema: nunca ia deixar de ser queixinhas. O próprio já tinha admitido que seria incapaz de mudar esta atitude, pelo que os outros deveriam estar preparados para lidar com isso.
Interacções sociais complexas de crianças de 5 anos, portanto. Explicava o Tiago que o principal problema era que ainda recentemente, esse outro miúdo lhe tinha feito duas coisas que não se fazem, as quais o Tiago não denunciara, enquanto que o próprio teria apenas insultado o primeiro, ao que foi imediatamente denunciado e devidamente castigado.
Injustiça, claro. Duas malfeitorias versus apenas uma, mas o espírito de queixinhas do outro acabou por revelar-se fatal.
Tentando dar uma boa educação ao meu filho, expliquei-lhe que não interessava que o outro se portasse mal e que isso não devia ser motivo para que ele se portasse igualmente mal. Que devemos agir para nos defendermos, mas não responder a provocações. Essas e outras lições morais.
Decidi então perguntar-lhe o que tinha chamado ao outro menino.
“Ovelha estúpida”, respondeu-me com um ar inocente.
E foi aqui que me parti a rir e terminou a lição de moral. É que, por um insulto tão bom como “ovelha estúpida”, vale a pena ficar de castigo!
Para contribuir activamente para o bom funcionamento das instituições democráticas da nossa República, o Macacos sem galho dedica a seguinte obra dos Police ao nosso Presidente, Cavaco Silva, por forma a apoiar o seu contributo inestimável no caso da Lei dos mandatos autárquicos.
Embora ainda tenha ali uma nota na guitarra que gostava de corrigir, resolvi publicar o Nut Factory Theme no meu SoundCloud para quem quiser ouvir.
Já agora, se ainda não o têm, podem sempre aproveitar para comprar o jogo. E aconselho vivamente a darem um salto ao SoundCloud da Dee para ouvir a música dela.
Tem-se falado muito do rapaz que grita com sotaque do norte sobre trabalhar 126 horas por dia. Parece que foi chamado ao dever cívico pelo mais energúmeno dos nossos governantes o que, de facto, não espanta ninguém. Estão bem um para o outro, são ambos enormes armazéns dessa matéria tão fértil que com os anglófonos […]
No dia 11 de Março, o meu filho Tiago completou seis anos de idade. Confesso que não me têm sido fáceis, os últimos tempos. Também não tenho escrito aqui muito, já que substituí um pouco este blog por umas notas pessoais e pelo livro que ando a escrever. Mas agora levam comigo, ou não levam, […]
Ontem, o Tiago explicava-me que um colega dele sofria de um problema: nunca ia deixar de ser queixinhas. O próprio já tinha admitido que seria incapaz de mudar esta atitude, pelo que os outros deveriam estar preparados para lidar com isso. Interacções sociais complexas de crianças de 5 anos, portanto. Explicava o Tiago que o […]
Para contribuir activamente para o bom funcionamento das instituições democráticas da nossa República, o Macacos sem galho dedica a seguinte obra dos Police ao nosso Presidente, Cavaco Silva, por forma a apoiar o seu contributo inestimável no caso da Lei dos mandatos autárquicos.
Embora ainda tenha ali uma nota na guitarra que gostava de corrigir, resolvi publicar o Nut Factory Theme no meu SoundCloud para quem quiser ouvir. Já agora, se ainda não o têm, podem sempre aproveitar para comprar o jogo. E aconselho vivamente a darem um salto ao SoundCloud da Dee para ouvir a música dela.