Faz hoje cinquenta milhões de segundos que me juntei í Impossible Labs. Eu simplifico: um ano e sete meses. Com as devidas adaptações nos primeiros tempos, com mudanças enormes de ambiente, método de trabalho, tipo de projecto, relações, colegas e chefias, clientes, viagens e sítios, a jornada tem sido linearmente ascendente.
Não me recordo da minha vida estar em melhoria constante de forma tão consistente, como agora. O meu trabalho, a empresa, os colegas e amigos que tenho feito, os sítios que tenho visitado, a minha família, a minha casa, até a minha saúde (mental e não só), transformaram-se nos últimos 579 dias. Isto surge hoje porque acabei de me aperceber que daqui a pouco mais de uma semana, terei 44 anos e suspeito que a vida que tenho levado nos últimos 833 mil minutos (mais minuto, menos minuto), tem contribuído para uma cada vez maior despreocupação com a idade.
This is me, suiting up. For fun.
No último ano e meio e mais um mês, trabalhei em três grandes projectos e mais três ou quatro médios. Fiz umas coisas para o Google. Fiz umas coisas para a Samsung. Mas acima de tudo, fiz muito trabalho para a Roche Diagnostics, na área da oncologia.
E viajei. Porra, se viajei. Tenho tudo organizado. Completei 11 viagens, considerando cada partida com subsequente regresso a Lisboa como uma viagem, sendo que cada viagem pode ter incluído mais do que um país.
Ao todo, foram 37 ví´os, entre idas, voltas e passagens de raspão, seis países, várias cidades e muitas novidades. Novos sítios, pessoas, experiências e conhecimentos. Conheci ingleses, coreanos, indianos, malaios, japoneses, chineses, holandeses, espanhóis, franceses, catalãos, epá… conheci uma rapariga do Suriname!
As viagens têm-se dividido sobretudo em duas categorias, umas são as viagens de pesquisa, user testing e recolha de dados. Uma típica foi a última que fiz: partida de Lisboa í s 6 da manhã, rumo a Basileia para três dias de reuniões de uma nova divisão da Roche, para qual a Impossible foi a única fornecedora externa convidada; dez horas de trabalho por dia, quatro ou cinco de sono, o resto de fondues de queijo, bebidas espirituosas e fraterna galhofa. Novo ví´o na quinta í s 6 da manhã para Munique, para dois dias de testes com utilizadores na cidade de Penzberg, a 60 km. Sobrou o sábado para passear na cidade antes do regresso ao fim do dia, a Lisboa.
A outra categoria inclui as viagens para São Francisco, onde estamos próximos do ramo da Roche que ali trabalha (para dar uma pequena ideia, a Roche tem 94 mil funcionários, em 48 instalações espalhadas pelo mundo e 50.6 mil milhões de francos suiços em vendas, em 2016). Uma dessas viagens significa partida de Lisboa, rumo a um de vários aeroportos intermédios, para o ví´o de 12 horas para SF; seguido de uma estadia de uma a três ou mais semanas, consoante a necessidade do projecto.
Por lá, vive-se num apartamento da Impossible, em Menlo Park e durante o tempo em que lá se está, adere-se ao american way of life, ou talvez mais especificamente, ao Silicon Valley way of life. Fazem-se compras, cozinha-se em casa, bons jantares com amigos, vêem-se filmes horríveis no Netflix, conduz-se para o cliente, num Prius – só para chatear o Trump – ainda não temos um Tesla, mas lá chegaremos. Trabalha-se em Mountain View, dá-se um salto í Samsung ou í Symantec para almoçar nas respectivas cantinas e aos fins de semana passeia-se pelas estradas da Califórnia, onde o que não falta são sítios fantásticos para ver.
Isto são as viagens, porque por cá, em Lisboa, trabalha-se no Chiado, no meio da azáfama lisboeta de turistas em manada e ao som – já bastante irritante – de músicos de rua e pedintes. Come-se muito bem, sobretudo no Stasha, no Bairro Alto e em tantos outros restaurantes hipsters ou tascas baratas.
Muita da minha esporádica escrita, por aqui, tem sido sobre o meu trabalho, é verdade. É bom sinal. Na discussão sobre a linha que divide a vida e o trabalho, sinto várias vezes que a minha posição é que essa linha se tem diluído um pouco, nos últimos meses. Sem confusões. Sem noitadas desnecessárias, ou fins de semana agarrado ao computador, mas também sem tardes no escritório a olhar para o relógio.
Sou um fanático de coisas de música. A própria música, claro, os meios para a ouvir, os instrumentos para a tocar, as formas de a gravar e até as técnicas para a misturar e produzir. Gosto tanto de música que muitas vezes me pergunto porque é que não estudei mais.
(uma faixa escrita e cantada/tocada pela Dalila, com arranjos, produção e mistura meus)
Como escrevi num post há relativamente pouco tempo, aderi ao Apple Music e ao streaming, com alguma relutância, mas hoje estou rendido í s suas vantagens. Há realmente muita música nestes serviços online e a qualidade é muito boa. Diria mesmo, excelente, a menos, claro, que sejamos exigentíssimos aficionados do vinil e da Alta-Fidelidade. Vulgo, chatos.
Graças ao Apple music (apenas porque, por acaso é o serviço que uso, podia ser outro), tenho então descoberto muita música que nunca tinha ouvido antes e que, confesso, já achava difícil vir a descobrir. Claro que há sempre música nova, mas mesmo entre música que já não é nova, novas descobertas estão muito facilitadas por esta espécie de rádio livre de escolhas e gostos alheios, publicidade e programas da manhã idiotas com a mania que têm piada.
Por exemplo, recentemente, apareceu-me sugerido Nova Collective e o seu primeiro álbum: “The Further Side”. É uma banda prog instrumental completamente deslocada do tempo em 2017. Completamente inesperado e estupidamente bom, é do tipo de música nerdy que já pouco se faz e que eu gosto e muito. É preciso ter o cérebro numa determinada sintonia, mas é um prazer especial, acompanhar as melodias rendilhadas e os ritmos jazzísticos que as ajudam a progredir até ao destino final que é, afinal, nenhum.
Mas podemos atirar-nos para um lado completamente diferente do espectro e apanhar o som pop contemporâneo da Bishop Briggs, uma britânica nascida em 92, de seu nome Sarah Grace McLaughlin, aka Bishop Briggs, ou apenas, that girl Bishop. Feita de batidas escortanhadas em samplers e drum machines, baixo e um bocadinho de guitarra, mas com um voz potente em cima, é uma miúda que me chegou com a faixa “River” que acabou de levar, entre outras, ao SxSW, que partilhou no Instagram com fotos e vídeos, entusiasmadíssima, como se esperaria de uma miúda prestes a tocar num dos mais famosos festivais de música do mundo.
Para mudar de energia, já há uns meses, o iCoiso musical apresentou-me Sohn – Filho, em alemão. Outro britânico, este, sediado em Viena. Chama-se Christopher Michael Taylor. Numa incarnação anterior tinha uma banda chamada Trouble Over Tokyo que lançou quatro discos, mas que já não existe. Agora, canta sobre ondas de teclados electrónicos, umas vezes mais dançável, outras mais intimista e emocional. Gostei de todo o álbum, “Rennen”, mas foi mesmo a faixa homónima que me prendeu definitavamente.
Talvez o Sohn tenha laivos de Moderat, um trio de alemães, uma colaboração entre Sascha Ring (aka Apparat) e os Modskeletor. A música é lascivamente boa, um mar electrónico navegado por uma quase frágil voz masculina que atinge o seu pináculo, na minha opinião na primeira faixa do álbum “III”, “Eating Hooks”. Este álbum é, aliás, soberbo.
Outro artista que desconhecia por completo, mesmo enquanto guitarrista da banda de metal Tribulation, é o sueco Jonathan Hultén. A solo, só lhe descubro um single com uma única faixa: “Nightly Sun”. Ao início, fez-me muito lembrar a voz e guitarra do José Gonzalez, mas í medida que os 5’55” da música progridem, a coisa vai evoluíndo para uma tapeçaria de harmonias vocais e culmina numa espécie de finale í lá “Hey Jude”, versão “gajo sueco do metal a tocar acústica”. Gosto í brava e aguardo com alguma curiosidade um LP.
Já passámos por prog rock, pop, electrónica vocal, enfim, que tal um pouco te techno? Eu disse que gostava de música, isso inclui os mais variados estilos. E se há coisa que gosto muito é um bom velho techno. Não estou a falar dessa merda de martelos de Ibiza, mas de Detroit e seus descendentes como, imagino, sejam os Simian Mobile Disco, mais ingleses, dois, ao que parece. O álbum chama-se “Welcome to Sideways” e é um longo banho de imersão de sons analógicos quase sempre acompanhados por um four-on-the-floor, como se deseja.
Se gostam de metal, não é que não conhecesse Gojira antes, mas é desde que uso o serviço de streaming que tenho ouvido bastante mais. O “L’Enfant Sauvage” de 2012 é uma obra de arte de double-pedal beats e riffs de guitarras dobradas com o Joe Duplantier a fazer uma voz agressiva qb, mas sem perder completamente a dicção. Mencionei que são franceses? Gosto.
Há mais exemplos, podia continuar por aqui fora e mencionar a faixa “Hurt Me” da escocesa Lí¥psley do álbum “Long Way Home”, com uma produção vocal bestial; ou do LP1, de FKA Twigs, que contém uma das músicas mais sexy dos últimos anos, “Two Weeks”; ou ainda da voz cristalina do James Blake que inspirou o seu disco “Overgrown” na sua nova namorada sobre quem canta o hipnótico “Retrograde”.
De certeza que há ainda mais música que descobri nos últimos tempos, de que nunca tinha ouvido falar ou que, tendo ouvido mencionado, nunca tinha experimentado ouvir. Para quem gosta de música, a rádio sempre foi uma boa companheira, mas ouso dizer que o Spotify e companhia são mais do que isso, verdadeiros amigalhaços, daqueles que nos põem o braço pelos ombros e dizem: “olha lá, tu já ouviste London Grammar? É mesmo a tua cara, experimenta lá, que acho que vais gostar!”
No dia 11 de Março de 2007 nasceu o nosso filho Tiago. É difícil escrever sobre estas coisas sem cair em lugares comuns, mas vou tentar, começando por evitar dizer que dez anos é muito tempo.
Quando o Tiago nasceu, comecei a escrever Tiálogos e mais tarde, quando chegou a Joana, Joanalogias – algo que já vi imitado por aí nessa net – mas com o passar do tempo, honestamente, tornou-se mais complicado para mim decidir escrever sobre os meus filhos. É uma lição que se aprende depressa. Embora sempre os tenha visto como pessoas e não apenas como “bebés”, houve um momento em que senti que não podia escrever mais, sob pena de os reduzir a uma simplicidade que não os define.
Pode dizer-se que, como pais, eu e a Dalila, nunca fomos “de modas” e, como criança, o Tiago também não tem sido. Adere a umas coisas, foge da maioria e gosta do seu próprio mundo. Não me parece que ele sinta qualquer necessidade de fazer coisas para se integrar e portanto despreza algumas das coisas mais populares entre os miúdos da sua idade (como o futebol – aliás: o futebol é 98% da vida das crianças que o rodeiam) e prefere deixar-se fascinar por – entre outras coisas – jogos de vídeo independentes ou clássicos.
Star Wars, futebol ou música pop é mais com a irmã. O Tiago prefere Hello Neighbour, cultura japonesa e tudo o que envolva gatos. É um miúdo divertido, com um lado negro absolutamente fascinante (até a professora já se rendeu parcialmente aos seus textos em que toda a gente morre no fim) e que ocasionalmente sente a passagem da vida com um peso que habitualmente atribuímos aos adultos. Inventor de histórias e jogos, os seus personagens são sempre gatos geométricos (já foram quadrados, agora são circulares) e poucas coisas lhe dão tanto gozo como inventar uma piada que nos ponha todos a rir.
Não desejo nada senão que seja feliz (uma coisa que me demorou mais de 40 anos a perceber vagamente, portanto, não há pressa) e por mim pode desenhar o seu próprio futuro como bem o entender. Provavelmente… com a forma de um gato.
Mais uma ida í Alemanha onde as paisagens bávaras começam a tornar-se familiares. Desta vez, fiquei alojado na pequena vila de Bad Tí¶lz, a meia hora de Penzberg por estradas campestres, entre montes verdejantes, bosques cerrados e os Alpes sempre vigilantes, ao fundo.
Esta visita foi mais curta, para umas sessões de trabalho, testes de hardware e entrevistas para esclarecermos uma série de pontos em dúvida da última viagem.
A ida e volta foram os voos vigésimo sétimo e oitavo pela Impossible (e daí até ao 32 já estão todos marcados), de regresso a business class, o que num voo curto da TAP não representa muito em termos de avião (ninguém sentado no meio e melhor comida), mas que compensa bastante pelo acesso aos lounges nos aeroportos, com comida e bebida í pala.
Jantámos num restaurante alemão onde ninguém falava inglês, excepto um cliente, já muito bêbado, que tentou contar umas histórias sobre a sua visita a Portugal em 1978; almoçámos todos os dias no alvoroço da enorme cantina da Roche, visão muito típica também em Sillicon Valley, com inúmeros balcões com escolha variada de comida, bebidas e sobremesas. Também tive a oportunidade de andar a 190 km/h, calmamente, na autobahn, a caminho do aeroporto Franz-Josef StrauíŸ. Há uma segurança que se sente a esta velocidade, naquelas estradas, que não se sente nas nossas, nomeadamente por cá ser proibido e lá não (o carro não dava mais, fica para a próxima).
Já nos sentimos muito í vontade naqueles laboratórios e voltar não é uma questão de ‘se’, mas sim de ‘quando’. Para já, o trabalho corre muito bem e a próxima etapa será desenvolvida nos Estados Unidos, depois de uma rápida passagem por Lisboa, nomeadamente, para festejar o décimo aniversário do meu filho. E de vez em quando, não deixa de me surpreender o quanto a minha vida mudou nestes dez anos desde que ele nasceu.
Bayern é um dos estados federais da Alemanha, aliás, o maior, o segundo mais populoso e um dos mais ricos. Por cá, chamamos-lhe Baviera e é onde fica München, aliás, Munique. Terra de tradições conservadoras, com os Alpes í vista e onde as frí¤ulein usam dirdnl, com as mamocas a sair por cima e os homens exibem as pernas sob os seus lederhosen, bem seguros com suspensórios.
Aqui, as vacas têm pouca sorte, mas são muito saborosas; no entanto, o prato regional é a cerveja, ou melhor dizendo, a WeiíŸbier (‘weissbier’ – cerveja branca, feita í base de trigo) e com uma caneca dela na mão, não deverá ser preciso qualquer outro alimento. Atenção que uma “média” na Baviera, corresponde a meio litro de cerveja. Para beberem uma dose aceitável de cerveja em München, há que pedir uma MaíŸ (‘mass’), que corresponde a um litro e que abunda pelos Bierhallen e Biergí¤rten que há por todo o lado.
Bom, mas isto para dizer que regressei recentemente de mais uma viagem ao serviço da Impossible Labs. Estive pela segunda vez na pequena cidade Bávara de Penzberg, cerca de 40 minutos a sul de Munique, desta vez por cinco dias. Foi o primeiro local que visitei quando comecei na empresa, apenas durante um dia e portanto já tinha uma ideia do que me esperava, mas não em tanto pormenor.
A vista de uma janela de um avião nunca perde o interesse.
A viagem de Lisboa para Munique começou cedinho, numa segunda-feira de madrugada, a bordo de um táxi almadense, rumo ao aeroporto. O voo – o meu 25º em 14 meses - foi rápido e praticamente indolor, mas a minha experiência recente ajuda muito: a minha potencial ansiedade de viajante é absolutamente nula e os movimentos já são praticamente automáticos a fazer o check-in da bagagem, passar a segurança, ir para a porta de embarque e odiar silenciosamente os galifões que levam malas grandes demais para a cabine e as atiram ao acaso para a bagageira, como se mais ninguém precisasse de lá colocar as suas coisas.
Em Munique fomos até ao balcão da Avis buscar o carro alugado que nos serviria até ao sábado seguinte. Como tínhamos pedido uma Volkswagen Passat, foi-nos dado a escolher entre uma Renault Grand Scénic e um Peugeot 508. Como gosto tanto de Peugeots como de levar socos nas orelhas, escolhi a Renault e fiz-me í estrada com os meus colegas, ainda todos meio na dúvida sobre porque tínhamos passado tanto tempo a conversar sobre que carro alugar até nos decidirmos pela Passat, para depois, afinal, termos que andar uma semana de Renault, mas talvez alguém que perceba agências de aluguer de carros possa explicar.
O primeiro dia foi, assim, dedicado a viajar. Uma viagem de três horas de avião consome cerca de seis horas e é se for um ví´o directo, claro. O Renault mostrou ser um carro bastante aceitável, embora definitivamente aborrecido e ainda me deu um susto quando, sem querer, liguei um limitador de velocidade que me impediu de ultrapassar os 48 km/h enquanto um camionista alemão buzinava atrás de mim. A princípio achei este limitador algo idiota, mas depois de ver como toda a gente cumpre religiosamente os limites de velocidade, sejam eles 120, 80 ou 50, tendo depois o prazer de abusar quando o limite é inexistente, compreendi a utilidade da função.
Penzberg, visto da janela do hotel Berggeist.
Os restantes dias foram passados a trabalhar que nem mouros, que, ao que parece, trabalhavam í brava. Todos os dias éramos dos primeiros a chegar aos laboratórios da Roche, í saída de Penzberg e várias vezes fomos os últimos a sair. Começámos com um workshop com toda a equipa, 22 pessoas numa sala, horas a fio a esmiuçar todo um processo de trabalho e depois avançámos para entrevistas individuais com cientistas, médicos patologistas, investigadores e técnicos de laboratório, umas a seguir í s outras sem grande espaço para parar e fazer um xixi.
Fora das instalações da Roche (lá dentro é proibido fotografar, claro)
Profissionalmente, foi uma experiência insubstituível. Passar quatro dias, de terça a sexta, a falar com pessoas inteligentes e interessantes, com um conhecimento extenso e profundo das suas áreas, mas uma acessibilidade simples e amigável oferece um turbilhão de informação valiosa para o projecto. Nenhum dos entrevistados ofereceu informação repetida, cada um com a sua visão dos processos e tarefas e ideias para contribuir.
No último dia, uma das patologistas veio despedir-se de nós e disse: “Por favor voltem depressa, precisamos muito do trabalho que estão a fazer”. São utilizadores intensivos de um sistema que ainda não tinham tido ninguém que representasse a sua voz perante quem decide o que desenvolver. Trabalhar como designer, assim, é completamente outro nível.
Clarificámos questões, esclarecemos dúvidas e testámos ideias e, talvez ainda mais importante, criámos relações que corresponderão a um maior sucesso do projecto, do que seria possível í distância, a “fazer uns bonecos”. É por isto que sempre me bati para se convidassem os utilizadores para conversarmos com eles e por isto que sempre que me disseram que não valia a pena, senti que não estava no sítio certo para trabalhar como eu queria. Agora, estou e é-me absolutamente óbvio que tinha mesmo razão.
Os designers têm que ser, acima de tudo, representantes. Dos utilizadores, do negócio, do público, das equipas, dos programadores, dos produtores, engenheiros, seja o que for. Com todas as peças, temos a obrigação de oferecer as melhores soluções que sejam possíveis, respeitem necessidades, mas também os constrangimentos e não deixem de parte o negócio.
Quem acha que o design alguma vez foi outra coisa, precisa de voltar para os livros.
Com o trabalho arrumado, 200 respostas e 500 novas perguntas, rumámos, no nosso Renault cinzento e cinzentão, a Munique, Â para uma última noite.
No Der Pschorr, comemos salsichas e sauerkraut, pão alemão, pickles, porco, vaca e toda a espécie de derivados de batata, tudo devidamente acompanhado de litro e meio de WeiíŸbier – cada um, claro. Terminámos com um schnapps e seguimos para um bar qualquer daqueles que, confesso, não são muito o meu estilo: tão cheio que estamos colados a outras pessoas, com música alta demais que nos obriga a conversar aos gritos e com algumas pessoas com um ar verdadeiramente miserável pelos cantos.
Salsicha de vaca, de cerveja e de baço, com sauerkraut e mostarda.
Cansado que nem um burro de carga e com mais um Bushmills no bucho, comecei a cabecear até ir lá para fora, apanhar fresquinho e deitar-me no chão – a minha actividade favorita quando estou bêbado. O segurança do bar não gostou e veio correr comigo, mas pelo menos não apanhei um sopapo e acabei por não vomitar nas ruas de Munique porque, convenhamos, parecia mal.
A última noite foi, na verdade, a única em que dormi bem, no horrível hotel Maritim (desaconselho), onde caí em cima da cama, de luzes acesas e tudo e só acordei í s seis da manhã para um xixi. Diga-se o que se disser do álcool e do trabalho, a verdade é que uma boa combinação dos dois dá um sono dos diabos.
No dia seguinte, depois de deixarmos o carro no aeroporto, rumámos de regresso a Lisboa. Seis dias intensos que me pareceram, facilmente, um mês, mas uma satisfação pessoal enorme e mais uma montanha de trabalho para fazer nos dias e meses que se avizinham.
Quanto a Penzberg, resta-me dizer Ich werde bald wiederkommen!
Faz hoje cinquenta milhões de segundos que me juntei í Impossible Labs. Eu simplifico: um ano e sete meses. Com as devidas adaptações nos primeiros tempos, com mudanças enormes de ambiente, método de trabalho, tipo de projecto, relações, colegas e chefias, clientes, viagens e sítios, a jornada tem sido linearmente ascendente. Não me recordo da […]
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