Tiálogos XVI. Dezoito meses.

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Dezoito meses, puto… sim, ainda se mede em meses, mas basicamente é ano e meio, feito ontem, dia 11 de Setembro.

Terminas hoje a tua segunda semana de infantário e as coisas parecem estar a correr bem: já te integras mais com os outros miúdos, dormes bem e comes bem. No sweat.

Continuas a desenvolver-te em todas as frentes, sempre com especial detalhe para a destreza manual, o teu forte desde muito cedo. Gostas de montar e desmontar coisas, fazer pilhas e torres com vários objectos e começaste a divertir-te a tentar combinações diferentes para um look mais eclético.

Ao fim e ao cabo, um gajo tem que ter algum orgulho artí­stico, mesmo que seja apenas na construção de uma torre de brinquedos prestes a ser destruida ao pontapé.

A última surpresa foi ver-te fazer escalas e tentar tocar melodias simples nos teus brinquedos musicais. Ficámos um bocado aparvalhados porque, sinceramente, não estavamos í  espera, mas tu pegaste num autocarro que tem oito notas em botões coloridos e começaste a tocar, metodicamente, com o dedinho espetado: dó, si, lá, sol, fá, mi, ré, dó. E depois ascendendo, sempre com muito cuidado.

Depois de brincar um bocado com escalas – se calhar estavas só a aquecer – começaste a tocar pequenas melodias; talvez ao acaso, talvez não – não cheguei a perceber – mas lá que é fantástico ver-te fazer estas experiências… é.

Falar é que não é contigo!

Como ainda por cima nós não somos daqueles pais que interpretam todas as sí­labas como palavras – “papapapapap” – Ele disse papa! Ele disse papa! – continuamos pacientemente í  espera que o teu repertório se expanda para lá de “dá!” e “bó!”. A maneira como já compreendes tudo o que te dizemos, mesmo algumas coisas mais retorcidas, faz-nos pensar que só não falas… porque não te apetece.

Mas nós somos pacientes, leva o tempo que precisares.

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5 comentários a “Tiálogos XVI. Dezoito meses.”

  1. Pah, antes de mais, parabéns ao jovem!

    Mas agora um desabafo: POR FAVOR, pára de falar no teu filho com tanto entusiasmo. É que até gosto da tua feed, mas dado que a minha “maria” não me larga com bocas do género, “amor, vamos arranjar um pra nós igual!” e coisas do género, pondero sériamente, por uma questão de sanidade mental, remover-te da minha lista.

    Atentamente,
    Um leitor desesperado!

  2. Paulo, lamento que os meus textos sobre o meu filho coloquem pressão na tua sanidade, queres que talvez fale um pouco dos aspectos negativos de ser pai?

    Talvez isso ajude.

    Aqui vai: não existem. :-)

  3. Pah ainda bem que assim é. Fossem todos os pais assim :-)

  4. Danger says:

    Pedro desculpa mas não acredito q na não existência de aspectos negativos :P

  5. jorge says:

    Parabéns aos TRíŠS.

    Tomo a liberdade de deixar aqui um poema que me chegou via email , pela simples razão que penso que mereça ser divulgado.

    Este anúncio foi premiado internacionalmente, mas não passou na nossa televisão, em Portugal. Porque será?
    Recordo o poema da criança de 3 anos, ‘Meu nome é Sara’

    O meu nome é “Sara”
    Tenho 3 anos
    Os meus olhos estão inchados,
    Não consigo ver.

    Eu devo ser estúpida,
    Eu devo ser má,
    O que mais poderia pí´r o meu pai em tal estado?

    Eu gostaria de ser melhor,
    Gostaria de ser menos feia.
    Então, talvez a minha mãe me viesse sempre dar miminhos.

    Eu não posso falar,
    Eu não posso fazer asneiras,
    Senão fico trancada todo o dia.

    Quando eu acordo estou sozinha,
    A casa está escura,
    Os meus pais não estão em casa.

    Quando a minha mãe chega,
    Eu tento ser amável,
    Senão eu talvez levaria
    Uma chicotada í  noite.

    Não faças barulho!
    Acabo de ouvir um carro,
    O meu pai chega do bar do Carlos.

    Ouço-o dizer palavrões.
    Ele chama-me.
    Eu aperto-me contra o muro.

    Tento-me esconder dos seus olhos demoní­acos.
    Tenho tanto medo agora,
    Começo a chorar.

    Ele encontra-me a chorar,
    Ele atira-me com palavras más,
    Ele diz que a culpa é minha, que ele sofra no trabalho.

    Ele esbofeteia-me e bate-me,
    E berra comigo ainda mais,
    Eu liberto-me finalmente e corro até í  porta.

    Ele já a trancou.
    Eu enrolo-me toda em bola,
    Ele agarra em mim e lança-me contra o muro.

    Eu caio no chão com os meus ossos quase partidos,
    E o meu dia continua com horrí­veis palavras…

    ‘Eu lamento muito!’, eu grito
    Mas já é tarde de mais
    O seu rosto tornou-se num ódio inimaginável.

    O mal e as feridas mais e mais,
    ‘Meu Deus por favor, tenha piedade!
    Faz com que isto acabe por favor!’

    E finalmente ele pára, e vai para a porta,

    Enquanto eu fico deitada,
    Imóvel no chão.

    O meu nome é ‘Sara’
    Tenho 3 anos,
    Esta noite o meu pai *matou-me*.

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