Star Wars Episode VII – The Force Awakens

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Nasci em 1973. Alguns anos depois estive numa sala de cinema a ver um filme chamado Star Wars. Na altura não lhe chamávamos Episode IV, nem A New Hope, nem percebí­amos muito bem porque raio uma série de filmes começava no quarto episódio.

Tenho memórias muito vagas da altura, como é natural, não teria cinco anos acabados de fazer, se tanto. O meu pai sugere que talvez tenha sido no Condes, nos Restauradores, onde agora é o Hard Rock Café. Eu tenho ideia que sim, terá sido na Avenida da Liberdade – apostaria no Tivoli, mas sem certeza. Mas o que não me sai da cabeça é a enorme e obscura figura do Darth Vader e a sua mecânica respiração.

Desde aí­ e todo o resto da minha vida, Star Wars foi uma paixão. Vi os três filmes incontáveis vezes. Fiquei desiludido com os três que o Lucas mais tarde vomitou, nunca entendi a necessidade das edições especiais (para além, claro, de vender mais DVDs) e afianço com certeza absoluta que o Han disparou primeiro.

Citações, cenas, personagens, locais, naves, acontecimentos, folclore e grafismo do Star Wars fazem parte das décadas da minha vida e quando soube que ia ser feito um novo episódio fiquei entusiasmado, embora apreensivo. Depois, soube que o George Lucas não teria nada a ver com ele e a apreensão diminuiu. Quando soube que JJ Abrams seria o realizador do episódio VII, o entusiasmo voltou a ser dominante.

À medida que saí­am trailers e imagens, o dito aumentava na proporção directa da expectativa. Seguiram-se meses de espera, com pouca informação e, confesso, sem desejar muita mais, porque a expectativa ditava que visse o filme virgem de spoilers ou preconceitos sobre o que seria esta nova aventura na tal galáxia muito distante, onde tudo já se passou há muito, muito tempo.

Assim, na quarta feira, dia 16, ausentei-me desta grande casa que é a Internet. Desinstalei o Facebook do meu telefone, não acedi pelo browser, não fui ao Twitter, não abri sequer o Instagram. Mantive-me o mais distante que conseguia de sites e e-mail e até instalei uma extensão no Chrome que me bloqueava sites que pudessem conter spoilers. No sábado, 19 de Dezembro, sentei-me no cinema para finalmente ver o filme. Éramos três gerações: os meus pais, eu e a Dee e os nossos filhos. Três gerações unidas por uma aventura espacial.

E que aventura…

Spoilers

Notarão que fiz uma introdução razoavelmente longa. Não foi por acaso, foi para que houvesse alguma separação entre o tí­tulo deste post e a secção que se segue que conterá spoilers. Têm aqui um aviso de que os spoilers poderão abundar e portanto não se queixem se lerem aqui um spoiler. A sério. Se não viram o filme, voltem para trás e vão ver, voltem depois para ler isto.

Star Wars Episode VII – The Force Awakens

Vou dizer já, porque há coisas que não vale a pena adiar: quem não gosta ou não tem interesse no Star Wars está í  vontade. Cada um sabe do que gosta e já não tenho paciência para discutir gostos a esse ní­vel. Mas – e isto é um mas significativo – quem gosta de Star Wars e não gosta do Episode VII é parvo.

Sim, tu aí­: foste ver este magní­fico filme e não gostaste? És parvo. És do sexo feminino? Parva.

Não estou a falar dos anormais a quem os jornais pagam para escrever vómitos sob a forma de letras e frases que se assemelham a crí­ticas de cinema e que só podem gostar de dramas francófonos, como tal, classificando o The Force Awakens com uma estrela. Essas pessoas nem o meu desdém merecem, porque já são tristes por natureza e não é a mim que me apoquentarão (nem tão pouco eu a eles). Mas, jovem, se és um fã do Star Wars e não gostas deste mais recente episódio, a sério… algo se passa no teu cerebelo, ou coisa que o valha. Vai lavar os olhos com lixí­via e regressa ao cinema.

O sétimo episódio da saga Star Wars é muito difí­cil de classificar em relação aos três originais. Sim, claro que é vastamente melhor do que os episódos um a três, mas isso não seria difí­cil. Também me parece bastante claro que é melhor que o Jedi (Return of the), mas e em relação aos episódios IV e V? Difí­cil!

O primeiro filme é o primeiro. É o filme que conta toda uma história, com princí­pio meio e fim, porque o Lucas não sabia se alguma vez seria pago para fazer mais filmes. O filme vale por si só, apresenta os personagens principais, as naves icónicas, as batalhas espaciais, a Força, os sabres de luz, o Império e a Rebelião e faz tudo isso competente e satisfatoriamente. Mas o Empire Strikes Back traz o drama. As revelações inesperadas, a perda, a humanidade dos personagens, a dúvida e, claro, entranhas de Tauntaun.

Eu colocaria o Episódio VII a par quer do IV, quer do V. A verdade é que o episódio VII é um dos melhores filmes de Star Wars jamais feitos. E ao fim de seis filmes, isso é dizer muito, sobretudo se tivermos em conta que arruma a um canto as últimas três tentativas produzidas pelo criador da série.

O que é bom neste filme?

Tudo. Mas vou tentar ser mais especí­fico:

O iní­cio. O filme começa com uma invasão de uma força militar, de stormtroopers, a uma aldeia de um planeta qualquer. Nesta cena há sangue. Sangue num Star Wars. Depois, há uma execução em massa da população inteira de uma aldeia.

À saí­da do filme, ouvi um energúmeno comentar com um amigo: “epá, não é mau, mas pronto, é Disney”. Se por “Disney” queremos dizer que é fofinho e amoroso (esquecendo que a Disney, através da Miramax, financiou o Pulp Fiction), então eu relembraria: mass execution of innocent villagers by fucking stormtroopers.

O personagem Finn.

Finn recusa-se a disparar sobre a multidão e está completamente perdido no meio da batalha, com o capacete manchado de sangue de um dos seus camaradas. Torna-se então um desertor da Primeira Ordem, em fuga para o mais longe possí­vel, mas que não resiste a juntar-se í  luta comum do bem contra o mal.

The Force Awakens - Finn

A luta comum do bem contra o mal. O tema do Star Wars. O lado luminoso e o lado obscuro. Porra, é para isto que vemos Star Wars. Os bons e os maus. Os sabres de luz azuis ou verdes, contra os vermelhos. Os X-Wing, com ar de velho avião, contra os TIE Fighters, que parecem naves futuristas. Os pilotos de fato-macaco laranja, contra os pilotos em complicadas armaduras de voo. E eu podia continuar por aí­ fora. Isto é o Star Wars e isto é, essencialmente, o The Force Awakens.

O Poe Dameron, o melhor piloto da galáxia, porque… o que é o Star Wars sem grandes pilotos e naves rápidas? I can fly anything! E assim é. Vemos pouco dele, mas o que vemos é o que gostamos de ver: dogfighting with spaceships, motherfucker!

The Force Awakens - Poe Dameron

Continuo? Bah, isto já vai longo, mas o blog é meu e eu estou a ficar sem cuecas lavadas de tanto fantasiar com o novo Star Wars.

Rey! Holy shit, Rey. A Daisy Ridley é fofinha! Apetece apertar-lhe as bochechinhas e partilhar cupcakes coloridos com ela e parece que nasceu a fazer uma personagem do Star Wars. A Rey é a heroí­na do filme. Ela é o centro da atenção, como o Luke Skywalker o era no Episode IV. Ela anseia por sair do seu planeta arenoso, é uma excelente piloto e – para os mais distraí­dos – é ela que tem um… despertar da Força. (É o tí­tulo do filme, seus burros que comentam que não se percebe como é que ela de repente tem poderes).

The Force Awakens - Rey and BB-8

Han Solo e Chewbacca. Estes dois personagens regressam ao filme como se de lá nunca tivessem saí­do. O Harrison Ford faz de Han Solo, não finge fazer de Han Solo, não está contrariado a representar o papel, nem tão pouco parecem brilhar-lhe os olhos por ter encaixado mais não sei quantos milhões de dólares por esta participação. Nada disso… neste filme, entra o Han Solo. O Han Solo abate stormtroopers sem sequer fazer pontaria, diz “I have a bad feeling about this”, reencontra-se com a Leia, num momento que só não é absolutamente perfeito porque a Carrie Fisher está destruí­da por dentro e por fora e, claro, morre, numa das melhores cenas do filme.

The Force Awakens - Han Solo and Chewbacca

A morte do Han Solo é tão bem encaixada na história do filme e até dos filmes seguintes, que quase não choca. Nós já sabemos que ele vai morrer. Nós sabemos, por causa de mais um personagem espectacular, provavelmente o melhor personagem do filme, a par da Rey: Kylo Ren. Nós sabemos que ele tem que matar o pai, porque precisa de cometer um acto vil que elimine as suas dúvidas e hesitações.

Porque o Ben Solo é um personagem profundamente tosco. Todo ele é tosco. Quer passar para o lado obscuro, mas tem muitas dúvidas. Quer seguir as pisadas do aví´ Vader, mas não passa de um miúdo imberbe. Usa uma máscara desnecessária apenas para intimidar e até o seu sabre de luz é um risco trémulo, mal acabado.

The Force Awakens - Kylo Ren

E mais? A coragem de Abrams em deixar o Luke Skywalker quase completamente fora deste filme. O momento em que o Mark Hamill se vira e tira o capuz e faz um dos melhores papéis da sua carreira sem dizer uma palavra, simplesmente porque está tudo certo com esta história, aquele momento e as dúvidas e teorias que deixa no ar para o filme seguinte.

É um cliffhanger que me deixa com vontade de ver o episode VIII e não um daqueles momentos em que suspiramos: “estes gajos fizeram isto só para poderem fazer outro filme”.

O que é mau neste filme?

Muito pouco.

Os personagens CGI continuam a não me convencer. Felizmente, há poucos. Mas os que existem, tiram-me sempre um bocadinho da suspension of disbelief que é tão fulcral numa fantasia espacial deste calibre.

O Supreme Leader Snoke. Eu gosto do Andy Serkis, mas o problema é que por ser ele, o Supreme Leader Snoke acaba por parecer um bocado o Gollum. E depois… ver acima sobre personagens CGI. Além de que a mim me parece sempre fofinho, o Supreme Leader Snokey Wokey.

Finalmente, os parvos que não percebem nada de Star Wars e acham que todas as referências ao original são pontos negativos, que a história devia ser a de um de centenas de livros merdosos escritos ao longo dos anos ou que simplesmente não se calam e absorvem a espectacularidade que este filme é.

Mas, essencialmente, o filme é bom. Muito bom. Quero mais.

Em suma

Este filme rasgou-me um sorriso de orelha a orelha. O BB-8. Os duelos de sabre tal como devem ser: pesados, duros, difí­ceis e não bailaricos imbecis com saltinhos e cambalhotas. Os cenários e adereços fí­sicos em substituição de desenhos animados por todo o lado. Os personagens, a história… o humor! As piadas são todas boas, bem metidas, no ritmo certo. O sentido que tudo faz, sem que existam pontas soltas por aí­ além, ou nenhuma inverosimilhança gritante.

Naves, armas de laser, heróis e vilões, canhões dantescos, impossible odds, drama e um Wookiee. A única coisa que falta agora… é ir ver outra vez… e outra vez e outra vez, enquanto espero pelo Episode VIII!

(Visitem o screenrant.com de onde pedi emprestadas a maioria das imagens)

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3 comentários a “Star Wars Episode VII – The Force Awakens”

  1. Gustavo says:

    Ya, eu adorei. Aliás, fartei-me de fazer exactamente a mesma comparação com os outros filmes.
    Eu só tenho dois pontos contra:
    – precisava de mais tempo. Acho a cena do Han com o filho abrupta, e há mais uma ou outra que acho que precisava de mais setup. Devia ser um filme de 3 horas.
    – estou perfeitamente bem com a nostalgia, está perfeita… Excepto ” Another fucking death star”! só que está é mais melhor super-hiper-poderosa.
    Mas curti tanto que quero ir ver outra vez ( não é fácil com um bebé de um ano)

  2. Paula Valenca says:

    Easter Egg: stormtrooper na cena do mind trick: Daniel Craig, aka Mr. Bond. Porque Star Wars.

    Eu ainda nao sei bem que achar do Poe e tenho pena da capita Phasma ter sido só um piscar de olhos.

    A questão que se põe agora em relação í  Rei (Holy Fuck Rei): Luke ou Leia?

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