O Estado e a Nação

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Cresci a aprender que dantes tinhamos uma coisa má: a ditadura, e que agora temos uma coisa boa: a democracia. Aprendi que votar é importante, que participar é necessário e fui aceitando a ideia de que um dia, pela força do voto, viria alguém governar e melhorar o paí­s. Não que o paí­s não esteja melhor em inúmeros aspectos, nos últimos 40 anos, claro que está, mas acho que todos partilhamos um bocadinho a sensação de que há muito por onde melhorar nos mais diversos sectores e que parece que há uma espécie de barreira invisí­vel que se tem adensado nos últimos anos.

Quando passei pelos 20s e até pelos 30s e percebi que nada é nunca tão simples como se consegue descrever num parágrafo, lá no fundo, confesso, continuava a viver aquele mito Sebastiânico de que nós, portugueses, sempre gostámos. A história daquela pessoa, que se calhar até podemos ser nós, que no último minuto surge, de lado nenhum, qual Nené saí­do do banco para marcar o golo da vitória.

É claro que é sempre mais agradável imaginar que um dia vai haver mudança e felicidade e luz solar 300 dias por ano, do que fazer alguma coisa por isso, dirão. Eu diria outra coisa: é mais fácil acreditar que as coisas vão melhorar um dia, do que enfrentar a dura realidade: nada é como parece ser e já ninguém tem interesse na mudança.

Já há algum tempo que comecei a perceber que as coisas não são nada do que parecem. Acho que comecei a desconfiar aí­ por volta de 2001. Eu sei, é muito exacto, mas recordo-me desse momento com alguma clareza. Mas este tipo de desconfianças não são confortáveis. Não queremos começar a olhar-nos ao espelho e a ver um teórico da conspiração; não ajuda nada que, se conversarmos com as pessoas sobre isto, a maioria fique desconfortável e comece a afastar-se e a girar a ponta do indicador na têmpora.

Mas de facto, hoje em dia já não tenho grandes dúvidas que nada é aquilo que tenta aparentar ser. Mas o que é que eu quero dizer com isto?

O que eu quero dizer com isto

Os portugueses votam cada vez menos e é objectivo dos partidos do poder que os portugueses votem cada vez menos. Quanto menos votam, mais a votação de afunila e mais fácil é prever a movimentação do poder legislativo. Prever e até mesmo, programar.

Não é que reduzir drasticamente a abstenção tivesse particular impacto, mas podia causar alguma imprevisibilidade. Assim, não são criadas iniciativas relevantes para levar as pessoas a votar; assim, estamos bem.

Os partidos tornaram-se então, não um veí­culo de alguma ideologia social que trabalhe para o bem comum, mas uma plataforma de negociação de contratos, contrapartidas e alguma legislação. E isto é perfeitamente normal. Foi sendo feito e está em plena fase de consolidação. Não vale a pena gritar e agitar os punhos.

Agora não há assim muito a fazer. Continuar a votar é importante, porque, í  parte de um meltdown civil completo, é a única forma dos indiví­duos se exprimirem em relação ao poder aparente. O problema é arranjar forma dos indiví­duos se exprimirem em relação ao poder efectivo.

Um governo, actualmente, existe para manter equilí­brio social e para tornar o paí­s atraente para investidores. Isto significa que a infraestrutura tem que ser moderna, a mão de obra tem que ser especializada mas barata e a população tem que estar em paz. E pode até ser discutí­vel se, sendo o paí­s um excelente alvo para investidores diversos, isso não é vantajoso para a população.

Pode ser, mas isso não faz com que exista esse objectivo ou que o mesmo seja prioritário. Até porque se a população autóctone se torna demasiado evoluí­da em resultado da riqueza crescente do paí­s, a parcela ‘mão de obra barata’ cai e depois é preciso abrir a torneira da imigração, o que, geralmente, faz desequilibrar a parte da ‘população em paz’.

É, de facto, um fino equilí­brio. Como um parasita que precisa da ví­tima para se alimentar, mas não com voracidade tal que a mate, negando assim o seu próprio sustento.

Portanto, em Portugal, agora as coisas funcionam: temos uma infraestrutura excelente, uma mão de obra especializada mas barata e não há sinais de guerra civil. O governo vai espremendo, espremendo e a malta vai aguentando e aguentado. Entretanto, felizmente, há muito futebol para ver, comentar e discutir; até mesmo para indignar muito mais do que impostos, cortes ou desemprego. Há muito show de cantoria na TV, muita Casa do Segredo, muita celebridade a fazer plásticas. E há muita dúvida, muito sentimento de inferioridade que faz dos portugueses gajos que achem muitas vezes que não são grande coisa. Somos pequenos, somos humildes, não convém sonhar muito alto e se o fizermos, que seja no futebol, que é a única coisa em que nos incentivam a pensar e, vá, pelo menos o melhor jogador do mundo é nosso!

Entretanto, multimilionários por trás de enormes empresas vão orientando as coisas em função das suas mais-valias. Sejam submarinos, Bancos ou privatizações diversas – as coisas mais visí­veis e evidentes, que até se permite que saiam no jornal – ou centenas de outras movimentações que dificilmente nos chegam aos ouvidos e que provavelmente totalizam muito mais. E certamente que qualquer destes negócios está tão longe da nossa compreensão, como simples cidadãos, que somos pouco mais que formigas financeiras, perante gigantes de outro planeta.

Na maioria da comunicação social, a informação é manipulada, colocada, removida, alterada, seja para promover ou distrair. Sob a forma de notí­cias, reportagens e artigos de opinião. Mas claro que toda a gente se choca quando se sabe que o Facebook fez uma experiência social com os seus utilizadores enquanto todos os dias somos ratos de laboratório numa gigantesca “experiência social”.

Pronto, já cheguei certamente í quela parte do post em que a maioria de quem leu até aqui está a torcer o nariz a pensar que eu perdi de vez o juí­zo, sou um teórico das conspirações, que não posso mesmo acreditar no que estou a escrever e que não passo de um pessimista.

Eu sei. Não é um tema fácil de abordar sem parecer maluco. E depois fica ainda mais difí­cil se eu disser: o objectivo é mesmo esse. Como no 1984, de George Orwell e o Ministério da Verdade e a sua Novilí­ngua. Enfim… ficção? Afinal não é assim tão complicado torná-la realidade, basta não ser assim tão óbvio.

Mas não há hipótese, quando se ultrapassa aquela linha de loucura aparente, tudo o que dissermos só nos enterra mais, aos olhos de quem ainda acredita que não são uma mão cheia de pessoas que mandam nos paí­ses, que as empresas têm mais poder do que os partidos, que estes são todos corruptos e iguais uns aos outros, que quem tem interesse no bem comum não está em nenhum lugar onde possa promovê-lo e que um dia vai deixar de haver injustiça e corrupção e que vamos todos ter uma educação do caraças e ser modernos e ricos e felizes.

Nada disto invalida, claro, que existam muitas pessoas honestas, profissionais e idóneas em todas as instituições, media e empresas. Nem sequer estou a tentar dizer que existe um enorme império do mal a gerir o nosso mundo: simplesmente, já passámos por isto muitas vezes antes e acabamos sempre a bater com a cabeça na História mais ou menos da mesma maneira: arranja-se uma forma de governo aparente, por detrás da qual acaba sempre por se descobrir um poder efectivo e as populações ou se deixam enganar, ou não se enganam, mas aceitam o status quo, ou se rebelam e acaba tudo em sangue. E depois repete.

Também é absolutamente inegável que o nosso paí­s evoluiu nos mais diversos indicadores sociais e económicos, nos últimos 40 anos. Já não somos um paí­s de analfabetos, com altos í­ndices de mortalidade infantil e infraestruturas do século XIX. Mas o que se sente no ar agora é que voltámos ao corporativismo de outrora e que as pessoas que promoveram essa evolução ou desapareceram, ou mudaram de intenções e a população está num estado de estupor padronizado, incapaz de reagir ou sequer de desejar reagir.

A minha preocupação agora é: o que é que eu ainda posso fazer e o que é que eu posso ensinar aos meus filhos sobre o mundo que lhes permita fazer algo melhor? Ou seja, quando o pessimismo é confirmado e se torna realismo, a única forma de o contrariar é a acção.

Que acção?

Sinto que educar os miúdos sobre o bem comum, a natureza, o valor da arte e da cultura sobre o materialismo é muito bonito, mas provavelmente também um caminho para eles crescerem vendados para a realidade. Esses valores são importantes, mas não suficientes.

Por outro lado, povoar a juventude deles com imagens obscuras de senhores de fato em reuniões secretas para decidir como melhor extorquir dinheiro para si próprios sem qualquer preocupação pelo bem comum, o ambiente ou a paz, parece-me desnecessariamente assustador e não oferece nenhuma estratégia para lidar com isso que não a alienação.

E quanto a nós, adultos, o que podemos fazer por nós próprios? Votar? Eu acredito nisso, mas eu cresci a acreditar nisso, porque nasci em ’73.

Atribui-se ao Mark Twain a frase: “Se votar fizesse diferença, não nos deixariam fazê-lo”. Pondo de parte o facto de que muitas frases atribuí­das a Twain não são de Twain, uma coisa parece certa: há algo nesta frase que me apoquenta… é que parece fazer cada vez mais sentido.

Nos Estados Unidos foram recentemente atribuí­dos a empresas alguns dos mesmos direitos que as pessoas. É quase como dizer que uma empresa e uma pessoa são a mesma coisa. Isto implicou que as empresas passassem a ter direito í  liberdade de expressão que se traduz, grosso modo, em poderem dizer o que quiserem nas embalagens dos seus produtos. Claro que não se esticam tanto como virem dizer que Coca-Cola cura o cancro, até porque estão nos EUA e por lá rapidamente receberiam uma class action suit por publicidade enganosa, mas aproveitam, obviamente, para bloquear coisas como as tentativas que andam a ser feitas por diversos grupos de cidadãos de ter avisos nos rótulos sobre o conteúdo exagerado de açúcar nas bebidas.

Isto para dizer o quê? Que votar fez pouca diferença neste caso. Os legisladores que aprovaram o direito í  liberdade de expressão das empresas não o fizeram pelo bem comum do povo americano, fizeram-no porque foram pagos pela indústria alimentar para o fazer. E nisto não é teoria da conspiração, o lobbying é uma profissão reconhecida nos States. Agora se isto é feito í s claras, o que será feito í s escuras?

Entretanto, em Portugal, parece que começa a sugerir-se que se legisle o lobbying, como actividade reconhecida.

Precisamos de estar cientes de como as coisas funcionam e de nos deixarmos de ilusões; se o Ministro da educação está a dar cabo da escola pública ou da vida de professores e alunos e o PM vem elogiá-lo pela forma como está a lidar com os problemas, não podemos achar que é tudo incompetência e falta de vergonha; por alguma outra razão a coisa é como é: qual é essa razão?

É difí­cil que alguma coisa seja uma mera bronca, um pequeno descuido ou uma enorme asneira. As coisas acontecem porque é suposto acontecerem. Não precisa de ser uma enorme conspiração e é claro que há excepções, claro que há imprevistos e confusões, mas não nos podemos deixar enganar assim tão facilmente.

Mas divago… devia estar a falar sobre acção, só que não é fácil falar disso. Porque eu próprio estou í  nora, sem saber o que fazer e honestamente, convencido de que a tarefa é hercúlea, senão impossí­vel.

Talvez o mí­nimo que se possa fazer seja isto, ou algo nestas linhas:

  1. Questionar
    Devemos questionar o que vemos, ouvimos e lemos. Será que é mesmo assim? Estamos a deixar-nos levar demasiado pelo imediatismo da partilha de informação sem verificação, do impulso de mandar o link para os amigos, de uma notí­cia escabrosa que rapidamente se verifica ser falsa. Estamos mais fáceis do que nunca de manipular porque acreditamos em tudo, pior: quanto mais obscena for a notí­cia, mais depressa acreditamos!
  2. Votar
    Votar continua a ser importante, parece-me. É importante, acima de tudo, dispersar o voto. Quando se fala em votar nos pequenos partidos, não creio que o objectivo deva ser o de eleger um deles, mas sim o de eleger o máximo possí­vel de deputados de diferentes partidos. Aumenta-se a probabilidade de alguns deles não serem mais uma engrenagem na máquina (mesmo que inadvertidamente).
  3. Educar
    A educação é a força da civilização. Por alguma razão os Nazis queimavam livros, por alguma razão, os extremistas não querem as mulheres nas escolas. Se questionamos (ver 1), devemos partilhar as nossas dúvidas e pí´r mais pessoas a pensar. Sem paranóias, mas com realismo e o mí­nimo possí­vel de ingenuidade. E ensinar os nossos filhos, com esse realismo e sem drama, nem conjecturas excessivas.
  4. Diversificar
    A conformidade facilita a manipulação. Em vez de passarmos o tempo a falar de futebol e a ver a Casa dos Segredos, a seguir a moda mais recente na roupa, nos cabelo e até na comida e bebida (hello, hamburgers artesanais e gin tónico!) e a fazer tudo o que os media nos ditam que é o que devemos estar a fazer, que tal fazer o que nos apetece? Cultivar a individualidade enriquece a sociedade, caso contrário, mais vale sermos todos robots.
  5. Denunciar & actuar
    Devemos falar disto, discuti-lo, manter as ideias presentes. Será este texto demasiado paranóico? Será que não é paranóico o suficiente? Como é que podemos manter estes assuntos vivos, olhar para além do óbvio, ler por trás das manchetes, ouvir por trás dos discursos dos lí­deres? Como podemos organizar-nos para fazer alguma parte, dar algum contributo, dentro dos nossos serviços, escolas, empresas?

Finalmente: ando a escrever este artigo há várias semanas, já teve várias formas, já foi refeito, reescrito, reorganizado e posto a marinar por diversas vezes. Este é um assunto demasiado complexo para a minha capacidade de análise. Não entendo de geo-polí­tica, economia, sociologia, nem de assuntos relacionados o suficiente para escrever um ensaio como deve ser sobre o assunto.

Além disso, é-me extremamente difí­cil organizar o meu pensamento neste tema em frases com sentido, em que consiga expor o que creio ser evidente, sem entrar nem em territórios que desconheço, nem em extrapolações lunáticas. Fiz o que pude com as ideias que tenho na cabeça.

Agradeço a discussão e contributo que possam dar, se tiverem tido fí´lego para ler este texto. Mas sobretudo, interessam-me sugestões de como intervir, agir e contribuir para melhorar. E olhem:

Stay positive

Stay positive!

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Simplefit – Programa de exercí­cio simples para fazer em casa

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

De vez em quando, lá experimento um novo programa de exercí­cio simples. Em tempos, escrevi sobre o P90X, também já fiz o Rushfit e tenho inventado os meus próprios programas caseiros. Enfim, pesquisando por ‘exercí­cio’ encontra-se muita coisa por aqui, para além, claro, de coisas sobre nutrição.

Tudo isto para dizer que a forma fí­sica é uma coisa que me interessa desde que pus um pé num ginásio pela primeira vez, há 23 anos, depois de uma adolescência inteira a tentar escapar-me í s aulas de educação fí­sica.

A minha mais recente pesquisa por algo muito simples e rápido de fazer com parco equipamento, levou-me ao Simplefit, um programa gratuito que requer apenas uma barra de elevações (que eu tenho instalada na parede do quarto) e espaço para fazer flexões e agachamentos.

O programa é, de facto, simples. Assenta em apenas três exercí­cios: elevações, flexões e agachamentos, praticados três vezes por semana, em circuito, com progressão até oito ní­veis.

Os exercí­cios são feitos em circuito, portanto: elevações, seguido de flexões, seguido de agachamentos, conta como uma série, em vez de se fazerem X séries de elevações e depois passar ao próximo exercí­cio. O primeiro dia é de endurance, sendo que devemos completar o maior número de séries possí­vel do circuito em 20 minutos (o número de repetições é sempre dado); no segundo dia, o desafio é completar 5 séries no mí­nimo tempo possí­vel e finalmente, no terceiro dia, temos que completar apenas uma série, mas com bastante mais repetições, também no mí­nimo tempo possí­vel.

Quando o tempo do terceiro dia for inferior a 5 minutos, subimos de ní­vel. É, de facto, simples e muito fácil de fazer em casa. Para verem o detalhe de cada dia e cada ní­vel, basta consultarem o site, o conteúdo é gratuito e não me pareceu muito simpático transcrevê-lo para o meu blog, aqui fica então, o link para o Simplefit.

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Receita rápida de chili

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Aqui fica uma receita rápida de chili, muito simples, em que é quase só atirar coisas para dentro de panelas e esperar (quase!)

Receita rápida de chili

Os ingredientes são:

  • 1 kg de carne de vaca picada (a qualidade faz muita diferença)
  • 1 lata grande de feijão preto
  • 1 lata grande de feijão encarnado
  • 3 tomates médios, cortadinhos em pedaços
  • 1 cebola média, em pedaços
  • 4 embalagens de 200 g de polpa de tomate
  • 2 colheres de chá de pimenta preta
  • 2 colheres de chá de sal
  • 3 colheres de chá de cominhos moí­dos
  • picantes opcionais diversos na quantidade da preferência de cada um

A parte dos picantes é vaga, porque eu para os miúdos não ponho picante na coisa, pelo que não incluo na receita. Mas ponham í  vontade, por exemplo, duas colheres de sopa de piri piri em pó, umas malaguetas verdes, pimenta cayenne, enfim, o que gostarem e na quantidade que apreciarem.

Fazer este chili é tão simples como: fritar a carne num pouco de óleo da vossa preferência, até ficar bem castanha e depois é como eu prometi: põe-se tudo na panela, incluindo o lí­quido das latas de feijão!

Mistura-se bem, deixa-se levantar fervura e fica a apurar duas a três horas. Fica óptimo e não dá trabalho! Aconselho vivamente a que se coma de uma tigela, bem quentinho e se tiverem algum queijo ralado ou sour cream para pí´r por cima, provavelmente ainda fica melhor. Eu não tinha, comi assim mesmo e estava óptimo.

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Novo SAPO

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Hoje, lançamos o novo logo do SAPO, o culminar de meses de trabalho, anos de intenção. Lançámos isso, mas lançámos mais, mais projectos, mais ideias, uma renovação que culmina,  mas também começa hoje e se estende para o futuro.

O novo SAPO

Como é que se manifesta o orgulho e a satisfação, num dia como estes? Falar das pessoas é sempre arriscar a não falar de alguém. E eu gostava mesmo muito de falar de toda a gente, sem esquecer ninguém. Mas é impossí­vel… não porque haja quem tenha menos relevância, mas porque simplesmente a minha memória já não dá para mais e o meu cérebro já pouco carbura.

Para já, a equipa de design do SAPO. Não sei se vocês têm bem a noção daquilo que conseguimos fazer, não se muda assim um logo de uma marca PT, não é assim que se faz, quebrámos todas as regras, desafiámos todos os limites e não fizemos inimigos, pelo contrário! Fizemos mais amigos na nossa empresa.

A equipa de comunicação, que também sabe exactamente do que eu estou a falar acima e que defendeu a camisola até ao dia… and to be continued!

As equipas de desenvolvimento, a trabalhar até ao último minuto para que mudar o logo não fosse “só” mudar o logo, fosse mudar a página principal, mudar os Blogs, o Mapas, lançar o Sobre o SAPO, o Lifestyle, o Marca SAPO as apps renovadas e que tudo acontecesse, sem nunca baixar os braços.

E a todas as equipas da PT, da gestão de marca, do marketing, dos eventos, da comunicação, até aos administradores, até ao(s) CEO(s), que apoiaram este nosso desejo de mudar e de o fazer nos nossos termos e com as nossas equipas, com esse valioso apoio.

Só quem não sabe, realmente, é que não sabe, mesmo. Só quem não percebe o que tudo isto implica é que não consegue perceber o que significa aquilo que conseguimos hoje.

No dia 1 de Outubro de 2014, na data que marcámos, fizémos tudo o que nos propusémos fazer, com esforço de todos. Desde que revelámos o novo logo í  equipa do SAPO, em Maio, que nunca um único deles duvidou ou hesitou para além do limite do razoável, ninguém deitou abaixo, ninguém cruzou os braços.

Tivemos dezenas de reuniões, dias infindos de trabalho, discussões por vezes acesas, ânimos e desânimos e reânimos e nunca parámos de nos rir í  grande e í  francesa.

É por isso que hoje sabemos que valeu a pena e que os elogios nos sabem tão bem, que os parabéns nos soam tão merecidos, que as crí­ticas nos alertam para o que devemos melhorar e que a maledicência nos escorrega pelos ombros para o chão com a naturalidade de quem ignora os coiotes do costume.

E finalmente, é por tudo isto e mais, que estou aqui com um copo de Lagavulin que virtualmente ergo ao Nuno, í  Marta e ao Carmona, por aqueles dois dias, fechados numa sala, que deram os primeiros vectores. A toda a equipa de design, que passou pela dita sala, dos que propuseram mudanças subtis, í s mais radicais, aos que disseram que não mudavam nada. A todos os que fizeram e testaram í­cones e logos e footers e barras e lidaram com repositórios partidos, commits falhados, horas sem dormir, código marado, decisões e indecisões e alterações em cima de alterações e com “a culpa é do designer”, mesmo quando “a culpa é do designer” já era só uma piada nossa.

À Inês e í  Andreia e a toda a equipa de comunicação por nos termos metido em lutas, mesmo as que já sabí­amos que í­amos perder, ou se calhar, especialmente essas. Por terem feito com que as partes mais difí­ceis í s vezes parecessem as mais fáceis. À Isabel e í  equipa dela, por ter mantido a insanidade contida num Excel, aquele que tantas vezes disse que nunca li (e não li!), mas que manteve as coisas no rumo. À Rita y sus muchachas por ser intransigente com a qualidade e com o detalhe. A toda a gente que lidou com parceiros, com agências, com fornecedores e clientes, com os internacionais, com o Grupo, com eventos e merchandising e o mais í­nfimo detalhe, mesmo aquele que falhou e que ainda vamos reparar amanhã. A mais de 300 pessoas que mantiveram as novidades em segredo durante cinco meses.

À estupenda equipa da homepage, o Nuno, a Isa, o Miguel, a Rute. Ao Henrique e ao Castro e í s suas equipas que tinham í s costas uma responsabilidade enorme e que nunca desistiram até a cumprirem (B+!). À equipa de multiplataforma, í  equipa comercial a toda e cada uma das nossas equipas que arregaçaram as mangas e se dedicaram í s mudanças que era preciso implementar (não me matem, não consigo nomear toda a gente!). Ao Ivo que apesar dos olhos vermelhos e de ter a responsabilidade de garantir a qualidade, esteve ali até ao fim.

À Cátia e í  Susana e toda a equipa de gestão de marca pelos meses de trabalho, de apoio e de aprendizagem, pela articulação com tantas outras áreas, todas as dicas e todas as orientações e por acreditarem que o SAPO era capaz de mudar a sua própria imagem.

Finalmente, não consigo deixar de sentir um orgulho especial na “minha” equipa dentro da equipa, os gajos do Ink, o Pedro, o Gonçalo, o Fábio e o Mário além de todos os outros que já por lá passaram, mesmo que brevemente e que construí­ram a base que sustenta os projectos que hoje foram lançados. Sei que o Gamboa sente o mesmo, ele que também foi o imparável Gamboa do costume e não parou um segundo para poder ajudar toda a gente, além dos seus contributos pessoais nesta mudança.

E agora até agradecia ao Celso, mas porra, isso já era graxa!

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Enfim, a paz

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Robin Williams

Ando para escrever este post há bastante tempo. Para ser exacto, desde o dia 11 de Agosto, quando morreu o Robin Williams.

Na altura surgiram de todos os lados pessoas que pareciam subitamente especialistas em depressão, a partilhar por aí­ artigos sobre o assunto e a produzir frivolidades sobre como muitas vezes o humor mais não é que uma máscara para a mais profunda tristeza.

Claro que na época em que toda a gente confunde ter uma opinião com ter que a partilhar e informação superficial com conhecimento cientí­fico, é natural que assim seja.

Ninguém saberá porque se suicidou Williams, ninguém senão ele. Talvez tenha deixado algumas pistas í  famí­lia, que nunca conheceremos, mas também não precisamos de saber. Desconfiamos apenas que, afogado numa enorme angústia, um dia acordou com o ânimo e a coragem necessários para por fim ao seu sofrimento.

Não quero ser o gajo que diz “ah, eu sempre soube”, até porque era razoavelmente conhecido que Robin Williams tinha probemas diversos, nomeadamente com álcool, mas uma coisa é certa: sempre vi um certo tipo de tristeza por trás do sorriso dele.

Sempre lhe identifiquei um olhar com um sabor amargo, mesmo (ou especialmente) quando os olhos se semi-cerravam para acompanhar um sorriso.

Um certo tipo de tristeza porque não é a tristeza comum, a que sentimos na perda, na saudade. É a tristeza que sabemos que nasceu connosco, a que sabemos que jamais nos abandonará.

Existe um lugar onde por vezes nos refugiamos mas que, ao contrário de um verdadeiro refúgio, não nos oferece segurança. É um lugar vazio e bafiento, com uma luz filtrada por cortinados velhos, cobertos de pó. Um lugar de onde nos parece até que poderemos sair com facilidade, mas revela-se-nos impossí­vel levantar da cadeira e abrir a porta.

E í  nossa volta, ninguém percebe, ninguém entende; não há ninguém que realmente perceba o que é estar preso dentro de nós próprios, encerrado numa profunda tristeza que nos suga toda a esperança, mesmo quando para todos o sol brilha de forma tão óbvia e tanto há para inspirar essa esperança.

Quando a vida é assim, torna-se insuportável, mas não se esvai, não nos deixa, obriga-nos a existir, a interagir, a sair para o mundo e fingir que está tudo bem. Andamos presos a um bloco de cimento que ninguém vê, mas nós sentimos. Cada passo é um esforço, cada conversa um martí­rio, cada pergunta de “está tudo bem” um exercí­cio da pequena mentira.

E tornamo-nos bons a mentir, a fingir e disfarçar, porque sabemos que o mundo não foi feito para nós, foi feito para outros que toleram a nossa presença desde que mantenhamos essas nossas máscaras de normalidade.

Não temos solução, não temos coragem, nem para nos darmos ao mundo tal como somos, borrifando nas convenções, nem para nos retirarmos dele, de uma vez, dando finalmente silêncio ao ensurdecedor ruí­do que nos enche a cabeça todos os dias e nos mata o pensamento.

Não podemos ser felizes porque não sabemos o que isso é, não temos um vislumbre, sequer um sonho dessa coisa. Não fomos feitos dessa tal matéria cósmica que faz as pessoas sonhar, olhar para o futuro com um sorriso, viver o presente com a certeza de que o mundo os acolheu porque tem um lugar para eles.

E caminhamos assim, de pés arrastados e cabeça baixa, com os olhos cavados das noites em branco, os gritos de angústia na eterna pergunta: “porquê?!”; porquê? Porque é que tendo tudo sinto que não tenho nada? Porque é que o tudo que tenho não se acende nesta sala empoeirada e me ilumina os dias? Nunca há resposta, nunca há solução, porque nunca há esperança, nunca há fim.

Até um dia. Até ao dia em que acordamos com essa centelha perante nós, em que nos parece que o nosso corpo se animou, que a nossa mente não está recolhida num canto, com o olhar vazio posto no infinito, é o dia de coragem, de erguer a cabeça e saber precisamente que é o dia em que finalmente ganhámos coragem para morrer.

É esse o dia do fim do sofrimento. E enfim, a paz.

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O Estado e a Nação

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Cresci a aprender que dantes tinhamos uma coisa má: a ditadura, e que agora temos uma coisa boa: a democracia. Aprendi que votar é importante, que participar é necessário e fui aceitando a ideia de que um dia, pela força do voto, viria alguém governar e melhorar o paí­s. Não que o paí­s não esteja […]

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Simplefit – Programa de exercí­cio simples para fazer em casa

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Receita rápida de chili

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Novo SAPO

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Enfim, a paz

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