Dez anos de Nitrodesign

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Fez ontem, dia 5 de Maio, dez anos desde que os três sócios originais da Nitrodesign assinaram a escritura da empresa. Começámos a trabalhar, cada um em sua casa, todos os dias, non-stop. No final de 1999 fazí­amos o nosso primeiro grande projecto: redesign total e completo do SAPO, dos pés í  cabeça.

Um trabalho que não voltaria a repetir-se no portal que não voltou, desde então, a ter um design unificado em todos os canais e serviços. Ainda recentemente, o Celso encontrou em arquivo a nossa velha “página de acompanhamento” e todos os ficheiros associados ao desenvolvimento do redesign do portal.

Com o nosso nome no rodapé do site de referência da internet em Portugal, começaram a surgir mais projectos e a Nitro ganhou nome e tornou-se, aos poucos, uma referência do mercado nacional de webdesign.

A dada altura, chegavam aos nossos ouvidos rumores de que a Nitrodesign era uma pequena empresa que fazia grandes projectos com apenas 20 pessoas! E nós que éramos só três!

Em 2001 passámos a ser quatro e abrimos o nosso primeiro escritório. Foi também o ano em que aprendi uma dura lição de vida e negócio: o Estado não só não está interessado em fomentar novas empresas, novas tecnologias, empreendedorismo jovem, criação de emprego e geração de riqueza, como tem especial prazer em corroer e destruir PMEs.

Com lucro em 2000 e sendo honestos, sem fugir ao fisco, levamos um estaladão de IRC em 2001 que até vimos estrelas. Com novos investimentos em instalações e equipamento a maior factura que tivemos que pagar foi mesmo a dos impostos.

E com o lucro e respectivo IRC vieram também os pagamentos por conta. Ou, como eu lhe chamo, a vassalagem. Além de tudo isto, a bolha das dotcom rebentou nesse ano e um dos nossos principais clientes de ’01, um grande ISP nacional e respectivo portal – a Teleweb, faliu ficando-nos a dever milhares de contos.

No final do ano estávamos a mudar-nos para instalações mais pequenas (e baratas, claro), para tentar minimizar os estragos. Ainda assim, a empresa manteve o seu trabalho e apareceram grandes clientes como a Portucel, Dun & Bradstreet, Singer e Caixagest. A Portucel e Caixa ainda mantêm o design da Nitro, com algumas alterações posteriores.

Depois de dois anos em Setúbal, mudámo-nos para Almada com uma nova parceria montada e pronta a relançar o negócio em grande estilo. Infelizmente, viemos a descobrir, da pior maneira, que a parceria era, afinal, uma vigarice. Uma empresa, na altura chamda Ciberguia, actualmente Dalera Ciberguia, vendeu-nos o seu fantástico software e plataforma de desenvolvimento, com a promessa de dezenas de clientes e milhares de contos de facturação logo no primeiro ano.

Rapidamente, se bem que – mesmo assim – tarde demais, apercebemo-nos que tudo não passava de um engodo. Ficámos presos a um leasing carí­ssimo para pagar as licenças de desenvolvimento sobre um software que funcionava horrivelmente mal. Os comerciais que deveriam estar a trabalhar em nosso nome para termos clientes para desenvolver sobre a plataforma da Ciberguia nunca traziam projectos e quando os trouxeram, os pagamentos tardavam em aparecer.

Quando começámos a falar com outros parceiros da Ciberguia, começámos a descobrir um rol interminável de pequenas empresas furiosas, enganadas e exploradas. Tentámos, de várias maneiras, dar a volta í  coisa, mas foi impossí­vel.

Hoje em dia, creio que a empresa foi vendida e que os que eram responsáveis por ela já devem ter partido para a próxima vigarice que lhes permitia viver em grandes casas de luxo e andar em carros desportivos do preço de aviões, enquanto empresas, como a nossa, se viam obrigadas a desfazer-se ou repensar a sua existência.

Entretanto, os sócios separaram-se e eu fiquei com a Nitrodesign que partilhei com a minha mulher. Desde 2003 que somos ambos sócios e continuamos a prestar serviços a alguns dos clientes mais antigos. Eu vim trabalhar para o SAPO e a Dee, sozinha, angariou novos clientes, fez sites e tomou conta da empresa nos últimos quatro anos.

Recentemente, recebemos um e-mail da Direcção Geral de Finanças informando que a Nitrodesign seria suspeita e sujeita a inspecção de finanças caso apresente prejuí­zo em 2007. Dizem eles que é estranho que a empresa esteja há três anos consecutivos com prejuí­zos.

Bom, não são prejuí­zos incomportáveis, mas não são lucros. E se há coisa que sempre fomos, desde o iní­cio, foi honestos e cumpridores. Cheguei a não pagar salários alguns meses, para poder cumprir as obrigações sociais e fiscais da empresa.

A nossa empresa não tem BMWs para os colaboradores, nem telemóveis, nem despesas de representação, nem gastos com formação. Não pagamos por publicidade, não investimos em aplicações financeiras e nem o acesso í  internet é pago pela empresa: são os sócios que pagam a conta todos os meses.

Mas o fisco acha-nos suspeitos. Volta tudo ao princí­pio: o principal concorrente da Nitrodesign, desde a sua fundação, sempre foi o Estado Português.

Mas não faz mal. Fizemos dez anos e ainda cá estamos. Atravessámos booms e bolhas e quedas e recessões, fomos vigarizados e sobrevivemos, fomos taxados até í  morte, mas não morremos. Sempre cumprimos com os nossos clientes e sempre acreditámos que valia a pena fazer as coisas bem.

E agora, o que trará o futuro? É esperar para ver…

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16 comentários a “Dez anos de Nitrodesign”

  1. Ricardo says:

    Parabéns!
    A travessia do deserto vai terminar, força!!!

  2. Gus says:

    Criar e manter uma companhia pequena em portugal é lixado. E, como dizes, o estado não ajuda nada.
    Done it, been there, had the tshirt but the dog ate it…

  3. Li o teu post e parece que estou a ler algumas das (mesmas) dificuldades que tenho. Infelizmente em 10 anos apenas uma coisa mudou. É mais fácil e rápido criar a empresa. Mas com a velocidade com que os impostos arrasam uma empresa não me admira que tenham facilitado o processo. Um banco também nãoo cria entraves í  abertura de contas.

    Não sou contra pagar impostos. Sou contra fazerem campanha sobre “empreendorismo” e “criação de empresas” e no final os processos “destrutivos” serem sempre os mesmos.

    Parabéns pelos 10 anos!

  4. Tirando a caraça que é o estado, o resto vai melhorar, com certeza!

    Parabéns!

  5. Já 10 anos??

    Ainda me lembro quando ouvi falar da Nitrodesign pela primeira vez: foi há perto de 10 anos, nos balneários da Academia Almadense, antes de uma aula de Kung Fu, numa conversa entre ti e o Nelson.

    Acho que ainda cheguei a pensar em falar convosco para saber se precisavam de colaboradores para programação dos websites… :)

    Parabéns pelos 10 anos e vamos todos esperar que a situação para pequenas empresas em Portugal melhore (yeah, right… :P)

    BTW, vai com quase 10 anos de atraso, mas se precisarem de colaboradores para a programação de websites… :D

  6. Miguel says:

    Creio que o problema da Nitrodesign foi o baixo valor cobrado pelos serviços. Viví­amos a época dos sites a 100 contos e o custo real é muito superior. Infelizmente o mercado web está cheio de “jeitosos” que “desenrascam” um site por preços completamente irrealistas, que só funcionam porque não têm de suportar salários (com descontos í  SS) ou custos de uma empresa (escritórios, etc).

  7. Macaco says:

    Miguel… quem te lê diz que conheceste de perto os nossos orçamentos… :-)

    Raul: que saudades desse balneário mal-cheiroso :-)
    Talvez um dia precisemos de programadores, quem sabe…

  8. Joao says:

    Mas já passou essa fase dos sites a 100 contos (100 conto s já é um luxo, sofri na pele concorrência de 50 contos e menos)?

    Dá-me ideia que continuamos a ter muito site a 100 contos, mas talvez seja apenas eu que entretanto me retirei um pouco desse ramo.

  9. Macaco says:

    Sites a cem contos não, não fazemos, nem me lembro de alguma vez termos feito. Mas é verdade que em Portugal não se aceita bem que as pessoas levem o valor justo pelo seu trabalho. Discute-se o orçamento, discute-se o desenvolvimento do projecto e no fim discute-se a data de pagamento.

  10. Patricia says:

    Também foste ví­tima da Teleweb :\
    Eu trabalhava lá.
    Um dia cheguei lá e havia cadeados nas portas todas, excepto num andar onde não sei quem passava cheques de 100 contos para nos irmos embora sem levantar ondas.
    Ficaram a dever-me mais de 500 contos e eu fiquei sem emprego de um dia para o outro, numa fase crucial da minha carreira.
    Enfim… A Nitro continua de pé e eu também não morri por causa deles, é o que importa! ;)

  11. Macaco says:

    Teleweb, precisamente. Na altura não escrevi o nome simplesmente porque não me lembrava, mas ainda lá vai uma emenda.

    Creio que a nós nos ficaram a dever mais de 4 mil contos o que para nós, naquela altura, era uma fortuna. E ainda pior… a promessa de mais de 10 projectos novos e ainda mais facturação esfumou-se.

  12. Vitor says:

    Caneco… Que história… (para quem não sabe, estou a ler o blog do Pedro de uma ponta í  outra e alguns posts mesmo que já com alguma idade, ainda merecem um comentário!)

    Ok, agora percebi um pouco do que se passou com a Nitro… Realmente, aqui há uns 12 ou 13 anos atrás, recordo-me da “bolha” tecnológica (principalmente do aparecimento dos ‘portais’, em que o Sapo, o Clix, a Teleweb, depois o Netc, etc, faziam as novelas dos bits e bytes em tugalândia) e é mesmo com grande nostalgia e muita satisfação que contacto com alguém que na altura criava o que eu usava!

    Curioso é saber que, estes anos todos depois, um bom pedaço da história por trás de tudo o que se ia passando ainda existe (graças ao teu blog!)

    Sobre a criação de empresas: Sempre ouvi dizer que, nos primeiros 2 anos, uma empresa dá SEMPRE prejuí­zo…

    Nunca soube muito bem o porquê desta regra, mas acho que agora começo a ter umas luzes sobre a coisa… Que é o mesmo que dizer:

    Nos primeiros 2 anos, TENS que comprar os BMWs, a VIVENDA-sede (com piscina, de preferência) os MÓVEIS para a sede, MUITA GASOLINA para deslocações, MOOONTES de despesas em almoços e/ou outras despesas de representação, ordenados chorudos com bons subsí­dios de férias e Natal e prémios de produtividade, e muitas despesas de manutenção/etc…

    Ao chegares ao fim do ano, que lucros haveria para declarar…? (NICLES!)

    Acredita que não percebo nada, mesmo nada de criação de empresas, fiscalidade e coisas do género, mas também acredito que não esteja muito longe da realidade… :(

    Sobre os caloteiros que faliram: como terão passado as respectivas VIVENDAS-sede para nome de familiares dos sócios? Terão existido escrituras…?

    Hummm… Terão vendido os bens da empresa a preços simbólicos a familiares ANTES de pedirem falência?

    Só mais uma coisa… Ainda não consegui descobrir o porquê de Setúbal?

    • Vitor says:

      P.S. – Mesmo falando de coisas um pouco tristes, sempre foram 10 anos! (agora a caminho dos 13, certo?) Por isso, só pode ser um MARCO IMPORTANTE para realçares na tal página estática de marcos cronológicos importantes aqui no teu blog!

  13. tesourinho deprimente says:

    1999
    http://imgs.sapo.pt/gameover2011/upload/2011/10/45e6e5607632f3311b621bb7a0432b00601cbf1a.jpg

    :D

    para a altura a tecnologia era limitada n havia CSS’s mas dhaaa :D

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