Publicado em , por Pedro Couto e Santos
O mundo está a mudar e, com ele, o dinheiro. Sérgio Godinho cantava que era a trabalhar que a gente paga o jantar. Mal sabia o Sérgio que o bom velho tractor seria substituido por uma GeForce… ou várias… dezenas. Mas enfim, tudo isto para dizer que se agora pagamos um café com euros, em breve o pagaremos com bitcoins, que é como quem diz, com exactamente o mesmo com que pagamos agora, mas com um nome diferente. Espera, ainda não disse blockchain. Já confessei que não percebo nada disto?
Há muito tempo que o dinheiro não existe, é uma fantasia digital que se traduz em folhinhas de papel e rodelas de metal, apenas para manter calmas as velhinhas que vão ao supermercado pagar tudo com as moedas de cêntimo que lhes sobram da reforma no dia 15 de cada mês. A maioria de nós já nem isso usa e optamos pelo plástico e pelas transacções online. Nada é verdadeiro, são tudo apenas e só registos em bases da dados.
Ou achavam que cada vez que transferem os 12 euros em jolas para o vosso amigo, no MB Way, um anãozinho pegava em 12 euros do vosso cofre pessoal no Santander e o levava, de bicicleta, pela cidade até ao Montepio mais próximo, para ser depositado na caixinha do vosso camarada? Já foi assim, bons tempos… mas depois começou a ser só um telegrama de um banco para o outro a dizer: “mete aí 12 no Ricardo, que eu tiro aqui do João”. E agora, com computadores, já nem é preciso ninguém fazer nada, é tudo automático. O que traz ao de cima uma das maiores questões da nossa civilização: para que serve um bancário?
Com o advento desta virtualização de capitais, tornou-se muito mais simples brincar com dinheiro, mexer dinheiro, transferir dinheiro, criar dinheiro do nada e fazer dinheiro desaparecer em enormes quantidades. Bom, tornou-se simples… para bancos e, eventualmente, governos (através de um banco central, portanto bancos). Será que devia escrever banco com “B” maiúsculo? Adiante.
Como sabemos, os bancos adoram dar créditos por tudo e por nada, porque, vá, o negócio deles é vender dinheiro – embora tentem convencer as pessoas que é guardar o dinheiro delas e fazê-lo render (ahahah, boa piada) – e portanto os bancos adoram emprestar dinheiro í s pessoas e ficar a receber juros durante os 70 anos seguintes, até acontecer que as pessoas, por uma razão ou por outra, massivamente deixem de conseguir pagar aos bancos e aí, estes vão í falência, há uma investigação, descobre-se que os bancos abusaram do seu poder financeiro e todos os responsáveis são presos.
Estava a brincar.
Os bancos rebentam, claro, porque de repente ninguém está a comprar o dinheiro deles, embora uma grande parte tenha sido empatada em barcos, carros e apartamentos, mas não há problema de maior, porque o Estado, usa o tal banco central e “re-financia” os bancos que estão em falência. O que, na prática, significa que dinheiro que veio de todos nós e devia servir para gerir e fazer progredir o país inteiro, é usado para safar uma pequena minoria. Enfim nada de novo, mas sempre muito complicado.
É aqui que chega a tal da criptomoeda, ou melhor ainda, a blockchain. A cadeia de blocos, vá. E não, não é uma cadeia onde podemos por os banqueiros que fodem o guito todo e depois são safos com o dinheiro dos contribuintes. É uma cadeia como uma corrente. E esta blockchain é uma espécie daquelas bases de dados que eu falei ali acima, onde se anota a pasta para a jola do Ricardo e do João, mas com a diferença que esta não é do Santander, nem do Novo Banco, nem da CGD, nem sequer do Banco de Portugal. A blockchain não é de ninguém e, como tal, é como o ar – é de todos.
Na verdade, a blockchain não tem que ter necessariamente a ver com dinheiro, pode ter a ver com qualquer tipo de dados, mas é particularmente interessante para dados que precisem de ser seguros e inalteráveis. Imaginem que todo aquele dinheiro que desapareceu da PT e que o Zeinal não tinha memória, não se recordava e não tinha presente como, nem porquê. Pois, com um sistema com blockchain por trás, era impossível fazer esse tipo de transacções sem ficar claramente registado quem, como e quando… mesmo que o porquê fosse “porque sou um vigarista”, isso ficaria mais fácil de demonstrar quanto mais fácil seria seguir todo o rasto do papel.
Registos médicos, registos de identidade, o tal dinheiro ou qualquer outra coisa digna de registo seguro, inalterável e descentralizado terá toda a vantagem de ser baseado nesta tecnologia. Como tal – e por tudo o que disse e deixei nas entrelinhas acima – é natural que se diga de tudo para desacreditar o sistema. Ou acham que o Ricardo Salgado acharia piada a ser possível consultar registos detalhados de todas as suas transacções ao longo dos anos? Claro que não, quem controla a especiaria, controla o universo, ou, neste caso, a informação e o nosso guito.
Como cidadãos, temos todo o interesse que o nosso mundo, que já é digital, passe a ser assente numa tecnologia que nos permita manter sob controlo aquela pequena parcela de filhos da puta que regularmente abusa dos sistemas que só eles conhecem, só eles dominam e os quais só eles têm acesso. Portanto convido-vos a informarem-se mais sobre crypto currencies e blockchain, sobretudo blockchain, porque a minha capacidade de vos informar esgotou-se por aqui e apenas me resta fazer este apelo, porque sinto que este é um assunto talvez fulcral deste ainda recente século e que quanto mais conhecido e compreendido for pelo público em geral e não apenas pelos especialistas, melhor.
Aqui vai o meu pequeno contributo: algo da Harvard Business Review, um guia da Wired, uma cena na Coindesk e não podia faltar algo do New York Times.
Muito bom, claro e conciso… Gostei particularmente da referência ao Dune 😀… Bastante apropriada…
Obrigado :-)