Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Mais uma órbita… Passa um ano e a história repete-se um bocadinho, como que a sublinhar o seu papel, para que não me esqueça dela. No dia 2 de Novembro de 2015 embarquei num avião para Munique, numa viagem que me levaria a Zurique e, finalmente, São Francisco.
Era a minha primeira experiência na minha nova empresa, a Kwamecorp. Já passou um bocadinho mais do que um ano e a empresa até já teve oportunidade de mudar de nome. Agora, somos a Impossible Labs.
Mas a experiência mantém-se e, numa espécie de celebração dessa estreia há um ano, em Dezembro de 2016 estive de volta a São Francisco novamente e pela terceira vez, desde 2 de Novembro de 2015.
Durante essa viagem, estive a reler entradas da época da viagem de estreia na minha app de diário favorita, Day One, para iOS e macOS — aconselho vivamente. Mas, dizia eu, estive a reler entradas e isso levou-me a pensar que há uma série de coisas que podia estar a partilhar, mas que vão sendo empurradas para registos pessoais e acabam por nunca vir parar ao blog.
Quem segue o blog há mais tempo, não achará invulgar. Apesar de se manter em actividade desde 1999 (no milénio passado), a verdade é que este blog recebe um post por mês, quando recebe. Seja como for, aqui vai mais um.
Viajar para São Francisco em trabalho é, na verdade, viajar para o famoso Silicon Valley. O sítio onde nasceram algumas das empresas de tecnologia que todos conhecemos e cujos produtos usamos, não é aquela cidade de eléctricos e ruas íngremes onde o Bullitt conduz o seu Mustang, mas sim a longa faixa de “pequenas” localidades ao longo da baía, de casas organizadas em quarteirões, onde se demora mais tempo a ir a pé, do que de carro, ao restaurante ao virar da esquina, porque está tudo desenhado para nos deslocarmos em automóveis.
Menlo Park é o sítio onde estive a viver; Mountain View, onde estive a trabalhar; é uma viagem de cerca de vinte minutos entre os dois sítios – de carro, claro. Até São Francisco demoramos 45 minutos a uma hora, desde que não esteja muito trânsito.
Lá, as casas parecem todas feitas de cartão prensado, apesar de terem, muitas vezes, boas condições e bastante espaço. A construção é muito diferente da nossa, com casas de estrutura de madeira, muito gesso cartonado nos interiores e uma aparência por vezes bastante tosca. Os lotes são enormes e as construções todas baixas, já que espaço horizontal é o que não falta.
Em São Francisco há montes de edifícios bem mais interessantes, casinhas de madeira cheias de personalidade, com janelas grandes e cores diversas. Um quarto alugado numa dessas casas, custa, em média algures entre os dois e os três mil dólares mensais, muitas vezes em regime de sub-aluguer com o inquilino que paga muito mais que isso pelo apartamento inteiro. Na Bay Area, depende, mas não é necessariamente mais barato ter casa.
Algumas das moradias naquela zona são enormes, com front yard com Teslas í porta, cestos de basket e – nesta altura do ano – elaboradas decorações de natal que constituem a pouca iluminação das ruas dos bairros mais residenciais. Correr por lá, de noite, implica ter as pupilas bem dilatadas, porque a iluminação pública não é propriamente abundante.
O que é abundante é a variedade de produtos de consumo que estão por todo o lado. Restaurantes e bares, supermercados e shopping malls com todo o tipo de oferta e sempre com clientes a ir e vir. O Stanford Mall, em Palo Alto, é um desses malls, que pouco tem a ver com os shoppings que temos em Portugal. É, basicamente, um bairro em que os edifícios são todos lojas e os clientes andam na rua, da Urban Outfitters para o Macy’s, daí para a Louis Vuitton ou o Bloomingdale’s, da Nike para um restaurante qualquer ou talvez, quem sabe, até ao stand da Tesla, para encomendar um Model X.
Teslas, claro, são abundantes. Model S e Model X, há aos pontapés, o Model 3 ainda não está disponível, mas imagino que quando estiver, circulem pela Bay Area como formigas. Por contraste, gas guzzlers também não são invulgares, Dodge Challengers, Ford Mustangs ou pickups DMC de proporções rinoceronticas, mas disso vi ainda mais no Texas.
Apesar de tudo, na Califórnia, a consciência pesa um bocadinho mais e há muito vegetariano e vegan, orgânico e sustentável, zen e saudável. Mas os transportes públicos não são magníficos, embora o CalTrain funcione bem, e as auto-estradas de oito faixas estão sempre cheias de carros. Muitos híbridos e bastantes eléctricos, mas ainda cheira muito a gasolina no ar. Também, não admira, tendo em conta que a gasolina é baratíssima: com 25/30 dólares enche-se um depósito (já agora, nós e a panca das octanas… lá, a gasolina premium tem 91, a normal 87) – e lá se passam mais umas horas a ir de casa para o trabalho e de volta, com bastante trânsito í mistura. É fácil de ver no Google Maps as estradas a mudar de cor conforme o trânsito aumenta ou diminui, em tempo real, tal é a quantidade de utilizadores do serviço que há por lá.
Consegue-se perceber que as apps que usamos nos nossos telefones foram feitas ali e é ali que estão em casa. Tudo funciona espectacularmente bem, com montanhas de conteúdos, respostas prontas e uma utilidade indiscutível. O aeroporto brinda-nos logo com uma publicidade da funcionalidade de vídeo em directo do Facebook incitando-nos a usá-la enquanto esperamos pelas malas, placards nas estradas anunciam oportunidades de emprego na Cisco e toda a gente circula com o telefone no tablier do carro, a correr um serviço de mapas da sua preferência. A ironia é que o acesso í internet lá não é tão bom como em Portugal e ter uma boa ligação de fibra, como nós temos, não é, de todo, vulgar, mas o 4G é quase infalível e o smartphone quase indispensável.
Esta viagem representou duas semanas e meia de trabalho num dos maiores clientes da Impossible Labs, a Roche. Fomos iniciar um novo projecto, com uma equipa de três pessoas – dois designers e um developer – na área da saúde, especificamente tratamento de cancro (‘cancro’ é uma coisa completamente genérica, mas por agora serve). Todo o nosso trabalho está sob acordos de não divulgação e portanto não posso propriamente explicar do que se trata, mas vamos estar a fazer pesquisa, levantamento de requisitos, documentação e arquitectura de sistemas. Serviremos como uma espécie de cola entre as múltiplas equipas, concentrando em nós a responsabilidade de produzir as soluções finais para os múltiplos problemas que existem e forem surgindo durante o projecto.
Este é o quinto projecto de larga escala que fazemos com este cliente, além de dois mais curtos que poderão vir a crescer no futuro próximo, e o terceiro em que estou directamente envolvido. E devo confessar que me entusiasma muito mais do que trabalhar na mais recente app da moda, da mais nova startup do momento. O espaço para erro é ínfimo, mas a latitude para melhoria e mesmo inovação, é enorme.
Entretanto, a vida na Bay Area é feita de convivência com alguns colegas na casa da empresa. Convenientemente localizada, serve de alojamento para quem passa temporadas nos US e de uma espécie de hub de socialização que é um dos pontos fortes da nossa empresa: criam-se relações fortes nos objectivos profissionais, mas também na entre-ajuda do dia a dia, nas longas viagens (são 16-20 horas de trânsito para chegar a SF), nas refeições, manutenção e em todos os aspectos comuns na co-habitação.
Mantemos a casa abastecida, cozinhamos uns para os outros, trabalhamos ou chillamos frente ao Netflix, bebemos café abundantemente e não é de todo impossível que apanhemos umas cardinas ocasionais (ou, vá, frequentes).
Aos fins de semana, o que não falta são destinos para voltas, restaurantes para experimentar ou até jogos do Benfica para ver na respectiva casa, em San Jose.
O meu primeiro ano na Impossible Labs foi extraordinariamente enriquecedor. Fui muito bem acolhido e rapidamente comecei a sentir-me parte da equipa e dos projectos. Alguém me disse, recentemente que parecia que já estava na empresa há anos, o que é revelador do espírito de integração que faz parte da genética daquele grupo. Tudo foi novo neste ano, não só as pessoas, mas os métodos de trabalho, a natureza dos projectos, a dimensão dos clientes e, claro, as viagens. Estive em 24 aviões, em 13 meses, num total de sete viagens que me levaram a São Francisco, Nova Iorque, New Jersey, Amsterdão, Roterdão, Munique, Zurique, Londres e Barcelona. Conheci umas boas cem novas pessoas, senão mais, das mais diversas nacionalidades e partes do mundo. E, claro, aprendi uma montanha de coisas que não sabia, incluíndo coisas sobre mim mesmo que hoje me são preciosas.
Acima de tudo, a grande conclusão é que passar por uma grande mudança na vida é sempre um desatino, mas com cuidado, atenção e alguma sorte, é um desatino bestial!
Obrigado pela partilha!!!
Bom trabalho!
Obrigado, Ricardo!
Sou seguidor teu blog desde 2002.
O relato das tuas experiencias é uma boa fonte de inspiracao para a mudanca.
Boa sorte no novo (old) trabalho!
Obrigado!
sabe-se que os ratos são sempre os primeiros a fugir…
E que com três letrinhas apenas, se escreve a palavra “mãe”.
Acredito que tenha sido azar…o francês é tramado!
Arranja quem te foda, Simões, que isso parece mesmo falta de amor.
mais fodido do que tu foste?
Como continuas a confundir-me com alguém, vou ter que concluir que é contigo próprio. Lamento que a vida não te sorria, mas vê se arranjas outra coisa para fazer.
Fica-te mal não reconheceres as pessoas a quem pisaste os calos…continuo a pensar que teria sido uma ótima ideia teres aprendido francês, mas tu lá sabes!
Pois, realmente está difícil reconhecer-te, mas isso resolve-se bem: identifica-te e conta lá quando e como é que te pisei os calos. Porque eu não sou gajo de pisar ninguém e tenho a consciência tranquila, continuo a apostar que me estás a confundir com outra pessoa.
Quanto a aprender francês, essa tua convicção só demonstra que não me conheces de todo, nem sabes nada da minha vida. Eu não sou o Sherlock Holmes, mas tudo parece indicar que este é um caso de identidades confundidas.
Uma vez na zona das Picoas, pisaste-me o pé…ainda hoje me lembro, pois a unha do dedo grande nunca mais foi a mesma!