Há uns dias atrás, no átrio da escola, enquanto esperava pela Dee que vai deixar a Joana, depois de eu já me ter despachado de deixar o Tiago, uma criança que entrava, caiu. Espalhou-se, nada de mais, e a mãe ajudou-o a levantar-se.
Chorou, copiosamente. A mãe tentava confortá-lo e eu, a ver a uns metros de distância, lembrava-me de segunda-feira. Sete e meia da tarde, o treino de kung-fu prestes a começar, na Academia, quando o Tiago caiu. Andou até um plinto, puxou as calças para cima e eu vi o ar do instrutor quando olhou para ele. Estava feito.
O Tiago abriu o sobrolho, com uma pancada violentíssima na bancada de granito da nossa cozinha, ainda com 4 anos. O Tiago partiu o braço esquerdo, ao por-se aos saltos de cima de uma cadeira com rodas, na nossa sala, pouco antes do Natal. O Tiago cortou cerca de 2 cm de pele do seu pé numa grelha do respiradouro da banheira.
E na segunda feira, aquilo para onde o Quim, o instrutor da YMAA estava a olhar, era um corte com cerca de dez centímetros no joelho direito do Tiago. Ao tropeçar num colchão, aterrou de joelho numa placa de ferro usada para prender aparelhos de ginástica e abriu uma horrível ferida que parecia ir até ao osso. Ao que parece não era bem osso e sim gordura, mas era branco e quando vi, percebi que dali só para o hospital.
Chamaram uma ambulância e eu, os meus pais. Ambos vieram prontamente e andei pela primeira vez na vida, aos 39 anos, de ambulância, com o meu filho, já com a perna entrapada a caminho do HGO.
Mas comecei a história com o rapazinho que se estatelou no átrio da escola. É que o Tiago aguentou isto, deitado no chão do ginásio, com a perna garrotada por mim, com a manga de uma camisola, preocupado, sim, com dores, muitas, mas com um grau de auto-controlo absolutamente estupendo para um miúdo de cinco anos.
Berrou, claro. Ao ponto de ficar com a testa cheia de petéquias. Mas não se debateu, não se mexeu e mesmo quando se queixou que queria dobrar a perna, deixou-se ficar quieto quando lhe dissemos que não podia ser.
Os paramédicos é que lhe dobraram a perna, abriram a ferida para ver com o que lidavam, limparam, colocaram uma compressa e ligadura. E o Tiago aguentou.
Na foto acima, a ferida já estava muito inchada e não se consegue já perceber tão bem a profundidade.
No Hospital Garcia de Orta o tratamento foi, mais uma vez, irrepreensível. É a terceira ida com o Tiago ao Hospital, a primeira por uma gastroenterite violenta, a segunda por causa do braço. A cabeça e o pé trataram-se em casa; o joelho, no bonito estado em que estava, tinha mesmo que ser cosido.
Ficou com seis pontos e mais uma história para contar e mais um bocadinho de respeito do pai, que nunca imaginou que uma criança tão pequena aguentasse tanto castigo sem fitas, sem pinotes, sem serem precisas 5 pessoas para o segurar para lhe coser o joelho.
Quatro dias depois, está tudo com bom aspecto e a curar bem.
De há uns tempos para cá, comecei a interessar-me cada vez mais por calistenia, exercício feito usando apenas o peso do próprio corpo, sobretudo pela espantosa capacidade demonstrada por vários atletas em vídeos que facilmente se encontram na net.
Andei bastante tempo com a ideia de montar uma barra de elevações cá em casa, até que finalmente encontrei uma, mas ainda não a tendo montado na parede, por falta de tempo (e coragem para abrir os enormes buracos para meter a bucha química), tenho vindo a fazer simplesmente flexões, e nem muitas, por sinal. Mas foi baseado num desses vídeos, produzido pela equipa Barstarzz (barstarzz.com), que adaptei um programa “Armstrong”, homónimo de um qualquer militar americano que o desenhou para aumentar o número de elevações que conseguia fazer consecutivamente, í s minhas flexões.
Estando bastante magro e sem treinar há mais de um ano, conseguia atirar-me para o chão e produzir tristes dez flexões (deprimente, para quem fazia 50). Umas semanas mais tarde já fazia com facilidade 20 e agora aproximo-me das 30. Isto tudo com pouquíssimo treino, mas baseado no tal esquema que, para mim, tornando a coisa sistemática, a torna mais divertida.
Então a coisa funciona assim:
Dia 1: cinco séries do máximo de repetições possíveis, 90 segundos de descanso
Dia 2: progressão de 1, 2, 3, 5, 6, … Até não se conseguir fazer o número de uma série, 10 segundos de descanso e no final, mais uma série do máximo de repetições possível
Dia 3: três séries de flexões normais, três séries de flexões com as mãos juntas, três séries com as mãos afastadas; o número de repetições por série tem que ser o suficiente para aguentar as nove. 60 segundos de descanso
Dia 4: igual ao dia anterior, mas sem parar até estoirar (ie, sem limite de séries). Se se fizer mais do que as nove séries, então o número de repetições do dia 3 deve ser aumentado por uma repetição
Dia 5: repetir o dia mais difícil da semana anterior, o que tiver custado mais.
Dias 6 e 7: descanso
São treinos que se fazem muito rapidamente e que oferecem o desafio de progredir, dia após dia. Aconselho vivamente a manutenção de um diário de treino e a adaptação deste esquema a mais exercícios, para quem tiver mais disponibilidade para treinos mais longos.
Há uns anos atrás comecei a escrever um livro. Bom, para ser perfeitamente honesto, ao longo dos anos, já comecei a escrever vários, sem nunca acabar nenhum, como convém. Mas este é diferente, este é o que vou acabar, o que será o primeiro, talvez o único, mas que tem que ser feito, simplesmente porque é mais forte que eu.
Mas custa.
Passaram-se anos em que as primeiras páginas viveram num caderninho preto, uma ideia, um início e uma imagem de um fim. Faltava o resto. Depois decidi copiar tudo para digital e andar sempre com ele atrás – escrevi bastante mais, mas, í s 25 mil palavras encravei outra vez. Andei ali três mil para a frente, três mil para trás, sem ter a certeza de nada.
O meu final não era suficiente, mais cinco mil palavras e estava lá. Não ficava com um livro, ficava com um conto, mas pior que isso, ficava-me a parecer pouco, que não tinha chegado onde queria. O meu personagem tinha pouco que o redimisse e a situação pouco por onde evoluir.
Mas eu sabia que queria escrever aquela história, mais ou menos assim e aquele cenário, tal e qual estava, só me faltava ceder ao evidente: esta história tem que ser mais sobre mim do que eu queria que fosse. Tenho que parar de tentar basear o personagem em pessoas que conheço e deixá-lo tornar-se um bocadinho mais eu, por muito que isso custe.
Quando percebi isso, rescrevi o layout básico da história quatro vezes numa semana, a última das quais sentado nu no chão da casa de banho depois do duche, a tentar não pingar no iPad, teclando furiosamente no iA Writer (que recomendo, já agora).
Mas foi só quando percebi que a minha vida tinha que se confundir com o que escrevo, quando entendi que se eu não fizer a história minha, não vale a pena escrevê-la, que de repente me apaixonei por ela.
Agora se calhar vai custar um bocadinho mais a escrever, mas mal posso esperar por ver como acaba.
Sabiam que tenho um Tumblr? Só lá publico os meus mais profundos pensamentos que, curiosamente, me ocorrem sempre em inglês. Estou avariado, mas não faz mal.
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Sabiam que tenho um Tumblr? Só lá publico os meus mais profundos pensamentos que, curiosamente, me ocorrem sempre em inglês. Estou avariado, mas não faz mal. É aqui.