Doenças e hospitais

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

No domingo passado, o Tiago começou a ficar doente. Teve febre e fez diarreia. Não estávamos muito preocupados porque no dia anterior, a Joana tinha tido também um pico de febre e no dia seguinte já estava melhor.

A diarreia dele piorou um bocado na segunda, mas a febre desapareceu e na Terça já estávamos prontos para o mandar para a escola, mas ele queixava-se muito de dores de barriga e foi duas vezes í  casa de banho e portanto, pelo sim pelo não, ficou.

Durante o dia esteve bem, mas chegada a noite piorou. Vomitou o jantar e fez diarreia várias vezes até ir dormir.

Mas dormir não seria pací­fico. Começou a acordar para ir í  casa de banho por volta da meia noite e meia e í s quatro e meia, í  terceira vez que se levantou, começou a fazer sangue.

Às sete, sexta vez que ia í  casa de banho, já só fazia sangue e não era pouco. Sempre cheio de dores, todo retorcido – se teve metade das cólicas que eu costumo ter, coitado.

Marquei, assim que possí­vel, consulta com a pediatra, mas como ela só tinha vaga í s 15, levámos o Tiago ao posto para os meus pais o verem.

Não estava desidratado – tivemos sempre o cuidado de o fazer beber um pouco de água quando ia ao wc, mas os sintomas indicavam que devia ir ao hospital para ser visto, de preferência por médicos que não tivessem a responsabilidade acrescida de serem avós do paciente.

Fomos então para o Hospital Garcia de Orta pela primeira vez desde o nascimento da Joana. A verdade é que entre três avós médicos e uma pediatra, nunca levámos os nossos filhos ao hospital, até agora, mas também nunca nenhum deles tinha tido nada digno dessa visita.

Pelas histórias que ouço, esperava o pior. Foi, então, uma surpresa.

O hospital Gracia de Orta foi absolutamente impecável. Demos entrada na urgência pediátrica, esperámos um pouco após o que fomos chamados para a triagem, onde uma enfermeira fez várias perguntas, pesou o Tiago, mediu-lhe a temperatura e a tensão e mandou-nos esperar noutra sala.

Passado um bocadinho, chamaram o Tiago para a consulta onde foi observado e nós demos o historial todo do que se tinha passado desde domingo, incluindo uma foto que eu tinha tirado do tal sangue que era a única coisa que o pobre do miúdo conseguia fazer desde meio da noite.

Deram algumas bolachas e sumo ao Tiago, que não comia há mais de 14 horas, para ver se ele aguentava e tentou-se obter uma amostra das fezes o que não foi muito fácil, apesar dele ter ido várias vezes í  casa de banho. Estive sempre com ele a tentar ajudar e lá se conseguiu qualquer coisa para ir para análise.

Entretanto, ele queixava-se cada vez mais com cólicas e já só andava de um lado para o outro ao colo.

O Tiago ainda foi visto por uma outra médica, que me pareceu ser a chefe de serviço e posteriormente por um cirurgião. Todos foram impecáveis com o miúdo, observaram-no de alto a baixo e explicaram-nos cuidadosamente o diagnóstico e o tratamento.

Fomos finalmente para casa perto da uma da tarde, o Tiago ainda vomitou duas vezes e depois caiu no sofá, exausto e dormiu três horas.

Quando acordou, foi directo para a casa de banho e, para nosso alí­vio, nem sinal de sangue.

Confirmava-se então que tinha uma gastroenterite filhadaputa que lhe irritou o intestino ao ponto deste descamar e sangrar. Nas horas que se seguiram comeu um pouco e recuperou alguma da cor que havia perdido nas 24 horas anteriores. Dormiu bem e tem continuado a sua recuperação desde então até hoje, sexta-feira em que já anda aos pinotes e gritos pela casa a brincar com a irmã.

Anda voltámos ao hospital, para ele ser reavaliado, mas não havia grandes dúvidas de que estava em franca recuperação. Fartou-se de brincar com os médicos, no que foi correspondido.

Pensei um bocado antes de escrever este post e acabei por decidir fazê-lo por duas razões: primeiro porque para outros pais, pode ser importante saber que mesmo na presença de sangue nas fezes (ou mesmo, apenas sangue), não vale a pena entrar imediatamente em pânico: há gastroenterites agressivas o suficiente para causar isto e um post destes pode sempre servir de referência para outros que possam vir a viver a mesma situação. E segundo, porque quero deixar bem claro quão satisfeito fiquei com o serviço de urgência pediátrica do Hospital Garcia de Orta.

Todos os profissionais foram absolutamente impecáveis, dos médicos, í s enfermeiras e auxiliares. Os médicos de serviço chamaram um segundo e um terceiro colega para examinarem o miúdo e deram-nos assim, três opiniões sobre a situação, unânimes, mas sempre com a ressalva do que deví­amos observar que pudesse ser sinal de o diagnóstico ser outro.

Finalmente, foi-nos proposta a possibilidade dele ficar internado para observação. O que declinámos porque achámos que ele ficaria mais confortável em casa, onde seria observado de perto.

Sinceramente, no meio disto tudo, é insignificante, mas apenas lamento que seja tão difí­cil estacionar no Hospital. É um espaço tão grande e é tão difí­cil de arranjar um lugar que tive que deixar o carro num descampado a umas centenas de metros e depois trepar tudo até lá acima novamente, a pé.

E uma nota final, que não posso deixar de fora. Reparei que estava na sala de espera uma pessoa com uma criança com febre. Febre e nada mais. Foi-lhe administrado Brufen e esperou-se que passasse a febre.

O hospital até tem um póster na sala de espera que tenta explicar que situações são “de urgência”, mas isso não parece fazer diferença para estes e outros pais que ao mí­nimo sintoma normal das suas crianças, arrancam para as urgências.

Vão entupir as urgências, contribuindo para maiores tempos de espera e se calhar, mau serviço e pior, vão expor os filhos í s doenças dos outros.

Levar uma criança í s urgências para receber um medicamento que os pais podem administrar é um exagero que demonstra uma enorme falta de jeito dos ditos, honestamente. E compreendo que ter médicos na famí­lia me facilita a vida, porque qualquer dúvida que tenha pode ser esclarecida com um telefonema. Mas quando os meus filhos têm febre, eu sei o que fazer e acho que não é nada difí­cil de aprender e se mais pais tivessem mais tento na cabeça em vez de irem a correr para as urgências, talvez não fosse preciso esperar quatro horas, como í s vezes acontece¹.

1 – Cada caso é um caso. Há febres persistentes, muito altas, muito súbitas, sintomas de outras coisas, etc, etc. Mas acho que toda a gente sabe que há quem vá ao médico por estar constipado e as pessoas estão a desaprender de tratar as coisas mais simples como sempre se trataram, com as ditas sopas e descanso.

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