Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Lenda é bem capaz de ser a palavra. Um mito, no fundo.
Há uns tempos, numa acesa dicussão por causa do assalto ao BES, o Marco Santos recebeu o epíteto de “Madre Teresa” de um dos seus comentadores e, no calor da discussão, acabou por responder da seguinte forma:
E, já agora, desde quando ser uma Madre Teresa de Calcutá é sinónimo de banana, mole, ingénuo ou fraco? Vocês têm ideia do que aquela mulher fez pelos doentes e pelos abandonados da sociedade? Uma mulher que rejeitou a opulência hipócrita da Igreja e dos padrecos e viveu uma vida inteira sem pedir nada para si a não ser um tecto para se abrigar de forma a prosseguir o seu trabalho? Vocês têm ideia da coragem e da força e do altruísmo que é preciso para fazer o que ela fez?
A Madre Teresa era uma sádica que se alimentava de sofrimento humano
Durante a sua vida rejeitou de tal forma a tal opulência hipócrita de que fala o Marco, que contribuiu com mais de 50 milhões de dólares para os cofres do Vaticano.
No entanto, os pobres e oprimidos nunca tiveram condições melhores no seu hospício e sempre viveram em sofrimento e miséria. Com 50 milhões de dólares, ela poderia ter-lhes construído, por exemplo, um hospital. Mas não: viviam num casebre, em camas coladas umas í s outras, casas de banho comunais e em isolamento do exterior.
Estavam ali, depositados, para sofrer.
Era ela própria que dizia que na cara de sofrimento dos pobres, via a cara de Cristo e assim aproximava-se mais dele.
Usou milhares de pessoas que propositadamente manteve na pobreza e miséria para seu gozo pessoal. A Madre Teresa alimentou-se do sofrimento dos outros enquanto viajava pelo mundo recolhendo fundos para construir mais conventos e edifícios religiosos bem como, claro, para encher os cofres do Vaticano.
Madre Teresa? Coragem, força e altruísmo? Oh please…
O post original do Marco sobre o assalto ao BES era “A vida não é assim tão simples”, resta-me acrescentar que não, de facto não é.
E não me façam falar desse cabrão do Dalai Lama!
PS: Como o Marco referiu no seu comentário, falhou-me aqui qualquer referência a “onde é que este gajo foi buscar isto tudo”. Portanto aqui fica algo para ler:
– Artigo de Christopher Hitchen na Slate. Hitchen, escreveu um livro sobre o assunto, chamado “Missionary Position” e aqui está uma análise do mesmo pelo Sociólogo Michael Hakeem.
– Um artigo sobre Aroup Chatterjee, um médico de Calcutá que escreveu um livro sobre o mito da Madre Teresa.
– Um artigo levantando questões quanto ao destino do dinheiro recebido ao longo dos anos pela Madre Teresa e a sua organização, por Walter Wuellenweber.
– Um artigo de Susan Shields, ex-freira das Missionárias da Caridade, organização da Madre Teresa.
Espero que este post esteja agora mais completo e, como referi no meu comentário ao Marco, não seja visto como uma provocação. Às vezes, há pessoas que pensam de outra maneira ou desconfiam de coisas que são para nós verdades absolutas.
Não quero com isto dizer que ache que a Madre Teresa de Calcutá tivesse um plano diabólico para destruir o mundo; quero apenas dizer que não a creio tão benfeitora como foi pintada e acredito que vale a pena ser crítico, especialmente quando a Igreja Católica está envolvida.
E as tuas fontes são… Inclui links, sff.
Marco, antes de mais nada, este post não foi escrito para te provocar e se preferires, removo a parte que te refere. Simplesmente fiquei a pensar na maneira “matter of fact” como é habitual referir-se certas pessoas como poços de Bem, pessoas que se tornaram lendas de direito próprio sem que haja assim tanta certeza factual de que as suas vidas tenham sido tão abnegadas quanto isso.
A Madre Teresa deve ter sido vista mais vezes com grandes figurões e Chefes de Estado do que com os tais pobres que visava proteger. Ao longo dos anos que viveu, nunca vi o resultado do seu trabalho; apenas a vi rodeada de miséria e pobreza.
Gostaria de ter visto as pessoas que ajudou a curar, cujas vidas melhorou, cuja pobreza debelou. Mas essas pessoas, nunca as vi. Porque, acredito, não existem.
Ela professou a pobreza como ideologia. Miséria como proximidade do divino e isso contraria a ideia de que ajudou os pobres e enfermos. Ajudar os pobres, seria combater a pobreza, algo que ela acreditava que devia ser prepetuado.
A investigação e artigos de Christopher Hitchens expõem um pouco isto, mas, claro, como o Hitchens era um grande bêbado (acho que deixou de beber entretanto), provavelmente é pouco levado a sério. Mas vale a pena ler este artigo, pelo menos:
http://www.slate.com/id/2090083/
A Madre Teresa era uma freira católica e próxima do Papa. Não acredito que tenha gerido sozinha os donativos que sacou ao longo dos anos e não me parece que tenha renegado a tal hipocrisia da Igreja de que falas. Pelo contrário, ela e ainda é, uma das figuras centrais dessa mesma Igreja.
Se a sua única intenção fosse fazer o Bem, longe da influência corrupta de uma Igreja anafada poderia tê-lo feito sem religião.
No entanto, mostrem-me milhares de pessoas com casas, comida e saúde, resultado do seu trabalho e eu aí penso duas vezes.
Não me importo de mudar de opinião, mas esta é a que tenho agora. Vou actualizar o post com links que não pus porque estava com pressa para me ir deitar, mas já que a insónia atacou…
PS: e é mesmo verdade que também não gramo o Dalai Lama, mas podemos falar sobre isso noutra altura.
Não senti nada como uma provocação. Aliás, eu gosto de provocações. Sigo-me apenas pela velha máxima: «afirmações extraordinárias requerem provas extraordinárias». Acho que foi o Carl Sagan que disse isto.
E ainda bem que comentei. O artigo ficou muito mais bem defendido. Agora só me resta ler – mas terá que ficar para amanhã, ainda tenho a Tretatologia Zeitgeist para terminar… 16 mil caracteres escritos até agora. Eu sei, não regulo bem. Se há posts do Bitaites que só são lidos por mim, este é de certeza um deles.
Abraço.
Caro Pedro,
Acompanho de perto a casa da Congregação de Madre Teresa em Setúbal e o trabalho social que fazem.
Talvez fosse um sítio bom a visitar!
Abraços,
Ricardo
estava a pensar como podia comentar este post…mas acho q a única coisa q posso dizer é que isto devia sair num jornal com bastante tiragem :)
claro q depois tinhas q contratar uns capangas hehehe
Ricardo, não tenho dúvidas que a Madre Teresa tenha inspirado algumas obras de caridade como a que referes, isso não retira uma vírgula do meu post.
Está a santificar-se uma pessoa que se calhar não foi bem a pessoa que toda a gente pensa.
“Não quero com isto dizer que ache que a Madre Teresa de Calcutá tivesse um plano diabólico para destruir o mundo”. Estás enganado, Pedro. A Madre Teresa tinha plena consciência do que fez, assim como o Dalai Lama sabe o que está a fazer. Esse é que é o grande drama…
Pois, exacto! Eu sei que ela sabe o que fez. Quis mesmo ser literal: não creio que o plano dela fosse destruir o mundo, mas não duvido que fosse fazer disparar o número de conversões ao catolicismo, aproveitando para se deleitar no sofrimento dos outros. Sadismo, portanto.
Olá!
Sem querer entrar em grandes comentários particulares ao caso, concordo quando dizes que numa história há sempre dois lados: o bom e o mau, mas duvido que sejam tão extremistas quanto isso. ou seja, tal como duvido na santidade extrema da senhora também acho dificil que fosse um génio do mal “alimentado pelo sofrimento alheio”. Enfim, são pontos de vista.
Quanto ao factor religião, a verdade é que há muitos casos de pessoas que sentem um impulso totalmente abnegado de ajudar os outros. confesso que admiro imenso essas pessoas e não as acho melhores ou piores por acreditarem am algo para além do óbvio.
apesar de não me considerar uma pessoa religiosa no sentido estrito do termo, não acho que o facto de o ser torne alguém num pequeno ditador.
Hum… mais um bocadinho e sai uma nova teoria da conspiração. :P
Marco, estás a ficar obcecado. Não há nenhuma conspiração aqui, a menos que consideres o bom velho mo da ICAR conspirativo.
Maria: o problema da religião neste caso é a doutrina da salvação por via do sofrimento e da pobreza. Se crês que é dos pobres o reino dos céus, certamente não queres ver os pobres… deixarem de o ser.
É por estas e por outras que eu defendo o fim da religião. Se a droga faz mal, a religião faz pior. Karl Marx estava errado quando disse que a religião é o ópio do povo. A religião é, sim, o cianeto do povo.
Claro que o fim da religião não vai acabar com os malucos, mas tira-lhes alcance e “tempo de antena”.
(estarei a ser muito extremista?)
@Maria
Os sádicos alimentam-se do sofrimento alheio. Se o puderem perpetuar, eles não hesitam em fazê-lo.
Isso é extremismo Bruno. Tu não és ninguém (tal como eu) para impí´r sobre os outros a religião ou o fim desta. Estás a acabar com a liberdade individual de cada um. Isso nunca permitirei que ninguém me faça (e não, não sigo nenhuma religião). O que disseste é tão moralmente tão grave quanto a Inquisição.
A Madre Teresa alimentou-se do sofrimento dos outros enquanto viajava pelo mundo recolhendo fundos para construir mais conventos e edifícios religiosos bem como, claro, para encher os cofres do Vaticano.
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Steven
Posso, pelo menos, ter a certeza que as doações nunca foram para salvar os carentes, mas sim uma pequena parte para mantê-los como carentes, conheci um respeitado senhor que fazia com seu caminhão a entrega das doações nos postos de arrecadação, ele ficou horrorizado, com a faxina que todos faziam, as doações, e creia não eram para os menos afortunados.
A população faz doações generosas, que se fossem igualitariamente distribuídas, deixaram muitos livres da promessa, que os pobres herdarão o reino dos céus.