Oito coisas foleiras portuguesas

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Os povos são foleiros, por definição. É mesmo isso que é ser povo: é partilhar com um grande número de pessoas várias foleirices definidoras. Mas as maiores foleiradas não são aquelas mesmo tí­picas, como o grande bigode com cheiro a vinho tinto, a camisa aberta com o pelum a sair e uma crucifixo de ouro perdido no matagal. Essas são demasiado óbvias. As melhores foleiradas são aquelas cujos prevaricadores ignoram como tal. Como estas oito, com grau de foleirice cientificamente testado e aplicado numa escala de 0 a 10, portanto, aqui vão oito coisas foleiras portuguesas:

1 – Fita do senhor do Bonfim

É muito difí­cil levar a sério um gajo com uma carreira profissional estabelecida, um lugar estável numa grande empresa, uma posição de poder e responsabilidade sobre um grupo razoável de pessoas que anda com uma fitinha de tecido atada ao pulso, com um ar gasto e coçado.

Diz o folclore que se deve dar três nós na fitinha e pedir três desejos que serão satisfeitos quando o tecido se desgastar e a fitinha cair por si. Lérias, evidentemente. Nada demonstra mais tacanhez mental do que ser supersticioso e andar com uma fitinha destas só pode ser superstição, porque se é pelo valor estético, então a coisa piora dez vezes.

Grau de foleirice: 6 se o utilizador for mulher, 8 se for homem.

2 – Telemóvel í  cintura

Ora aqui está um clássico intemporal! Quem nunca ouviu dizer: “Jovem, se és construtor civil e gostas de aventura, usa o telemóvel í  cintura!”, o meu amigo Fernando diz isso a toda a hora e ele sabe do que fala porque passa o dia com construtores civis.

Mas se todos esperamos que os construtores civis sejam tipos foleiros (a pulseira de 12kg de ouro maciço a balouçar no pulso, dependurado da janela do Mercedes), o que dizer de homens de negócio, no seu melhor fato Hugo Boss, que, quando o seu Motorola Razr vibra, o sacam de uma pochette de cabedal que está pendurada no seu cinto de pele de crocodilo?

A pochette para o telemóvel é o coldre do yuppie e ninguém consegue usar uma e ter o mí­nimo de aspecto cool.

Grau de foleirice: 7 se for homem; 10 se for mulher (acho que nunca vi nenhuma, felizmente)

3 – Bolsinha de cintura ao pescoço

Há muito tempo que os homens se debatem com o problema de carregar os seus pertences. Problema que as mulheres resolveram há muito com toda a espécie de malas, malinhas, sacos e pochettes. Mas homem que é homem, tem uma verdadeira luta interna no que toca a recolher os seus itens essenciais num contentor adequado í  sua masculinidade.

E foi assim que surgiram algumas das malas mais foleiras da história, a famosa paneleirota já não circula muito por aí­, portanto fica ausente desta lista. Também conhecida como “malinha das pixas”, é uma malinha com uma tira de couro para andar pendurada no pulso.

Mas a grande substituta desta magní­fica forma de transporte de objectos, é a pochette de cintura, a malinha-banana, a fanny-pack. Se uma bolsinha de cintura já é um pouco (muito?) foleirota, o que dizer de andar com uma pendurada ao pescoço?

O mais foleiro desta atitude é que vem de uma clara incapacidade de certos homens simplesmente comprarem ou uma mochila ou uma mala de tiracolo e pronto. Como acham ambas essas opções demasiado maricas, optam por uma bolsa mais pequena, com um ar geralmente mais desportivo e depois usam-na ao pescoço como se fosse um pequeno mamí­fero a quem acabaram de partir o pescoço.

É portanto, um sí­mbolo másculo de carregar a caçada de volta para a toca. Absolutamente patético. E mais patético ainda é ver miúdas a fazer precisamente o mesmo.

Grau de foleirice: 7 tanto para homens como para mulheres.

4 – Auricular bluetooth completamente fora de contexto

Um auricular bluetooth é um item razoavelmente prático. Embora continue a ser perigoso conduzir e falar ao telefone, porque o que causa maior perigo é a distracção de ir a conversar e não necessariamente ir com um telefone na mão, a coisa é talvez melhor com um auricular. Não sei, é discutí­vel.

O que não é discutí­vel é que andar com um auricular bluetooth colocado na orelha durante todo o dia, em qualquer lugar é do mais foleiro que há. Este é um daqueles tí­picos actos do homem moderno, evoluí­do e techno-savy. Pelo menos na sua imaginação.

Esta é uma pessoa tão importante e ocupada, que tem que ir para o hipermercado com o auricular bluetooth colocado na orelha direita, não vá o Director Geral dos Assuntos Internacionais de Qualidade ligar-lhe sobre um tema da mais urgente importância.

É, evidentemente, o acto de um pelintra desesperado por atenção e carregadinho de auto-importância. A coisa é tanto piorada quanto menos se vê tipos destes efectivamente a falar ao seu auricular. Limitam-se a arrastar os putos pela secção de jogos de consolas da Fnac com a sua estúpida luzinha azul a piscar desesperada, qual truta a espadanar no fundo de um balde.

Grau de foleirice: 8 para homens, 10 para mulheres (mais uma vez, não me lembro de ter visto nenhuma nesta figura).

5 – Tatuagens fatelas

As tatuagens eram coisas de gajos beras: marinheiros de má onda, prisioneiros de longa data, motoqueiros com hálito a cadáver.

Aos poucos, as tatuagens passaram para o mainstream e qualquer pita ranhosa de 14 anos já tem um ass-target tatuado no fundo das costas. Depois admiram-se…

As tatuagens costumavam ter significado: um gajo, por muito bera que fosse, não se tatuava com uma bowie a atravessar um coração e uma caveira, tudo enrolado por uma serpente, se isso não significasse que tinha morto a própria mãe, por amor de uma mulher, que mais tarde o enganou tornando-o um alcoólico amargurado.

Hoje em dia, umas têm significado e as outras são meramente decorativas e, na generalidade, completamente idiotas, já para não dizer mal desenhadas. Há poucas coisas mais foleiras do que o gajo de vinte e poucos anos que anda a encher no ginásio e vai a meio de uma “tribal” (embora ele, no fundo, não faça sequer ideia do que é uma tribo, quanto mais quais as tradições das várias populações que ainda vivem neste tipo de sociedade), grotescamente desproporcionada e bastante tosca, como se desenhada por um anão zarolho com parkinson.

Gostava de ver esse jovem daqui a dez anos a tentar arranjar emprego.

A rainha das tatuagens fatelas são as letras chinesas que dizem “adoro ser vergastado na cara por pilas do tamanho de Range Rovers”, mas que o dono está convencido que diz “paz, amor, harmonia e feng shui”. Moças com ass-targets estão na mesma categoria. Se gostam de apanhar no rabo (não há nada de errado com isso, desde que todos sejamos adultos e coniventes no acto), então por favor tatuem: “gosto de sodomia”; não é preciso estar com rodeios.

Se têm alguma coisa de marcante a dizer, por favor pensem bem no assunto e tatuem-se de acordo. Se gostam de se enfeitar, nada de errado: escolham um motivo que vos agrade e disponham-no na vossa pele. Agora, por favor, se não têm a quarta classe, limitem-se a kalkitos do bollycao.

Grau de foleirice: 6 a 8 para homens, conforme o ní­vel de horripilância do desenho; 9 se forem letras chinesas que nem sequer compreendem; 8 para mulheres com ass-targets e/ou qualquer coisa com Golfinhos.

6 – Camisas coloridas com colarinhos brancos; também: cor de rosa integrado num fato

Eu não sei o que passa pela cabeça destes homens que vestem fato com uma camisa cujos punhos e colarinhos são brancos, ao contrário do resto da camisa que é azul, verde ou… pior ainda: cor de rosa.

Não sei quem teve a ideia de fabricar camisas assim, nem qual o objectivo, mas por muito que pense no assunto, não vejo qualquer razão lógica para desenhar uma peça de vestuário tão absolutamente foleira.

Seja qual for a tua cara, se vestires uma camisa azul com colarinhos e punhos brancos, ficas imediatamente com cara de cú í  paisana. É imediato e irreversí­vel.

E a foleirada é mesmo adequada ao espí­rito deste artigo, porque quanto mais macho man do mundo dos negócios, mais vemos destas camisas. Quanto mais alto o ní­vel de vida, mais cara e feia a camisa. Esta não é uma foleirice de taxista ou camionista: essas são honestas! Esta é tão mais foleira quanto a arrogância e bullshitismo abundam no utilizador (vide mister P. Portas).

Dentro desta categoria está o uso do cor de rosa num fato de homem. Se o fato for todo cor de rosa, se o homem se chamar George Michael e se estiver na altura a ganhar milhares de dólares a actuar ao vivo, tudo ok (desde que a camisa seja preta e a gravata também rosa), mas se o fato é um Brooks Brothers sóbrio e clássico, o cor de rosa não faz lá falta nenhuma: nem um fato cinzento com gravata rosa, nem um fato preto com camisa rosa, nem um fato de tweed com camisa rosa de punhos brancos e gravata vermelha.

Se usam fato, aguentem-se í  bronca e deixem-se de passarinhisses: é foleiro.

Grau de foleirice: Esta é só para os meninos: 8.

7 – Pulseirinhas de borracha de apoio a causas nobres

Esta está quase ao ní­vel da fitinha do Bonfim, mas é pior. Sabem o que dizem estas pulseirinhas sobre quem as usa?

“Eu apoio o chinês que fabrica estas pulseirinhas”.

Se apoiam alguma causa, tudo muito bem: dêem-lhes dinheiro ou géneros; não comprem, por favor, uma pulseirinha de plástico. Isto é tão ou mais foleiro que as fitinhas que se usavam há uns anos atrás, ao peito, em que chegava a ser mais significativo andar de fitinha vermelha do que, efectivamente, usar preservativo.

Porque é que acham que o mundo precisa de saber se são contra o cancro da mama (haverá alguém a favor do cancro de seja o que for?). Não me parece que uma pulseira de plástico vá motivar os outros a dedicarem-se a uma qualquer causa. Querem ajudar? Dêem-se como voluntários.

Grau de foleirice: para quem efectivamente apoia a causa: 7; para quem nem sequer sabe o que fazer para ajudar: 10.

8 – Gordos de roupa apertada, magricelas de roupas largas

Ser gordo é, em 90% dos casos, uma questão de escolha. Não me venham com as merdas das glândulas, porque acho que ainda não há nenhum Hí¤agen Dazs glandular.

Cada um é como quer e como se sente bem. Se não se sentem bem gordos párem de comer!

Agora que isto ficou esclarecido, só uma nota: há poucas coisas mais foleiras que uma gorducha anafada de calças í  pirata e saltos-altos, com as banhas a pender pela cintura descaí­da e o ass-target (ver acima), a ondular com cada passo.

Amem o vosso corpo, mas por favor, vistam qualquer coisa do vosso número! Ou bem que se aceitam tal como são, ou bem que estão a dar uma grande tanga a toda a gente quando dizem isso.

E o que dizer dessa maravilha que é o gajo que pesa 42 kg. e anda com umas calças 3 números acima, pelo meio das nádegas? Por favor, alguém compre umas calcinhas a estes rapazes! O que vos leva a crer que alguém está interessado em ver as nódoas suspeitas das vossas cuecas?

Não sei o que é pior: cú gordo a transbordar de calças feitas para adolescentes magrinhas ou peida de gajo completamente de fora de uns jeans obtusamente descaí­dos.

É que nada disto é fashion. É, simplesmente, foleiro!

Grau de foleirice: para andar com o cú de fora, é bom que sejam Vida Guerra, tirando ela, 10 para todos.

E pronto, eram para ser dez coisas, mas não tenho tempo. Espero ter contribuido positivamente para a evolução da nossa sociedade como, aliás, já é meu hábito

Boas Festas.

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Não sei se isto é interessante…

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

…mas são quatro da manhã, estão 28 graus no meu quarto e eu não consigo dormir.

O wordpress.com tem cerca de 30% de visitas com o Firefox em 115 milhões. Não sei em quanto tempo fazem os 115 milhões, mas 30% de Firefox é absolutamente esmagador tendo em conta a quantidade de pessoas que ainda professa que o browser devia ser ignorado tendo em conta a sua margem de mercado insubstancial.

  1. 62.46% – Internet Explorer, sub-breakdown by popular request
    1. 64.10% – Version 6.0
    2. 35.17% – Version 7.0
    3. 0.28% – Version 5.5
  2. 30.74% – Firefox
  3. 3.83% – Safari
  4. 1.78% – Opera
  5. 0.52% – Mozilla

Acho que é precisamente aqui que os ultra-geeks falham e se espalham redondamente de tromba no chão. Os ultra-geeks não gostam de wordpress, porque é demasiado popular e muito mainstream e o código não está todo, sei lá, alfabetizado, nem contém citações escondidas do Eric S. Raymond e enquanto têm a cabeça enfiada no cú para melhor falarem com o seu Steve Jobs interior, o mundo vai mudando noutras paragens.

Ou se calhar é só porque são quatro da manhã e eu tenho que ir trabalhar sem ter dormido, outra vez, daqui a bocado e estou um bocadinho beligerante. E há qualquer coisa no Opera que me mete profundo nojo.

Bah! 

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