Natal e tal

Publicado em , por macaco

Hoje é dia de natal, o que, sinceramente, não me diz especialmente muito.

Ontem sim, foi o dia que tem algo de especial. Nunca tinha pensado nisto antes, porque na minha família o natal sempre foi uma festa, mas há muita gente que não suporta o natal. Há muitas pessoas que se sentem forçadas a juntarem-se a outras pessoas de quem não gostam especialmente e a comer bacalhau, quer gostem quer detestem. Há pessoas que esperam horas a fio para que seja meia-noite, porque a tradição assim o manda, apenas para trocarem uma prenda com cada outro membro da família e depois de levantarem os que estão bêbados do chão, irem para casa guardar um par de meias na gaveta e deitar para o lixo uma boneca de porcelana de mau gosto, oferecida pela tia que praticamente não conhecem.

Sinceramente que em 28 natais que já passei, este foi o único em que pensei nisto. Deixem-me então dizer porque é que eu gosto do natal.

Não somos religiosos. Tanto que não somos religiosos que, durante algum tempo, os meus pais sorteavam o dia do Natal, que podia calhar em qualquer altura, desde que mais ou menos perto do Inverno. Enfim, o natal devia ser quando um homem quiser e essas coisas. Portanto o natal para nós não é especial por qualquer crença cristã que guie as nossas vidas.

Não vou ser hipócrita e dizer que a minha família é muito boazinha, unida e feliz. Mas temos de facto um conjunto interessante de laços fortes, amizades e amor diverso que nos tem mantido bastante próximos ao longo dos anos.

Portanto a noite de natal é sempre uma oportunidade para nos divertirmos à grande e à francesa. Outra característica importante da nossa família é que de facto gostamos à brava de dar coisas uns aos outros. Temos um prazer indiscritível em ter prendas sensacionais para toda a gente, tanto que o nosso natal tem uma regra: ninguém desembrulha uma prenda ao mesmo tempo que outra pessoa e toda a gente pode exigir ver TODAS as prendas.

Mesmo assim há sempre prendas que ninguém consegue ver, tal é a algazarra.

Este ano éramos dezoito, senão vejamos: os meus pais e os meus tios, as minhas duas primas e os meus avós, a minha tia Bela e o Doctor, mais os pais do Doctor, que desde o ano passado que também se juntam à festa, a minha irmã e o recente marido, os pais do meu tio Jorge e finalmente eu e a Dee. Dezoito.

Não sei exactamente quantas prendas foram trocadas, mas posso fazer um cálculo, visto que eu recebi 40, se toda a gente tiver recebido o mesmo que eu, chegamos às 720… bom, não exageremos demais… nem toda a gente recebeu 40 prendas, uns recebem menos prendas, mas mais caras, por exemplo. O meu pai recebeu um DVD Sony e a Bela um DVD Mustek, ambas excelentes escolhas; os meus avós foram presenteados com uma aparelhagem Sony e um telemóvel novo, houveram brincos e anéis diversos, sapatos, camisolas, calças e underwear; filmes, discos e livros é sempre à fartazana; pequenos electrodomésticos, objectos decorativos e bonecos de peluche também não faltam; brinquedos para a minha prima de sete anos, são sempre aos molhos. Enfim, se nem toda a gente recebe 40 prendas, haverá quem receba 50, se for preciso e quem receba, pelo menos, 20… portanto eu ponho a média em 25 prendas por pessoa, elimino duas pessoas às 18 e obtenho 400.

Não me custa a aceitar que tinhamos de facto entre as 300 e as 400 prendas ontem na sala dos meus pais. A árvore de natal é uma coisinha minúscula enterrada em embrulhos de várias cores e a distribuição é feita por pessoas que se vão revezando, tendo este ano estado a cargo de 4 pessoas diferentes.

Não poderia ser senão divertido, estar das dez e meia da noite até às três da manhã a trocar prendas, ainda por cima quase todas giras. É que ainda temos outra tradição familiar: a lista de prendas. É uma tradição que temos há muitos anos… aproximando-se a altura do Natal, toda a gente “publica” uma lista de coisas que precisa ou gostaria de ter. Todos trocamos as listas entre nós, combinamos prendas uns com os outros, reservamos items, fazemos vaquinhas e acabamos por comprar às pessoas coisas que elas realmente querem ter.

Claro que também nos esforçamos por decidir nós próprios determinadas prendas, para não tornarmos a troca de prendas numa simples entrega de mercadoria previsível. Enfim, somos os nossos próprios pais natais.

No final da noite estamos todos cansadíssimos, mas, regra geral, divertidos. Saímos todos com sacadas de prendas (eu e a Dee devemos ter trazido para casa perto de 70 items diferentes em seis ou sete sacos e caixas) e com a falsa promessa de que “para o ano não pode ser assim, têm que ser menos coisas”; claro que, sem falha, a cada ano temos mais prendas ainda.

Portanto… se eu gosto do natal? Gosto pois. :)

Para acrescentar à minha lista de prendas recebidas, que não repito aqui por pudor, hoje ao fim da manhã ainda troquei mais uma prendinha simbólica com a Dee… eu dei-lhe um software de virtual make up que ela andava a namorar há algum tempo e ela ofereceu-me uma UPS.

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Um comentário a “Natal e tal”

  1. Vitor says:

    Ha! Um post sobre o Natal em que afirmas que gostas do Natal! (coisa rara! – será um “marco importante”?)

    Mas mesmo considerando que o post já é bem velhinho, mas repara agora numa coisa curiosa vinda de um “religioso” (não gosto mesmo NADA desta palavra, prefiro “crente cristão”):

    Na minha famí­lia, sendo cristãos, as prendas ficam APENAS para as crianças, e as MAIS pequenas com a primazia sobre as mais crescidas!

    Realmente, poderiamos considerar um recorde, essas 700 prendas reunidas na mesma sala, mas acaba por ser uma subversão total do propósito da coisa…

    Aliás, nesta coisa das trocas de prendas do Natal dou inteira razão aos espanhois, que, na ‘tal’ adaptação da festa pagã do solstí­cio de inverno para a celebração do nascimento de Cristo, apenas trocam as prendas no dia de Reis! Ok, se adaptamso as coisas, que o façamos “correctamente”. Segundo os evangelhos, o menino que havia nascido recebeu as prendas dos Reis DEPOIS de ter nascido (e não no próprio dia do nascimento)

    Mas claro que o Natal é quando um homem quiser e pronto! (e nem poderemos proibir os não crentes de trocarem prendas, ora bolas! Mas mesmo assim… 700 pacotes sempre são 700 dores de cabeça… “-o que vou oferecer?” – mesmo com as listas… ui…!)

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