H\u00e1 algum tempo atr\u00e1s – n\u00e3o muito – interrogava-me porque seria que eu, ateu relativamente convicto, usava exclama\u00e7\u00f5es como “meu deus” e “ai jesus” ou “valha-me o cristo” ou a minha preferida: “jesus, maria, jos\u00e9!”.<\/p>\n
Pronto, esta \u00faltima na verdade n\u00e3o uso muito, mas digam l\u00e1 que n\u00e3o \u00e9 uma exclama\u00e7\u00e3o fant\u00e1stica.<\/p>\n
Apercebi-me ent\u00e3o que a cultura crist\u00e3, ou judaico-crist\u00e3, est\u00e1 de tal forma embebida no tecido da nossa sociedade (ou ser\u00e1 o dito tecido que est\u00e1 embebido na tal cultura?), que me \u00e9 imposs\u00ed\u00advel n\u00e3o soltar um “meu deus”, ou mesmo um “oh deus!”, quando tenho um orgasmo.<\/p>\n
Mais uma vez estou a mentir, mas queria mesmo usar a palavra “orgasmo”, neste artigo, porque acho que me d\u00e1 um ar adulto e desinibido.<\/p>\n
Bom, a minha conclus\u00e3o do tal tecido embebido na tal subst\u00e2ncia cultural, n\u00e3o \u00e9 propriamente original, nem algo em que n\u00e3o tivesse pensado antes, mas o que \u00e9 facto \u00e9 que me levou a concluir que a hist\u00f3ria de Jesus, o Cristo (porque Cristo n\u00e3o era apelido, era t\u00ed\u00adtulo), se tornou uma lenda que quase toda a gente (sen\u00e3o mesmo, toda a gente), conhece.<\/p>\n
Se n\u00e3o conhecem a hist\u00f3ria completa, conhecem pelo menos as notas da contra-capa: Jos\u00e9 e Maria uma noite param num pardieiro, nasce um menino sob uma estrela; v\u00eam tr\u00eas reis magos trazer presentes (por isso \u00e9 que temos prendas no Natal); depois de crescido, o menino \u00e9 pendurado numa cruz, morre e depois ressuscita e vai para o c\u00e9u porque era filho de deus.<\/p>\n
Toda a gente sabe isto.<\/p>\n
E o que me parece, \u00e9 que toda a gente sabe isto porque a coisa se tornou, como eu dizia mais atr\u00e1s, uma lenda.<\/p>\n
Esta \u00e9 a altura em que eu seria apedrejado por padres e beatas em f\u00faria, apesar de estarem a ir contra um dos pecados mortais (raiva) e um dos dez mandamentos (n\u00e3o matar\u00e1s). Mas a verdade \u00e9 que a hist\u00f3ria de Jesus, o Cristo, com mais ou menos detalhe, come\u00e7a a confundir-se um pouco com a do Rei Artur ou a de Robin Hood.<\/p>\n
Sen\u00e3o vejamos: discute-se se Jesus existiu, tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 certo que o Rei Artur tenha sido um verdadeiro rei e ningu\u00e9m acredita l\u00e1 muito no Robin Hood. Todos tinham super-poderes: Jesus transformava \u00e1gua em vinho; o Rei Artur arrancou a espada da pedra e o Robin Hood acertava num mosquito a 3 km, apesar de ser vesgo. E todos eram bons e justos: Jesus pregava o amor ao pr\u00f3ximo; o Rei Artur era, tipo… huh… fixe; e todos sabemos que o Robin Hood roubava aos ricos para dar aos pobres – opera\u00e7\u00e3o que devia repetir no sentido inverso quando os ricos ficavam pobres e os pobres, por via do saque, ricos.<\/p>\n
Conclu\u00ed\u00adndo: acho que, retirando a obscura obsess\u00e3o eclesi\u00e1stica com o poder e eliminando a religiosidade exacerbada de toda a hist\u00f3ria, “as aventuras de Jesus, o Cristo”, poderia ser um grande \u00eaxito juvenil, sendo tamb\u00e9m uma agrad\u00e1vel leitura para adultos.<\/p>\n
Tendo em conta que tanta gente l\u00ea o Harry Potter, n\u00e3o me custa nada a acreditar.<\/p>\n
Acho portanto, que est\u00e1 na altura de escrever um livro que relate a vida de Jesus, o Cristo, sem religi\u00e3o! Ser\u00e1 um grande desafio: punha-se um ateu a re-escrever os novos testamentos.<\/p>\n
O ponto de partida \u00e9 que Jesus, o Cristo, era um gajo cheio de ideias, que acabou lixado por um amigo que se vendeu para pagar uma d\u00ed\u00advida de jogo. Seria preciso contar toda a hist\u00f3ria, mas retirando todas as refer\u00eancias a deus, milagres e truques de ilusionismo duvidoso: nada de falar com os peixes, nada de transformar pedras em p\u00e3o e sobretudo, nada de ressuscitar os mortos.<\/p>\n
No final, ver\u00ed\u00adamos se ainda achavam assim tanta piada a esse fulano…<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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