<\/p>\n

Li recentemente o primeiro volume da s\u00e9rie \u00c2\u00abMin Kamp\u00c2\u00bb (\u00c2\u00abA Minha Luta\u00c2\u00bb), de Karl Ove Knausg\u00ed\u00a5rd. O livro chama-se simplesmente \u00c2\u00abMin Kamp 1\u00c2\u00bb, embora eu tenha lido a tradu\u00e7\u00e3o para ingl\u00eas do original noruegu\u00eas, que recebeu o subt\u00ed\u00adtulo \u00c2\u00abA Death In The Family\u00c2\u00bb.<\/p>\n

Confesso que para uma pessoa que gosta de escrever e adora palavras e frases, ritmo e estilo n\u00e3o sou um grande leitor e certamente n\u00e3o estarei armado com a ret\u00f3rica necess\u00e1ria para fazer uma cr\u00ed\u00adtica do livro que fa\u00e7a lhe fa\u00e7a jus ou que seja informada, comparativa e at\u00e9 literariamente contextualizada.<\/p>\n

Por isso, opto por dizer que gostei muito do livro, que o li como se conversa com uma pessoa e se vai contando e ouvindo hist\u00f3rias que fluem naturalmente. O livro \u00e9 autobiogr\u00e1fico, mas a vida do autor n\u00e3o \u00e9 invulgar, embora para quem cresceu em Portugal seja pelo menos curiosa por passada na Noruega. Algumas situa\u00e7\u00f5es s\u00e3o mais dram\u00e1ticas, outras, mundanas; mas a forma como as hist\u00f3rias s\u00e3o contadas e o alicerce emocional que as sustenta s\u00e3o t\u00e3o humanos que se tornaram parte do meu dia \u00ed\u00a0 medida que lia.<\/p>\n

No fim do livro, n\u00e3o fiquei a achar que Karl Ove \u00e9 um homem extraordin\u00e1rio, com uma vida fenomenal, mas que \u00e9 um homem normal, com pensamentos normais e sentimentos normais e senti um reflexo de mim pr\u00f3prio, nele. Ou talvez vice versa.<\/p>\n

N\u00e3o que encontre na narrativa um espelho de situa\u00e7\u00f5es por mim vividas, porque na verdade, pouco ou nada terei em comum com Knausg\u00ed\u00a5rd, a n\u00e3o ser, precisamente, a humanidade, os pensamentos autom\u00e1ticos, as d\u00favidas, as associa\u00e7\u00f5es por vezes inesperadas, as emo\u00e7\u00f5es que ocasionalmente se revelam independentemente da minha vontade.<\/p>\n

Tenho pena de n\u00e3o saber ler noruegu\u00eas, mas gostei bastante do estilo da vers\u00e3o inglesa, solto, informal e muito directo, sem artefactos e, no fundo, realista. Mas esse realismo n\u00e3o esconde a vis\u00e3o de um escritor, um estudante de literatura e de arte que num momento vulgar, n\u00e3o consegue \u2014 porque n\u00e3o pode, nem quer \u2014 ignorar a beleza das coisas simples e incontrol\u00e1veis que o rodeiam.<\/p>\n

\u00c2\u00abMin Kamp\u00c2\u00bb \u00e9 composto de seis volumes e fiquei com vontade de arrancar para o segundo. Com as minhas desculpas para eventuais banalidades aqui produzidas, aconselho vivamente a leitura deste primeiro volume.<\/p>\n

(\u00c2\u00a0Imagem: Wikipedia<\/a> (alterada))<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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