H\u00e1 uns anos valentes atr\u00e1s, apareceu por a\u00ed\u00ad uma coisa chamada IPO. \u00c9 uma sigla que significa Inspec\u00e7\u00e3o Peri\u00f3dica Obrigat\u00f3ria. (no meu tempo usava-se a palavra sigla, agora diz-se acr\u00f3nimo, mas n\u00e3o faz mal porque \u00e9 a mesm\u00ed\u00adssima coisa)<\/span> (pronto, pronto).<\/p>\n Os Portugueses gostam de inspec\u00e7\u00f5es. Lembro-me de andar na escola prim\u00e1ria e de existir essa figura m\u00ed\u00adtica, muito mais temida que a Directora da escola: o Inspector!<\/p>\n O inspector n\u00e3o estava na escola, mas podia aparecer a qualquer momento e… sei l\u00e1, inspeccionar! Sussurrava-se no recreio que o inspector tinha muito mais poderes que qualquer professora, mas nunca ningu\u00e9m tinha visto um.<\/p>\n Mas tenhamos calma. A inspec\u00e7\u00e3o de ve\u00ed\u00adculos foi criada com muito boas inten\u00e7\u00f5es: andava por a\u00ed\u00ad cada cangalho que mais pareciam caix\u00f5es com rodas e havia que verificar um conjunto b\u00e1sico de funcionalidades dos ve\u00ed\u00adculos, obrigando os seus donos a mant\u00ea-los num estado minimamente aceit\u00e1vel.<\/p>\n O principal era a seguran\u00e7a e parece-me que foi uma boa iniciativa; ali\u00e1s, j\u00e1 se praticava em v\u00e1rios outros pa\u00ed\u00adses europeus, como \u00e9 habitual em quase tudo o que por c\u00e1 se adopta.<\/p>\n Lembro-me da primeira vez que levei um carro a uma IPO: foi o Fiat Punto azul do meu pai que tinha um problema chato no trav\u00e3o de m\u00e3o, o que me deixou um pouco nervoso. Naquela altura, mandaram-me ligar as luzes, travar, virar as rodas, p\u00ed\u00b4r o trav\u00e3o de m\u00e3o (que n\u00e3o me deixou ficar mal) e mediram as emiss\u00f5es do escape do carro.<\/p>\n Trigo limpo, farinha amparo. O carro passou e eu senti que tinha cumprido a miss\u00e3o: a estrada n\u00e3o estava amea\u00e7ada por maus trav\u00f5es, luzes maradas ou direc\u00e7\u00e3o desalinhada do Fiat Punto.<\/p>\n Saltemos para 2008 e para o meu Mercedes preto. Levado \u00ed\u00a0 inspec\u00e7\u00e3o na passada sexta-feira, foi chumbado. Luzes fundidas? Trav\u00e3o insuficiente? Escape poluidor?<\/p>\n N\u00e3o, nada disto.<\/p>\n A janela de tr\u00e1s do lado do condutor, n\u00e3o abre.<\/p>\n Isso mesmo: a janela de tr\u00e1s, que eu nunca abri e nunca tive necessidade de abrir, est\u00e1 avariada. Eu sei que est\u00e1 avariada, porque est\u00e1 avariada desde que comprei o carro. Nunca funcionou e o carro sempre passou nas inspec\u00e7\u00f5es.<\/p>\n Mas este ano, esse perigo para a seguran\u00e7a rodovi\u00e1ria que \u00e9 a minha janela traseira n\u00e3o passar\u00e1!<\/p>\n O que \u00e9 que h\u00e1 de errado neste filme? Para onde vai o dinheiro das inspec\u00e7\u00f5es? N\u00e3o sei, mas gostava de saber, porque parece-me matem\u00e1tica simples que duas inspec\u00e7\u00f5es, pagas, rendem mais do que apenas uma.<\/p>\n O carro anda, trava, as luzes funcionam, o escape n\u00e3o polui mais do que \u00e9 aceit\u00e1vel para aquele tipo de ve\u00ed\u00adculo… n\u00e3o \u00e9 o que importa? Ao que parece, n\u00e3o. Quando mencionei o assunto no Twitter, choveram exemplos de pessoas: a porta n\u00e3o tem puxador por fora, o ajuste el\u00e9ctrico do retrovisor n\u00e3o funciona (embora possa ajust\u00e1-lo manualmente), buracos em bancos, etc.<\/p>\n