Depois da morte da Michelle ter levado a uma conversa sobre a morte, em que eu expliquei o que tinha acontecido í Michelle e depois a Dee explicou o que aconteceu depois, o Tiago aceitou bem a coisa.
Ao fim do dia, estava eu a escrever um mail de trabalho e ele veio interromper-me, cuidadosamente, para me expor a sua decisão, concluída das explicações que a mãe lhe deu de manhã:
“Sabes pai, algumas pessoas quando morrem, passam a fazer parte da terra. Eu quero fazer parte dos insectos. Quero ser uma borboleta, mas uma borboleta colorida, que voe de verdade. Quero mesmo!”
Daquilo que a maior parte das pessoas tem medo, o meu filho pintou um quadro que o fez feliz, com um enorme sorriso. Grande Tiago.
Por volta do fim do Verão de 1992, saí de casa para ir buscar a minha namorada e ouvi miar insistentemente. Quando voltei com ela, os miados continuavam e tentámos perceber do que se tratava.
Era uma gata minúscula, enfiada na suspensão de um carro. Uma outra rapariga que passava enfiou as mãos lá dentro e tirou-a, entregando-ma. Aquele momento em que podia ter deixado a gata na rua ou tomado a decisão que acabei por tomar, marcou os 20 anos seguintes da minha vida.
A Michelle tinha pulgas. Muitas pulgas. Há um vídeo da família toda de volta dela, a catá-la. Um video feito com uma camcorder do tamanho de um autocarro, foi há muitos anos, eu tinha 19, vivia com os meus pais e durante os cinco anos que ainda vivi com os meus pais depois disso, a Michelle dormiu comigo todas as noites.
Depois saí de casa e a Michelle foi comigo. Entretanto, tornou-se uma de seis gatos na nossa casa, mas foi sempre a Michelle. Era a mais inteligente deles todos e mesmo quando começou a envelhecer, ainda impunha respeito nos mais jovens.
Nos últimos dois ou três anos a Michelle envelheceu marcadamente. Perdeu toda a gordura e muita massa muscular; o pêlo perdeu parte da suavidade e um sacana de um pólipo com que já lidava há muito tempo, num ouvido, proporcionou-lhe otites atrás de otites incomodativas.
Desenvolveu uma insuficiência renal, problema típico nos gatos. Durante umas semanas, dei-lhe medicação diária e injectei-a subcutaneamente com soro. Até que desisti. Achei que a Michelle já não ia viver muito tempo e que aquela meia-hora diária de agulha espetada nas costas, com ela a tentar fugir, a agulha a soltar-se e eu a ter que voltar a espetar, na esperança de lhe melhorar a qualidade de vida, estava na verdade a piorar-lhe a qualidade de vida.
Aceitei que ela não duraria muito mais, mas que as injecções de soro eram pior desconforto do que simplesmente deixá-la em paz.
Acho que fiz bem. Mas contra todas as expectativas, a Michelle viveu mais dois anos. E esteve bem, activa, reivindicativa. Entretanto mudámos de casa e ela rapidamente aprendeu o padrão de exposição solar. De manhã, por volta das 10 já estava encostada ao muro do terraço, porque sabia que o sol não tardava muito a bater ali.
No fim de semana passado, notámos que a Michelle estava muito prostrada. Apesar de já estar muito, muito velha, com um aspecto muito degradado, a verdade é que ainda assim notámos que estava pior.
Fizemos-lhe uma cama e um caixote afastada dos outros, na cozinha e foi onde passou os últimos dias. Tal como a nossa velhota gata, Pantufa, que morreu com 16 anos, a Michelle desistiu ao fim de dois dias e simplesmente ficou deitada, recusou comida e água e morreu durante a noite de quinta, para sexta-feira, 27 de Julho. Calculamos que teria acabado de completar 20 anos, ou estaria perto disso, o que é uma longa vida para um gato. Gosto de pensar que foi uma vida longa e feliz.
A última foto que tirei da Michelle, mesmo quando começámos a notar que estava a ir-se abaixo.
A Joana tem dois anos e é um bebé-modelo. Uma menina, da cabeça aos pés. Apaixonada pela Hello Kitty e a Minnie Mouse, sempre com o seu bebé debaixo do braço, a quem dá beijinhos.
Já escolhe a sua roupa, vestidos e calções e tem uma predilecção por sapatos desde muito pequena. Fala pelos cotovelos e não resiste a música sem começar imediatamente a abanar a anca.
É generosa com abraços, beijos e sorrisos e adora os pais, os avós e os tios, mas de quem ela mais gosta é sem dúvida do irmão.
É teimosa e reivindicativa e não tem hesitações no que toca a fazer-se ouvir, mas também já diz obrigado… Só lhe falta aprender a pedir desculpa pelos pontapés e arranhadelas que vai dando í família, porque está mesmo naquela idade de fazer uma maldadezinha de vez em quando, só para ver o que acontece.
Porta-se lindamente na escola, onde adora estar, não se porta particularmente bem a comer, mas já vai fazendo ligeiramente menos porcaria í s refeições e dorme muito bem na sua caminha todas as noites.
Já faz uns xixis no bacio, com grande orgulho e já está a começar a vir para casa a pé da escola, preparando-se para reformar de vez o velho Quinny que já foi do Tiago.
Não podia ter pedido uma menina mais menina, um bebé mais divertido, uma filha mais doce, do que a minha ‘Nana. Sou um filho da mãe cheio de sorte!
Será muito difícil formar um Governo? Encontrar as pessoas certas para os lugares certos, que não se importem de tirar 4 anos das suas vidas para fazer um bom trabalho numa área específica? E mais: será muito complicado escrever um programa de Governo?
Tenho a certeza de que não é fácil governar, especialmente em países como Portugal, onde mesmo quando se fala para uma plateia e se diz “tenho esta ideia, acham bem ou mal?”, ninguém diz nada ou aplaudem. Mas depois, nos cafés, toda a gente tem algo a dizer e poucos aplausos para dar.
E eu sou daqueles que acha que os políticos não são bem pagos. Não são. Se fossem, não roubavam, não passavam legislaturas inteiras a tratar do seu futuro em administrações de empresas, para ganharem muito bem e recuperarem o dinheiro perdido no tempo em que foram ministros.
Há algum tempo que defendo a ideia de que o país não precisa de um Primeiro Ministro e um Governo, mas de um CEO e um Conselho de Administração. Executivos altamente bem pagos, com motivação para fazerem um bom trabalho, ou serem despedidos pelos accionistas (nós, claro).
Funciona muito bem em muitas empresas, acho que podia funcionar para um país. E pensem bem: se o CA de Portugal fosse extremamente eficiente a gerir o nosso capital, não seria de todo um desperdício de dinheiro, pagar-lhes bons salários, equiparáveis aos que ganhariam na iniciativa privada. Em vez de Presidente da República, teríamos um Chairman of the Board.
Um país não devia ser particularmente difícil de organizar, é preciso recolher algum dinheiro de toda a gente para fazer obras e fornecer serviços que beneficiem todos; deve apoiar-se quem deseja fazer negócio que gere riqueza e emprego e quem tenha a iniciativa de vender para o exterior e deve proteger-se quem não tem capacidade de se manter a si próprio, por não poder ou conseguir ganhar dinheiro (trabalhando, ou de outra forma). Deve ter-se cuidado para não sobre-taxar em quem não tem mais do que dinheiro para sobreviver durante duas semanas ou dois meses, sem também se taxar exageradamente quem tem mais dinheiro, ao ponto de os tentar a levar o dito para fora do país (dica: mais vale receber 10% de muito dinheiro, do que 40% de dinheiro nenhum porque foi tudo para uma off-shore).
Não tenho opinião definitiva sobre o fornecimento de alguns serviços: há quem se insurja contra a EDP ser privatizada, mas hoje o acesso í Internet é fornecido por empresas privadas e ninguém se preocupa. E se estão a pensar que a electricidade é essencial e a Internet não, esperem uns anos (e já não vão ser precisos muitos).
Outras coisas, como água, que é, efectivamente, um elemento essencial í sobrevivência, já acho que deve haver controlo do Estado.
Mas lá está, basta aplicar bom senso: água, faz sentido, os humanos dependem dela para viver; estradas, pontes e transportes diversos fazem sentido porque são centrais í Economia; saúde e educação de qualidade e gratuitas fazem sentido, porque uma população bem educada e saudável é mais produtiva; apoio í maternidade faz todo o sentido, porque uma população rejuvenescida é mais activa; protecção do património e História nacionais faz sentido, porque são parte da nossa identidade.
E quando digo que faz sentido, nem defendo que tudo isto seja Nacional a 100%, algumas coisas podem ser, outras podem ser contratadas pelo Estado a empresas privadas. O erro não está nos contratos e nas parcerias, está na forma como os mesmos estão feitos e são geridos.
Depois de fornecer um bom apoio aos cidadãos, segurança, saúde, educação, formas de se deslocarem e exercerem as suas actividades para bem de todos, o Estado deve deixar as pessoas em paz. E as pessoas devem parar de exigir tudo ao Estado. É uma relação co-dependente que está ultrapassada e tem que acabar.
O Estado mete o nariz em tudo, com licenças, normas, coimas, impostos, verificações e taxas, poder central, poder regional, poder local e os cidadãos olham sempre para o Estado quando uma coisa corre mal: querem imputar-lhe culpa, querem subsídios, querem apoios, querem condições e ajudas.
Isto são ideias simples, talvez mesmo simplistas. Fazer um programa de Governo e um plano de governação é infinintamente mais complexo, não tenho dúvidas, mas í s vezes, quando olho para o estado da Nação, gosto de fantasiar que é fácil e nessa fantasia, imagino-me a fazê-lo nem que seja apenas para mostrar que, afinal, é possível.
Sentado í mesa do pequeno-almoço, a Joana í minha esquerda tenta sem sucesso montar os braços do Sr. Batata, í minha direita, o Tiago observa, comendo a sua mistura de quatro cereais de pequeno-almoço diferentes.
Passado um minuto, o Tiago diz: “dá cá, Joana eu ajudo”. A Joana passa-lhe o boneco e ele monta cuidadosamente os braços, devolvendo-o. A Joana aceita e responde: “‘bigado, Tiago”.
Depois da morte da Michelle ter levado a uma conversa sobre a morte, em que eu expliquei o que tinha acontecido í Michelle e depois a Dee explicou o que aconteceu depois, o Tiago aceitou bem a coisa. Ao fim do dia, estava eu a escrever um mail de trabalho e ele veio interromper-me, cuidadosamente, […]
Por volta do fim do Verão de 1992, saí de casa para ir buscar a minha namorada e ouvi miar insistentemente. Quando voltei com ela, os miados continuavam e tentámos perceber do que se tratava. Era uma gata minúscula, enfiada na suspensão de um carro. Uma outra rapariga que passava enfiou as mãos lá dentro […]
A Joana tem dois anos e é um bebé-modelo. Uma menina, da cabeça aos pés. Apaixonada pela Hello Kitty e a Minnie Mouse, sempre com o seu bebé debaixo do braço, a quem dá beijinhos. Já escolhe a sua roupa, vestidos e calções e tem uma predilecção por sapatos desde muito pequena. Fala pelos cotovelos […]
Será muito difícil formar um Governo? Encontrar as pessoas certas para os lugares certos, que não se importem de tirar 4 anos das suas vidas para fazer um bom trabalho numa área específica? E mais: será muito complicado escrever um programa de Governo? Tenho a certeza de que não é fácil governar, especialmente em países […]
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