Não é fácil criar um dicionário do que diz a Joana, acima de tudo porque a Joana se faz entender perfeitamente com palavras, gestos e mesmo frases completas, por exemplo, se quer uma batata, “pai, batata, Joana” serve perfeitamente.
Mas como o Tiago foi muito calado durante muito tempo e depois desatou a falar com tempos verbais correctos e sinónimos para evitar a repetição de termos, estamos a passar por uma coisa nova com a Joana, graças ao seu desenvolvimento verbal bem mais precoce que o do irmão.
Assim, apesar da sua dicção quase irrepreensível aos dois anos, a Joana ainda tem alguns termos giros que vale a pena registar.
À televisão, chama gijão, por exemplo. E é incapaz de alinhar as sílabas da palavra “tampa”, dizendo sempre “panta”.
Sumo é sumo, mas ainda há uma certa confusão entre o puré de fruta e o iogurte, sendo ambos atuta. Hoje já a apanhei a tentar formar melhor a palavra iogurte, mas água continua a ser auáua, continuando a tendência da fruta para colocar o artigo “a” junto com a palavra.
O seu coelhinho de chuchar que há uns meses era tati, evoluiu entretanto para yaí que frequentemente fica “sudo” e precisa de ir para lavar (felizmente, há seis iguais, para irem para o cesto da roupa diariamente, já que o peluche chuchado liberta um odor nauseabundo).
O seu próprio nome, até há muito pouco tempo “Nana”, de tal forma que os pais alinda a tratam assim de vez em quando, evoluiu há umas semanas para Joana, embora, de vez em quando, ainda saia mais Chúana.
Mas nada bate a Joana, de vestidinho acabado de por, a gritar “paieeeeeé!” e a vir ter comigo, por um pezinho em ponta, segurar na roda do vestido e dizer, “pai, chúana, mnita!” com o maior sorriso do mundo.
Ontem, dia 15 de Setembro, fui í primeira manifestação da minha vida. Imagino que tenha andado por umas durante o PREC, mas não me lembro.
Não fui chamar nomes ao governo, não fui protestar contra a troika, fui, porque simplesmente tinha que ir. Senti-me compelido a ir e aprendi uma coisa, aprendi o valor destes acontecimentos. Quando são assim, organizados por “ninguém”, sem partidos, sem sindicatos, sem uma agenda política definitiva, são a forma que temos de falar ao país. Nós, cidadãos comuns, não temos tempo de antena, não somos entrevistados por jornalistas no telejornal, não escrevemos editoriais em semanários; nós, cidadãos comuns, não temos outra maneira de passar a nossa mensagem.
Em Lisboa, parece que foram 500 mil pessoas. E eu não gosto muito de pessoas, mas senti-me bem ali. Andámos e pouco mais, deslocámos-nos do ponto A para o ponto B. Alguns gritaram, cantaram, alguns levaram cartazes. Alguns, claro, não perceberão nada do que se passa e acharão que a solução para o país é apenas deixar andar e pronto. Outros estarão mais informados ou terão melhor conhecimento para achar que tem que se fazer algo, mas que esse algo tem que ser outro algo que não o que o governo está a fazer.
Eu fui porque achei que a mensagem tinha que ser grande, tinha que se fazer ouvir e a única maneira para eu contribuir para isso, era ir. E levei um pedaço da mensagem, da minha mensagem. Eu não digo Passos gatuno, governo fora, nem sequer que se lixe a troika. Eu digo chega deste país, chega deste sistema partidário que se governa a si mesmo, antes de governar quem o sustenta.
Para mim, o essencial do que se passa em Portugal, é que fomos longe demais depressa demais. Quisemos demais – estádios, estradas, mega-eventos desportivos e culturais, condomínios fechados, carros potentes, férias e mais – quisemos tudo e deixámos que quem mais tinha a ganhar com isso, ganhasse. Que se fizessem contratos brutais, obras inacreditáveis e não só se gastasse o dinheiro necessário para as executar, mas o dobro, o triplo, vinte vezes mais.
Somos, há tempo demais, governados por um punhado de pequenas organizações cujos principais objectivos incluem o bem estar e sucesso pessoal dos seus membros, bem como a entre-ajuda dos mesmos. Organizações, chamadas partidos políticos, que pouco ou nada realmente se importam com os portugueses e que portanto gerem o país dia a dia, sem plano, sem responsabilidade, sem consequências para si próprios. Essas, ficam para nós.
Eu quero um país novo. Quero um país governado por pessoas cujo objectivo seja governar o país para que este tenha sucesso, como se governa uma empresa para que esta seja lucrativa. Quero pessoas que sejam competentes naquilo que fazem, que governem em áreas em que são especialistas e que defendam a sua equipa, nós, perante todas as outras: alemães, holandeses, chineses, seja o que for, troika ou sem troika.
Não fui lá ontem para que o governo caia e eu vote no PS. Não votarei no PS, não votarei no PCP, nem no BE, não votarei nos partidos actualmente no governo e não consigo imaginar, para já, um futuro em que um partido político volte a receber o meu voto. Eles são o que está errado na liderança do nosso país neste momento e não imagino que outro sistema surja entretanto.
Agora, espero que o governo se aguente, mas que reveja as suas medidas, que pense melhor, que se lembre não só dos mercados e do trabalho dantesco que tem pela frente (que acredito que seja difícil), mas dos cidadãos do país que até acho que são malta para aguentar uns tempos se lhes mostrarem que a seguir vem algo melhor, se lhes mostrarem o plano. Onde está o plano? Pedro Passos Coelho, onde está o teu plano de negócios para Portugal?
A jantar, a Joana escondeu as mãos debaixo da mesa e começa com o jogo:
“Onde tá a mão? Cá cá!” (“cá cá” é, basicamente, “não está cá”).
Depois exibe uma das mãos e grita entusiasmada: “cá’qui!”
Eu faço uma grande festa, mas ela torce-me o nariz e diz-me: “não pai! Falá mãe!”
Estou a falar com a mãe, velhote mantém-te fora disto que a brincadeira não é contigo.
A minha filha é muito assertiva e desde que a mãe ralhou com ela e ela respondeu de ar muito aborrecido: “não mãe! Não se faz! Ai, ai, ai mãe!”, já pouco nos espanta.
A Apple e a Samsung têm negócios conjuntos, nomeadamente na produção de hardware dos coreanos para os americanos.
Há algum tempo, a Apple processou a Samsung, por infracção de patentes e esta, por sua vez, contra-processou a primeira mais ou menos pelas mesmas razões.
Esta semana, a Apple ganhou o processo em tribunal e a Samsung promete retaliar.
O plano é perfeito. A Apple e a Samsung acabam de se afirmar como as duas grandes marcas de smartphones e tablets no mercado. Os fãs da Apple ficaram mais fãs ainda, porque podem apoiar-se na decisão do tribunal para provar que a Samsung copiou os seus dispositivos preferidos enquanto que os fãs da Samsung se apoiarão na injustiça do sistema de patentes americano e reforçarão a ideia de que a Apple é facínora e se inspira noutros incólume enquanto impede em tribunal que terceiros se inspirem em si.
O mercado fica ainda mais marcadamente dividido entre iDevices e a família Galaxy. Para ajudar í festa, não há jornal, site e revista que não exiba, em destaque, magníficas fotos de um iPhone ao lado de um Galaxy para ilustrar um artigo sobre o assunto.
Os outros fabricantes dissolvem-se no ruído de fundo. LG, Nokia, Sony, HTC, RIM, é como se não existissem.
A Apple e a Samsung saem ambas reforçadas e cada uma reforça a sua posição de mercado e afirmam-se como “as” escolhas para quem quer este tipo de dispositivo, deixando os outros nas covas. E tudo isto com dezenas de milhar de palavras em publicações da especialidade e da generalidade: marketing grátis.
Genial e imbatível.
Eu, que já fiz a minha escolha há uns tempos, fico aqui a comer pipocas, já que nem um nem outro me pagam para vender os seus produtos.
Tiago, 5 anos: bolas, a comida está coberta de molho! Eu: sim, é molho de cogumelos, como o que comeste no outro dia, no fórum. Como gostaste, fiz igual. Tiago: oh pai, desculpa lá… Molho é um líquido, portanto, devia estar em baixo! Eu: …
Não é fácil criar um dicionário do que diz a Joana, acima de tudo porque a Joana se faz entender perfeitamente com palavras, gestos e mesmo frases completas, por exemplo, se quer uma batata, “pai, batata, Joana” serve perfeitamente. Mas como o Tiago foi muito calado durante muito tempo e depois desatou a falar com […]
Ontem, dia 15 de Setembro, fui í primeira manifestação da minha vida. Imagino que tenha andado por umas durante o PREC, mas não me lembro. Não fui chamar nomes ao governo, não fui protestar contra a troika, fui, porque simplesmente tinha que ir. Senti-me compelido a ir e aprendi uma coisa, aprendi o valor destes […]
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