No dia 11 de Março, o meu filho Tiago completou seis anos de idade.
Confesso que não me têm sido fáceis, os últimos tempos. Também não tenho escrito aqui muito, já que substituí um pouco este blog por umas notas pessoais e pelo livro que ando a escrever. Mas agora levam comigo, ou não levam, conforme vos aprouver mudar de feed, ou saltar de tab, ou pelo contrário.
Não tem sido fácil, porque apesar da passagem to tempo, ainda não arranjei maneira de conciliar os filhos que tenho com o que não tenho. E sempre que há um marco na vida do Tiago ou da Joana, não consigo (e não quero), evitar pensar no Alexandre. O sexto aniversário do Tiago é um desses marcos.
Como é que se dá a volta a uma coisa destas? Por um lado, a alegria e felicidade de quem tenho, de ver o Tiago crescer, chegar aos seis anos, a escassos meses de entrar para a escola primária, por outro, pensar que o Alex faria este ano já 8 anos e estaria prestes – imagino – a ir para a terceira classe.
Não o tenho. E se o tivesse, se calhar não tinha o Tiago, ou não tinha a Joana.
Já passaram quase oito anos, é verdade. E sinto-me um pouco cansado de ser o gajo que fica calado para não aborrecer as outras pessoas com histórias de bebés mortos. É a vida. Por acaso, esta é a minha. As vossas terão outros eventos, quiça tão ou mais fodidos. Mas esta é a minha.
E sim, adoro os meus filhos, não poderia de forma absolutamente alguma considerar sequer a hipótese de não ter um deles para ter o que não tive. Mas há dias em que, loucura absoluta, me apetecia ter os três. E porque não os três?
Fui obrigado a separar-me de um filho de uma forma clínica. Não estive com ele, não o pude ver, senão no funeral – daquela forma… obscena, levado por um funcionário que faz aquilo todos os dias e se está a borrifar, porque senão borrifar, não aguenta o trabalho que tem, que me disse, enquanto esperava í porta do cremátorio: “escusa de esperar, aquilo não sobra nada”. “Aquilo”. E é verdade: Não sobra nada. Não me resta nada. Uma imagem esbatida, uma memória fugaz. E muitas noites sem dormir, ainda hoje, ainda agora, quase oito anos mais tarde.
E agora sinto-me obrigado a não falar disso, a não mencionar o assunto, a tentar ser educado com todas as pessoas que insistem que tenha mais filhos com a frase: “então e o terceiro?”, não se apercebendo que para mim, o terceiro é a Joana e que não há nada que mude isso.
E não estou a ser dramático, é mesmo assim. Não estou aqui para agradar a ninguém, nem desagradar a ninguém. Esta é a minha realidade e é a ela que me agarro. Estou aqui, estou a meio da vida – se puder viver tantos anos – e sim, um gajo começa a pensar e repensar muitas coisas; começa a questionar as escolhas, a reviver decisões, a pensar no que ainda pode mudar e naquilo que se tornou já imutável. E se tenho três grandes questões na minha cabeça que todos os dias me agitam e todas as noites me acordam, a sensação de vazio deixada pelo meu filho é uma delas; não só porque ele não sobreviveu, mas também porque não pude guardar dele uma recordação digna.
Mas é assim. Fica um nome, fica a memória esbatida. Ficam dois irmãos que espero que sejam felizes por três.
Ontem, o Tiago explicava-me que um colega dele sofria de um problema: nunca ia deixar de ser queixinhas. O próprio já tinha admitido que seria incapaz de mudar esta atitude, pelo que os outros deveriam estar preparados para lidar com isso.
Interacções sociais complexas de crianças de 5 anos, portanto. Explicava o Tiago que o principal problema era que ainda recentemente, esse outro miúdo lhe tinha feito duas coisas que não se fazem, as quais o Tiago não denunciara, enquanto que o próprio teria apenas insultado o primeiro, ao que foi imediatamente denunciado e devidamente castigado.
Injustiça, claro. Duas malfeitorias versus apenas uma, mas o espírito de queixinhas do outro acabou por revelar-se fatal.
Tentando dar uma boa educação ao meu filho, expliquei-lhe que não interessava que o outro se portasse mal e que isso não devia ser motivo para que ele se portasse igualmente mal. Que devemos agir para nos defendermos, mas não responder a provocações. Essas e outras lições morais.
Decidi então perguntar-lhe o que tinha chamado ao outro menino.
“Ovelha estúpida”, respondeu-me com um ar inocente.
E foi aqui que me parti a rir e terminou a lição de moral. É que, por um insulto tão bom como “ovelha estúpida”, vale a pena ficar de castigo!
Para contribuir activamente para o bom funcionamento das instituições democráticas da nossa República, o Macacos sem galho dedica a seguinte obra dos Police ao nosso Presidente, Cavaco Silva, por forma a apoiar o seu contributo inestimável no caso da Lei dos mandatos autárquicos.
Embora ainda tenha ali uma nota na guitarra que gostava de corrigir, resolvi publicar o Nut Factory Theme no meu SoundCloud para quem quiser ouvir.
Já agora, se ainda não o têm, podem sempre aproveitar para comprar o jogo. E aconselho vivamente a darem um salto ao SoundCloud da Dee para ouvir a música dela.
Há uns dias atrás, no átrio da escola, enquanto esperava pela Dee que vai deixar a Joana, depois de eu já me ter despachado de deixar o Tiago, uma criança que entrava, caiu. Espalhou-se, nada de mais, e a mãe ajudou-o a levantar-se.
Chorou, copiosamente. A mãe tentava confortá-lo e eu, a ver a uns metros de distância, lembrava-me de segunda-feira. Sete e meia da tarde, o treino de kung-fu prestes a começar, na Academia, quando o Tiago caiu. Andou até um plinto, puxou as calças para cima e eu vi o ar do instrutor quando olhou para ele. Estava feito.
O Tiago abriu o sobrolho, com uma pancada violentíssima na bancada de granito da nossa cozinha, ainda com 4 anos. O Tiago partiu o braço esquerdo, ao por-se aos saltos de cima de uma cadeira com rodas, na nossa sala, pouco antes do Natal. O Tiago cortou cerca de 2 cm de pele do seu pé numa grelha do respiradouro da banheira.
E na segunda feira, aquilo para onde o Quim, o instrutor da YMAA estava a olhar, era um corte com cerca de dez centímetros no joelho direito do Tiago. Ao tropeçar num colchão, aterrou de joelho numa placa de ferro usada para prender aparelhos de ginástica e abriu uma horrível ferida que parecia ir até ao osso. Ao que parece não era bem osso e sim gordura, mas era branco e quando vi, percebi que dali só para o hospital.
Chamaram uma ambulância e eu, os meus pais. Ambos vieram prontamente e andei pela primeira vez na vida, aos 39 anos, de ambulância, com o meu filho, já com a perna entrapada a caminho do HGO.
Mas comecei a história com o rapazinho que se estatelou no átrio da escola. É que o Tiago aguentou isto, deitado no chão do ginásio, com a perna garrotada por mim, com a manga de uma camisola, preocupado, sim, com dores, muitas, mas com um grau de auto-controlo absolutamente estupendo para um miúdo de cinco anos.
Berrou, claro. Ao ponto de ficar com a testa cheia de petéquias. Mas não se debateu, não se mexeu e mesmo quando se queixou que queria dobrar a perna, deixou-se ficar quieto quando lhe dissemos que não podia ser.
Os paramédicos é que lhe dobraram a perna, abriram a ferida para ver com o que lidavam, limparam, colocaram uma compressa e ligadura. E o Tiago aguentou.
Na foto acima, a ferida já estava muito inchada e não se consegue já perceber tão bem a profundidade.
No Hospital Garcia de Orta o tratamento foi, mais uma vez, irrepreensível. É a terceira ida com o Tiago ao Hospital, a primeira por uma gastroenterite violenta, a segunda por causa do braço. A cabeça e o pé trataram-se em casa; o joelho, no bonito estado em que estava, tinha mesmo que ser cosido.
Ficou com seis pontos e mais uma história para contar e mais um bocadinho de respeito do pai, que nunca imaginou que uma criança tão pequena aguentasse tanto castigo sem fitas, sem pinotes, sem serem precisas 5 pessoas para o segurar para lhe coser o joelho.
Quatro dias depois, está tudo com bom aspecto e a curar bem.
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Embora ainda tenha ali uma nota na guitarra que gostava de corrigir, resolvi publicar o Nut Factory Theme no meu SoundCloud para quem quiser ouvir. Já agora, se ainda não o têm, podem sempre aproveitar para comprar o jogo. E aconselho vivamente a darem um salto ao SoundCloud da Dee para ouvir a música dela.
Há uns dias atrás, no átrio da escola, enquanto esperava pela Dee que vai deixar a Joana, depois de eu já me ter despachado de deixar o Tiago, uma criança que entrava, caiu. Espalhou-se, nada de mais, e a mãe ajudou-o a levantar-se. Chorou, copiosamente. A mãe tentava confortá-lo e eu, a ver a uns […]