Tumblr

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Há já cinco anos atrás, comecei um Tumblr para escrever pedacinhos de texto, em inglês, que me passavam pela cabeça e me pareciam sempre não ter lugar no Macacos Sem Galho, não só por causa da lí­ngua, mas também porque muitas vezes são uma manifestação demasiado óbvia da minha personalidade sem deixarem de ser absolutamente obscuros, í s vezes, para mim próprio.

Sempre vi aquele espaço como uma coisa recente, onde caem precisamente aqueles pensamentos que não me parecem encaixar em mais lado nenhum e no entanto, esse recente já leva cinco anos. Como tantas outras coisas que faço, é mais um objecto perdido, í  deriva por aí­, mas pelo menos ainda vai tendo batimento cardí­aco.

Assim sendo, convido-vos a banharem-se na neurose que é o Monkey Brain, caso não o conheçam já. E já agora, a olharem para a vossa própria vida e perceberem que coisas recentes têm para aí­ que, afinal, bem vistas as coisas, já levam uns aninhos em cima.

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Knausgí¥rd – Min Kamp 1

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Karl Ove Knausgí¥rd

Li recentemente o primeiro volume da série «Min Kamp» («A Minha Luta»), de Karl Ove Knausgí¥rd. O livro chama-se simplesmente «Min Kamp 1», embora eu tenha lido a tradução para inglês do original norueguês, que recebeu o subtí­tulo «A Death In The Family».

Confesso que para uma pessoa que gosta de escrever e adora palavras e frases, ritmo e estilo não sou um grande leitor e certamente não estarei armado com a retórica necessária para fazer uma crí­tica do livro que faça lhe faça jus ou que seja informada, comparativa e até literariamente contextualizada.

Por isso, opto por dizer que gostei muito do livro, que o li como se conversa com uma pessoa e se vai contando e ouvindo histórias que fluem naturalmente. O livro é autobiográfico, mas a vida do autor não é invulgar, embora para quem cresceu em Portugal seja pelo menos curiosa por passada na Noruega. Algumas situações são mais dramáticas, outras, mundanas; mas a forma como as histórias são contadas e o alicerce emocional que as sustenta são tão humanos que se tornaram parte do meu dia í  medida que lia.

No fim do livro, não fiquei a achar que Karl Ove é um homem extraordinário, com uma vida fenomenal, mas que é um homem normal, com pensamentos normais e sentimentos normais e senti um reflexo de mim próprio, nele. Ou talvez vice versa.

Não que encontre na narrativa um espelho de situações por mim vividas, porque na verdade, pouco ou nada terei em comum com Knausgí¥rd, a não ser, precisamente, a humanidade, os pensamentos automáticos, as dúvidas, as associações por vezes inesperadas, as emoções que ocasionalmente se revelam independentemente da minha vontade.

Tenho pena de não saber ler norueguês, mas gostei bastante do estilo da versão inglesa, solto, informal e muito directo, sem artefactos e, no fundo, realista. Mas esse realismo não esconde a visão de um escritor, um estudante de literatura e de arte que num momento vulgar, não consegue — porque não pode, nem quer — ignorar a beleza das coisas simples e incontroláveis que o rodeiam.

«Min Kamp» é composto de seis volumes e fiquei com vontade de arrancar para o segundo. Com as minhas desculpas para eventuais banalidades aqui produzidas, aconselho vivamente a leitura deste primeiro volume.

( Imagem: Wikipedia (alterada))

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Apocalipse

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Os 4 Cavaleiros do Apocalipse

O que é um apocalipse? Apocálypsis – uma revelação. Não um final, mas uma mudança nascida de um momento de compreensão definitiva. Talvez catastrófica.

Um momento que vamos esperando e evitando, em doses iguais. Uns dias empurra de um lado, outros, do outro. Mas sabemos que enquanto mantivermos um braço de ferro entre os nossos próprios braços, nunca vamos ganhar essa clarividência que tanto nos falta.
Passamos a vida convencidos de que certos pensamentos e ideias são castastróficos e destruidores, que não pode haver revelação e consequente mudança sem a hecatombe que lhe associamos.

Mas com o passar do tempo e talvez com alguma ajuda, começamos a perceber que nada disso faz sentido. Que algumas verdades que tomávamos por basilares são só possibilidades num mundo onde o que não faltam são outras possibilidades. São apenas pensamentos e ideias válidos e aceitáveis que podem facilmente co-existir com qualquer forma de realidade que possamos habitar.

Crescemos a olhar para nós próprios como pessoas de amplos horizontes, moral equilibrada, filosofia flexí­vel e demoramos anos a fio a perceber que somos todos dogmáticos e fechados para alguém, somos todos inflexí­veis e retrógados para outras pessoas.
E essas outras pessoas somos nós próprios, a nossa própria versão apocalí­ptica – de olhos abertos, conhecedores, livres.

Mas acordamos todos os dias, com o rastilho numa mão e o fósforo na outra, incapazes de os juntar para enfim podermos espreitar e ver o que está para lá do muro, sem receio que nenhum destroço nos caia em cima e nos esmague, mesmo ali, í  beira da nossa própria revelação.

Imagem: “Os 4 Cavaleiros do Apocalipse“, de Victor Vasnetsov, 1887. Fonte: Wikipedia.

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Whiplash

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Whiplash

Recentemente, vi o Whiplash. Um filme que separa ser apenas bom de ser o melhor e o faz submerso em jazz e com uma realização estupenda e uma fotografia deliciosa. A permissa já de si é boa. Mas o facto de fazer tudo isto sem cair em demasiados clichés melodramáticos faz de Whiplash um dos meus filmes preferidos dos últimos anos.

É verdade, estou longe de ser o consumidor de cinema que em tempos fui. As razões para isso são múltiplas, mas a mais forte é provavelmente algo patética: a ideia de que se vir um filme e for mau, incorri num desperdí­cio de tempo catastrófico. É, portanto, especialmente bom quando faço esse investimento e saio com o resultado diametralmente oposto: um filme que não só me deu imenso prazer ver, como sei que vou rever várias vezes.

Whiplash não tem uma história complicada ou sequer imprevisí­vel, mas está bem contada e parece-me humana. Apesar dos dois personagens principais serem especialmente bons músicos, a um ní­vel que muitos excelentes músicos nunca chegarão, não deixam de ser apenas duas pessoas. Nem um é herói, nem o outro vilão. Simplesmente, vivem num mundo onde o ní­vel de exigência e a especialização é de tal ordem que não existe margem de manobra para ser menos do que absolutamente brilhante.

Existe muita música onde se pode ser muito relevante, bom, interessante, até mesmo bem sucedido. E depois existe o mundo representado no filme (acredito que o mesmo pudesse contar uma história de um executante de música clássica, onde acredito que o ní­vel seja semelhante ou superior) e sim, eu acho que é importante gostar-se de música para ver este filme. Não será essencial, porque é genericamente um bom filme, mas acho que há certos detalhes que poderão ser melhor apreciados por amantes de música.

Tentem acompanhar onde estão os desafinos ou as falhas de ritmo detectadas pelo implacável professor Fletcher ou perceber como ele elimina um saxofonista antes que ele consiga tocar a sua terceira nota. Pela simplicidade, pela realização cuidada e pela fotografia cor de âmbar, Whiplash agarrou-me, pelos detalhes musicais, entrou para a minha lista de filmes preferidos.

Whiplash é um filme de 2014, estreado em Sundance. É escrito e realizado por Damien Chazelle e tem Miles Teller no papel de Andrew, um jovem aspirante a melhor baterista do mundo (é mesmo ele que toca bateria no filme) e J. K. Simmons, como seu exigente e agressivo professor Fletcher. Vale a pena ver, fica o trailer.

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Especialistas (quase) ao vivo

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Os Especialistas são um cartoon criado por mim e pelo Nelson Martins em 1998 para a Digito, uma publicação digital portuguesa entretanto, infelizmente, extinta.

A tira passou por várias fases, tendo desaparecido com o fim da Digito re-surgiu no primeiro Codebits, a convite do SAPO. Havia de voltar a parar para, desde finais de 2012, recomeçar novamente, desta vez já só com tiras minhas.

Dou por mim muitas vezes a pensar que sou um cartoonista acidental. Embora sempre tenha feito banda desenhada (saudosas, as aventuras do Super Labrego), sempre me senti um invasor de um mundo onde tanta gente é tão melhor a fazer bonecos falantes.

Quase todas as semanas fico maravilhado com o facto de conseguir fazer uma nova tira (os Especialistas saem í s terças-feiras, no site do Codebits), quando muitas vezes já me parece que não vou ter ideia nenhuma ou que vou acabar a repetir uma tira qualquer que já fiz antes.

Mas é engraçado: quanto mais faço, mais me parece difí­cil mas mais fácil se torna. Custa-me imaginar como trabalharão os cartoonistas que todos os dias têm que ter uma tira nova (já agora, sobre isso, aconselho vivamente o estupendo documentário “Stripped“), mas ao mesmo tempo também os invejo um bocadinho por fazerem diariamente aquilo que tanto gozo me dá fazer ao fim de semana.

Acima de tudo, escrever e desenhar estes bonecos é um momento único na minha vida e provavelmente uma das minhas coisas preferidas, em que todo o processo, desde ter a ideia, a escrever o texto, desenhar as vinhetas e pintar tudo, me dá especial prazer.

Esta semana, quis partilhar esse processo com toda a gente. Embora já tenha feito ví­deos com captura de ecrã antes (como este ou este), nunca tinha feito um em que se percebesse exactamente como faço uma destas tiras com as minhas mãozinhas. Portanto, peguei no telefone, coloquei-o numa estante para partituras que apontei para a minha Wacom e filmei todo o processo.

Desta vez, como já tinha tido a ideia e o texto já estava na tira, todo o processo documentado no ví­deo demorou cerca de 35 minutos. É mais ou menos invulgar uma tira estar pronta em tão pouco tempo, mas como já tinha tudo alinhado e os desenhos eram simples, acabou por funcionar bem para o ví­deo. No dito, comprimi o tempo para 10 minutos, o que significa que está tudo cerca de três vezes mais rápido e pronto, sem mais demora, deixo-vos o dito ví­deo. Enjoy.

Esta tira, especificamente, pode ser lida aqui. Está em inglês, dado que o Codebits tem um público internacional, mas não me parece que isso seja um obstáculo, nos dias que correm.

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Há já cinco anos atrás, comecei um Tumblr para escrever pedacinhos de texto, em inglês, que me passavam pela cabeça e me pareciam sempre não ter lugar no Macacos Sem Galho, não só por causa da lí­ngua, mas também porque muitas vezes são uma manifestação demasiado óbvia da minha personalidade sem deixarem de ser absolutamente […]

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Knausgí¥rd – Min Kamp 1

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Li recentemente o primeiro volume da série «Min Kamp» («A Minha Luta»), de Karl Ove Knausgí¥rd. O livro chama-se simplesmente «Min Kamp 1», embora eu tenha lido a tradução para inglês do original norueguês, que recebeu o subtí­tulo «A Death In The Family». Confesso que para uma pessoa que gosta de escrever e adora palavras […]

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Apocalipse

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Whiplash

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Especialistas (quase) ao vivo

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Os Especialistas são um cartoon criado por mim e pelo Nelson Martins em 1998 para a Digito, uma publicação digital portuguesa entretanto, infelizmente, extinta. A tira passou por várias fases, tendo desaparecido com o fim da Digito re-surgiu no primeiro Codebits, a convite do SAPO. Havia de voltar a parar para, desde finais de 2012, […]

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