Música ao vivo 2022
Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Ir a um concerto sempre foi um momento de inexistência, para mim. Remoção da vida real. Como se viajasse para uma espécie de buraco negro em que o tempo está suspenso e posso existir sem o resto de tudo, em cima de mim.
Se já era importante antes, tornou-se absolutamente crucial nos últimos dois — excruciantes — anos.
Por ter esta relação com a música ao vivo, não tolero a pepineira dos festivais e entristece-me não ver algumas das minhas bandas preferidas porque apenas actuam nesse circo de selfies e famílias a comer algodão doce, sem qualquer ligação í música em si. Sei que se calhar estou a começar a soar um bocadinho religioso, mas como ateu, um gajo encontra os seus ritos sagrados noutros lados.
Fica aqui o resumo de 2022, com a esperança que 2023 seja tão bom, ou melhor.
A temporada arrancou na Aula Magna a 9 de Fevereiro, com o José González. Concerto pequeno, apenas ele, de guitarra e loops, em palco.
Seguiu-se um concerto para o qual tinha bilhetes, creio, desde 2019. Com a pandemia, como tantos outros, foi sendo adiado até finalmente, dia 19 de Março, poder ver os Skunk Anansie. Um concerto com som de estádio… no Coliseu.
Uma demonstração do que uma mulher de 54 anos pode ser e fazer. Tocaram todas e foi do caraças. A primeira parte foi feita pelos New Pagans, que não deixaram memória.
Com o mês seguinte já quase a acabar, fui até ao (novo) Lisboa Ao Vivo, ver os Helms Alee abrir para os Russian Circles. Pouco mais a dizer senão “do caralho”.
Mês de Maio foi dose dupla. A começar com a minha banda de metal portuguesa preferida, os Process of Guilt, a lançar o novo álbum “Slaves Beneath the Sun”, no MusicBox, dia 20.
No dia 31, salto até ao RCA Club para ver três bandas: Psychonaut, PG.Lost e The Ocean. Por esta altura já tinha uma nova t-shirt dos Russian Circles, Process of Guilt e The Ocean. A gaveta já transborda.
Julho foi para ver The Smile, dia 8, no Coliseu. Depois de um jantar muito bem regado a vinho, deu para dançar como se não tivesse quase 50 anos.
O resto do verão passou-se í espera dos últimos meses do ano para uma investida final que começou dia 29 de Setembro, com os Sigur Rós, no Campo Pequeno. O meu álbum preferido, que já toquei tantas vezes que o stream está riscado, é o “( )”. Que foi tocado quase na íntegra. Fenomenal.
Dia 7 de Outubro, foi novamente noite de metal, com não uma, nem duas… mas quatro bandas, no Coliseu: Unto Others, Carcass, Behemoth e os headliners Arch Enemy. Foi um concerto de portentosa agitação psicomotora que deu direito a post. Diria que foi inesquecível, mas já não tenho idade para isso… tudo se esquece.
E depois deu-se o last minute panic. Sem concertos em Novembro e com o ano a acabar, pelo sim, pelo não, fui a quatro. Teria ido apenas a três, mas o meu amigo Ed ofereceu-me um bilhete para mais um. Então vejamos:
Dia 6 estive no CCB para ver o Tigran Hamasyan tocar o jazz mais metal do mundo.
Dia 13, no Coliseu, estive a dois metros das costas do Jason Swinscoe e da Cinematic Orchestra.
Dia 15, Ólafur Arnalds no CCB, por convite (e sem conhecer muito, confesso, mas foi óptimo).
Finalmente, mesmo em cima do fim do ano, apanhei os Indignu no MusicBox, dia 30. Mal os conhecia, mas tinham-me sido recomendados pelo Nuno, no Twitter e fiquei fã. De todos os concertos do ano, poderá mesmo ter sido o mais memorável já que, a dada altura, o guitarrista Afonso Dorido me passou a guitarra para as mãos e me deixou “tocar” um bocado, numa secção de noise e confusão. Infelizmente, estava sozinho, portanto, não há registos.
Foi a melhor maneira de fechar um ano de música ao vivo.
Em 2023 haverá mais. Aliás, já tenho bilhetes para o Roger Waters e para o Devin Townsend. Venham eles.