Os Tool são uma daquelas bandas imperscrutáveis que parecem tocar pessoas diferentes de formas diferentes. Se, para uns, são uma banda de metal, para outros estão longe disso. Se há quem lhes chame simplesmente rock, há quem lhes acrescente o progressivo. Metal progressivo? Herdeiros de quê, afinal? Yes, King Crimson, Pink Floyd, Rush? Ou Melvins? Faith no More, Jane’s Addiction?
Possivelmente todos. E mais alguns. E é isso que faz da música dos Tool algo tão simultaneamente familiar, mas invulgar. É porque quando se é um músico deste calibre, como Adam Jones, Danny Carey, Justin Chacellor e Maynard James Keenan, não se deixa levar por convenções e caixinhas onde só cabem gostos limitados de pessoas limitadas.
A cultura musical extensa dos membros da banda está patente na música que produzem, assim como se fazem sentir as suas personalidades e sensibilidades diversas. Da arte visual, í exploração sónica, ao famoso vinho do Arizona.
Não apanhei os Tool no início. Foram-me apresentados mais tarde na penumbra de um estranho restaurante italiano, no lobby de um hotel agora defunto, na Filipe Folque. Ao longo dos anos, fui desenrolando a meada de riffs, poliritmos e poemas melancólicos que fazem Undertow (1993), í†nima (1996), Lateralus (2001) e 10,000 Days (2006).
Com uma média de 4 anos entre álbuns, a banda calou-se, subitamente, durante mais de uma década, para finalmente lançar “Fear Inoculum” em 2019. Embora existam muitas músicas da banda que estão entre as minhas preferidas de todos os tempos, como Schism, Jambi, The Grudge, The Pot, ou í†nima, este último álbum, como peça única, é o melhor álbum de Tool até í data.
Não que espere que produzam outro, talvez não seja boa ideia. Pelo menos não nos próximos 10 anos. Mas se 10,000 dias eram os 27 anos que levamos a crescer e começar a perceber que vida é a nossa, que pessoa somos, Fear Inoculum é a Ode Aos Homens Maduros. Com 46 anos, uma década menos que a média de idades dos membros da banda (só o Justin Chancellor é que tem 47), este disco fala ao mais íntimo do meu ser. A inoculação do medo — de morrer e de viver — a capacidade de enfrentar a realidade tal como ela me parece ser e não como desejo que seja, sem exercíciozecos fúteis de gratidão e saudação ao sol, mas com a cara descoberta e de frente para a chuva e o vento que cortam a fantasia de uma vida inventada.
Desde as primeiras audições que comecei a perceber que havia um pathos nesta música que parecia colar-se ao meu corpo e entranhar-se, pelas meninges, até í s curvas incompreensíveis da masa cinzenta. Esta coisa inexplicável de sermos como somos. Aceitar que esta merda é um caos do caralho e que não vale a pena fingirmos que vivemos mais do que uma fracção de segundo, ou que compreendemos seja o que for do que nos rodeia muito mais distante do que uns milhares de quilómetros.
Como é que um gajo vive mais de meio século e lhe parece tanto e tão pouco? Quando é que as “manias dos miúdos” começam a ser simplesmente a nova norma, das novas gerações, aquilo que nos substituirá? E o que ainda temos para contribuir para este mundo, que não passe por patético? Que luta ainda é valiosa? Para cada um de nós e para o colectivo?
Seja como for, a verdade é que podemos enfrentar tudo isto com o brilho nos olhos de um ser vivo que consegue ser e não ser, simultaneamente e, perante um Universo absolutamente incompreensível, conseguimos dizer que afinal percebemos tudo. Vivemos e morremos ignorantes, mas sempre que um de nós se levanta e dá os primeiros passos, é como se todos nos erguessemos com a intenção de levar a bandeira da existência — e não a mera vida — um espaço-tempo mais í frente.
Sound the dread alarm Through our primal body Sound the reveille To be or not to be Rise Stay the grand finale Stay the reading of our swan song and epilogue One drive to stay alive It's elementary Muster every fiber Mobilize Stay alive ("Descending")
A proeza deste álbum é que faz tudo isto com as letras, a voz, os instrumentos, a música, o ritmo, o som. Tudo é uma espécie de uníssono, simultaneamente pesadíssimo e etéreo. A execução é a que se espera de músicos que sempre estiveram acima da média e que têm do seu lado o benefício da experiência; a produção (da banda) é monstruosa e absolutamente infalível. Só com um domínio total do estilo, da teoria e prática da música e dos métodos de gravação, mistura e masterização se conseguem transformar coisas simples, uma guitarra, um baixo e uma bateria numa espécie de terramoto avassalador que, afinal, parece ser apaziguado com a voz de um homem de 55 anos cuja vida é produzir vinho e que, por acaso, é um dos mais extraordinários vocalistas de rock dos últimos 30 anos.
Calo-me. E deixo que a minha verborreia de pura admiração seja substituída, mais uma vez, pela música de quatro homens maduros.
Já não é a primeira, se calhar nem a segunda vez que respondo ao teste da bússola política em politicalcompass.org. Ao longo dos anos, a minha posição política pouco ou nada se moveu: esquerda libertária.
Desta vez, com as eleições legislativas í porta, decidi fazer o teste novamente, mas desta vez em vídeo, com discussão, pergunta a pergunta de qual a minha escolha e porquê. Espero que suscite qb de curiosidade, se tiverem algo a comentar, sugiro que o façam directamente no YouTube. Aqui fica a coisa:
Não é todos os dias que se descobre música que não se conhecia e que se começa a gostar da primeira audição. Confesso que faço por isso. Estou constantemente na tab ‘for you’ do Apple Music que, diga-se, tem vindo a melhorar com o tempo. Vou ouvindo o que me sugerem e o skip é sempre o meu melhor amigo.
Sempre, isto é, até soar aquele som que me arrebita as orelhas. Já aconteceu muitas vezes e sempre me levou a descobrir músicos que me eram alheios e que vim a integrar nos meu hábitos melómanos, no mínimo, eclécticos. Aconteceu hoje.
Na dita tab, debaixo do título “Because you like Baroness” (fuck yeah, I do), apareceu-me uma das playlists de ‘essentials’ curada pela Apple. Neste caso, Rival Sons Essentials. A primeira faixa chamava-se “Do Your Worst”, do álbum mais recente “Feral Roots” (2019). Fez-me imediatamente lembrar algo como o “Communication Breakdown” dos Led Zeppelin, embora depois dê ali outra volta. Olá?
Seguiu-se a googlada habitual para ler em vários sítios que, sim senhor, estes tipos de Long Beach, CA, formados em 2008, se dedicam a esta coisa cremosa e espessa a que chamamos rock. Talvez clássico, talvez blues, talvez “& roll”, mas que vem sempre em saudáveis doses de riffagem, lickadelas e grooves infecciosos.
Guitarra (Scott Holiday), baixo (Dave Beste), bateria (Mike Miley) e voz (Jay Buchanan). É preciso mais? O som é puro 70s, com produção actual, a voz é versátil e indefectível, com uma solidez que agarra todo o som da banda. E se for mesmo preciso mais, Buchanan toca alguma harmónica e há órgão para o que der e vier.
Fala-se muito dos Greta Van Fleet, que já ouvi e a quem não nego algum talento, mas de quem, confesso depressa me cansei. Destes Rival Sons? Nada. Aliás, estou viciado… Digo mais, pouco depois de os descobrir, descobri que tocavam esta sexta-feira no Lisboa ao Vivo e sabem que mais? Já tenho bilhete.
Fiquem-se com uma das mais óbvias, “Pressure and Time” e digam lá se não parece quase que vai arrancar o “Out on the Tiles”, dos Zep.
Há umas semanas, enquanto faço companhia ao meu filho antes de adormecer, comecei a sentar-me com o iPad e a desenhar uns bonecos que apelidei de Heróis Inúteis. A coisa tem-se tornado viciante e já fiz vinte diferentes.
São heróis do dia a dia que populam as ruas portuguesas e que, no fundo, não praticam o Bem, nem o Mal, antes pelo contrário.
Gostava de chegar ao fim do ano com suficientes para fazer um livrinho para os amigos e, entretanto, comecei também a fazer umas t-shirts. Tudo em nome de um bocado bem passado. Aqui fica uma amostra:
Nos últimos dias do Verão de 2018 caiu-me esta coisa no colo, inesperadamente. Não que eu seja um grande especialista em Cypress Hill, mas Elephants on Acid saiu oito anos depois do último álbum da banda de hip-hop californiano (será a banda que é californiana, ou o hip-hop?)
Embora sempre tenha mantido um olho na música deste tipos, nunca sou capaz de citar mais do que “Insane in the Brain”, pelo que a surpresa deste Elephants on Acid foi ainda maior: é um granda álbum!
Permitam-me que a idade me conceda a veleidade de dizer que “no meu tempo”, o hip-hop não era a merda que é hoje. Pois, nem o hip-hop, nem os homens de barba comprida, que na altura eram pescadores ou lenhadores e agora são betos do Chiado de suspensórios e sapatos sem meia.
Num estilo em que gajos que parecem ter acidentes em que se estamparam por uma montra da Gucci adentro, como Soulja Boy, Lil’ Pump ou Tekashi Sixtynine (recuso-me a usar a grafia da street), Cypress Hill entram pela membrana timpânica adentro com os pés juntos e botas de biqueira de aço old school.
Depois de uma intro em árabe com muita insistência na palavra ‘hashish’, a casa começa a estremecer com “Band of Gypsies”, que foi também o primeiro vídeo que encontrei no Tubo, saído deste álbum. Para os preguiçosos, aqui fica:
O álbum continua entre “intervals”, típicos do hip-hop e faixas que não perdoam os vizinhos e pedem um sub-woofer jeitosinho para acompanhar as frequências tão baixas que desalojam pedras renais sem intervenção cirúrgica. O problema é depois fazê-las sair pela uretra.
Em suma, este disco é um malhete do cacete, lento mas certo, com MCs como deve ser, letras muito orientadas í ervanária e batidas a condizer. Basta ouvir uma coisa como “Falling Down” para perceber o que eu quero dizer: isto pede mesmo um almofadão no chão e alguma forma de entretenimento recreacional de carácter lúdico-alucinatório. Toca a sintonizar esses streams, meus irmãos! (E irmãs!) E ide ouvir música da boa!
Os Tool são uma daquelas bandas imperscrutáveis que parecem tocar pessoas diferentes de formas diferentes. Se, para uns, são uma banda de metal, para outros estão longe disso. Se há quem lhes chame simplesmente rock, há quem lhes acrescente o progressivo. Metal progressivo? Herdeiros de quê, afinal? Yes, King Crimson, Pink Floyd, Rush? Ou Melvins? […]
Já não é a primeira, se calhar nem a segunda vez que respondo ao teste da bússola política em politicalcompass.org. Ao longo dos anos, a minha posição política pouco ou nada se moveu: esquerda libertária. Desta vez, com as eleições legislativas í porta, decidi fazer o teste novamente, mas desta vez em vídeo, com discussão, […]
Não é todos os dias que se descobre música que não se conhecia e que se começa a gostar da primeira audição. Confesso que faço por isso. Estou constantemente na tab ‘for you’ do Apple Music que, diga-se, tem vindo a melhorar com o tempo. Vou ouvindo o que me sugerem e o skip é […]
Há umas semanas, enquanto faço companhia ao meu filho antes de adormecer, comecei a sentar-me com o iPad e a desenhar uns bonecos que apelidei de Heróis Inúteis. A coisa tem-se tornado viciante e já fiz vinte diferentes. São heróis do dia a dia que populam as ruas portuguesas e que, no fundo, não praticam […]
Nos últimos dias do Verão de 2018 caiu-me esta coisa no colo, inesperadamente. Não que eu seja um grande especialista em Cypress Hill, mas Elephants on Acid saiu oito anos depois do último álbum da banda de hip-hop californiano (será a banda que é californiana, ou o hip-hop?) Embora sempre tenha mantido um olho na […]