A “minha” mulher
Publicado em , por Pedro Couto e Santos
É dia internacional da mulher e geralmente é uma coisa que me passa um bocado ao lado, por razões óbvias, até me ser recordado sob a forma de mulheres na rua com flores.
O Seinfeld diz que as flores são a peça essencial para conquistar uma mulher e, pelos vistos, além de ter piada, tem razão. Mas desta vez, por qualquer razão, deu-me para pensar um bocadinho mais nisso… quer dizer, eu sei porque razão, é porque a minha mulher foi operada ao nariz.
Eu sei, é um bocado estranho e talvez eu não consiga explicar completamente o sentimento, até porque é daquelas coisas pessoais, mas ver as senhoras na rua com as suas flores fez-me perceber que era dia internacional da mulher e a operação da Dalila fez-me querer escrever isto.
As mulheres são uma presença muito forte na minha vida, desde cedo. Sim, tenho uma mãe, que me teve com 20 anos e acabou o curso de medicina e é médica, prestes a finalmente reformar-se; também tenho uma irmã, mãe de três filhas, psicóloga e infalível gestora familiar. E também é verdade que tenho trabalhado com muitas mulheres, ao longo da minha carreira.
Mas é a tal mulher da cirurgia, que referi mais acima, que mais me tem acompanhado na minha vida adulta. E até mesmo antes dessa idade.
A verdade é que estamos juntos desde 1989.
São tantos anos que acho talvez um pouco difícil falar dela enquanto mulher, talvez mesmo me seja sempre impossível entender esse lado feminino de qualquer mulher e não me arrogaria a capacidade de o fazer.
Portanto, a Dalila é a minha mulher.
E foi operada ao nariz.
E passou por coisas que, com sorte, muitas mulheres nunca passarão; coisas que não são tão triviais como corrigir um septo desviado. Mas não me apetecia muito escrever sobre isso, embora isso seja algo na nossa história e algo que fundamentalmente nos separa biologicamente enquanto homem e mulher enquanto nos aproxima como seres humanos. Mas a minha mulher ultrapassou isso e deu a volta por outro lado. Trocou de rumo, tomou decisões que de certeza não foram fáceis e transformou-se numa nova pessoa.
Re-inventou-se como mãe, coisa que pensava que não ia ser. E aprendeu uma profissão completamente nova, já nos 40. E talvez isso tenha a ver com ser mulher, ou talvez não. Talvez tenha só a ver com ser ela. Não sei distinguir. E se calhar é mesmo dessa indistinção que surge o equilíbrio possível num mundo em que as pessoas no geral são desagradáveis, mas que no particular conseguem ser magníficas.
A minha mulher aprendeu a fazer jóias, tudo sobre metais e pedras, soldadura, fundição, moldagem e modelagem e provavelmente um monte de outras coisas que eu desconheço. Sabe sempre tudo o que se passa com os miúdos, na escola e fora dela, TPCs, consultas e actividades diversas. Nunca se esquece de nada e sabe sempre onde está tudo, mesmo coisas que não foi ela que arrumou (só isto, eu acho que é um super-poder). E não, não faço ideia se tem alguma coisa a ver com ser mulher ou não, nem sei se isso é a coisa mais importante e outras pessoas terão as suas mulheres e algumas serão mulheres, mas mais nenhuma é como a minha e… eu gosto disso assim.
Em conclusão, neste dia internacional da mulher, agradeço í minha por ser como é – com as partes bicudas e tudo – e por cada vez mais me aceitar como sou – com as partes ferrugentas e tudo. E desejo que a operação ao nariz tenha verdadeiramente valido a pena.
Ah e eu não quis estar a dizer isto porque ah e tal, bla bla, mas a gaja é podre de gira.