Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Em 2009, eu e o Gustavo Carvalho inventámos um sistema de gestão de redes sociais chamado Pond. Trabalhávamos ambos no SAPO, que ainda era a referência em tecnologia e, especialmente, Internet, em Portugal.
Na altura formámos uma equipa e nesse ano passámos do papel ao lançamento, em multiplas plataformas, com bastante impacto numa certa comunidade que sempre se interessou pelo SAPO e pelas aventuras e desventuras do Celso Martinho.
Hoje em dia, certamente que não teria sido uma equipa, mas uma startup interna, eu e o Gustavo não seríamos impulsionadores do projecto, mas co-founders e C-qualquer coisa e, quem sabe, talvez tivesse havido guita de um fundo de investimento qualquer para aquilo viver mais do que o ano e picos que teve de vida.
Mas toda esta introdução serve apenas para dizer que foi nessa altura, e por força do projecto, que aderi ao Facebook, Twitter e que mais houvesse — que na época não seria muito. Abri as portas e janelas, escancarei o que havia para escancarar e rapidamente cheguei a números elevados de amigos e seguidores e demais audiência para, achava eu, poder testar a plataforma do Pond como deve ser.
E assim foi, nesses anos. E eu, após uma resistência inicial que acabei por admitir tratar-se de rezinga, mergulhei nas profundas águas das “redes sociais”, muito particularmente do Facebook. Quase dez anos volvidos, o Facebook tinha-se quase completamente confundido com a minha vida: posts constantes, consulta frequente da timeline, fotos, vídeos, links, comentários, discussões acaloradas com pessoas que não conheço de lado nenhum. Irritação, frustração, tédio. O Facebook estava a tornar-me numa pessoa pior. Muito pior.
Mesmo sem entrar nas preocupações actuais com privacidade e manipulação, há outra coisa que me incomoda muito no Facebook e que sempre me incomodou em “sites” do género, como o My Space ou o Hi5 antes do FB. É que um dos fascínios que a Internet sempre teve para mim, é o facto de ser uma plataforma de comunicação de dados sobre a qual existem inúmeras pequenas ilhas entre as quais podemos ir navegando, explorando, para descobrir novas pérolas.
Um monstro como o Facebook pretende sobrepor-se í Internet; í web, ao mail, a serviços de vídeo, de notícias, de chat. O Facebook pretende monopolizar toda a atenção dos utilizadores para poder explorá-los, enquanto lhes canta uma canção de embalar sobre comunidade, diversidade e união e outras tangas neo-progressistas do género.
Com o Facebook, os hyperlinks não servem para ir até outra ilha, escavar por outro tesouro, servem para dar mais uma volta na mesma terra, olhar para as mesmas árvores e falar com os mesmos macacos. E o pior é que os macacos estão sempre í procura de uma oportunidade de nos atirar merda aos olhos.
Foi assim que, movido por mais duas ou três discussões imbecis e com inspiração do meu velho camarada von Geier, que em Julho deste ano, de férias no Algarve, desinstalei o Facebook do meu telefone. Seguiu-se o iPad e durante algumas semanas fui dando uma espreitadela na web, verificando notificações, sempre sem interagir.
Chegado Setembro, fui até ao Facebook e desactivei a minha conta. No dia seguinte, fui jogar Score! Match e o jogo estava a zeros, como se nunca tivesse jogado, mas com uma mensagem “if you’ve played before, click here”. Portanto, eu clickei there e lá joguei alegremente. Uns minutos depis, recebo um mail… “welcome back to Facebook!”.
O jogo usa o Facebook para sincronizar os dados entre devices e o recurso í plataforma de autenticação é o suficiente para re-activar a conta. Aí percebi definitivamente que o Facebook é como o cancro. Surge como um tumor primário e espalha-se, silenciosamente, a várias partes da nossa vida digital, até ser quase impossível livrarmo-nos dele.
Suspender não chega. E, felizmente, ao contrário do cancro que nos consumirá a todos, é fácil de remover completamente, basta apagar a conta.
Estarei a ser dramático? Não creio. O Facebook não é um serviço para os utilizadores. Pelo contrário, são os utilizadores do Facebook que lhe prestam um serviço, gratuito ainda por cima. Damos-lhe informação em quantidades historicamente sem precedente, para que a venda com uma confortável margem de lucro, a quem a pretender usar, sejam anunciantes agora, governos mais tarde, a bem ou a mal, organizações diversas com sabe-se lá que intenções. Mas volto um pouco atrás, apesar de achar que tudo isto é sério e tudo isto merece um olhar muito mais profundo do que aqui me proponho: o Facebook fez de mim uma pessoa pior e portanto, para mim, acabou. A conta continuará suspensa até ao fim do ano, enquanto ainda vou usando o Messenger e tentando arranjar alternativas, depois, delete Facebook.
Olá camarada.
Que prazer, deixar aqui este comentário! Continuo a acreditar que parte da web voltará a ser o que era.
É por aqui o caminho! Siga
Ah, o Pond… Ainda tenho uma t-shirt que uso ocasionalmente no emprego pelo factor super-hipster (ah e tal uma cena tão fringe que só a “in crowd” be o que é).
Subscrevo a tudo o que dizes, mas com um extra, sobre a direcção que o Facebook tomou : é…. Boring.
É isso torna-o imperdoável.
Ah, o Pond, belas memórias!
Concordo quando dizes que o Facebook faz as pessoas piores, mas há quem o use sem se incomodar muito. Se calhar com uma pele mais grossa.
Preocupa-me muito a quantidade de lixo que por lá circula: info descontextualizada, antiga ou simplesmente falsa. Sobre vários temas.
Não é um problema fácil de resolver…
(acho que) em 2011 consegui o “privilégio” de conseguir seguir-te nessa rede social e foi das coisas mais fantásticas que algum desconhecido me poderia ter facultado nestas andanças “digitais”, mas por infortúnio, um antigo vizinho da minha infância lá entrou com os pés num dos comentários onde tu participaste e as coisas acabaram por resultar na minha expulsão da tua lista de “amizades” (sim, embora nunca nos tenhamos conhecido pessoalmente – embora me tivesse revisto em tantas facetas que tu nos deste a conhecer quer por aqui, quer por lá) mas a verdade é que aquele ex-vizinho foi mesmo ao extremo, pelo que sim, sempre compreendi o porquê (ou a razão) da “desamigação” e por isso nunca existiu uma tentativa de reativação daquilo que, na vida real pode nunca ter existido, mas que na ponta dos dedos tanto sentido parecia fazer (já para não falar na excitação dos meus dois neurónios em grande parte das vezes em que lia publicações tuas…)
Enfim, a vida é como é e acho que no fundo, esta mensagem servirá para deixar aquele agradecimento que muito provavelmente deveria ter ocorrido há muito mais tempo, pois pessoalmente, sempre senti que fiquei mais a ganhar do que a perder com aquilo que resolveste partilhar para com o mundo. Se em alguns momentos possas ter sentido que a tua presença online poderá ter sido em vão, pessoalmente digo que não. Para alguns, poderás ser igual a tantos outros, mas para outros como eu, és alguém que conseguiu marcar uma diferença e deixar alguns motivos de inspiração.
Quanto ao raio da rede social, acho que será mais ou menos como o álcool. Só nas medidas certas é que poderá ser considerado como coisa boa. Quando se passa da medida, aquilo é uma espécie de concentrador de teimosias próprias que, mais cedo ou mais tarde irão apenas servir de catalisadores de radicalismos.
Não fossem os grupos de negócios de instrumentos musicais de segunda mão ou de partilha de conhecimentos e técnicas de agricultura, bricolage e mecânica automóvel ou de interação com amigos de longa data, e também eu próprio teria seguido os teus passos.
(na verdade, talvez só não seja tão ‘corajoso’ – porque se formos a ver bem as coisas, acho que tudo o que referi acima poderá ser feito de forma alternativa sem necessidade de ir í ‘casa’ do Zuckerberg.)