Música em Fluxo

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

O primeiro serviço de streaming que experimentei foi, talvez, o Pandora. Na altura, mais do que um serviço para ouvir música, já era um serviço para descobrir música; assim como o Last.fm. Pouco depois, o Pandora deixou de estar disponí­vel em Portugal (até hoje…).

Um Natal, estive tão doente que não conseguia sair da cama, nem comer, nem suportar luz, nem sequer beber água sem vomitar. Fiquei sozinho em casa, debaixo dos lençóis a tomar pequenas doses de lí­quido, por uma seringa, ao longo das horas. Enquanto isso, o meu Mac tocava música vinda do Last.fm, baixinho, mas constante.

Quando o Spotify apareceu, confesso que não gostei da ideia do streaming substituir completamente a colecção de música e, apesar de ter experimentado, não gostei de quase nada: a qualidade de som era fraca, havia restrições de copyright idiotas que obrigavam a malabarismos para conseguir usar o serviço em Portugal e o interface era pouco convidativo.

Tudo isto para dizer que, anos mais tarde, com os serviços de streaming já muito melhores, acabei por aderir ao da Apple, pelo simples facto de que era transparente para toda a gente lá em casa. Somos quatro, iCoisos não faltam e toda a gente tem acesso í  mesma música, sempre que quiser, sem serem precisas contas novas, apps novas ou subscrições í  parte. Por 11 euros, feito.

Por causa desse serviço, que podia ter sido outro qualquer, passei de estar um bocado encravado nas minhas escolhas musicais, para ter uma abertura muito maior a coisas novas. E sem ter que levar com palermas radiofónicos que acham que têm piada, anúncios em barda, notí­cias e trânsito de hora a hora ou mesmo gajos muito sérios que usam a palavra “cantautor”, sem se rirem.

Quando era miúdo tinha um fascí­nio por rádio – o meu pai chegou a fazer rádio nos anos 80 e eu estive uma ou duas vezes nos estúdios da Comercial a ver o Carlos Cruz narrar o Pão Comanteiga – e enchi cassettes inteiras com programas de rádio inventados por mim e pela minha irmã, nomeadamente, a Rádio Castanheira do Alentejo. Também passei muito tempo a ouvir a XFM, a Radar (antes do termo cantautor se tornar normal) e a SomaFM (online).

Mas confesso que, com o passar do tempo, a rádio perdeu todo o seu encanto e tornou-se, apenas, chata. Não só pelo que já referi acima, mas também porque muitas vezes, quando tocava uma música que gostava e queria saber o que era, raramente conseguia. Ou não era anunciada, ou já tinha sido e não voltava a ser, ou se era, era naquele registo radiofónico que é mais ou menos: “Acabámos de ouvir Bfgngghmms, a nova faixa dos Burggh Nurgmm, do álbum de estreia, Ghnnggghff Hummp”. Ou seja, batatas.

Com um serviço como o Spotify ou o Apple Music, a música é outra, no bad pun intended. Posso, não só, ouvir praticamente qualquer música que me apeteça, com o mí­nimo de esforço, como posso descobrir nova música com uma facilidade, até agora, inédita.

À medida que tenho usado mais o serviço, as recomendações têm melhorado muito e graças a isso, bem como í  sugestão de música relacionada com a que estou a ouvir, não têm faltado discos novos (já muito pouco circulares) na minha colecção.

Vou fazer um esforço para escrever um pouco sobre algumas das minhas descobertas preferidas, em posts separados, para facilitar a leitura, mas posso, resumidamente dizer que, ainda ontem, descobri o Jonathan Hultán, através do single “Nightly Sun” – pouco ou nada encontro sobre ele na net, apenas que é guitarrista dos Tribulation; pouco antes, dei com SOHN, o nome artí­stico do inglês Christopher Taylor e cujo álbum “Rennen” está em alta rotação nos meus phones. James Blake, FKA Twigs ou Lí¥psley também vieram das sugestões da Apple, bem como Baroness, Chet Faker (que já conhecia, mas nunca tinha ouvido com atenção), ou Simian Mobile Disco.

Há uns anos, sonhava com poder ouvir a minha música onde quer que estivesse, hoje isso já é quase possí­vel, só faltam pacotes de dados ilimitados das nossas queridas operadoras de telecomunicações, para poder ter a música sempre em fluxo, onde quer que esteja. Não pretendo, com este post, falar dos serviços de streaming de música como se fossem novidade, por estão longe de o ser, quero apenas celebrar a sua banalização e desejar – uma vez que defendo que a música é essencial í  vida – que continuem a propagar-se, tornando-se cada vez mais acessí­veis.

Bebo a isso.

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2 comentários a “Música em Fluxo”

  1. Roque says:

    Nao uso o Itunes music. Mas com o Spotify podes fazer download para reproducao offline e resolves o problema dos dados (para aqueles albuns que ouves mais). Em android ainda podes ter a aplicacao num SD Card y teres varios GB de musica. Btw com Netflix é a mesma coisa, nao sou muito fan de ver filmes em telemoveis, mas ja me safou bem numas viagens de aviao ter alguns filmes ou series descarregadas em offline no Netflix.

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