Publicado em , por Pedro Couto e Santos
O que é um apocalipse? Apocálypsis – uma revelação. Não um final, mas uma mudança nascida de um momento de compreensão definitiva. Talvez catastrófica.
Um momento que vamos esperando e evitando, em doses iguais. Uns dias empurra de um lado, outros, do outro. Mas sabemos que enquanto mantivermos um braço de ferro entre os nossos próprios braços, nunca vamos ganhar essa clarividência que tanto nos falta.
Passamos a vida convencidos de que certos pensamentos e ideias são castastróficos e destruidores, que não pode haver revelação e consequente mudança sem a hecatombe que lhe associamos.
Mas com o passar do tempo e talvez com alguma ajuda, começamos a perceber que nada disso faz sentido. Que algumas verdades que tomávamos por basilares são só possibilidades num mundo onde o que não faltam são outras possibilidades. São apenas pensamentos e ideias válidos e aceitáveis que podem facilmente co-existir com qualquer forma de realidade que possamos habitar.
Crescemos a olhar para nós próprios como pessoas de amplos horizontes, moral equilibrada, filosofia flexível e demoramos anos a fio a perceber que somos todos dogmáticos e fechados para alguém, somos todos inflexíveis e retrógados para outras pessoas.
E essas outras pessoas somos nós próprios, a nossa própria versão apocalíptica – de olhos abertos, conhecedores, livres.
Mas acordamos todos os dias, com o rastilho numa mão e o fósforo na outra, incapazes de os juntar para enfim podermos espreitar e ver o que está para lá do muro, sem receio que nenhum destroço nos caia em cima e nos esmague, mesmo ali, í beira da nossa própria revelação.
Imagem: “Os 4 Cavaleiros do Apocalipse“, de Victor Vasnetsov, 1887. Fonte: Wikipedia.