Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Recentemente, vi o Whiplash. Um filme que separa ser apenas bom de ser o melhor e o faz submerso em jazz e com uma realização estupenda e uma fotografia deliciosa. A permissa já de si é boa. Mas o facto de fazer tudo isto sem cair em demasiados clichés melodramáticos faz de Whiplash um dos meus filmes preferidos dos últimos anos.
É verdade, estou longe de ser o consumidor de cinema que em tempos fui. As razões para isso são múltiplas, mas a mais forte é provavelmente algo patética: a ideia de que se vir um filme e for mau, incorri num desperdício de tempo catastrófico. É, portanto, especialmente bom quando faço esse investimento e saio com o resultado diametralmente oposto: um filme que não só me deu imenso prazer ver, como sei que vou rever várias vezes.
Whiplash não tem uma história complicada ou sequer imprevisível, mas está bem contada e parece-me humana. Apesar dos dois personagens principais serem especialmente bons músicos, a um nível que muitos excelentes músicos nunca chegarão, não deixam de ser apenas duas pessoas. Nem um é herói, nem o outro vilão. Simplesmente, vivem num mundo onde o nível de exigência e a especialização é de tal ordem que não existe margem de manobra para ser menos do que absolutamente brilhante.
Existe muita música onde se pode ser muito relevante, bom, interessante, até mesmo bem sucedido. E depois existe o mundo representado no filme (acredito que o mesmo pudesse contar uma história de um executante de música clássica, onde acredito que o nível seja semelhante ou superior) e sim, eu acho que é importante gostar-se de música para ver este filme. Não será essencial, porque é genericamente um bom filme, mas acho que há certos detalhes que poderão ser melhor apreciados por amantes de música.
Tentem acompanhar onde estão os desafinos ou as falhas de ritmo detectadas pelo implacável professor Fletcher ou perceber como ele elimina um saxofonista antes que ele consiga tocar a sua terceira nota. Pela simplicidade, pela realização cuidada e pela fotografia cor de âmbar, Whiplash agarrou-me, pelos detalhes musicais, entrou para a minha lista de filmes preferidos.
Whiplash é um filme de 2014, estreado em Sundance. É escrito e realizado por Damien Chazelle e tem Miles Teller no papel de Andrew, um jovem aspirante a melhor baterista do mundo (é mesmo ele que toca bateria no filme) e J. K. Simmons, como seu exigente e agressivo professor Fletcher. Vale a pena ver, fica o trailer.