Um passeio na Gulbenkian

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Gulbenkian

Eu sei… ao fim de todo este tempo, já parece que este blog é mais um ocasional repositório de coisas compridas demais para o Twitter ou Facebook e não aquilo que já em tempos foi: um registo pessoal de tudo um pouco, do que se cruza com a minha vida e que me sinto compelido a pí´r em palavras.

Chegar agora aqui para falar de um passeio em famí­lia pelos jardins e museu da Gulbenkian pode parecer já quase deslocado, mas não faz mal. O que este blog tem sido é uma espécie de companheiro, já de quinze anos, quase dezasseis e que vai aguentando as mudanças que a minha própria vida leva, adaptando-se como pode.

Agora que começo a sentir uma necessidade quase fí­sica de escrever e que vou enchendo ficheiros (ainda se enchem cadernos?), com os mais variados e profundamente neuróticos disparates, lembrei-me novamente do Macacos Sem Galho e de como está sempre aqui disposto a amparar-me os golpes.

A vida é tanto sobre o que nos acontece como e sobre a forma como lidamos com isso. E í s vezes, a forma de lidar com coisas é acordar de manhã e decidir ir passear.

Não fui eu, foi a Dalila. Equanto eu tomava o pequeno-almoço sugeriu que fossemos dar uma volta nos jardins da Gulbenkian com o plano b de visitar o museu se começasse a chover (algo que estava previso para a uma da tarde e que aconteceu, com precisão germânica, í  uma da tarde).

Debaixo de um vento incómodo e frio pouco convidativo, encolhemos os ombros e metemo-nos no carro rumo a Lisboa.

Os miúdos adoraram os jardins, sobretudo o Tiago que correu desvairadamente por todos os cantos e recantos, desaparecendo várias vezes da nossa vista, mas demonstrando que sentido de orientação é coisa  que não lhe falta, pela facilidade com que dava voltas e regressava sempre ao nosso lado.

Fizemos uma visita í  geladaria do centro interpretativo, uma Ice Gourmet (ao que parece), simpática e confortável, cheia de gente a ler e coisas assim. A Joana foi a única a provar um dos tais gelados gourmet e pareceu satisfeita.

Quando saí­mos do café, começou a chover. Depois de uma visita rápida ao CAM (para fazer xixi, não para ver arte moderna), rumámos, sob a chuva, ao Museu Gulbenkian, que acabaria por não ser apenas o plano b, mas a segunda parte da visita.

Os miúdos entraram cheios de entusiasmo que foi desvanecendo ao longo da colecção, o que não foi de todo inesperado, nem impediu que revisitássemos aquela galeria onde não punhamos os pés há muitos, muitos anos.

Tiago no Museu Gulbenkian

Visitar a Gulbenkian trouxe-me boas memórias e atirou-me, mesmo que temporariamente, para outro um outro eu, que tem estado arrumado, enterrado, como se esperar por melhores tempos fizesse alguma espécie de sentido.

O ambiente do museu, as obras de arte, as pinturas, esculturas, até o mobiliário antigo,  lembram-me que um dia fiz uma escolha, que optei por segurança, carreira e essas coisas bonitas que o mundo parece exigir-nos silenciosamente; lembra-me que, algures pelo caminho ficou outra coisa, uma coisa diferente, onde técnica não tem nada a ver com hardware, onde paixão não tem qualquer relação com o mercado e onde a inovação é uma coisa pessoal.

Os últimos tempos têm sido brutalmente frustrantes, o dia a dia não reflecte minimamente a minha ambição, o mundo não quer saber de nada disso e já tendo idade para ter juí­zo, vou fazendo um esforço por me manter funcional numa altura em que a única opção que me parece sensata é a de me deitar no chão algures e não me voltar a levantar enquanto não achar que sei tudo. Ou seja, nunca.

Mas felizmente há momentos como este, hoje. Com as pessoas que mais amo no mundo, sem problemas, sem conflitos, apenas com o prazer de mergulhar num mundo que por razões que me transcendem, deixei para trás.

Talvez esteja na altura de ir buscar uma pá.

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