São Silvestre de Lisboa 2015

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Este ano, corri a São Silvestre de Lisboa 2015, a oitava edição da prova. O meu pai foi fazer a sua primeira prova de sempre e aqui estamos nós pouco antes da partida.

São Silvestre de Lisboa 2015

Comecei a correr há muitos anos, muito pouco e muito mal. Sem preparação, sem objectivos, sem sequer o mí­nimo equipamento adequado (cheguei a correr com as mesmas meias que tinha usado o dia inteiro e depois admirava-me de fazer bolhas nos pés). Na altura fazia uma corrida de cerca de quilómetro e meio e estava pronto para entregar a alma ao Criador… e eu sou ateu!

Mas desde então, as coisas evoluí­ram muito e houve três factores que foram essenciais para empurrar a minha corrida para a frente, por assim dizer.

A primeira foi equipamento; sim, eu gosto de gadgets e gosto de dados e estatí­sticas e portanto, quando tive um GPS í  disposição que registava os meus percursos e me permitia comparar tempos e distâncias, ganhei um interesse redobrado pela corrida. Correr contra mim próprio foi motivador para me ultrapassar a cada saí­da para correr e poder registar e consultar a minha evolução ajudou-me a ter objectivos concretos e a organizar o meu treino.

Já vi muita gente dizer: “como será que se corria antigamente, sem iPhones e auscultadores e sensores de frequência cardí­aca?”. Eu respondo: “da mesma maneira que os velhos do Restelo sempre criticaram tudo e todos e dantes também não tinham internet”.

A segunda coisa foram as pessoas que correm. Nessa altura já corria com alguma regularidade, dava-me gozo e sentia-me bem. Correr tinha-se tornado um momento pessoal importante para mim numa altura em que tinha a cabeça a rebentar dos mais diversos pensamentos conflituosos, que a corrida ajudava a organizar. Às vezes ajudava simplesmente a ter uma ideia para mais uma tira dos Especialistas. Mas era, sem dúvida, uma actividade completa, em que o corpo e a mente se combinavam e apoiavam mutuamente para conseguir um objectivo completo e complexo, apesar de aparentemente banal e simples.

Bom, ou então tudo não passa da libertação das hormonas certas na altura adequada. Mas adiante.

Houve quatro pessoas essenciais para este meu segundo momento de progressão na minha carreira de corredor amador: o João Campos, o Nuno Ferreira, a Patrí­cia Encarnação e o Joel Silva. Qualquer um deles dava, na altura, 15-0 í  minha corrida. Bom… na altura e agora. E foi por acompanhar o seu entusiasmo, dedicação e progresso que percebi que conseguia puxar mais por mim e levar a coisa para um ní­vel seguinte.

Foi no final de uma maratona que essa influência me levou ao terceiro factor. Na altura creio que foi o Joel e a Patrí­cia que completaram a maratona, partilhando fotos e posts na net, com um enorme orgulho e sensação de realização pessoal e eu pensei… “porque é que eu não corro uma maratona?”. Foi assim que me inscrevi na minha primeira prova de sempre.

O terceiro factor são, claro, as provas. Sou um maçarico nas corridas, fiz quatro. A minha primeira, inspirado pela tal maratona que também ainda quero correr, foi a São Silvestre de Lisboa, em 2014. Foi uma experiência tão boa que decidi que correria mais três ou quatro corridas de 10 km nesse ano e assim fiz: a TSF Runners, em Belém, a 5 de Julho, a Corrida Jumbo, no autódromo do Estoril, a 5 de Setembro e a São Silvestre de 2015, na Baixa, dia 26 de Dezembro.

As corridas são objectivos muito claros e definidos e informam todo o treino. Quando estou a treinar, estou sempre a treinar para uma corrida, que é a próxima corrida e a próxima corrida é uma de um certo número que decidi fazer, numa progressão planeada.

E o plano é simples: quatro corridas de 10 km no espaço de um ano, com o objectivo de consolidar o ritmo, preferencialmente melhorando o tempo em todas elas. Passar para a primeira meia-maratona no ano seguinte, tentar duas meias no ano posterior e fazer-me í  maratona em 2018.

Há um ano, fiz a São Silvestre em 59’45”, com passagem ao quinto quilómetro em 29’59”, no fim de semana passado, fi-la em 54’29” com 25’05” ao km 5. Tirei cinco minutos ao tempo, quase todos nos primeiros 5 km, o que me diz que ainda tenho muito que treinar subidas e tenho que melhorar a minha performance após os cinco quilómetros. Mas a evolução é inegável, pelo que pretendo continuar o plano.

Se alguma coisa falhar, é só ajustar, não faz mal. Como uma inscrição numa corrida me dá um objectivo muito claro, os gadgets que uso medem tudo o que faço, permitindo-me saber como estou a evoluir e as pessoas que sigo correm que nem uns desalmados e me ajudam a eliminar as desculpas, tenho tudo na mão para conseguir correr uma maratona antes dos 50.

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Ovos com malagueta

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Já há algum tempo que não publico uma receitazinha, culpa, mais uma vez, do Mark Zuckerberg, que um gajo agora partilha tudo no Facebook ou no Instagram e depois o blog fica a aboborar. Portanto, está na hora de uns ovos com malagueta.

Como gosto de cozinhar, o que geralmente acontece é que cozinho para toda a gente menos para mim e depois fico com fome e tenho que improvisar. Este é um desses improvisos, estupidamente fácil de fazer, muito simples e tão saboroso que mete nojo.

Ovos com malagueta

Faz falta:

Ora… como é de improviso, todas as quantidades podem variar í  vontade e os ingredientes devem ser ao gosto de cada um: malagueta verde, vermelha, africana, asiática; cebola branca ou roxa; queijo mozzarella, edam, ementhal… como preferirem. E é só fazer isto:

  1. Picar a cebola e a malagueta muito finas
  2. Saltear as ditas no óleo/manteiga
  3. Deitar por cima os ovos
  4. Temperar os ditos com sal e mistura de especiarias
  5. Baixar o lume e deixar cozinhar até as claras estarem opacas
  6. Cobrir com uma dose generosa de queijo ralado
  7. Deixar o queijo derreter
  8. Comer

Uma fatia ou duas de pão de sementes torrado para molhar nos ovos também não vai mal.

Bom apetite.

PS: Este post não é patrocinado pela Margão. Aquela mistura de especiarias mexicana é mesmo fixe.

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Star Wars Episode VII – The Force Awakens

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Nasci em 1973. Alguns anos depois estive numa sala de cinema a ver um filme chamado Star Wars. Na altura não lhe chamávamos Episode IV, nem A New Hope, nem percebí­amos muito bem porque raio uma série de filmes começava no quarto episódio.

Tenho memórias muito vagas da altura, como é natural, não teria cinco anos acabados de fazer, se tanto. O meu pai sugere que talvez tenha sido no Condes, nos Restauradores, onde agora é o Hard Rock Café. Eu tenho ideia que sim, terá sido na Avenida da Liberdade – apostaria no Tivoli, mas sem certeza. Mas o que não me sai da cabeça é a enorme e obscura figura do Darth Vader e a sua mecânica respiração.

Desde aí­ e todo o resto da minha vida, Star Wars foi uma paixão. Vi os três filmes incontáveis vezes. Fiquei desiludido com os três que o Lucas mais tarde vomitou, nunca entendi a necessidade das edições especiais (para além, claro, de vender mais DVDs) e afianço com certeza absoluta que o Han disparou primeiro.

Citações, cenas, personagens, locais, naves, acontecimentos, folclore e grafismo do Star Wars fazem parte das décadas da minha vida e quando soube que ia ser feito um novo episódio fiquei entusiasmado, embora apreensivo. Depois, soube que o George Lucas não teria nada a ver com ele e a apreensão diminuiu. Quando soube que JJ Abrams seria o realizador do episódio VII, o entusiasmo voltou a ser dominante.

À medida que saí­am trailers e imagens, o dito aumentava na proporção directa da expectativa. Seguiram-se meses de espera, com pouca informação e, confesso, sem desejar muita mais, porque a expectativa ditava que visse o filme virgem de spoilers ou preconceitos sobre o que seria esta nova aventura na tal galáxia muito distante, onde tudo já se passou há muito, muito tempo.

Assim, na quarta feira, dia 16, ausentei-me desta grande casa que é a Internet. Desinstalei o Facebook do meu telefone, não acedi pelo browser, não fui ao Twitter, não abri sequer o Instagram. Mantive-me o mais distante que conseguia de sites e e-mail e até instalei uma extensão no Chrome que me bloqueava sites que pudessem conter spoilers. No sábado, 19 de Dezembro, sentei-me no cinema para finalmente ver o filme. Éramos três gerações: os meus pais, eu e a Dee e os nossos filhos. Três gerações unidas por uma aventura espacial.

E que aventura…

Spoilers

Notarão que fiz uma introdução razoavelmente longa. Não foi por acaso, foi para que houvesse alguma separação entre o tí­tulo deste post e a secção que se segue que conterá spoilers. Têm aqui um aviso de que os spoilers poderão abundar e portanto não se queixem se lerem aqui um spoiler. A sério. Se não viram o filme, voltem para trás e vão ver, voltem depois para ler isto.

Star Wars Episode VII – The Force Awakens

Vou dizer já, porque há coisas que não vale a pena adiar: quem não gosta ou não tem interesse no Star Wars está í  vontade. Cada um sabe do que gosta e já não tenho paciência para discutir gostos a esse ní­vel. Mas – e isto é um mas significativo – quem gosta de Star Wars e não gosta do Episode VII é parvo.

Sim, tu aí­: foste ver este magní­fico filme e não gostaste? És parvo. És do sexo feminino? Parva.

Não estou a falar dos anormais a quem os jornais pagam para escrever vómitos sob a forma de letras e frases que se assemelham a crí­ticas de cinema e que só podem gostar de dramas francófonos, como tal, classificando o The Force Awakens com uma estrela. Essas pessoas nem o meu desdém merecem, porque já são tristes por natureza e não é a mim que me apoquentarão (nem tão pouco eu a eles). Mas, jovem, se és um fã do Star Wars e não gostas deste mais recente episódio, a sério… algo se passa no teu cerebelo, ou coisa que o valha. Vai lavar os olhos com lixí­via e regressa ao cinema.

O sétimo episódio da saga Star Wars é muito difí­cil de classificar em relação aos três originais. Sim, claro que é vastamente melhor do que os episódos um a três, mas isso não seria difí­cil. Também me parece bastante claro que é melhor que o Jedi (Return of the), mas e em relação aos episódios IV e V? Difí­cil!

O primeiro filme é o primeiro. É o filme que conta toda uma história, com princí­pio meio e fim, porque o Lucas não sabia se alguma vez seria pago para fazer mais filmes. O filme vale por si só, apresenta os personagens principais, as naves icónicas, as batalhas espaciais, a Força, os sabres de luz, o Império e a Rebelião e faz tudo isso competente e satisfatoriamente. Mas o Empire Strikes Back traz o drama. As revelações inesperadas, a perda, a humanidade dos personagens, a dúvida e, claro, entranhas de Tauntaun.

Eu colocaria o Episódio VII a par quer do IV, quer do V. A verdade é que o episódio VII é um dos melhores filmes de Star Wars jamais feitos. E ao fim de seis filmes, isso é dizer muito, sobretudo se tivermos em conta que arruma a um canto as últimas três tentativas produzidas pelo criador da série.

O que é bom neste filme?

Tudo. Mas vou tentar ser mais especí­fico:

O iní­cio. O filme começa com uma invasão de uma força militar, de stormtroopers, a uma aldeia de um planeta qualquer. Nesta cena há sangue. Sangue num Star Wars. Depois, há uma execução em massa da população inteira de uma aldeia.

À saí­da do filme, ouvi um energúmeno comentar com um amigo: “epá, não é mau, mas pronto, é Disney”. Se por “Disney” queremos dizer que é fofinho e amoroso (esquecendo que a Disney, através da Miramax, financiou o Pulp Fiction), então eu relembraria: mass execution of innocent villagers by fucking stormtroopers.

O personagem Finn.

Finn recusa-se a disparar sobre a multidão e está completamente perdido no meio da batalha, com o capacete manchado de sangue de um dos seus camaradas. Torna-se então um desertor da Primeira Ordem, em fuga para o mais longe possí­vel, mas que não resiste a juntar-se í  luta comum do bem contra o mal.

The Force Awakens - Finn

A luta comum do bem contra o mal. O tema do Star Wars. O lado luminoso e o lado obscuro. Porra, é para isto que vemos Star Wars. Os bons e os maus. Os sabres de luz azuis ou verdes, contra os vermelhos. Os X-Wing, com ar de velho avião, contra os TIE Fighters, que parecem naves futuristas. Os pilotos de fato-macaco laranja, contra os pilotos em complicadas armaduras de voo. E eu podia continuar por aí­ fora. Isto é o Star Wars e isto é, essencialmente, o The Force Awakens.

O Poe Dameron, o melhor piloto da galáxia, porque… o que é o Star Wars sem grandes pilotos e naves rápidas? I can fly anything! E assim é. Vemos pouco dele, mas o que vemos é o que gostamos de ver: dogfighting with spaceships, motherfucker!

The Force Awakens - Poe Dameron

Continuo? Bah, isto já vai longo, mas o blog é meu e eu estou a ficar sem cuecas lavadas de tanto fantasiar com o novo Star Wars.

Rey! Holy shit, Rey. A Daisy Ridley é fofinha! Apetece apertar-lhe as bochechinhas e partilhar cupcakes coloridos com ela e parece que nasceu a fazer uma personagem do Star Wars. A Rey é a heroí­na do filme. Ela é o centro da atenção, como o Luke Skywalker o era no Episode IV. Ela anseia por sair do seu planeta arenoso, é uma excelente piloto e – para os mais distraí­dos – é ela que tem um… despertar da Força. (É o tí­tulo do filme, seus burros que comentam que não se percebe como é que ela de repente tem poderes).

The Force Awakens - Rey and BB-8

Han Solo e Chewbacca. Estes dois personagens regressam ao filme como se de lá nunca tivessem saí­do. O Harrison Ford faz de Han Solo, não finge fazer de Han Solo, não está contrariado a representar o papel, nem tão pouco parecem brilhar-lhe os olhos por ter encaixado mais não sei quantos milhões de dólares por esta participação. Nada disso… neste filme, entra o Han Solo. O Han Solo abate stormtroopers sem sequer fazer pontaria, diz “I have a bad feeling about this”, reencontra-se com a Leia, num momento que só não é absolutamente perfeito porque a Carrie Fisher está destruí­da por dentro e por fora e, claro, morre, numa das melhores cenas do filme.

The Force Awakens - Han Solo and Chewbacca

A morte do Han Solo é tão bem encaixada na história do filme e até dos filmes seguintes, que quase não choca. Nós já sabemos que ele vai morrer. Nós sabemos, por causa de mais um personagem espectacular, provavelmente o melhor personagem do filme, a par da Rey: Kylo Ren. Nós sabemos que ele tem que matar o pai, porque precisa de cometer um acto vil que elimine as suas dúvidas e hesitações.

Porque o Ben Solo é um personagem profundamente tosco. Todo ele é tosco. Quer passar para o lado obscuro, mas tem muitas dúvidas. Quer seguir as pisadas do aví´ Vader, mas não passa de um miúdo imberbe. Usa uma máscara desnecessária apenas para intimidar e até o seu sabre de luz é um risco trémulo, mal acabado.

The Force Awakens - Kylo Ren

E mais? A coragem de Abrams em deixar o Luke Skywalker quase completamente fora deste filme. O momento em que o Mark Hamill se vira e tira o capuz e faz um dos melhores papéis da sua carreira sem dizer uma palavra, simplesmente porque está tudo certo com esta história, aquele momento e as dúvidas e teorias que deixa no ar para o filme seguinte.

É um cliffhanger que me deixa com vontade de ver o episode VIII e não um daqueles momentos em que suspiramos: “estes gajos fizeram isto só para poderem fazer outro filme”.

O que é mau neste filme?

Muito pouco.

Os personagens CGI continuam a não me convencer. Felizmente, há poucos. Mas os que existem, tiram-me sempre um bocadinho da suspension of disbelief que é tão fulcral numa fantasia espacial deste calibre.

O Supreme Leader Snoke. Eu gosto do Andy Serkis, mas o problema é que por ser ele, o Supreme Leader Snoke acaba por parecer um bocado o Gollum. E depois… ver acima sobre personagens CGI. Além de que a mim me parece sempre fofinho, o Supreme Leader Snokey Wokey.

Finalmente, os parvos que não percebem nada de Star Wars e acham que todas as referências ao original são pontos negativos, que a história devia ser a de um de centenas de livros merdosos escritos ao longo dos anos ou que simplesmente não se calam e absorvem a espectacularidade que este filme é.

Mas, essencialmente, o filme é bom. Muito bom. Quero mais.

Em suma

Este filme rasgou-me um sorriso de orelha a orelha. O BB-8. Os duelos de sabre tal como devem ser: pesados, duros, difí­ceis e não bailaricos imbecis com saltinhos e cambalhotas. Os cenários e adereços fí­sicos em substituição de desenhos animados por todo o lado. Os personagens, a história… o humor! As piadas são todas boas, bem metidas, no ritmo certo. O sentido que tudo faz, sem que existam pontas soltas por aí­ além, ou nenhuma inverosimilhança gritante.

Naves, armas de laser, heróis e vilões, canhões dantescos, impossible odds, drama e um Wookiee. A única coisa que falta agora… é ir ver outra vez… e outra vez e outra vez, enquanto espero pelo Episode VIII!

(Visitem o screenrant.com de onde pedi emprestadas a maioria das imagens)

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Chewie

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Chewie

“That’s ’cause droids don’t pull people’s arms out of their sockets when they lose. Wookiees are known to do that” – Han Solo

Quase três semanas internado, a soro em cada uma das quatro patas í  vez, a tomar antipirético, anti-emético, quatro ou cinco antibióticos diferentes, o Chewie fez raio-x, inúmeras análises sanguí­neas, alimentação forçada e até uma efusão pleural que teve que ser drenada. Ultrapassou uma panleucopénia, mas manteve a febre, continuou sem comer e apanhou um caliciví­rus. Fraquí­ssimo e com tremores, achámos que, depois da panleucopénia, acabaria por sucumbir a alguma outra coisa.

Testou-se para FIV e FeLV e eu aguardei os resultados em pleno ataque de ansiedade no gabinete da veterinária (because of course), mas os ditos vieram negativos. Apostou-se na PIF, que encaixava nos sintomas e seria a condenação do gato.

Mas não era PIF, o exame veio também peremptoriamente negativo. Testou-se então a toxoplasmose, mas também essa estava negativa.

Até que o Chewie começou a comer. Primeiro pouco, depois um bocadinho mais. No hospital veterinário começaram a deixá-lo sair da jaula e aos poucos foi conquistando os colos de quem apanhava a jeito.

Na sexta-feira passada, dia 11, voltei de uma viagem de trabalho e dei com ele em casa. Fraquí­ssimo, quase incapaz de andar, com as quatro patas rapadas e cobertas de crostas, com uma falha de pelo no tórax da remoção do lí­quido da pleura e muito desanimado.

Desde esse dia, na semana que se seguiu, tem melhorado sempre. Cada vez mais animado, a comer maiores quantidades e já começando a dar as suas patadas em fios e peças de Lego. Ainda está muito trí´pego, mas as patas de trás parecem estar a ficar mais fortes. Agora que já se sente mais móvel, está a começar a arrancar as crostas das patas, claro.

O Chewie foi tratado no SOS Vet, onde já vamos há anos e inúmeros dos nossos gatos foram tratados e até de onde veio o Jones, o mais velho que ainda vive connosco. Todas as médicas, médicos e auxiliares foram impecáveis e incansáveis com o nosso gato de quatro meses, feito num oito, mas decidido a não ceder. Fizeram tudo o que podiam para que se safasse, aturaram os donos em visitas constantes e sessões de mimos e foram muito para além do que se pode esperar ou pedir de um hospital veterinário. Por isso, por termos o nosso gato de volta em casa e a recuperar, obrigado.

E agora… vamos ver no que ele se mete a seguir!

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Gatos

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Sou um gajo de gatos. Desde miúdo que o sou e continuo a ser. Recentemente, um gato em particular entrou na minha vida, na vida da minha famí­lia e ninguém lhe ficou indiferente. Um pequenito, nascido no campo, ali perto de Grândola, cuja mãe o trouxe, com os irmãos, para estarem seguros perto da casa dos meus sogros.

É um gato amarelo, felpudo e de patas largas, chamado Chewie – o nome foi daqueles que me saltou í  ideia e que colou imediatamente.

Há muitos, muitos anos, vivia no Algueirão e por lá andava um gato de rua, chamado Carlos Lopes. Não era bem o nosso gato, acho que éramos mais os humanos dele. Por essa altura, tive o meu primeiro gato, o Nuno e havia também um gatarrão que por lá andava, de original nome Snoopy.

Quando vivemos no Alentejo, em Mourão, tí­nhamos o Spock. O Spock foi atacado por um pastor alemão e “eutanasiado” í  paulada pela Dona Rosa. Eu tinha 6 ou 7 anos e ainda me lembro da cena – coisa simpática para um miúdo pequeno.

A ordem das coisas já está um pouco confusa na minha cabeça, mas se não me engano, no regresso ao Algueirão, havia a Panqueca, que teve dois gatinhos, a Mascarilha e o Gin Tónico (o meu pai chamava Gin Tónico a todos os bichos, se pudesse) e a Pantufa, adoptada pelos meus pais num dia de Banco no Hospital.

A Pantufa veio connosco para Almada e viria a viver 18 longos anos. Morreu í  minha frente, quando já não havia nada a fazer por ela. Então, veio a Michelle. Uma criatura minúscula e completamente parasitada por dentro e por fora, que encontrámos em cima da roda de um carro, uma noite, em Almada.

Tinha tantas pulgas e lombrigas que foi uma verdadeira batalha limpá-la. Há um ví­deo muito antigo, feito com uma daquelas camcorders gigantes, de várias pessoas da famí­lia a catar a gata, depositando as pulgas num alguidar cheio de água.

A Michelle viveu 20 anos! Morreu há pouco tempo, já na nossa actual casa e ainda viu nascer o Tiago e a Joana.

Em 1998 casei-me e fui viver com a Dalila. Connosco foram a Michelle, a Amarela e a Branca (sim, uma gata amarela e uma gata branca, que foram com a Dalila). A Branca não se adaptou bem na nossa casa e voltou para os meus sogros. Acabaria por morrer ainda relativamente nova, com um tumor. A Amarela viveu muitos anos, não me recordo exactamente quantos, uns 18.

Na nossa primeira casa, adoptámos a Scully, uma gatinha que nasceu nas traseiras do prédio e veio ter comigo um dia quando voltava do trabalho. Viveu 14 anos, que parece pouco, mas é, no fundo, a esperança média de vida de um gato.

No meio da rua, em Alfama, encontrámos a Ripley, atropelada. Infelizmente, embora tenha recuperado bastante, estava com uma pneumonia e tinha imunodeficiência e não sobreviveu.

No veterinário onde levávamos as gatas (e onde ainda vamos, quase 20 anos mais tarde), estava a certa altura uma banheira cheia de gatinhos que alguém tinha atirado para um contentor de lixo. Adoptámos o Coffee e a Cream, mas nem um nem outro resistiram mais do que dois ou três dias.

Na ida e vinda do veterinário para os tentar salvar, trouxémos uma gatinha já mais crescida, amarela, a Ginger. Uma gata cheia de energia, que estava a viver na nossa sala, antes de se adaptar í s outras. De um dia para o outro, a Ginger adoeceu e morreu em 24 horas.

Numa questão de dias, adoptámos três gatos que morreram em pouco tempo, apesar dos nossos cuidados. Determinados, voltámos ao veterinário, onde já sobravam poucos gatinhos na tal banheira (talvez fosse uma caixa, a memória já me falha). Um deles saltava, punha-se de pé e miava freneticamente.

Levámo-lo para casa e, no meio de tanta morte eu disse que se este sobrevivesse seria o Jones, como o gato do Alien, que, juntamente com a Ellen Ripley, é um dos únicos sobreviventes. E assim foi. O Jones foi alimentado a biberão por nós e agora trepa-nos para o colo, deita-se de costas e chucha na nossa roupa. Tem 13 anos.

Quando perdemos o nosso primeiro filho, Alex, em 2005, a Dalila, por tudo isto que eu já escrevi e também provavelmente por reacção, adoptou três gatos.

A Buffy e a Nikita estavam numa gaiola, numa loja de plantas e rações, para dar. E ela levou ambas para casa. O House, estava no meio da rua, todo escafiado, provavelmente atropelado. Também o levou para casa, tinha bacia partida, hemorragias diversas e uma infecção urinária. Tratámos dele e agora anda por aí­, com um andar esquisito, como o seu homónimo Dr. House, mas impecável.

Voltamos ao Chewie.

me_and_chewie

No verão, depois de pensarmos bastante, já apenas com quatro gatos cá em casa, decidimos ficar com o tal gatinho amarelo alentejano. Por tudo o que se percebe do texto acima, mas também muito porque os nossos filhos adoram os gatos e achámos que ia ser bestial para eles terem um gatinho bebé em casa, enquanto ainda são miúdos.

O Chewie é um gato a sério. É brincalhão, como é apanágio dos pequeninos, é temerário com os gatos mais velhos, como é esperado num animal territorial, ainda por cima macho, é paciente com os miúdos, que adoram andar com ele ao colo pela casa e é afectuoso com toda a gente, sempre de motor ligado, a dormir de barriga para o ar, ao pé de nós.

Desde dia 24 que o Chewie está internado com uma panleucopenia, no mesmo veterinário onde já fomos tantas vezes, com tantos gatos, por tantas razões. É uma doença fatal, com uma taxa de mortalidade muito elevada e cuja recuperação depende apenas dele. Sabemos que está a ser bem cuidado, os sintomas e as infecções secundárias estão a ser tratados, prevenidos e controlados, mas é apenas o corpo do bicho de cerca de quatro meses que tem que fazer o que puder para se manter vivo e rechaçar o ví­rus.

Cada dia que o Chewie sobrevive, é mais um pontinho a favor, é um ligeiro aumento na probabilidade que se safe. E a única coisa que esta famí­lia quer agora, é o nosso gatinho de volta.

Gostava de poder dizer, em breve, com a voz de um Harrisson Ford envelhecido: “Chewie, we’re home”

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