Não se esqueçam fingir com especial vigor, hoje, que não são capitalistas conformados, consumistas vorazes e abstencionistas crónicos. Hoje é dia de fingirmos que somos todos uns grandas revolucionários.
Eu costumo dizer que não podemos comparar os nossos problemas com os de toda a gente, porque senão, qualquer maleita que nos assalte ou toque que nos dêem no carro se transforma numa insignificante vergonha perante fome, destruição, exílio e diversos outros sofrimentos humanos que povoam a espécie.
Portanto, o ideal, é ficarmo-nos pela nossa realidade e podemos assim gozar os pequenos sofrimentos que, hoje em dia, é comum chamar de “problemas de primeiro mundo”. Aqui vão os meus mais frequentes.
Meto-me na cama em pleno inverno, de calças de pijama e, quando me aconchego no edredão de penas, as pernas das calças sobem até ao joelho. Não quero ter que me levantar para as puxar para baixo, portanto tento infrutiferamente usar os dedos dos pés. :(
Tenho uma enorme vontade de jogar Grand Theft Auto e comer Lay’s Gourmet e não tenho Lay’s Gourmet. :(
Tenho muitas séries para ver, alojadas na minha Synology, que faz stream em alta definição para o iPad Air, mas não tenho tempo para as ver. :(
O Raspberry Pi não faz output de áudio por fibra óptica e o meu amplificador não tem HDMI. :(
Os retrovisores do meu carro não recolhem electricamente. :(
Nunca sei qual de inúmeros hobbies hei-de praticar e acabo por passar o meu pouco tempo livre agarrado ao Facebook. :(
Tenho 11 mil músicas no iTunes Match e há alturas em que vou no carro e o shuffle não me dá nada que me apeteça ouvir, portanto vou fazendo skip com o comando no volante e acabo por chegar a casa sem ter ouvido uma única faixa completa. :(
Quero uma PlayStation 4, mas ainda tenho vários jogos que quero jogar na 3. :(
Às vezes, quando vou correr com o iPhone a tocar música, o cabo dos phones incomoda-me. :(
O ar condicionado cá de casa faz algum barulho e í s vezes fico sem saber se prefiro silêncio ou o quarto quentinho em noites de inverno. :(
Quando vou no comboio há um troço da viagem que dura uns bons 40 ou 50 segundos em que passo num túnel e fico sem rede. É insuportável. :(
Algumas encomendas da Amazon chegam a levar três ou quatro dias a chegar. :(
Apetece-me ver um filme, mas não tenho paciência para ligar o plasma, o amplificador e o media player. :(
Quero beber um café, mas a máquina está cheia de cápsulas e como não me apetece vazar o depósito, tento forçar mais uma cápsula na mesma. Mas não dá. :(
Gosto muito de jogar GranTurismo com o volante e os pedais, mas montar tudo e por o jogo a correr demora quase 3 minutos. :(
Às vezes, o restaurante onde almoço todos os dias tem dois pratos que me apetece comer e tenho que optar por um. :(
A iluminação do meu rato Razer não condiz com a do meu teclado SteelSeries, nem com os LEDs do meu interface de áudio Focusrite, têm todos cores diferentes. :(
Tenho uma lanterna de alumínio muito porreira, mas nunca falha a electricidade. :(
Às vezes compro um Big Mac e fica-me a apetecer um CBO e outras vezes vice-versa, mas o dramático mesmo é que não tenho um Burger King a 100 metros de casa. :(
Algumas noites esqueço-me de colocar o Withings Pulse em modo de sono. :(
Escrever listas de coisas na internet dá demasiado trabalho. :(
Na primeira noite, está tudo bem, é só um glitch, dormes pouco, mas dormes, logo se vê.
Na segunda noite dormes menos e preocupas-te um bocadinho. Então mas isto agora deixou de funcionar?
Na terceira noite estás exausto, já são duas a pouco dormir, mas começa o nervoso miudinho quando se aproxima a hora de apagar a luz e puxar as cobertas e quando os olhos começam a focar o tecto, í procura de alguma coisa no escuro, o pânico instala-se. Alguma coisa partiu, algures e nem sabes bem onde se muda a peça… Nem sequer que raio de peça é.
E aí, vais ao armário dos medicamentos e tomas qualquer coisa, com aquela noção de que não podes tomar sempre qualquer coisa, mas com a nítida sensação de que, de alguma maneira estranha e incompreensível, te esqueceste como se dorme.
Não se esqueçam fingir com especial vigor, hoje, que não são capitalistas conformados, consumistas vorazes e abstencionistas crónicos. Hoje é dia de fingirmos que somos todos uns grandas revolucionários.
Eu costumo dizer que não podemos comparar os nossos problemas com os de toda a gente, porque senão, qualquer maleita que nos assalte ou toque que nos dêem no carro se transforma numa insignificante vergonha perante fome, destruição, exílio e diversos outros sofrimentos humanos que povoam a espécie. Portanto, o ideal, é ficarmo-nos pela nossa […]
O problema da insónia é o medo. Na primeira noite, está tudo bem, é só um glitch, dormes pouco, mas dormes, logo se vê. Na segunda noite dormes menos e preocupas-te um bocadinho. Então mas isto agora deixou de funcionar? Na terceira noite estás exausto, já são duas a pouco dormir, mas começa o nervoso […]