Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Ando para escrever este post há bastante tempo. Para ser exacto, desde o dia 11 de Agosto, quando morreu o Robin Williams.
Na altura surgiram de todos os lados pessoas que pareciam subitamente especialistas em depressão, a partilhar por aí artigos sobre o assunto e a produzir frivolidades sobre como muitas vezes o humor mais não é que uma máscara para a mais profunda tristeza.
Claro que na época em que toda a gente confunde ter uma opinião com ter que a partilhar e informação superficial com conhecimento científico, é natural que assim seja.
Ninguém saberá porque se suicidou Williams, ninguém senão ele. Talvez tenha deixado algumas pistas í família, que nunca conheceremos, mas também não precisamos de saber. Desconfiamos apenas que, afogado numa enorme angústia, um dia acordou com o ânimo e a coragem necessários para por fim ao seu sofrimento.
Não quero ser o gajo que diz “ah, eu sempre soube”, até porque era razoavelmente conhecido que Robin Williams tinha probemas diversos, nomeadamente com álcool, mas uma coisa é certa: sempre vi um certo tipo de tristeza por trás do sorriso dele.
Sempre lhe identifiquei um olhar com um sabor amargo, mesmo (ou especialmente) quando os olhos se semi-cerravam para acompanhar um sorriso.
Um certo tipo de tristeza porque não é a tristeza comum, a que sentimos na perda, na saudade. É a tristeza que sabemos que nasceu connosco, a que sabemos que jamais nos abandonará.
Existe um lugar onde por vezes nos refugiamos mas que, ao contrário de um verdadeiro refúgio, não nos oferece segurança. É um lugar vazio e bafiento, com uma luz filtrada por cortinados velhos, cobertos de pó. Um lugar de onde nos parece até que poderemos sair com facilidade, mas revela-se-nos impossível levantar da cadeira e abrir a porta.
E í nossa volta, ninguém percebe, ninguém entende; não há ninguém que realmente perceba o que é estar preso dentro de nós próprios, encerrado numa profunda tristeza que nos suga toda a esperança, mesmo quando para todos o sol brilha de forma tão óbvia e tanto há para inspirar essa esperança.
Quando a vida é assim, torna-se insuportável, mas não se esvai, não nos deixa, obriga-nos a existir, a interagir, a sair para o mundo e fingir que está tudo bem. Andamos presos a um bloco de cimento que ninguém vê, mas nós sentimos. Cada passo é um esforço, cada conversa um martírio, cada pergunta de “está tudo bem” um exercício da pequena mentira.
E tornamo-nos bons a mentir, a fingir e disfarçar, porque sabemos que o mundo não foi feito para nós, foi feito para outros que toleram a nossa presença desde que mantenhamos essas nossas máscaras de normalidade.
Não temos solução, não temos coragem, nem para nos darmos ao mundo tal como somos, borrifando nas convenções, nem para nos retirarmos dele, de uma vez, dando finalmente silêncio ao ensurdecedor ruído que nos enche a cabeça todos os dias e nos mata o pensamento.
Não podemos ser felizes porque não sabemos o que isso é, não temos um vislumbre, sequer um sonho dessa coisa. Não fomos feitos dessa tal matéria cósmica que faz as pessoas sonhar, olhar para o futuro com um sorriso, viver o presente com a certeza de que o mundo os acolheu porque tem um lugar para eles.
E caminhamos assim, de pés arrastados e cabeça baixa, com os olhos cavados das noites em branco, os gritos de angústia na eterna pergunta: “porquê?!”; porquê? Porque é que tendo tudo sinto que não tenho nada? Porque é que o tudo que tenho não se acende nesta sala empoeirada e me ilumina os dias? Nunca há resposta, nunca há solução, porque nunca há esperança, nunca há fim.
Até um dia. Até ao dia em que acordamos com essa centelha perante nós, em que nos parece que o nosso corpo se animou, que a nossa mente não está recolhida num canto, com o olhar vazio posto no infinito, é o dia de coragem, de erguer a cabeça e saber precisamente que é o dia em que finalmente ganhámos coragem para morrer.
É esse o dia do fim do sofrimento. E enfim, a paz.
Não tomes os medicamentos não…qualquer dia quem te encontra bem esticadinho é a mulher a dias que dorme lá em casa!
Obrigado pela preocupação demonstrada pela minha saúde mental.
PEdro, nem fazes ideias do sentido que estas palavras têm. Acabei de perder um amigo que decidiu por fim í sua vida e, na minha tentativa de perceber o porquê, o que disseste faz todo o sentido!
Lamento.