Os meus personagens preferidos dos transportes públicos

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Este é um texto livre e improvisado, apenas semi-pensado, sobre os meus personagens preferidos dos transportes públicos.

Sou publicamente transportado há muitos anos: andei de autocarro para as aulas de música quando era miúdo, andei de cacilheiro para a faculdade quando era mais crescido e depois para o trabalho, mais crescido ainda. Sempre andei muito de Metro em Lisboa, já experimentei em Almada também, mas depois desisti. E há alguns anos que ando de comboio diariamente.

Vejamos, então:

Aquele tipo que acha que é o último a entrar numa carruagem e portanto pára assim que passa pela porta, impedindo a entrada dos restantes passageiros.

O fulano que chega í  plataforma no exacto momento em que o comboio pára, ultrapassa todos os passageiros que já estavam há largos minutos í  espera e é o primeiro a entrar no comboio.

Aquele gajo que vai com o dedo no botão de abertura de portas do comboio mas que, quando este pára, se esquece de carregar no botão.

A fulana que se levanta de uma ponta da carruagem e percorre a coxia inteira até í  porta oposta para sair porque “é mais perto da escada”.

O gajo que vai o percurso todo a cortar as unhas para o chão.

O fulano que se senta todo regalado na cadeira e ocupa três lugares, sem fazer qualquer esforço para deixar que outros se sentem.

A senhora com uma mala do tamanho de um panda bebé que só se lembra de mergulhar na dita para procurar o passe quando está parada em frente í  cancela a empatar toda a gente.

O puto que não pagou bilhete e se cola í s nossas costas para passar na cancela í  nossa conta.

As senhoras que se encontram na escada de acesso í  estação e decidem que ali é o sí­tio ideal para o beijinho e os cumprimentos da praxe.

O adolescente que não sabe o que fazer í s pernas e precisa, porque precisa, de viajar com os pés no assento da frente.

Todos os gajos que fedem a suor logo í s nove da manhã.

O gajo que viaja encostado ao poste de segurança do Metro, impedindo outros passageiros de se agarrarem ao dito.

Um gajo (este gajo existe mesmo!), que anda freneticamente de um lado para o outro na carruagem do metro, a falar ao telefone, mesmo em hora de ponta, quando andar freneticamente de um lado para o outro no metro é quase impossí­vel.

Os jovens que acham perfeitamente natural ir a ouvir música alto através dos mini-altifalantes ranhosos dos seus telemóveis.

Pessoas que entram num autocarro e ficam ali no primeiro metro e meio da cabine, em vez de se moverem para a traseira, para caber mais gente.

Pessoas sem qualquer espécie de necessidade especial que ocupam os lugares reservados a pessoas com necessidades especiais, especialmente os que não se levantam na presença de alguém que, obviamente, precisa mais do lugar.

Pessoas que eu mal conheço mas que, como já me viram uma ou duas vezes, acham que eu quero companhia na viagem.

Aquele gajo, aquele mesmo gajo todos os dias, que está sempre lá, a apanhar o comboio í  mesma hora que eu, que não conheço de lado nenhum, mas que odeio visceralmente só por existir.

O fulano que obviamente não pagou bilhete, mas que continua a fingir que o procura nos bolsos perante o pica, porque simplesmente não tem mais ideias.

O gajo que saca do laptop para estar a teclar coisas com um ar importante, numa viagem de dez minutos.

Pessoas de toda a espécie que se plantam em frente í  porta do metro ou do comboio e não deixam sair os passageiros, quando a porta se abre. Especialmente, aqueles que teimam em entrar mesmo antes de sair o primeiro!

Senhoras com sacos. A sério, expliquem-me que atracção têm as senhoras por sacos enormes?

Pessoas de nariz empinado, com cara de finas que, obviamente, se fossem finas, não andavam de transportes públicos.

Pessoas que deixam o Destak no assento!

A velhinha que entra no autocarro e traz um porta-moedas com o valor do bilhete em moedas diversas que conta, demoramente, para desespero dos restantes passageiros que só querem entrar.

O gajo que viaja na Fertagus (outro personagem real), cantando êxitos nos anos 80 a plenos pulmões.

E certamente que há muitos mais, eu agora é que não me lembro. Mas uma coisa é certa, um gajo anda de transportes e se não se entretém a observar pessoas, passa-se da cabeça.

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Este é um texto livre e improvisado, apenas semi-pensado, sobre os meus personagens preferidos dos transportes públicos. Sou publicamente transportado há muitos anos: andei de autocarro para as aulas de música quando era miúdo, andei de cacilheiro para a faculdade quando era mais crescido e depois para o trabalho, mais crescido ainda. Sempre andei muito […]

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