Não tenho escrito muito, porque não tenho muito tempo para escrever. Mas í medida que o blog caminha a passos largos para o seu décimo terceiro aniversário, não tenho qualquer intenção de parar.
Até porque há muito para deixar escrito, sobretudo coisas que quero que os meus filhos possam ler quando quiserem – se quiserem.
E assim, fica um resumo do status quo, as it were.
O Tiago está a menos de uma semana de completar cinco anos. Está a caminho do metro e vinte de altura e possui uma energia praticamente inesgotável. Foi graças a ela que, na sexta-feira passada, abriu o sobrolho direito na bancada de granito da nossa cozinha.
Ainda tem um penso, mas prevê-se que fique com uma cicatriz. Nesse fim de semana também o vi jogar futebol pela primeira vez, já que, nos últimos quase cinco anos, demonstrou pouco ou nenhum interesse por bolas. Prefere, ainda assim, Lego, o seu brinquedo de eleição dos últimos meses.
Os avós começaram a comprar-lhe Lego e o entusiasmo dele foi tal que praticamente todas as prendas de aniversário que temos para ele são Lego. Acima de tudo, gosta de brinquedos que possa montar e desmontar e é grande adepto de seguir instruções para obter um resultado.
Tem um discurso complexo e cheio de “portantos” e “directamentes” e “imediatamentes”.
Para minha angústia, anda preocupado com a morte. Pergunta-me se todos ficamos velhos e se depois, todos morremos. Desata a chorar, com lágrimas a correr-lhe pela cara abaixo, “pai, eu não gosto nada de morrer”. E eu ali a tentar ser o adulto que explica as coisas de forma simples, racional, sem fantasias, mas também sem o assustar. É difícil.
A Joana está a provar dia atrás de dia que se há coisas que se aprendem com um e se aplicam limpinho ao outro, também é possível dar como verdadeiras frases como “o segundo é muito mais fácil” ou “as meninas são completamente diferentes dos rapazes”.
Com um ano e meio raramente não está a sorrir – e quando não está, está a berrar; já fala, muito – muito mais do que o irmão falava nesta idade (que era nada), corre pela casa, sempre a rir, brinca com o irmão, muitas vezes a provocá-lo já que ele fica muito incomodado e a tenta dissuadir com discursos: “Joana, pára de me seguir, se faz favor, estás-me a distrair e eu quero acabar a minha construção!”.
Está extremamente bem integrada na escola e raras são as vezes que fica a chorar, embora ainda aconteça ocasionalmente. Adora a mãe, claro, está Â na idade, mas é mimosa com toda a gente e faz montes de coisas que o Tiago nunca fez, como dar grandes abraços ou por-se aos beijinhos a fotografias. À noite, se eu já estiver em casa, antes de ir dormir, faz questão de me dar um abraço, dizer “xau” e acenar com a mão. Depois vai dormir.
E dormem ambos muito bem, sem grandes stresses, mesmo quando estão doentes. A Joana ainda acorda ocasionalmente a meio da noite, mas geralmente volta a adormecer sem problemas. O Tiago já começou a acordar de manhã ao fim de semana e se vê que nós ainda estamos a dormir, abre o estore e fica a brincar no quarto até nos levantarmos.
Os meus filhos continuam a crescer e vê-los crescer continua a ser o ponto alto dos meus dias.
É até me estamparem o carro pela primeira vez ou me irem ao armário do whiskey, claro!
-Â Tudo, disse o marquês, pondo-se a caminhar ao lado dele com uma lentidão de moribundo. Deitei-me tarde. Cansaço. Opressão no peito. Pigarreira. Dores no lado. Um horror… Levo já aqui rebuçados.
– Não seja piegas, homem! Você o que precisa é roast-beef e uma garrafa de Borgonha… Não é hoje que você janta lá no Ramalhete?… É, até tem lá o Craft e o Dâmaso… Então descemos por essa rua do Alecrim, que já não chove, depois pelo Aterro fora, a passo ginástico, e em chegando lá você está curado.”
in “Os Maias”, Eça de Queiroz
Pergunto-me… será que o país também lá vai com roast-beef e um garrafa de Borgonha…?
Faz agora precisamente um ano que o meu cunhado Pedro me mostrou o seu jogo para iOS e me desafiou a fazer uns gráficos, um menu e umas texturas. Chamava-se Nut Factory e tinha um princípio simples: num tapete rolante, chegam troncos que temos que cortar para alimentar uma caldeira. Alguns troncos têm pregos que temos que remover e deitar fora e existem ainda outros obstáculos com riscos diversos.
Na altura, ele dava o jogo por praticamente pronto e eu não podia de maneira nenhuma resistir ao desafio de participar, já que desenhar para interfaces rígidos e pixel-perfect é exactamente o tipo de coisa que mais gosto de fazer.
Em pouco tempo, porém, percebemos que estávamos a embarcar numa aventura de um ano para lançarmos o melhor jogo que conseguíssemos fazer com os recursos e experiência de que dispúnhamos.
No início, as coisas foram lentas e complicadas e as tentativas de fazer uma boa textura para uma das peças principais do jogo – um tapete rolante – consumiram várias horas de trabalho infrutífero.
É que eu sofro de uma compulsão difícil de ultrapassar. Quando me dão um interface para eu dar uns toques, é-me completamente impossível resistir a mandar tudo abaixo e começar do princípio. Há uns anos, pouco depois de ter entrado para o sapo, o Fernando Afonso pediu-me que desenhasse uma moldura para o avatar no novo Mensageiro que estava a desenvolver.
Devolvi-lhe a janela principal da aplicação toda redesenhada. Só parámos quando a aplicação estava completamente customizada por nós até ao mais ínfimo detalhe.
Com o jogo, acabou por se passar o mesmo. Só quando parei de tentar fazer texturas para o que já lá estava e simplesmente desenhei o interface que achava que lá devia estar é que as coisas desencravaram. Depois foi um caso de uma coisa puxa a outra… e o menu? E o selector de níveis? E o que acontece quando se perde? E quando se termina um nível?
Sempre construindo em cima das coisas que tínhamos feito na semana anterior, í s vezes no dia anterior, fomos, aos poucos, desenvolvendo um jogo cada vez mais equilibrado, sem nunca nos afastarmos muito das ideias originais do Pedro, mas introduzindo pequenas modificações que acabariam por fazer toda a diferença.
Com o Pedro dedicado 100% ao projecto, a programar em Objective-C, C e OpenGL (e, claro, a usar Perl para ajudar a resolver alguns problemas pelo caminho) para além de se preocupar com a mecânica do jogo, o level design e montanhas de testes, restavam-me a mim as noites para poder contribuir com os layouts, grafismo e som do jogo.
Durante um ano, depois dos putos deitados, rumei ao sótão onde ficava a trabalhar (e ainda fico…), até í s 3, 4 da manhã, praguejando com o meu despertador, que se preparava para tocar daí a poucas horas, í s 7:30.
Usei o Photoshop para desenhar praticamente tudo, exportando os bitmaps em dois tamanhos (para 3G e retina), alguns em três tamanhos (para o iPad). Passei também um tempo considerável a gravar caixas de óculos, lanternas, halteres, ramos de árvore, machados e até a minha própria voz, para fazer os efeitos sonoros do jogo (sim, eu sou o castor). Baseei-me nas ideias iniciais que a Dee teve para a música e aproveitei para fazer um Nut Factory Theme, que toca nos menus do jogo.
Praticamente tudo neste jogo é original. Desde o código até í s texturas dos troncos, da música aos personagens, as poucas coisas que não foram criadas por nós, foram adquiridas para o efeito, como, por exemplo, o modelo 3D do castor. Fizemos os possíveis para termos um jogo coerente, simples de jogar mas não fácil demais, desafiante, mas não frustrante e com um caminho claro para crescer.
É um jogo original, feito por duas pessoas – um programador e um designer – ambos chamados Pedro. Com ajuda de amigos que testaram e deram o seu contributo valioso e das famílias que lhes aturaram as ausências e obsessões que são indispensáveis para concretizar algo deste tipo.
São 32 níveis  que se jogam com um só dedo, mas não se deixem enganar: começa suave e fácil, mas rapidamente se torna quase diabólico para os mais incautos. Mas é vencível e o que não faltam são razões para tentar mais uma vez bater a pontuação, receber um badge, descobrir os cortes artísticos espalhados pelos níveis.
Não sei ainda se o jogo será um sucesso comercial – espero que sim – mas não tenho grande hesitação em afirmar que é, dos trabalhos que já fiz, o que mais me orgulho até agora.
O jogo é, como já disse, para iOS. Foi testado para correr a partir do iPhone 3G. Corre em iPhone, iPod Touch e iPad, embora ainda não esteja adaptado a este último. Estamos a terminar as adaptações necessárias para que o jogo seja nativo para iPad – será universal e não um download í parte, pelo que quem já tem o jogo, não terá que o comprar novamente para jogar no iPad.
E quem não tem o jogo, só precisa de dar um salto í AppStore e comprar o Nut Factory.
Para mais informação, visitem a página de Facebook, onde podem aproveitar para fazer “like”, podem seguir @nfgame no Twitter ou dar um saltinho í página web onde poderão participar no forum.
Acima de tudo, fica um pedido: ajudem a divulgar o jogo; em Portugal, no estrangeiro, se tiverem amigos lá fora, online, offline, como preferirem. Gostámos mesmo muito de fazer este jogo e queremos mantê-lo e se calhar até, fazer outros. Obrigado e… keep cutting!
Se a petição chegar í s 4 mil assinaturas, o assunto terá que ser ouvido na Assembleia de República. Isto é muito importante e pode fazer diferença. Custa absolutamente zero: o vosso nome e número de BI.
É altura de parar de reclamar e fazer o mínimo olímpico: dar a cara.
Estamos numa era de informação, em que muitos conseguem saber o que poucos estão a fazer, mas ainda assim, apesar da informação ser poder, ainda andamos sem poder fazer grande coisa.
Nos Estados Unidos, parece que se parou a SOPA e a PIPA. Parece. Por agora, pelo menos. Mas até quando? E quando as Leis não afectarem o dia a dia de quem “anda na net” e se exprime nela e se informa através dela?
Como é que chegámos aqui? Quando é que aterrámos neste descampado, onde a democracia nos parece dar pequenas vitórias morais: toma lá o casamento homossexual, toma lá umas eleições na Líbia, mas abre o caminho para que os nossos Legisladores trabalhem quase exclusivamente para corporações?
E nós deixamos? Deixamos.
Mas nós não podemos deixar. Não podemos aceitar e dizer “mas o que é que a gente há-de fazer”.
Chegámos até aqui e agora… o que é que se há-de fazer? A troika manda, o que é que podemos fazer?
Eles lá decidem, a gente cá acata. Em S. Bento, ou na União, ou na Comissão, ou no Reich… perdão, no Bundestag, uns senhores decidem e nós, os humildes, fazemos. E mais: somos capazes de nos sentar í mesa do café a dizer que 40 horas já eu trabalho, esses outros que trabalham 36 é que são uns mandriões, não querem fazer nada! Quarenta horas para todos, sim senhor!
Sim senhor?
Não senhor.
Nem mais horas de trabalho, nem menos tempo de férias, nem menos salários, nem menos feriados sequer.
E eu sou tudo menos comunista, não estou aqui a dar uma de Jerónimo, meus amigos. Já o tenho repetido vezes sem conta em conversa e repito aqui: sociedade que aumenta o tempo de trabalho em detrimento do tempo de lazer é uma sociedade em regressão. Uma sociedade que reduz o horário de trabalho é uma sociedade em evolução. Como podemos dizer que “assim mesmo é que tem que ser”?
Estamos a regredir. Isto não é aceitável. Mesmo que não façam nada, que não possam fazer nada, por favor não digam por aí “eu compreendo”, “pois, eu aceito, tem que ser”. Não… eu não compreendo. Eu não aceito!
E olhem que estou-me bem cagando para as horas, eu trabalho bem mais de 40 por semana e estou a falar das que ficam contabilizadas no meu verbete de tempos – fora as outras.
Existe uma realidade na governação dos países hoje em dia que está tão distante do “pago-te 1 euro por hora, tu pagas 10 cêntimos por um pão” – que é a que as pessoas comuns compreendem – que a mesma já se tornou uma abstracção.
Quem compreende essa outra realidade é quem a conduz, quem nela vive. E acredito que o Pedro Passos Coelho até possa querer o melhor para o país, mas atrás dele, há dez fulanos que não querem saber. Eu até aceito que o Sócrates mentisse sobre a gravidade da situação, enquanto, por trás, tentava colar as coisas com cuspo e fita-cola. Mas í volta dele, havia 20 gajos que se estavam marimbando.
Hoje em dia está em voga a piadinha dos “first world problems”, mas acordem: nós somos governados pelas pessoas que os têm… “Ah, que chatice, a empresa não me renova o CLS320 este ano, porque tem que fazer investimentos em Angola… e agora, que vou eu fazer sem um Mercedes novo a cada quatro anos?”
O que vão fazer é simples: é pressão sobre os legisladores… e digo pressão aqui de uma forma muito genérica.
A PL118 é um bom exemplo: um grupo pequeno de intermediários está a fazer pressão para que passe uma Lei no Parlamento para que se cobre uma taxa a todos os portugueses que comprem determinados equipamentos, cuja reverte a seu favor. Estamos a falar de milhões de euros.
Mas fora da net, eu não oiço falar disto. Não está nas capas dos jornais todos os dias, nas aberturas dos tele-jornais todas as noites, eu ajudo: “Grupos de interesse tentam fazer passar Lei para extorquir dinheiro aos Portugueses para benefício próprio”, aí têm o título. Isto não está na boca das pessoas, nos cafés, nos transportes.
Se o mundo for assim, meus amigos… as tabaqueiras vão receber uma taxa quando alguém compra um extractor de fumos, os fabricantes de lareiras vão querer uma taxa sempre que alguém compra um ar condicionado ou aquecimento a óleo, os tipos que vendem peixe, vão querer uma taxa sempre que alguém come um bife.
O mundo não funciona assim. Há concorrência, há ameaças ao negócio, as empresas os profissionais, adaptam-se. Não se criam taxas sobre toda a população para beneficiar uns poucos que se acham no real direito. Mas andamos malucos ou seremos assim tão estúpidos?! Chegámos a um ponto em que estes grupos têm amigos suficientes nos sítios certos para fazer passar uma lei destas. Para afectar milhões de pessoas em benefício de umas poucas centenas (se tanto).
Não é sustentável ter uma loja de meias numa esquina? Azar. Faliu, vai para outro lado, desiste ou tenta outro negócio… não se vai exigir uma taxa por cada par de xanatos vendidos no Verão, porque o pé descalço não usa meia.
Não aceitem isto. Não aceitem Leis que vos cobram para que outros beneficiem sem justificação lógica, não abanem a cabeça quando vos tiram dias de férias, feriados, fatias do salário dizendo “lá tem que ser”. Pior que ficar calado, é achar que “tem que ser”.
Não digam “tens sorte em ter trabalho”. Trabalho é uma procura, não é uma oferta. É claro que há que mexer o cú e procurar trabalho, mas a empresa que vos contrata fá-lo porque  precisa de vocês e não por um acto de caridade.
Dêem mais um passo, eu vou exagerar: um preso num campo de trabalhos forçados tem é sorte de estar vivo, não é? Não podemos ter chegado aqui, a caminho dos 200 anos desde a Revolução Industrial e começar a regredir, pelo contrário: devemos manter os nossos padrões elevados, desejar melhor – desejar até para outros, como a China ou a índia, o que temos na Europa. E não pensar que sim senhor, lá é que são produtivos, vamos todos viver em armazéns empilhados em beliches, para saltarmos da cama para a linha de produção.
Um feriado ou dois, o que é isso? Numa linha de montagem a trabalhar fazem-se mais 300 peças em cada um desses dias, não é? Mas… para quê? Querem as 300 peças para quê? Para exportar, para pagar os impostos, para suportar… o quê? Para se virarem para o lado e dizerem “olhem, não há dinheiro, isto está mau”, outra vez?
Mais uma taxa aqui e ali, o que é que interessa, não é? Pois, já está tudo tão caro, olha, fica mais caro… como diz a deputada Canavilhas, autora da PL118, ao fim de um tempo já nem se nota! Que lata!
Vai aumentado, vai cobrando, vai cortando, vai tirando, roubando, encurtando, vai FODENDO A MALTA, QUE DAQUI A POUCO Jí NíƒO SE NOTA!
Tudo isto para dizer que os governos já não nos governam. Governam-se a si mesmos e aos amigos. Nós, pessoas, povo, chamemos-nos o que quisermos, estamos a borrifar. Cada vez mais calados, cada vez mais carneiros.
Meus amigos… o destino do carneiro é sempre o mesmo.
Não tenho escrito muito, porque não tenho muito tempo para escrever. Mas í medida que o blog caminha a passos largos para o seu décimo terceiro aniversário, não tenho qualquer intenção de parar. Até porque há muito para deixar escrito, sobretudo coisas que quero que os meus filhos possam ler quando quiserem – se quiserem. […]
“(…) -Â Tudo, disse o marquês, pondo-se a caminhar ao lado dele com uma lentidão de moribundo. Deitei-me tarde. Cansaço. Opressão no peito. Pigarreira. Dores no lado. Um horror… Levo já aqui rebuçados. – Não seja piegas, homem! Você o que precisa é roast-beef e uma garrafa de Borgonha… Não é hoje que você janta lá […]
Faz agora precisamente um ano que o meu cunhado Pedro me mostrou o seu jogo para iOS e me desafiou a fazer uns gráficos, um menu e umas texturas. Chamava-se Nut Factory e tinha um princípio simples: num tapete rolante, chegam troncos que temos que cortar para alimentar uma caldeira. Alguns troncos têm pregos que […]
Peço-vos que parem o que estão a fazer e assinem a Petição para Impedir a Taxação da Sociedade da Informação que, essencialmente, se opõe í PL118. Poderão ler a petição em detalhe, clicando no link. Se a petição chegar í s 4 mil assinaturas, o assunto terá que ser ouvido na Assembleia de República. Isto é […]
Prestem atenção: com a PL118, com a ACTA, a SOPA, a PIPA, com a Troika, o FMI, o BCE, com a S&P, a Moody’s e a Fitch, com a UE, a CE, o G7, estamos a ser comidos. Estamos numa era de informação, em que muitos conseguem saber o que poucos estão a fazer, mas […]