Why so social?

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Em 2008 começou a formar-se o projecto que viria a ser o Pond e na altura, este blog era há já muitos anos a minha principal expressão na web.

Por necessidade do projecto, comecei a tornar-me utilizador mais frequente do Twitter e sobretudo do Facebook. A minhas contas acabariam por ser muito úteis nos testes do Pond pelo grande volume de followers/amigos e de actualizações que eu fazia que, apesar de não baterem records, eram significativas e permitiam testar algumas situações importantes nas aplicações e infra-estrutura.

O meu objectivo foi, então, criar o máximo de ligações possí­vel nessas e outras redes fazendo com que a minha utilização acompanhasse o crescimento galopante destes serviços.

À medida que os acessos í s redes de massificaram e tornaram mais potentes e flexí­veis, com uma facilidade cada vez maior em partilhar e consumir todo o tipo de conteúdos, fui criando uma dependência cada vez maior dos serviços, não ao ponto da obsessão, mas ao ponto de não passar umas horas sem uma consulta a uma timeline ou um status update.

E não me queixo disso. As chamadas redes sociais são muito poderosas, mas não são em si responsáveis pelo nosso comportamento. Essa responsabilidade cabe a cada um de nós – como em tudo. O Facebook não é nada sem as pessoas que diariamente lá despejam conteúdo, exactamente o mesmo se passa com a web. São apenas veí­culos. Ironicamente, acabam mesmo por ser uma serie de tubos, vasos comunicantes, que as pessoas preenchem com textos, fotos, ví­deos, música e tantas outras coisas.

Mas as redes como o Facebook e o Twitter têm uma particularidade de serem dotadas de uma audiência concentrada e de um imediatismo fulgurante; tão depressa são veí­culos para uma Revolução, como antros de boatos. Tanto são palcos para divulgação como nunca antes existiram, como são spotlights para as mais assanhadas attention whores da História da Humanidade.

Nos tempos mais recentes, a cada dez posts colocados por mim, uns sete ou oito descambavam em discussões inúteis, muitas vezes com argumentos agressivos e pouco fundamentados e que acabavam apenas por servir para denegrir a minha opinião do carácter de alguns dos participantes. Não tenho dúvidas que serviram também para denegrir a opinião que essas pessoas têm de mim.

Ao percorrer a minha timeline no Facebook, ou no Twitter, o resultado é o mesmo. Uma grande maioria dos updates tem pouco interesse, uma parte significativa são patetas e alguns são obviamente provocativos, em busca da tal discussão, a chamar os suspeitos do costume para mais uma peixeirada de Benfica versus Futebol Clube do Porto ou Esquerda versus Direita, etc. Já para não falar na publicação dos mesmos ví­deos engraçados e das mesmas imagens do 9gag por pessoas diferentes.

Mas como eu já disse, a culpa não é dos serviços existirem e servirem para o que servem e nem sequer me atrevo a censurar as pessoas que os usam como muito bem entendem, nem teria a hipocrisia de criticar um comportamento que, até há bem pouco tempo, era o meu.

Mas cheguei ao ponto em que tenho que me questionar: para quê tanta socialização? Se o resultado prático da utilização destas redes é muito mais negativo que positivo, se passo a vida a achar que fulana é idiota, que sicrano é um parvalhão e que o outro é um chato do caraças – e imaginando que outros me acham um palerma, inconsistente que passa o tempo a trollar, qual é o grande benefí­cio que retiro das redes sociais?

Não sei a resposta, mas sei que faz uma semana que reduzi drasticamente a minha utilização do Twitter e Facebook. Não tenho postado quase nada e praticamente não tenho consultado as timelines. E tenho-me irritado menos e tenho reparado que me ando a preocupar com os meus problemas do dia a dia, mas mais nenhuns. Não tenho que, além daquilo que já me aborrece, ainda ter que me chatear com mais uma discussão estúpida sobre a Economia ou uma troca de galhardetes imbecil sobre espátulas de virar omeletes. Tem sido libertador.

Por enquanto, não tenciono fechar contas, nem deixar completamente de usar os serviços – alias, este post vai ser automaticamente partilhado, estas redes são excelentes para fazer chegar conteúdo e ideias a mais pessoas – mas vou dar dois passos atrás e repensar um bocadinho, talvez tentar adaptar-me melhor a este mundo de redes e perceber como viver nele de uma maneira mais sã e produtiva.

Para finalizar, deixo-vos com um ví­deo algo longo, mas que vale a pena ver e sobretudo ouvir com atenção.

British Council Annual Lecture 2011: Ben Hammersley

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9 comentários a “Why so social?”

  1. Curioso, tive uma epifania parecida há pouco tempo em relação ao trabalho. :)

    Penso muito sobre este tema, as motivações que levam as pessoas a consumir desta forma a web social e a comportarem-se desta forma… são as mesmas que levavam aos comportamentos agora comicamente lembrados dos tempos do IRC, mas as ferramentas são diferentes.

    A forma como se remastiga conteúdo de outrém sem se preocupar com titularidade ou atribuição (tumblr, pinterest), a forma como se expõe apenas o que se quer, enfim… há muita coisa a mudar nos hábitos dos humanos.

    Não esquecer a frase cliché do Marshall McLuhan: We shape our tools and then our tools shape us.

    Por falar nisso, tenho que arranjar maneira (legal) de ver o Connected (http://connectedthefilm.com/).

    Quanto ao “toning it down”, parece-me uma boa estratégia. +1.

  2. paula says:

    Subscrevo inteiramente o que diz,.. e agora fazer entender a juventude actual disso mesmo…só sabem estar no FB,já nem o~s sms do telmovel ,ao menos façam uns blogs para se lerem sempre ocupam mais a cabeça com coisas mais interessantes..

  3. Não poderia estar mais de acordo!

    Também eu tenho sido um ‘freak’ “agarrado” aos computadores desde 1994, mas desde que a minha filha nasceu há 3 anos atrás, que as coisas têm sido literalmente colocadas da forma como colocas no teu texto…

    Ou seja, todo este tempo, energia, esforço, dedicação a isto, PARA QUíŠ?

    Mas pior ainda serão os nossos filhos que ainda vão sofrer MUITO MAIS do que nós… As gerações que estão a chegar não saberão viver sem as redes sociais, a não ser que os seus pais consigam investir um pouco de tempo precioso para passarem com os seus filhos a passear no parque, a ir í  Quinta Pedagógica aprender que as galinhas não nascem sem penas ou sem pescoço…

    Há que realmente repensar a forma como andamos a levar as nossas digitais, pois isto só acontece porque nós (como consumidores) o queremos / desejamos!

    Acho este teu artigo como um dos melhores testemunhos por parte de uma pessoa com um significativo peso neste nosso meio digital (pessoalmente considero que o TENS) e que poderá ser um bom iní­cio para um debate que já peca por tardio…

    Cumprimentos algarvios,

  4. Bino says:

    Esta segunda feira serias tu a almoçar no Almada Forum, com um tipo de barbas ?
    Era um gajo bué alto, todo vestido de preto a comprar o almoço no “qualquer coisa” Gourmet.
    Ainda tive tentado a perguntar-lhe se serias tu. Pá… mas o gajo tinha mesmo aspecto de mau e receei levar um enxerto só por perguntar se ele era o Pedro C. Santos.
    Um abraço.

  5. […] ao Pedro Couto e Santos, do Macacos sem galho, descobri esta talk dada no British Council Annual Lecture 2011 fala sobre a Internet das pessoas, […]

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