Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Spoilers ahead, read at own risk.
Há alguns filmes que nos ficam marcados e isso tem tanto a ver com a qualidade dos mesmos como com o nosso gosto. Pode também ter a ver com sentir-se a pressão intelectual de gostar de determinadas merdas só porque são clássicos, mas não vamos por aí.
Eu gosto de filmes que me dão gozo ver e não tenho particular atracção por filmes muito profundos e bonitos que façam pensar muito. Portanto, não é de espantar que alguns dos meus filmes preferidos sejam, por exemplo, praticamente tudo o que o Quentin Tarantino fez até hoje (veremos o Django…). Igualmente na categoria de filmes preferidos, estão o Blade Runner e o Alien; dois filmes do Ridley Scott, pouco mais novos que eu.
O Prometheus é uma história contada antes do Alien e não é um filme de Aliens. Claro que estou a usar Alien aqui para descrever a criatura preta de dupla mandíbula criada pelo Giger para o filme original, porque há de facto vários extra-terrestres no Prometheus.
Sendo o Alien original, de 1979, um dos meus filmes preferidos, vi todos os que se lhe seguiram com algum prazer, embora nenhum seja tão bom como o primeiro – nem podiam ser, porque o primeiro é o original, é a ideia concretizada, com a sorte de o ser nas mãos de um bom realizador.
Depois de vermos os ovos, o facehugger, o chest burster a sair de dentro do John Hurt, o mostrengo a abrir um buraco na testa do Harry Dean Stanton, já não vamos conseguir vê-los pela primeira vez, novamente. Será sempre uma repetição e a cada repetição, a coisa perde sabor. É por isso que a originalidade é tão importante.
Fui ver o Prometheus, então, nesta condição de seguidor daquilo que a série “Alien” tem tido para oferecer ao longo dos anos, com alguma expectativa acrescida por se tratar de uma história realizada pelo criador original da dita série.
Não quero entrar em muitos detalhes, porque não é esse o meu objectivo, mas apeteceu-me escrever este post, porque tenho lido por aí reacções tão agressivas, tanto a favor, como contra o filme, que achei que precisava de dizer algo sobre originalidade, que me parece ser o problema fulcral aqui.
Porque o filme fala de origens — das origens da humanidade, í s origens dos aliens — mas como filme, nunca poderia ser original, seria sempre baseado em algo que já foi feito, personagens já imaginados, um futuro já criado, com criaturas que já tínhamos visto. E por isso, nunca poderia ser um daqueles filmes que marca, como marcou o Alien.
Esperar que este filme seja tão bom ou melhor do que o original, era o mesmo que condenar o original a mediocridade facilmente superável. Mas o original não é facilmente superável. Tanto por ter sido um filme marcante para a época como por continuar a ser um filme fantástico, mais de trinta anos depois.
George Lucas nunca conseguiria melhorar o Star Wars, Ridley Scott nunca conseguiria melhorar o Alien (nem o Blade Runner, já agora, quando se começa a falar numa sequela do dito). A diferença foi que o Lucas deu cabo do Star Wars, mas o Ridley Scott não deu cabo do Alien. Na minha opinião, conseguiu contar uma história no mesmo universo, passada antes do primeiro filme, que não tem necessariamente que ser uma prequela (palavra que, tanto quanto sei, nem existe…)
Foi assim que vi o Prometheus e devo dizer que gostei bastante. É um filme interessante que traz de volta uma certa estética sci-fi que se tem evaporado do cinema nas últimas décadas e que consegue manter algum suspense de cena para cena, sabendo já nós muito bem que ninguém vai sair daquela embrulhada muito bem tratado.
Aliás, assim que o filme começa nós já sabemos que há 17 tripulantes e que pelo menos 16 vão morrer antes do fim. Mas para mais sobre este assunto, ler acima sobre a importância de ser o original.
Dito tudo isto, o filme tem um problema central que foi o que mais me incomodou, apesar do esforço que fiz para o ignorar e gozar o resto. A chatice é que o problema é a tripulação e a tripulação… São os personagens quase todos.
Vejamos: a nave chega ao planeta e encontra, logo no primeiro vale, uma instalação alienígena. Imagino a dificuldade que deve ser, chegar a um planeta maioritariamente deserto e dar logo com o vale onde fica a base dos habitantes. Mas passando isso í frente, toda a gente quer imediatamente ir ver as ruínas (até porque é Natal – atenção isto é importante).
Eu diria que aterrava a nave, fechava tudo e disparava todos os sensores í minha disposição durante 24 horas, para ter a certeza de como eram as coisas lá fora. Mas isso era se eu fosse um cientista numa missão de exploração espacial nunca antes feita.
Ah, espera, era isso mesmo que a tripulação era! Mas, estranhamente, começamos logo por saber que um deles, um tipo barbudo e mal encarado, está ali só pelo dinheiro. Um cientista – geólogo – numa missão de “triliões” de dólares, para descobrir vida do outro lado do universo, está ali com espirito mercenário? Estranho.
Mas vá, aceitemos que a excitação fez os cientistas irem todos visitar as tais ruínas. Lá descobrem o que parecem ser os restos de uma civilização, regressam í nave e um deles vai-se embebedar, porque a civilização de que vieram í procura parece extinta. Então… Mas é uma civilização alienígena; na verdade, a primeira jamais encontrada por humanos. E foi encontrada graças í pesquisa do dito cientista… E ele fica desiludido ao ponto de se ir embebedar? Eu ficaria eufórico!
Talvez até eufórico ao ponto de me ir embebedar, mas eufórico, porra! Esta é a maior descoberta científica de sempre! Mas ninguém parece excitado, tirando, talvez, a Drª Shaw, a cristã que vem í procura do Criador (eu não disse que a cena do Natal era importante?). Só quando ela descobre que o ADN das criaturas encontradas é idêntico ao humano é que o outro rapazito fica levemente entusiasmado.
E os outros cientistas todos? Não se sabe… Estão ali, como se encontrar antigas civilizações extra-terrestres fosse o trabalho mais aborrecido do mundo. Não estão excitados, nem assustados, nem… Nada.
E eu sei porquê. Infelizmente, é fácil de explicar. É que os membros da tripulação não estão ali para ajudar a contar a história, estão lá para serem carne para canhão. Alguém tem que morrer mortes horrendas naquele planeta e faziam falta 17 bonecos para o tiro ao alvo.
No primeiro filme, eram sete e eu ainda sei os nomes de cor: Dallas, era o capitão calmo e descontraído, Ash era o oficial de ciência, frio e calculista (e um robot, como se descobre no fim), Brett e Parker são os mecânicos da nave, preocupados com os bónus a que iriam ou não ter direito, Kane é a primeira vítima do Alien, quando traz um a bordo agarrado í cara, Lambert é a mais medricas e Ripley, a menina que gosta de seguir as regras e acaba a ter que as quebrar todas para se safar.
Com um bocadinho de esforço, até me consigo lembrar de todos os nomes dos space marines do segundo filme. Mas tenho muitas dúvidas que a lista na minha cabeça, do Prometheus vá muito além de David, Vickers, Shaw…
E é pena. O filme vê-se bem, tem um ambiente porreiro, os efeitos visuais não atropelam a história, as inconsistências cientificas (como é que têm gravidade na nave?), são facilmente desculpáveis, mas aqueles personagens desinteressados e blasé em relação a tamanha missão acabam por tirar o brilho extra que faria deste filme um clássico.
Mas pronto, vale a pena ver, para quem gosta de sci-fi monster movies, desde que não estejam í espera de outro Alien.
PS: alguém diga í Vickers que se um objecto está a cair numa determinada direcção, o ideal é correr na perpendicular dessa direcção, ou, vá, obliquamente, no sentido dos limites exteriores d objecto…
Fui ver ontem (yay! fui ao cinema).
E sim, despontou. Acho que a questão de não ser o primeiro não é desculpa, gostei mais de qualquer das 3 sequelas ao original do que gostei deste.
Não é mau, per se, acho que alguém, algures, baldou-se.
Mais do que as falhas na história, imagens, etc, a sensação com que fiquei é que isto era suporto ser um filme de 4 horas cortado para 2. As coisas acontecem muito umas em cimas das outras, com pouco ou zero “setup”. Character development começa bem, com algumas personagens e depois… nada. Há muitas coisas que são explicadas num curto monólogo por personagens, sem nenhuma evidência de como chegaram a essa conclusão. Falta “pacing”.
Fico com a impressão que falta muita coisa, na verdade. A cena que mais me deu essa impressão foi quando a Shaw, depois de se encontrar com o weiland, enquanto se veste, é interrompida pelo capitão, que lhe *explica* uma análise de porque é que o planeta não é o homeworld dos engineers.
Quando alguém num filme tem que explicar num curto parágrafo sem diálogo um detalhe crucial para o desenvolvimento da história, ou houve cortes de cenas ou alguém se baldou.
Já agora, comic do PA, hoje, está de acordo contigo : http://www.penny-arcade.com/comic/2012/06/13/
Ya, epá… o Ridley Scott já fala numa versão “extended”, com mais 20 minutos, no DVD, portanto, claramente, faltam cenas. :P
Mas mesmo que não faltassem cenas, há coisas inexplicáveis. Como é que o biólogo se vai embora? Encontra um cadáver extra-terrestre… é biólogo, viajou dois anos e tal para chegar ali e depois decide voltar para a nave?
Eu compreendo que eles tenham sido todos contratados sem saberem ao que iam, já que o briefing foi dado só depois de acordarem, mas então quem é que contratou um biólogo que foge quando encontra um cadáver e um geólogo que se perde numa caverna?!
… e um arceólogo que se deprime porque, ao encontrar a primeira prova de vida inteligente fora da terra, descobre que estão mortos.
Conclusão essa atingida depois de ver 1 corredor e 1 sala com 1 corpo morto.
E uma expedição ciêntífica gerida como um grupo de adolescentes a organizar uma ida í noite…
a minha ortografia anda a piorar: desApontou e arQUeólogo. …