Não, isto não é aceitável!

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Prestem atenção: com a PL118, com a ACTA, a SOPA, a PIPA, com a Troika, o FMI, o BCE, com a S&P, a Moody’s e a Fitch, com a UE, a CE, o G7, estamos a ser comidos.

Estamos numa era de informação, em que muitos conseguem saber o que poucos estão a fazer, mas ainda assim, apesar da informação ser poder, ainda andamos sem poder fazer grande coisa.

Nos Estados Unidos, parece que se parou a SOPA e a PIPA. Parece. Por agora, pelo menos. Mas até quando? E quando as Leis não afectarem o dia a dia de quem “anda na net” e se exprime nela e se informa através dela?

Como é que chegámos aqui? Quando é que aterrámos neste descampado, onde a democracia nos parece dar pequenas vitórias morais: toma lá o casamento homossexual, toma lá umas eleições na Lí­bia, mas abre o caminho para que os nossos Legisladores trabalhem quase exclusivamente para corporações?

E nós deixamos? Deixamos.

Mas nós não podemos deixar. Não podemos aceitar e dizer “mas o que é que a gente há-de fazer”.

Chegámos até aqui e agora… o que é que se há-de fazer? A troika manda, o que é que podemos fazer?

Eles lá decidem, a gente cá acata. Em S. Bento, ou na União, ou na Comissão, ou no Reich… perdão, no Bundestag, uns senhores decidem e nós, os humildes, fazemos. E mais: somos capazes de nos sentar í  mesa do café a dizer que 40 horas já eu trabalho, esses outros que trabalham 36 é que são uns mandriões, não querem fazer nada! Quarenta horas para todos, sim senhor!

Sim senhor?

Não senhor.

Nem mais horas de trabalho, nem menos tempo de férias, nem menos salários, nem menos feriados sequer.

E eu sou tudo menos comunista, não estou aqui a dar uma de Jerónimo, meus amigos. Já o tenho repetido vezes sem conta em conversa e repito aqui: sociedade que aumenta o tempo de trabalho em detrimento do tempo de lazer é uma sociedade em regressão. Uma sociedade que reduz o horário de trabalho é uma sociedade em evolução. Como podemos dizer que “assim mesmo é que tem que ser”?

Estamos a regredir. Isto não é aceitável. Mesmo que não façam nada, que não possam fazer nada, por favor não digam por aí­ “eu compreendo”, “pois, eu aceito, tem que ser”. Não… eu não compreendo. Eu não aceito!

E olhem que estou-me bem cagando para as horas, eu trabalho bem mais de 40 por semana e estou a falar das que ficam contabilizadas no meu verbete de tempos – fora as outras.

Existe uma realidade na governação dos paí­ses hoje em dia que está tão distante do “pago-te 1 euro por hora, tu pagas 10 cêntimos por um pão” – que é a que as pessoas comuns compreendem – que a mesma já se tornou uma abstracção.

Quem compreende essa outra realidade é quem a conduz, quem nela vive. E acredito que o Pedro Passos Coelho até possa querer o melhor para o paí­s, mas atrás dele, há dez fulanos que não querem saber. Eu até aceito que o Sócrates mentisse sobre a gravidade da situação, enquanto, por trás, tentava colar as coisas com cuspo e fita-cola. Mas í  volta dele, havia 20 gajos que se estavam marimbando.

Hoje em dia está em voga a piadinha dos “first world problems”, mas acordem: nós somos governados pelas pessoas que os têm… “Ah, que chatice, a empresa não me renova o CLS320 este ano, porque tem que fazer investimentos em Angola… e agora, que vou eu fazer sem um Mercedes novo a cada quatro anos?”

O que vão fazer é simples: é pressão sobre os legisladores… e digo pressão aqui de uma forma muito genérica.

A PL118 é um bom exemplo: um grupo pequeno de intermediários está a fazer pressão para que passe uma Lei no Parlamento para que se cobre uma taxa a todos os portugueses que comprem determinados equipamentos, cuja reverte a seu favor. Estamos a falar de milhões de euros.

Mas fora da net, eu não oiço falar disto. Não está nas capas dos jornais todos os dias, nas aberturas dos tele-jornais todas as noites, eu ajudo: “Grupos de interesse tentam fazer passar Lei para extorquir dinheiro aos Portugueses para benefí­cio próprio”, aí­ têm o tí­tulo. Isto não está na boca das pessoas, nos cafés, nos transportes.

Se o mundo for assim, meus amigos… as tabaqueiras vão receber uma taxa quando alguém compra um extractor de fumos, os fabricantes de lareiras vão querer uma taxa sempre que alguém compra um ar condicionado ou aquecimento a óleo, os tipos que vendem peixe, vão querer uma taxa sempre que alguém come um bife.

O mundo não funciona assim. Há concorrência, há ameaças ao negócio, as empresas os profissionais, adaptam-se. Não se criam taxas sobre toda a população para beneficiar uns poucos que se acham no real direito. Mas andamos malucos ou seremos assim tão estúpidos?! Chegámos a um ponto em que estes grupos têm amigos suficientes nos sí­tios certos para fazer passar uma lei destas. Para afectar milhões de pessoas em benefí­cio de umas poucas centenas (se tanto).

Não é sustentável ter uma loja de meias numa esquina? Azar. Faliu, vai para outro lado, desiste ou tenta outro negócio… não se vai exigir uma taxa por cada par de xanatos vendidos no Verão, porque o pé descalço não usa meia.

Não aceitem isto. Não aceitem Leis que vos cobram para que outros beneficiem sem justificação lógica, não abanem a cabeça quando vos tiram dias de férias, feriados, fatias do salário dizendo “lá tem que ser”. Pior que ficar calado, é achar que “tem que ser”.

Não digam “tens sorte em ter trabalho”. Trabalho é uma procura, não é uma oferta. É claro que há que mexer o cú e procurar trabalho, mas a empresa que vos contrata fá-lo porque  precisa de vocês e não por um acto de caridade.

Dêem mais um passo, eu vou exagerar: um preso num campo de trabalhos forçados tem é sorte de estar vivo, não é? Não podemos ter chegado aqui, a caminho dos 200 anos desde a Revolução Industrial e começar a regredir, pelo contrário: devemos manter os nossos padrões elevados, desejar melhor – desejar até para outros, como a China ou a índia, o que temos na Europa. E não pensar que sim senhor, lá é que são produtivos, vamos todos viver em armazéns empilhados em beliches, para saltarmos da cama para a linha de produção.

Um feriado ou dois, o que é isso? Numa linha de montagem a trabalhar fazem-se mais 300 peças em cada um desses dias, não é? Mas… para quê? Querem as 300 peças para quê? Para exportar, para pagar os impostos, para suportar… o quê? Para se virarem para o lado e dizerem “olhem, não há dinheiro, isto está mau”, outra vez?

Mais uma taxa aqui e ali, o que é que interessa, não é? Pois, já está tudo tão caro, olha, fica mais caro… como diz a deputada Canavilhas, autora da PL118, ao fim de um tempo já nem se nota! Que lata!

Vai aumentado, vai cobrando, vai cortando, vai tirando, roubando, encurtando, vai FODENDO A MALTA, QUE DAQUI A POUCO Jí NíƒO SE NOTA!

Tudo isto para dizer que os governos já não nos governam. Governam-se a si mesmos e aos amigos. Nós, pessoas, povo, chamemos-nos o que quisermos, estamos a borrifar. Cada vez mais calados, cada vez mais carneiros.

Meus amigos… o destino do carneiro é sempre o mesmo.

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13 comentários a “Não, isto não é aceitável!”

  1. B says:

    A história é feita de ciclos. Para que o povo se mexa e mudanças se produzam, parece que se torna necessário passar antes por um periodo de grande sofrimento. Não devia ser assim, mas é o que acontece. Aconteceu na Revolução Francesa, na Revolução Bolchevique, no 25 de Abril e em todas as revoluções.
    E muitas vezes para depois se descobrir que as revoluções tendem a comer os seus próprios filhos e em vez de se produzir liberdade e bem-estar se cair em tiranias ainda maiores do que as previamente existentes.
    Infelizmente o povo português tem uma paciência e uma passividade fora do comum. Receio que ainda estejamos longe do ponto de ruptura e muitas maldades ainda tenhamos de sofrer para que o povo se farte e a revolução chegue. E também receio que em vez de mudarmos para mais liberdade e menos tirania, se caia numa ditadura plena.
    As seitas que comem na manjedoura deste regime tornaram-se insaciáveis e só vão parar de nos sugar quando disso forem impedidas, pois não mostram sinais de qualquer tipo de moralidade. Assim acontece em Portugal e em quase todo o mundo.
    O número de descontentes vai aumentando paralelamente ao número de ví­timas, mas infelizmente aqueles que se entristeceram ou alegraram com os resultados desportivos do passado fim-de-semana são em número muito superior aos descontentes.
    Continuo na minha (expressa no comentário do post anterior) não é normal que em democracia 32000 gajos escolham o 1º ministro para 10 milhões de portugueses e portanto, se não podes vencê-los junta-te a eles. Uma inscrição maciça nos partidos do poder e o derrube das suas lideranças, em eleições internas, poderia ser um caminho possivel.
    Afinal, neste tipo de partidocracia, decide-se mais do futuro nacional no interior de alguns partidos do que na AR ou em eleições legislativas.
    Abraço.

  2. jpalhais says:

    O que interessa tudo isso ? O importante foi o Benfica ganhar…

  3. Pedro says:

    Eu também ando um bocado cansado com a SOPA, a PIPA, a ACTA e a PL118.

    Estou cansado de fazer babysitting ás propostas de lei. Como deixar as coisas como estão é coisa que não me apetece, há duas hipóteses que vejo – nenhuma delas cá em Portugal, mas interessantes de se ver:

    1- Republic, Lost
    ou
    2- Ron Paul

    Cá em Portugal, eu não sei porque é que temos de aturar a PL118. Ainda se podia dar í  razão que alguém no PS e no PSD tivesse um tacho í  espera na SPA. Mas a questão é que nenhum dos CINCO principais partidos disse que era contra a PL118. O BE lembrou-se depois que era contra mas tanto quanto me pareceu foi uma opinião formada depois do pessoal começar a fazer barulho.

    Posso apenas portanto concluir que o governo está a legislar sobre o que não sabe e não só não sabe como não quer saber e como tal deve-se-lhe cortar as asas.

  4. Joao says:

    Muito lúcido, Pedro. Estou muito, muito de acordo consigo. Estamos numa guerra. Que ninguém se engane. Estamos numa guerra e a passos largos para um mundo diferente, onde não vamos gostar de estar. E pouca gente parece querer ver isso. E isso é o mais assustador, que estejam tantos com a cabeça enfiada na areia, e contentes com isso.

  5. Nuno S. says:

    Gostei mto de ler este texto,mto bom,excelente…!!!gostava de conseguir entender como é que o homem consegue ser tão indiferente á forma como ainda manipulam o escravo trabalhador e criar mais formas de empobrecer os Estados Soberanos falsamente poderosos!…

  6. […] basta ler o “Não, isto não é aceitável!” do Pedro Couto e Santos para perceberem do que estou a […]

  7. Enquanto desejarmos telemóveis/iPhones/iPads a 200 Euros sem pensar em como é que esse preço é praticável (exploração de mão de obra em algum cantinho do planeta) este tipo de acertos nunca deixará de ter lugar…

    E ‘acerto’ porquê? Porque na verdade, o que se passa chama-se ‘globalização’… E os ordenados das classes operárias da Europa terá que obrigatóriamente seguir no caminho do paí­s dominador em termos de competitividade operária… E esse paí­s chama-se China…

    Até lá minhas amigas e meus amigos, desejem não fazer parte da classe operária. nada mais há a fazer…

    (…ou isso, ou a guerra, mas mesmo depois da guerra, os vencedores obrigatoriamente ficarão por cima com as suas elites dominadoras, portanto, quem está por baixo está definitivamente votado a este tipo de situação. Não tem solução ‘simples’.)

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