Esta dieta está a dar cabo de mim

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

No iní­cio do mês recebi os resultados do meu teste de intolerância alimentar, A200. Como expliquei, na altura, resolvi começar a seguir uma dieta que respeitasse os resultados do teste, durante um mês, para ver que alterações poderiam surgir no meu dia a dia que justificassem a eliminação de tantos alimentos.

A dieta é extremamente difí­cil de seguir. Se me focar em apenas três dos alimentos a que sou intolerante: leite de vaca, clara de ovo e trigo, já estou a limitar a minha alimentação de tal forma que me é praticamente impossí­vel comer como habitualmente comia.

Num café, por exemplo, não posso comer nada. As sandwiches são feitas com pão, que é í  base de trigo, levam fiambre, que tem leite na composição, ou queijo que… tem leite na composição; muitos bolos são feitos com leite, manteiga ou outro derivado do leite, os que não são, muitas vezes têm ovos e mesmo não tendo, praticamente todos, senão mesmo todos, são í  base de farinha de trigo.

Almoçar é mais fácil, mas não linear. Posso comer carne e peixe (excepto bacalhau), posso comer batatas e arroz. Mas não me livro de receber um prato com um molho que leva cerveja (também sou intolerante a cevada e levedura de cerveja), ou que leva natas, ou de uma salada com maionese (que leva ovo).

De manhã, estou a comer um pão de centeio integral alemão, da Mestemacher, que se vende no Pingo Doce. Mesmo assim, o último que a Dee me comprou, tinha cevada na composição e o outro que existe í  venda, o Fitness Bread, leva germen de trigo.

O pão não é mau, passo-o pela torradeira e depois barro-o com doce de maçã que também compro no Pingo Doce, acompanho com um café e í s vezes, uma maçã.

Mas não é uma torradinha ensopada em manteiga como eu gosto de comer.

Quando me dá a fome lá por casa, vou mastigando umas coisas da Bicentury, como bolachas í  base de milho ou de batata, que não são maus de todo, mas são mais uma obrigação do que um prazer.

Entretanto, como fruta. E também como Lay’s Gourmet, porque, felizmente, não contêm nada dos ingredientes proibidos. Mas podiam conter, porque o que não falta no mercado são batatas fritas de pacote que levam trigo e soro de leite.

Aproximando-se o fim da segunda semana, caí­ de 65 para 63 kg. e desde que comecei a tentar manter um registo do que como e de quantas calorias consumo, tornou-se evidente porquê esta perda de peso, tendo em conta que o meu corpo precisa de qualquer coisa entre 1500 e 2000 kcal só para se manter vivo durante o dia e que, no primeiro dia em que contei calorias, cheguei í s 9 da noite com apenas 1300 consumidas, o mistério dissipa-se.

Se juntarmos a isso o facto de que, ainda por cima, ando a fazer exercí­cio e a queimar calorias extra, a coisa é óbvia.

Mas até aqui, nada de errado.

Não posso dizer que sinta uma horrí­vel vontade de comer bolos ou uma profunda tristeza por não poder comer lacticí­nios – apesar de tudo, posso comer mozzarella de búfala, por exemplo. Não me custa particularmente não comer pão, embora o pão seja de facto muito prático em termos alimentares.

No máximo, posso dizer que tenho pena de não comer ovos, porque são das minhas comidas preferidas.

O que realmente me chateia é que não noto nenhuma melhoria em absolutamente nada de especial no meu quotidiano mas noto uma clara pioria no meu funcionamento intestinal. Ora, se eu já tinha cólicas e algumas emergências casadebanhí­sticas, a coisa estava dominada e passava-se praticamente tudo de manhã, ainda antes de eu sair de casa e depois não havia mais sobressaltos.

Agora, não.

Na terça-feira, entre levantar-me, í s 7 da manhã para fazer exercí­cio e sair de casa í s 8:40 para levar o Tiago í  escola, tive que ir í  casa de banho quatro vezes. Passo o tempo todo com dores de barriga e com a sensação de que as minhas entranhas vão explodir.

Não compreendo que horrí­vel intolerância í s claras de ovo, lacticí­nios ou outros produtos, tenho eu que me causavam… nada, aparentemente, quando os comia; ou pelo menos, nada que me incomodasse por aí­ além. Talvez a urticária que me apareceu no fim de Maio fosse causada por um desses alimentos e isso, de facto, foi uma reacção nova, que nunca tinha tido e que nunca mais tive, desde que comecei a dieta.

Se calhar, se voltar a comer pizza, pão e bolos, um dia destes tenho uma crise de urticária daquelas que a minha mãe tem, desde que me lembro e depois arrependo-me.

Chamem-me céptico, mas para mim, voltar a ter que abandonar os meus colegas í  mesa de almoço para ir a correr feito idiota, pelo centro comercial, í  procura de uma casa de banho limpa, não é uma vantagem; é, aliás, um retrocesso a outros tempos, em que bebia leite – isso sim, posso garantir que me faz um mal dos diabos.

Faltam duas semanas para terminar o ensaio, depois, terei que reexaminar tudo isto e decidir que mudanças ficam e quais vão pela janela fora.

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45 comentários a “Esta dieta está a dar cabo de mim”

  1. Isso dos intestinos é fácil de explicar, estás a comer toneladas de fibra extra em relação ao que comias, e o corpo tem de se habituar.
    Eu que também ando a ver se como umas coisitas mais saudáveis tipo, fruta, legumes e sopa ao almoço e jantar também fico logo com os intestinos í s voltas, e gases… litros e litros de gases. Mas, alas, estou em casa e o meu gas não incomoda ninguém!
    Tenta reintroduzir uma coisa de cada vez, só assim vais perceber o que realmente te produz ou não alterações.
    E come mais! Como raio comes só 1300 caloria/dia eu não consigo fazer isso pá!
    Experimenta ao pequeno-almoço flocos de aveia com passas e leite de soja ;) Mas uma taça bem cheia!!! E faz ao contrário de quem quer emagrecer, come a fruta sozinha sem carbs a acompanhar. E litros de sumo í s refeições :)

    • Sim, isso da fibra já desconfiava.

      Fruta é principalmente hidratos de carbono, o que queres dizer “sem carbs a acompanhar”?

      Quanto a comer mais, já comecei, ontem almocei um bife enorme e lanchei um H3 :)

      Also: já tentei papas de aveia e achei intragável :(

      • A fruta deve ser sempre consumida com alguns hidratos de carbono, por exemplo, uma maça e duas bolachinhas sem açucar.
        É por a fruta ter açucares de absorção rápida, com a ingestão dos hidratos ao mesmo tempo o açucar já é absorvido mais lentamente e ficas saciado por mais tempo.
        Se andas a ingerir poucas calorias podes fazer o contrário, duas peças de fruta em vez de uma e daí­ a meia hora já estás com fome outra vez e lá marcha mais uma peça de fruta.

        • Então mas a fruta é feita de quê?

        • Carla says:

          LOL Para emagrecer a fruta deve ser comida com proteí­na (na verdade, para emagrecer a fruta deve ser é evitada). Fruta é açúcar, logo hidratos de carbono. Há malta que não percebe nada de nada e depois a pensar que faz dieta para emagrecer faz para engordar.

          Papas de aveia(cereal! eleva o açúcar no sangue, provoca inflamação no organismo) com mel(açúcar!) é outra bomba engordativa. Bolachinhas são o mal da humanidade (a maioria feita de trigo, o pior cereal do universo, junto com a soja), assim como tudo o que tem cereais na composição. Aliás, tudo o que vier num pacote e com listinha de ingredientes, a maioria impronunciável é lixo. Comam comida de verdade e não é preciso mais nada. Carne, marisco, peixe, frutas, legumes, frutos secos (deixem-se do leite – que é para os bezerros – e dos produtos light, que estão cheios de porcaria). Logo vêm se não têm saúde.

      • E papas de aveia sozinho também não me convencem, podes juntar um pouco de mel e as passas são ultra importantes, açucarzinho extra :) E já que não estás propriamente a perder peso junta-lhe pedacinhos de chocolate preto, hás-de conseguir encontrar algum que não tenha vestigios de gluten e leite. Outras coisas boas são, fruta fresca, e outras secas tipo damascos.

        • Carla says:

          Fico assoberbada com o desconhecimento de algumas pessoas e com os conselhos que dão sem perceberem nada do assunto. E depois fico com medo que alguém siga esses conselhos porque se o fizer está só a encurtar mais depressa a ida para a cova. Bastante açúcar para cima, não é? não sabe que o açúcar é a origem de praticamente todos os nossos problemas de saúde (a começar na obesidade)? que por sermos magros por fora não quer dizer que o sejamos por dentro? Sabia que as células cancerí­genas alimentam-se de açúcar e quanto mais açúcar der ao seu corpo mais está a criar um ambiente propí­cio para as doenças? sabia que açúcar não é apenas mel, açúcar refinado, xarope de milho, etc? fruta é açúcar, massas (cereais!) é açúcar, arroz é açúcar, tubérculos (amido) é açúcar? A diferença é que é açúcar de outra qualidade mas continua a ser açúcar e é necessário controlar a ingestão desse tipo de alimentos. O meu conselho para si é que estude mais, leia fontes cientí­ficas e não a revista activa ou o que aprende de ouvir os meninos do ginásio falarem. Tenha mais cuidado com o que recomenda a pessoas de quem, presumo, gosta. Se gosta delas não lhes dê conselhos destes.

          • Também podemos ter calma, este post tem 4 anos, já passou muita água debaixo da ponte. Não vamos assumir que alguém obtém conhecimento de revistas e “meninos de ginásio” sem conhecer as pessoas e também não vamos entrar em extremismos irracionais.

            Há muita informação sobre alimentação neste blog e acho que a maioria dos leitores está razoavelmente bem informada sobre o que de mais actual se tem sabido sobre o assunto, incluindo os malefí­cios do açúcar.

      • Susana says:

        Eu estava a fazer uma pesquisa sobre intolerâncias alimentares,quando dei com este blog e com a sua experiência, porque vou vou um teste no iní­cio de Julho. Eu compreendo muito bem todos os sintomas que enumera e partilho-os, mas, felizmente, sei que se trata de Sí­ndroma do Cólon Irritável, foi-me diagnosticado há cerca de 6 anos. Estou a contar que o teste me ajude a seleccionar melhor os alimentos que como. Já vi que não está a ser fácil para si… Espero sinceramente que essa re-educação alimentar resulte!

  2. E sim, a fruta também tem carbs, mas ponho a fruta na prateleira das frutas e vegetais, e chamo carbs a pão, massas, arroz, batatas, bolos e bolachas.

  3. Eu se fosse a ti ingeria toneladas de proteí­na. Parece-me que pelo menos ao pequeno almoço estás a comer muito pouco para o tipo de dieta que está a fazer. There’s nothin wrong with meat in the morning ;). E podes fazer batidos de fruta com leite de soja.
    Quanto aos gazes não há nada a fazer enquanto o teu organismo não se habituar í  mudança. Fart away my friend!

  4. Pedro, imagino que me vás perguntar outra vez se sou nutrucionista :) , mas, depois de acabares esta experiência, porque é que não experimentas algo mais “primal / paleo” durante uma ou duas semanas? A mim tem feito maravilhas.

    Curiosamente, das coisas que te estão “proibidas”, com excepção do bacalhau e dos ovos, é tudo também visto com maus olhos pelo paleo. O que recomendam é cortar completamente os cereais, cortar o açúcar (excepto o natural dos frutos), cortar nos hidratos em geral (passam a vir só dos vegetais e frutos, e, sim, é bem menos do que tipicamente se consome), comer carne, peixe, ovos (sorry) e vegetais í  vontade, e não ter qualquer medo da gordura animal.

    Na prática, acaba por ser tão simples como, em restaurantes, pedir tudo “só com salada”. Coisas como pão, bolos e afins eu já não comia, e nunca fui grande fã de batatas, pelo que para mim não foi grande sacrifí­cio. A maior mudança foi passar do “com arroz e salada” para somente esta última.

    • Dinis Correia says:

      Hear, hear! Faço minhas as palavras do Pedro :)

      O arroz nem é assim tão mau (ainda que seja um cereal) se não estiveres a tentar perder peso – o mesmo para as batatas, que podem ser incluí­das num regime paleo por quem, por exemplo, faça bastante exercí­cio.

      O importante mesmo, na perspectiva paleo, é mesmo cortar com a maior parte dos cereais, em especial com tudo o que tenha glúten (mesmo que não sejas alérgico ou intolerante – imensa gente é sensí­vel ao glúten sem o saber).

      • Eu explico qual é o meu problema: não gosto de dietas da moda. Há uns anos era a Zone e o Atkins, agora, toda a gente me fala da Paleo… e eu pergunto: se geneticamente não mudámos assim tanto, então, além da alimentação í  paleolí­tico, não deví­amos, também: deixar de usar transportes para nos deslocarmos, deixarmos de usar fibras sintéticas nas nossas roupas, largarmos os sapatos (afinal, geneticamente, os nossos pés não estão adaptados a andar calçados), pararmos de tomar medicação, abolirmos vacinas e antibióticos (e voltarmos a morrer em catadupa com doenças perfeitamente curáveis), deixarmos de usar óculos ou outros métodos de correcção da visão ou da audição, deixarmos de dormir em camas confortáveis, sentar em cadeiras ergonómicas ou comer com talheres.

        Geneticamente, não estamos preparados para nada disto. Porquê parar só na comida? :-)

        • Nada disto se trata de “voltar ao passado” ou algo do género, se bem que percebo que possas entender a coisa dessa forma. Ou seja, não é tipo “estávamos melhores se vivessemos como homens das cavernas”.

          Mas pões, espero, a hipótese — mesmo que não aceites isso como verdade, para já — de em certa altura da história a humanidade se ter virado para algo que é basicamente “lixo” em termos nutricionais, que até foram necessários para nos espalharmos tão depressa por todo o mundo (nunca o terí­amos feito tão rapidamente se continuássemos a ser “hunter-gatherers”), mas que, hoje em dia, tendo escolha (e, infelizmente, nem toda a gente terá, sobretudo em paí­ses mais pobres), seria muito mais saudável para nós comermos comida “a sério”, e não coisas “fabricadas”, que não são sequer comestí­veis sem passar por vários processamentos — como acontece com todos os cereais, por exemplo?

          Quanto í  questão de ser “moda”… eu não ligo a modas, e imagino que tu também não. O que para mim conta é 1) o que “faz sentido”, e 2) o que resulta. Eu só noto melhorias na minha vida — tanto a ní­vel fí­sico como psicológico — desde que cortei os cereais… e sei que ainda posso melhorar muito mais (a comida nos restaurantes é salgadí­ssima, a carne que eu como é de animais alimentados a ração, etc.).

          • Bom, se bem me lembro, os cereais começaram a ser plantados no neolí­tico, colhidos e esmagados para fazer farinhas e outras bases alimentares… não é como se só existissem cereais “processados” desde o século XX. Assim sendo, acho que a Humanidade já se alimenta de farinhas há muito, muito tempo, creio que há uns 10 ou 11 mil anos que comemos farinha de trigo – não será muito, mas também não é assim tão pouco.

            Claro que passámos, provavelmente, 1 ou 2 milhões de anos a não comer farinhas, mas também, nessa altura, passámos muito tempo a não fazer várias coisas, como construir casas ou cozinhar carne.

            Eu não disse que fazias a tua dieta por ires em modas, apenas que, de facto, noto que a dieta paleolí­tica estar “na moda” – ie, ser muito falada, ter várias pessoas a experimentá-la e acabar por acontecer um bocado que algumas pessoas – não necessariamente tu nem o dinis – a sigam negando todas as outras.

            Se notas melhorias na tua vida, então, tanto melhor. Eu estou ciente do impacto que a alimentação tem nas nossas vidas e de facto, não estamos sequer aqui a discordar, aliás.

            • Só uma nota: o fogo é usado pelo homem há mais de 1 milhão de anos, pelo que o cozinhar da comida pode estar, em matéria de antiguidade, 2 ordens de grandeza acima da agricultura.

              De resto, até concordamos. E, no meu caso, não estou aqui a dizer que a tua dieta “sucks”, ou que paleo é “the one true way ™”. Acho que não há nada como experimentar, anyway. :)

    • Err… qual é que é a grande diferença para o que eu estou a fazer agora, mesmo?

      • Pois, se calhar, como eu já evitava (por questões de gosto, sem ter nada a ver com saúde) cereais, batatas e afins antes de saber o que eram dietas paleo, não foi uma grande mudança para mim… no teu caso, pelo teu outro post, é capaz de ter sido. Mudanças radicais, mesmo que para melhor, podem implicar passar por uma fase pior do que antes da mudança.

        Mas, já agora, mencionaste o que *não* podes comer, mas então o que é que tens comido nestas últimas semanas? Mencionaste só isso por alto… Just curious.

        • Acho que descrevi praticamente tudo o que como: pão de centeio com doce de maçã, muita fruta, bolachas de milho e batata, batatas e outros vegetais e carne. Suponho que posso acrescentar que como atum, geralmente acompanhado de feijão ou grão, pickles, azeitonas, malaguetas, cebolas, etc.

          Eu tenho estado a anotar o que como, mas queria deixar isso para outro post.

          • “A grande diferença”, já que perguntaste: em paleo evitarias:

            – pão de centeio (ou qualquer tipo de pão)
            – doces
            – bolachas
            – batatas
            – feijão
            – grão

            Se um dia quiseres, experimenta. :) A mim só me fez bem: deixei de ter gases / sensação de “inchaço”, não preciso de fazer milhentas refeições por dia (paleo não diz nada sobre o número delas, só sugere que aquela do “já não como há 2 horas, estou a sentir fraquezas” não é natural, nem sinal de “saúde”), apertei um botão no cinto, voltei a usar camisas que me ficavam meio duvidosas há anos :), e uma de que não estava minimamente í  espera: depois dos últimos 5 anos em que 99% das noites me tinha de levantar a meio para ir í  casa de banho (mesmo não tendo bebido lí­quidos í  noite), e já esperava que fosse da idade e isto fosse assim para o resto da vida, agora — desde há uns 2-3 meses — durmo as noites inteiras. :)

        • Dinis Correia says:

          O Pedro já respondeu a grande parte dos pontos, mas sim, a diferença para o que comes actualmente são os cereais (do pão, mesmo que não seja de trigo), o açúcar (bolachas e afins) e as leguminosas.

          Não significa que passes a comer só carne :P No meu caso, cortei drasticamente no açúcar e, quando me apetece algo doce, como fruta ou mesmo um quadrado de chocolate preto (85% de cacau, pouco açúcar). Para lanches e snacks, frutos secos ou í s vezes alguma fruta. Para as refeições principais: carne, ovos ou peixe, legumes em grandes quantidades e algum tipo de gordura (azeite, óleo de coco, abacate, etc).

          Como tinha escrito acima, alguns regimes paleo menos restritivos incluem batatas e arroz como fontes de hidratos de carbono, por isso não são vistos necessariamente como maus.

          Isto em relação aos tipos de comida – depois há mais recomendações, como seja evitar todos os óleos vegetais (com excepção do azeite) e aditivos na comida de um modo geral.

          Percebo o que dizes que isto possa estar na moda, mas não vejo a coisa assim: não é uma dieta “vendida” por nenhum marca, como seja a Atkins, nem é um quadro dogmático. No fundo, acaba por ser uma base para um regime alimentar mais saudável, fazendo ajustes í  medida de cada um. Dentro desta perspectiva paleo/primal, tens até várias correntes ligeiramente diferentes entre assim.

          A outra diferença para a Atkins, por exemplo, é que este não é um regime exclusivamente orientado para a perda de peso (ainda que perder massa gorda seja um dos efeitos), mas sim para qualidade do que comes: alimentos í­ntegros e não processados.

          E voltando a um dos comentários anterior: é óbvio que ninguém quer voltar a *viver* como no paleolí­tico :) nem nada disto é incompatí­vel com a tecnologia de hoje. A ideia não é que seja uma recriação de um perí­odo, mas sim tentar pí´r o teu corpo e metabolismo a funcionarem como funcionariam na altura – até porque nenhum dos alimentos existentes no paleolí­tico chegaram até aos nossos dias tal como eram e porque não havia *uma* dieta paleolí­tica comum a todos os primeiros Homens. Ainda assim, há quem, na verdade, não pare na comida e que sugira, por exemplo, calçado mais adaptado í  forma do pé, alternativas aos champí´s comerciais e até secretárias para usar de pé :) Isto sim, parece-me em alguns caso, será levar as coisas a um extremo.

          Em suma, não nego outros regimes alimentares, nem arrisco dizer que este funciona para toda a gente – mas experimentei e estou a dar-me muito bem: í  semelhança do Pedro, deixei de me sentir “inchado” e a moleza depois das refeições também se foi. Não sei se será o melhor para o teu caso (ainda que ache que possa ajudar com a digestão e intestinos), mas acho que vale a pena experimentar durante um mês. Se não correr bem, será só um mês em que não comeste cereais, açúcar e leguminosas :)

          • Pois, mas isso ainda não me ajuda. Se corto também o centeio, fico praticamente sem nada para comer. Como poucas leguminosas e pouco açúcar. Como algum cereal, mas também não é muito. E btw, não me sinto inchado.

            Also: parece-me pouco consistente negar processamento de alimentos, mas comer azeite… para haver azeite tem que haver oliveiras e etc, parece-me o mesmo ní­vel de processamento dos cereais e leguminosas.

            • Dinis Correia says:

              Não é que não possas “processar” os alimentos – dessa forma e em última análise, nem os cozinharias :)

              Processados aqui mais no sentido de refinados, com aditivos, etc. Consegues produzir azeite virgem só com processos mecânicos e sem refinar, por exemplo, o que é perfeitamente aceitável.

              • Eu estava a referir-me ao processo de moer cereais para comer. Cereais integrais também não são processados.

                De toda a forma, o meu argumento aqui é que se se pretende comer como no paleolí­tico, então devem eliminar-se alimentos moí­dos, visto que a mó é uma invenção do neolí­tico. Mas não vale a pena discutirmos isto até ao infinito; como já disse: se te sentes bem, não vejo problema nenhum na dieta que fazes. Quanto a mim próprio, ainda não vi que vantagem me traria.

    • Pedro, da outra vez perguntei-te se eras nutricionista, porque havia sempre essa hipótese e gosto de saber se estou a falar com um especialista na matéria antes de dizer potenciais idiotices :)

      Quanto ao resto, está na minha resposta ao Dinis.

  5. Helena Rocha says:

    Nunca tinha ouvido falar da dieta “Paleo”. Acho fantástico como se vendem livros com qualquer ideia que prometa saúde, mas acima de tudo, emagrecimento rápido. Será que quem segue essa dieta também leva a vida ao ar livre em exercí­cios de caçada como no paleolí­tico? Espero que sim, porque senão não sei o que o corpo vai fazer a tanta gordura animal. Qual era a esperança média de vida do homem no paleolí­tico? Se o paleolí­tico tivesse tido sucesso, não teria evoluí­do.

    • Dinis Correia says:

      Caçadas não necessariamente, mas exercí­cio sim :) Como escrevi mais acima, não é um programa de emagrecimento, mas sim um regime alimentar que procura ser mais saudável.

      A esperança média de vida no paleolí­tico era de cerca de 35 anos (um pouco menos para as mulheres), mas as causas de morte estariam mais relacionadas com a falta de cuidados médicos, acidentes, predadores naturais e mesmo fome.

      A teoria é de que não é a gordura alimentar que nos torna gordos, mas sim hidratos de carbono em excesso e a desregulação das hormonas responsáveis pela acumulação de gordura.

      Não sou a pessoa com mais legitimidade para falar dos aspectos cientí­ficos da coisa, mas sugiro a quem quiser saber mais o livro The Paleo Solution, com imensa informação técnica e cientí­fica mas de leitura bastante simples (com algum humor, até).

  6. Dinis Correia says:

    Não foi de ataque cardí­aco: escorregou no gelo e bateu com a cabeça :P

    O problema das cereais e das leguminosas não é o processamento em si – cereais não refinados também são desencorajados.

    • Então qual é o problema, mesmo? É que ainda não percebi porque é que não se comem certas plantas que me parecem perfeitamente comestí­veis.

      • Simplificando a coisa… o problema são os hidratos de carbono que desregulam os ní­veis de insulina no sangue, que ao subirem levam o corpo a armazenar mais energia do que é suposto (e que demora mais tempo a consumir do que a energia produzida pelas gorduras), logo a seguir provocam o efeito de “fome” porque os ní­veis de açúcar baixam demasiado e como tal o corpo pede para consumir mais calorias sem que na realidade seja necessário.

        A dieta Paleo, e as outras parecidas, funciona porque ao consumires menos hidratos de carbono armazenas menos energia e deixas de te sentir tão esfomeado porque não há desequilí­brios dos ní­veis de açúcar no sangue.
        E já agora não é desequilibrada porque não deixas de comer nada que necessites realmente.

        • Isso é verdade quando se passam muitas horas sem comer e de repente se come – geralmente um monte de farinha com açúcar e gordura, vulgo, bolo – há um pico de insulina que torna o corpo uma máquina de armazenar porcaria.

          Se comermos com regularidade, ie, de 3 em 3 horas, o metabolismo estabiliza e a produção de insulina também.

          A minha questão é esta: eu leio muito sobre nutrição e encontra-se muita coisa online como exemplos de dietas de atletas, de body builders, de todo o tipo de pessoas activas e desportivas – quase todos os exemplos vão dar ao mesmo: uma dieta equilibrada de proteí­na, carbs e gordura que contemple refeiçõs pequenas, mas frequentes, com carbs antes dos esforços e proteí­na logo depois e com um consumo de água abundante.

          Estas são as que mais frequentemente se encontram, como eu já disse, usadas por pessoas que praticam exercí­cio ou desporto e que, no geral, têm um ní­vel de fitness bastante elevado.

          São pessoas que consomem aveia, ovos e leite, carnes, vegetais e frutos, pães, massas e arroz integrais e nalguns casos, batidos e barras de proteí­na ou hidratos de carbono.

          A Dieta Paleo tem um website oficial, é apoiada por um senhor cujo nome surge quase sempre que se fala da dieta, que escreve livros e anda no circuito de talk shows e palestras.

          Eu falei do Atkins, porque é o que me faz lembrar e o Atkins também restringia os hidratos de carbono. E a “The Zone” também. E, por qualquer razão, este tipo de dietas surge muito raramente nas entrevistas e artigos que leio com profissionais do fitness, desportos de combate e body building, que gosto de seguir.

          Nada disto invalida que alguns de vocês sigam essa dieta e se sintam bem com ela. Aliás, provavelmente, o simples facto de regrarem a vossa alimentação, com este, ou qualquer outro regime, já contribui para o vosso bem estar. Parece-me lógico.

          • Dinis Correia says:

            Pedro, o site do Loren Cordain não é um site oficial de nada, quando muito é a utilização de um termo – “The Paleo Diet” – para o nome do site. Li já três livros sobre o assunto, nenhum deles desse autor – e um deles nem se refere a isto como “paleo”, mas sim “primal”.

            Aliás, alguns dos autores/bloggers chegam mesmo a discordar com o tipo sobre uma série de aspectos (o papel das gorduras saturadas, por exemplo).

            A eliminação dos hidratos de carbono pode ser vista de outro prisma: passas a ingerir menos porque cortas grandes fontes destes, como os cereais e as leguminosas, não necessariamente para restringir os hidratos de carbono, mas pelas questões associadas í  irritação do aparelho digestivo, por exemplo. Mais uma vez: o objectivo principal não é necessariamente perder peso, é algo que vem por acréscimo.

            Prova disso é que tens também abordagens paleo ricas em hidratos de carbono (The Paleo Diet for Athletes, por exemplo), mas com recursos a outras fontes que não os cereais (batatas, por exemplo).

            • As batatas não eram sequer conhecidas fora do continente Americano até há uns 500 anos atrás, mas ok, como já disse, cada um faz o que o fizer sentir bem e não há nada de errado com tentar comer comida saudável e fresca.

      • Dinis Correia says:

        O argumento contra o consumo dos cereais é que têm demasiadas substâncias que podem irritar o aparelho digestivo: o glúten, por exemplo (ao qual, mesmo não sendo alérgico, podes ser sensí­vel) e as lectinas, que os cereais contém em abundância e que são, no fundo, usadas pelos cereais (e não só) como uma espécie de defesa quí­mica.

        As leguminosas (em especial a soja) também por causa da lectinas, ainda que sejam menos problemáticas do que os cereais. Além disso, algumas práticas comum para preparar leguminosas (como demolhar) “desactivam” grande parte das lectinas, por isso também há quem sugira que possam ser consumidas em moderação (com excepção da soja, que tem ainda outros problemas) sem grandes problemas.

  7. Inês says:

    Boa tarde! Por surpresa minha, enviaram-me este link para o meu e-mail. Tenho intolerências muito semelhantes, já andei a fazer dieta e deixei de fazer tão rigorosamente… Queria trocar impressões sobre o que achou da dieta, se obteve alguns resultados e se continua com ela!
    Boa sorte :) :)
    Inês

    • Olá. Mantenho-me “por perto” da dieta. Ou seja, já não a respeito rigorosamente, mas habituei-me a reduzir substancialmente a maioria dos alimentos não recomendados. O principal resultado que obtive foi emagrecer bastante e manter-me mais magro, creio que muito devido ao consumo muito moderado de hidratos de carbono, já que me afastei de pães, bolos e massas.

      Quanto ao resto, sinceramente, não tenho grandes dados. Sei que o leite me faz bastante mal e nunca mais bebi, mas sei também que os ovos estão “proibidos”, pelo teste, mas como-os quase diariamente sem malefí­cio aparente.

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