Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Completei 38 anos.
Como vem sendo habitual de há uns anos para cá, mais ou menos ano sim, ano não, “ignoro” o evento. Ou seja, não ignoro que faço anos, mas não faço questão de fazer uma grande festa. Um ano não ligo nenhuma, no ano seguinte faço um picnic no Parque da Paz, outro ano não ligo nada, no ano seguinte convido toda a gente para um luau com 40 strippers e bar aberto… varia.
Este ano foi off. Não bastando estar esgotado e só me ter realmente lembrado que fazia anos no sábado, na terça ou quarta feira dessa semana, estou também a cumprir um regime alimentar que não me permite, sequer, comer bolo de anos.
Mas fui almoçar com os meus pais, os meus avós, a minha irmã e o meu cunhado e, claro, a minha mulher e os meus filhos e depois, voltámos para casa e os putos adormeceram os dois, portanto estive esparramado no sofá a jogar GT5. Não me queixo.
Estou agora no meu 39º ano de vida, caminhando inexoravelmente para os 40 e, como dizia ontem a minha irmã: já custa um bocadinho a crer.
Como é que saltámos de putos ranhosos para os 40 anos, assim, quase sem aviso?
Não me preocupa, a idade, pelo contrário, sinto-me melhorar com os anos. Acho que o tempo faz bem í s pessoas, pelo menos até certa altura, depois, acredito que comece a fazer mal, ao corpo, í s vezes í cabeça e as coisas não acabem bem.
Ainda estou para descobrir se manter o corpo activo e a mente alerta ajudam a manter a saúde e a sanidade quando os anos avançam, mas lá chegaremos.
Provavelmente, a lição mais importante que aprendi, nos últimos anos, foi que a melhor maneira de perceber o mundo que me rodeia é olhar para mim mesmo de fora. Fazer parar o Universo, uns minutos todos os dias e olhar í volta, depois dar dois passos atrás e olhar para mim mesmo.
Estar sempre pronto a reavaliar tudo, estar sempre disposto a mudar de opinião, aceitar a dos outros, discordar da de alguém, deixar de gostar de coisas, passar a gostar de outras e verificar, desapaixonadamente ou não, que as coisas essenciais estão todas lá, intocadas, no mesmo sítio de sempre: as pessoas que mais amo, a música, as palavras, as cores, os cheiros e algumas ideias, alguns sonhos e até algumas ilusões e fantasias mais ingénuas, que convém sempre guardar e revisitar com frequência, porque é isso que me separa dos outros.
Gosto de me lembrar, permanentemente, que não sei tudo, mas gosto de provocar as pessoas, gosto de discutir com elas e gosto de chegar ao fim e ver que mudei de ideias ou fiz alguém mudar de ideias. Tento nunca me esquecer de rematar uma discussão com “mas se calhar estou enganado”, mas sinto satisfação em dizer “eu bem te disse”.
Dou valor ao respeito, particularmente quando o mesmo está presente entre pessoas que não estão de acordo.
Respeito pessoas que se esforçam, que tentam, que não desistem. Prefiro, de longe pessoas que se levantam e fazem alguma coisa, í s que ficam sentadas a protestar. Admiro pessoas que ajudam e se deixam ajudar, pessoas que colaboram, que se apoiam. Há poucas, mas há.
Pessoas que enfrentam coisas que deixariam qualquer um sentado no chão a soluçar e se levantam no dia seguinte prontos para continuar são pessoas que envergonham quem pouco mais enfrenta que o quotidiano e passa a vida na mesa do café a lamentar-se.
Gosto de dar voz a algumas pessoas, quando posso, mesmo que poucas. Quando escrevo algo e alguém diz, “era mesmo isso que eu queria dizer”, sinto-me realizado, que não estou só a dizer parvoíces avulsas, mas que consigo, a espaços, passar mensagens que ajudam as pessoas a organizar as suas ideias.
Também gosto muito quando alguém faz isso por mim.
Nada disto me impede de escrever muitas parvoíces avulsas que me dão muito gozo escrever e dizer e espero continuar a fazê-lo durante mais 38 anos. Ou mais.
E em jeito de conclusão, uma ideia que me parece fulcral: tristes dos que só têm certezas.
A certeza é estéril. A dúvida é a mãe de todas as coisas.
Muito bom! Que contes muito mais (e o Macacos também :D)…
Abraço
Gostei muito. Parabéns, Pedro. Que contes muitos e nós possamos acompanhar-te.
Obrigado, Natacha.
Muitos parabéns! Gostei do balanço!
Aqui de Oslo, com o sol a brilhar, apesar de serem quase 10 da noite, um grande beijo de admiração! Porque, ao admirar-te, admiro o meu trabalho (cof…cof…)