Estávamos a brincar na varanda, com os carrinhos do McQueen e com o teclado electrónico e o Tiago de repente põe-se em pé, tira a camisola, pega num carimbo e começa a carimbar animaizinhos pelo corpo todo.
– Pai! Estou a fazer tatuagens! São tatuagens para dizer que eu sou forte!
Foram 20 minutos a esfregar no banho… e não saiu tudo.
O Macacos sem galho caminha, a passos largos, para a maioridade. Daqui a não muito tempo, vou poder virar-me para jovens e dizer: “Tu tá mas é caladinho, que o meu blog tem idade para ser teu pai!”.
Assim como hoje em dia a minha carta de condução já tem idade para votar, o meu blog entra na adolescência.
Confesso que até deixei passar a data e só hoje, no Twitter, alguém chamou a atenção para a idade da coisa e me lembrei que foi no dia 30 de Março que o décimo-segundo aniversário se completou.
Cavalgamos inexoravelmente para eleições legislativas e acho que é chegada a altura de fazer uma intervenção ao país.
As pessoas estão confusas. Quem sabia sempre onde votar, agora não sabe. Quem estava quase certo que depois do PS, votaria PSD, já não tem a certeza. E, no geral, muita gente está a gostar imenso dos vídeos do Paulo Portas de camisa aberta e já ninguém se lembra dos submarinos, porque ele é tão videogénico.
Existem inúmeros equívocos em circulação.
Por exemplo, algumas pessoas acham que o PS é culpado da situação do país – pois se eles estiveram 6 anos no governo… E para isso, contribui, claro, os outros partidos que estão sempre disponíveis para dizer a alto e bom som que José Sócrates e a sua mafia deu cabo disto.
Mas não é verdade.
Outras pessoas ainda, com uma visão um pouco (mas não muito), mais abrangente dirão que não, que a culpa não é do PS – ou não só; a culpa é de todos os partidos políticos. Confesso que cheguei a pensar assim e andei por aí a apelar ao voto em branco e essas coisas.
Depois, felizmente, passou-me.
Há quem defenda que os problemas do país são inteiramente culpa da globalização e das políticas capitalistas do mundo ocidental em que vivemos e que não dá hipóteses a um país pequeno, com poucos habitantes, como o nosso.
Também não é verdade.
Mas não vos deixo mais em suspenso: ninguém tem culpa de nada, não foi cometido nenhum crime senão o de existirmos e sermos portugueses. Aqui ninguém faz nada, aqui somos assim. E somos todos assim, uns mais que outros… uns abusadoramente mais que a maioria, outros, vá, aceite-se, muito menos “assim”.
O nosso mal não é termos tido seis anos de Governo Sócrates, não é termos sempre um conjunto de partidos de oposição que acham que não têm que governar, como se ninguém tivesse votado neles – que acham que oposição é ser do contra.
O nosso mal não é termos reeleito para Presidente da República um tipo que, quando foi Primeiro Ministro, foi incapaz de fazer ‘pugredir’ o país como podia, um país pequeno, com poucos habitantes e com dinheiro a jorrar como se fosse chuva no Bangladesh.
Nem é termos uma esquerda radical sem ideias, uma esquerda moderada que é de direita, uma social democracia que ninguém percebe ou uns conservadores cujo único objectivo é estar n Governo, seja com quem for, mesmo que sejam Estalinistas, desde que tenham um ministériozito para dirigir.
Os portugueses não sabem o que querem.
Não gostam de nada, mas fingem. Estão sempre chateados. São amorfos e rezingões. São preguiçosos. Queixam-se, mas não reclamam. São mal educados, pouco cívicos e egoístas.
Eu acho que a maioria dos portugueses estava bem antes do 25 de Abril. Gostavam daquilo. E não venham para aqui agora protestar e dizer “eu não! eu não”. É claro que “eu não”. Mas o país é feito de uma massa muito grande de gente, não se arroguem í convicção de que representam o país.
Não representam.
O país não toma banho. O país estaciona atravessado em dois lugares. O país foge aos impostos e queixa-se quando tem que pagar um euro e meio por uma consulta num posto médico. O país faz manifestações sobre o quão mal anda de dinheiro e divulga-a aos amigos por SMS no seu iPhone. O país senta-se no escritório no dia 2 de Janeiro e a primeira coisa que faz é pegar no calendário para ver quando calham os feriados desse ano, para poderem marcar o máximo de pontes possível.
O país quer direitos sem deveres. Quer benefícios sem contribuir. O país, a grande maioria do nosso país, do nosso povo, quer ver a bola, beber cerveja e comer leitão assado e querem ir para a praia três ou quatro meses por ano e que não os chateiem.
Por isso é que o país culpa o Governo. Porque se a culpa é do Governo, o Governo que resolva. Porque os portugueses não têm culpa de nada. Diz-se que são os que mais horas passam por dia no escritório, mas não se diz quanto produzem enquanto lá estão.
Não olhem para mim, que ando a escrever este post há que tempos, no comboio.
Mas muitas vezes, mesmo as pessoas que se queixam de que há pouca iniciativa, de que se produz pouco, de que não se anda para a frente, também passam a vida a escarafunchar o nariz enquanto pensam em nada.
Querem saber em quem votar nas eleições? Não querem. Claro que não querem. Porque até a política o português vê como futebol; há equipas, uma ganha as outras perdem e no fim, vamos para a rua buzinar.
É igual. Não interessa. Só voltam a ligar ao Governo, quando houver bronca. Quando, de repente, o facto de vivermos num país em que toda a gente faz favorzinhos e jeitos aos amigos, dá uns toques ou faz uns arranjinhos nos faz perceber que andamos todos a pagar para isso, que todos contribuimos para institutos que não servem senão para dar emprego a ex-ministros, que pagamos salários a gestores de empresas para quem ninguém olha (porque estão distraídos com o Presidente e não reparam que todo o conselho de administração recebe 300 vezes mais que um salário médio); nessa altura é o caos. O país está como está, por causa do Primeiro Ministro!
É claro. É culpa do Primeiro Ministro.
E assim é fácil, porque vai-se mudando de Primeiro Ministro e nunca se vai mudando o país. Não se mudam os valores das pessoas, não se educa, não se civiliza.
Não somos civilizados por andarmos de carro e termos telemóveis no bolso. Nâo somos civilizados por termos os maiores centros comerciais da Europa ou o melhor treinador de futebol do mundo.
Somos civilizados se nos respeitarmos uns aos outros. Se percebermos que os impostos não são um castigo. São um contributo. Porque se não percebermos isso, nunca vamos exigir que o nosso contributo seja bem aplicado.
Porque as pessoas falam da Islândia e acham que devíamos fazer o mesmo cá. Mas não percebem que cá isso não funciona, porque cá, mais de metade de nós estão-se borrifando. Mais de metade, independentemente de quão fantástico, democrático, justo e competente for qualquer Governo que possamos ter, vão continuar a não contribuir, a aldrabar, roubar, enganar, desviar e tratar da sua vidinha enquanto, nas mesas de café se queixam de que “isto vai mal”.
E se calhar é bem mais de metade.
Não vai ser o PS, o PSD, o CDS, Bloco, PCP ou o raio do Partido Pirata que vão salvar Portugal. Não vai ser o FMI, nem o FEEF, nem a Comunidade Europeia, nem a Finlândia que vão salvar Portugal.
Quem pode salvar Portugal, se é que sequer de um salvamento se trata, são os portugueses. E os portugueses não querem saber. Porque isso é demasiada responsabilidade. Isso implica não aldrabar, não dar a volta, não fazer jeitinho, do assalariado mais vulgar ao mais poderoso Presidente de um Banco. Isso significa que em vez da maioria de nós serem umas bestas egocêntricas e apenas uma mão-cheia de gente ser competente, dedicada, honesta e altruísta, a tendência tem que ser precisamente a oposta.
Temos que ser maioritariamente responsáveis, cívicos, adultos. E deixarmos que, pelo menos uma vez, a corja seja apenas uma fracção da nossa gente.
Portanto, querem saber em quem votar?
Não faço a mais pequena ideia. Mas sei uma coisa: não fará diferença.
Eu ainda sou do tempo em que bastava escrever 10 que estava tudo dito.
Os critérios podem ser os que se entenderem. Mas na minha filha é absolutamente óbvio. Tem dez meses e é um 10 de bebé. Com um dentinho já a espreitar, quase sempre a sorrir, mas já muito vocífera quando é contrariada ou não consegue o que quer.
Não gatinha, arrasta-se ou ‘rabeja’, mas nada disso lhe interessa particularmente, porque o que quer é pí´r-se de pé e andar. Numa semana passou de não fazer ideia o que fazer aos pés quando se levanta para passear pela sala, apoiada nas nossas mãos.
Adora música, bate palmas e dança; adora o irmão a quem faz toda a espécie de “maldades” (que ele adora, claro) e já faz aquelas coisas que as meninas fazem de ver o seu herói e dar gritinhos de alegria – o seu herói de momento é o Pocoyo.
Estávamos a brincar na varanda, com os carrinhos do McQueen e com o teclado electrónico e o Tiago de repente põe-se em pé, tira a camisola, pega num carimbo e começa a carimbar animaizinhos pelo corpo todo. – Pai! Estou a fazer tatuagens! São tatuagens para dizer que eu sou forte! Foram 20 minutos a […]
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Eu ainda sou do tempo em que bastava escrever 10 que estava tudo dito. Os critérios podem ser os que se entenderem. Mas na minha filha é absolutamente óbvio. Tem dez meses e é um 10 de bebé. Com um dentinho já a espreitar, quase sempre a sorrir, mas já muito vocífera quando é […]