Depois de alguns avanços e recuos, dúvidas e incertezas e de viver duas semanas com a casa completamente de pantanas, mudámo-nos.
Foi no dia 9 de Outubro. A transportadora Cá Vai Sintra apareceu por volta das 9 da manhã com seis homens e duas carrinhas Toyota onde iria caber quase tudo o que temos.
Mas só quase.
A mudança foi tudo o que as pessoas que dizem que fazer mudanças é complicado dizem. Na minha vida, já fiz muitas mudanças, primeiro com os meus pais, entre o Algueirão, Moimenta da Beira, Mourão, Almada. Para não falar em Queluz, Benfica, coisas que era demasiado pequeno para sequer me lembrar.
É claro que essas mudanças acabam por ser mais uma diversão para os miúdos (ou uma seca), e o stress fica todo para os pais.
Depois mudei-me de casa dos meus pais, aos 24, da primeira para a segunda casa, aos 29 e agora, aos 37, para a terceira casa com um enorme desejo de que seja a última.
Não bastando que se tenha, a dada altura, tornado impossível empacotar mais porque deixou de haver espaço para empilhar caixas, fazendo com que no próprio dia da mudança tenhamos que ter estado a encaixotar o resto í medida que os homens levavam o que já estava, ainda surgiu o momento Zen do dia.
A minha já lendária vizinha de baixo que praticamente desde o primeiro dia que para ali fomos viver se alapou a nós com problemas, não quis deixar em branco a oportunidade de, no último dia em que ali vivemos, nos ir azucrinar o juízo.
Fui dar com ela na escada, o habitual ar sofredor: “desculpe lá vir incomodar, mas… e como fica a minha varanda?”.
Passei-me.
Não podia senão passar-me. Ao fim de sete anos e meio em que tudo o que se passava era culpa nossa. Em que chegou a vir acordar-nos enquanto descansávamos num fim de semana porque ouviu um barulho (certamente do prédio ao lado), em que me disse uma vez que o som da minha aparelhagem lhe estava a fundir as lâmpadas do candeeiro da sala que “ainda por cima são daquelas económicas que são caras”, que, quando houve, de facto, uma infiltração por ruptura da coluna no nosso wc, resolveu renovar a casa de banho inteira e depois queria que eu lha pagasse… passei-me.
Não a insultei. Mas gritei com ela. Gritei muito para além daquilo que me é dado gritar quando me chateio; ousaria mesmo dizer, que nunca tinha gritado tanto com ninguém na minha vida. Eu sou um tipo pacífico…
Bom, mas adiante. As primeiras seis horas foram para encher as carrinhas. Para trás, ainda ficou muita tralha e os gatos.
No entretanto, a minha irmã deu uma preciosíssima ajuda, levando o Tiago com ela durante a maior parte do dia, mesmo na altura em que ele começava a ficar farto daquela confusão toda.
Às três e meia atracámos na nossa nova morada e começou a descarga. Durante o processo, comecei a fazer viagens até í – agora – antiga casa, para ir buscar várias das coisas que tiveram que ficar para trás, nomeadamente os gatos.
Na primeira viagem veio a velha guarda: a Michelle, a Scully e o Jones, que já viviam connosco na Eduardo Tavares (a Michelle, aliás, já tinha vindo comigo de casa dos meus pais). A segunda leva foi só no Domingo de manhã e apenas apanhei a Nikita. Só no Domingo ao fim do dia é que conseguimos apanhar a Buffy e o House.
Voltámos para casa para dar com a minha sogra sem saber bem o que fazer entre a Joana que berrava e o Tiago que chorava. O stress estava provavelmente no seu pico nesse momento e a semana estava prestes a começar.
Não aconselho mudanças a ninguém. Mudar de casa para uma casa vazia onde se vai comprar tudo novo, deve ser melhor. Mudanças em que tem que se levar tudo de uma casa para a outra, é um martírio e quanto mais coisas se tiver, pior será.
Fazer tudo isto com dois filhos pequenos, só mesmo com ajuda, como a que nós tivemos da minha irmã – e no Domingo com a presença dos meus sogros que deram uma mão com um bocadinho de tudo.
Dito isto, posso recomendar a transportadora Cá Vai Sintra, sem hesitar. Levaram 60 euros por hora, mas mandaram seis homens e duas carrinhas – as empresas que levam 25 a 30 euros por hora mandavam 2 ou, quanto muito 3 homens e apenas uma carrinha.
Os homens foram impecáveis, tiveram imenso cuidado com tudo, tanto o mobiliário e caixas, como as paredes e portas nas casas. Embora não estivesse combinado, ainda deram uma mão com os últimos encaixotamentos. E durante todo o processo que levou 11 ou 12 horas, não os vi resmungar, queixarem-se ou sequer fazerem um comentário que fosse. Talvez o tenham feito, mas nunca í nossa frente. Foram cordiais, incansáveis e ainda houve um ou dois que se preocuparam com os gatos.
É claro que também tenho que agradecer aos meus avós que não só recomendaram a transportadora (juntamente com algumas pessoas na net), como no fim ainda fizeram questão de nos oferecer a mudança.
É, aliás, muito graças í nossa família que estamos aqui, agora.
Hoje praticamente não comi, passei o dia todo com a pulsação no dobro do usual e sinceramente já não tinha qualquer saudade deste tipo de ansiedade.
Felizmente, com o tempo (e a idade?), consegui aprender a controlar o meu stress muito bem, mas hoje a coisa descambou.
Tal como previsto, o empreiteiro começou a montar andaimes logo de manhã para colocar um algeroz a tirar as águas da fachada do prédio. Como de seria imaginável, ainda a manhã não ia a meio e eu recebi uma chamada da administradora do condomínio.
Que não podia ser, que tinha que haver reunião e que ainda por cima aquilo interferia com uma obra de arranjo da junta de dilatação entre os dois prédios que está para breve.
Com razão, digo eu. Embora não precisasse deste stress para nada, ainda por cima junto ao de ter o telhado a meter água por todos os lados, a senhora tem razão.
Dei-lhe razão, mas pedi-lhe que me desse algum tempo, que me deixasse instalar o tubo temporariamente e que depois, em reunião de condomínio, discutiríamos as hipóteses.
Não que me pareça haver outra hipótese, de momento. Porque é que o prédio só tinha algerozes nas traseiras, usando dois enormes tubos a passar na placa para levar as águas de frente para trás, não compreendo. Suponho que um algeroz na fachada comprometa o aspecto estético do edifício.
As if.
E foi assim que, a poucos dias de fazer cinco meses que começaram as obras em que praticamente tudo correu í s mil maravilhas, na véspera da mudança: levanta-se um temporal daqueles de alerta laranja em todo o Continente, chove copiosamente pelo telhado em vários sítios e arranjei problemas com a administração do prédio que ainda não sei como resolver.
Tentei o melhor possível manter a calma durante o dia. A visita que lá fiz ao fim da tarde, ajudou. Um dos empregados do construtor já tinha andado no telhado a ver o que se passava com os sítios por onde entra água e concluiu, basicamente, que alguém trocou algumas telhas por outras que não são iguais í s que lá estavam.
Também ajudou saber que durante uma das maiores chuvadas de hoje, o empreiteiro esteve lá e viu onde entrava água e já sabe o que vai fazer para resolver esses problemas.
Também foi bom perceber que a senhora que administra o condomínio é simpática e razoável e que é fácil falar com ela.
Infelizmente, a confusão já mete o prédio do lado e tudo, porque parte do algeroz, no nosso terraço, está preso í parede que é, na verdade, a empena do outro prédio. Embora tenha sido rebocada, isolada e pintada. Mas claro, isso não interessa, o que interessa é o parafuso que lá espetaram.
E se calhar com razão, sei lá.
Sei que eram duas confusões de que não precisava. Sei também que a casa pode ser porreiríssima e estar renovada, mas que se estivermos em guerra com o condomínio e/ou os vizinhos de uma maneira ou de outra, a nossa vida ali vai ser um sem-fim de chatices que nunca serão compensáveis por nenhum factor de ‘fixeza’ da casa em si.
Passámos ambos o dia tão stressados que chegámos í s 8 da noite completamente sem energia. Sim, desta vez, a palavra ‘exaustos’ aplicou-se. Quando se chega a um ponto em que levantar da cadeira é quase impossível, a palavra aplica-se. Quando a Joana, nesse preciso momento desata a chorar, enquanto o Tiago insiste “anda brincar comigo!” (novamente, com razão), e os gatos lutam por entre as torres de caixas de cartão que tornam a circulação cá em casa quase impossível, um gajo sente-se entre a espada e a parede. O caos? Ou a casa em obras onde a administração quer ter uma conversinha connosco?
Essa decisão, no entanto, foi tomada por os nós-passados. Os nós-passados que na quarta-feira decidiram marcar a mudança para amanhã. Felizmente, quem vai ter que estar por aí no dia da mudança propriamente dita, são os nós-futuros, porque os nós-presentes vão mas é para a cama.
Começou a chover mais a sério esta noite. Na verdade chovia tanto que achei melhor meter-me no carro e ir até í casa ver se a infiltração da sala não estaria a pingar fora do balde.
Não estava.
Mas ainda bem que lá fui porque no sótão, o cenário não era animador. Ouviam-se vários alegres chuveiros que andei a catar í luz de uma pequena lanterna. Numa zona, por cima do nosso quarto, o chão já estava completamente empapado e, basicamente, chovia lá dentro. Estavam telhas fora de sítio e estive eu, sem ter como segurar a lanterna decentemente, a tentar recolocar as malditas no sítio.
Acho que consegui parar essa goteira, mas deixei papeis para empapar a água, telhas e um balde por baixo.
Noutras zonas, escorre água pelas paredes ou pinga na placa. Andei a distribuir telhas pelo chão, na esperança de que ajude a impedir que a água chegue a infiltrar.
Confesso que voltei bastante desanimado. Tem corrido tudo muito bem até aqui, mas isto foi um cenário desagradável, sobretudo se imaginar que mais um dia ou dois sem chuva e tudo aquilo podia já estar por trás de pladur que, certamente, com o tempo, acabaria por apodrecer.
Bom, pelo menos a osga que encontrei num canto do sótão, parecia satisfeita.
Não consigo imaginar o que passam as pessoas que, comprando uma casa para remodelar, apanham com empreiteiros fajutos que atrasam a obra quatro ou cinco vezes o prazo inicialmente previsto.
É que a nossa obra está a horas, a cumprir o calendário e vou-vos dizer uma coisa: isto custa.
Custa e não custa só dinheiro. Não é í toa que mudar de casa é uma das actividades mais cotadas nas que causam stress ao ser humano. Mudar de casa com obras então…
Hoje ficámos com gás. Foi feito o teste de tudo ligado com portas e janelas fechadas, durante x minutos e correu tudo bem. Tudo, claro, é apenas o esquentador, no nosso caso. Ventilado, ainda por cima.
Ainda assim, o técnico alertou-nos para o facto de que a Galp iria ainda tentar obrigar-nos a fazer mais uma inspecção com o único intuito de nos cobrar mais 55 euros. Portanto, o próprio técnico avisou que a empresa para quem trabalha chula os clientes sem qualquer razão.
Temos gás, logo temos água quente, logo, podemos tomar banho.
Isto significa que ficou hoje marcada a mudança. É no próximo Sábado, logo í s 8 da manhã. Optámos pela empresa Cá Vai Sintra, que nos foi recomendada por várias pessoas, nomeadamente os meus avós que se mudaram para Almada, de Queluz, há uns anos, usando essa empresa.
Não são nem os mais baratos, nem os mais caros; mas responderam, quando outros… nem por isso.
A casa está quase toda empacota e ainda assim… não parece. Sabemos que temos armários inteiros que ainda nem abrimos para ver o que está lá dentro. Também sabemos que já não temos onde empilhar caixas e praticamente não temos onde ter a Joana sem que corra o risco de lhe cair uma caixa em cima (mas temos, não se preocupem).
Falta todo o quarto do Tiago, que não quisemos desmontar para não o stressar ainda mais – mesmo assim, desde o fim de semana que ele tem a tenda montada no meio do quarto para se refugiar da confusão.
Os gatos estão-se a passar, voltaram a lutar, ressaltam por entre os caixotes, mijam na impressora, é um desatino. Estão a dormir na varanda da cozinha há umas semanas porque não temos outra forma de os controlar.
Estamos ambos exaustos. Ontem estava tão cansado que comecei com tonturas. Depois, a Dee veio trazer-me a Joana que se recusava a dormir; fiquei com ela um bocado e acabei por ficar enjoado com as tonturas. Por volta das duas lá me consegui deitar, mal disposto, mas pouco depois de adormecer, acordei sobressaltado com qualquer coisa que os gatos tinham atirado abaixo na varanda.
Não muito tempo depois, toca o despertador.
Na casa, hoje era dia de montar os vidros no terraço. Chegaram, viram que estava a chover e foram-se embora novamente. Não sei porquê, mas não podem montar os vidros com chuva. Se continua a chover, estamos tramados.
No sótão, por causa da chuva, não houve trabalho hoje.
Mas chegou a escada. Toda a estrutura está montada, faltam só os degraus de madeira. Parece sólida, gostei.
A estrutura de aço da escada para o sótão
Na fachada, o Sr. Augusto sugeriu que se montasse nova caleira com algeroz passando na nossa varanda e depois até ao passeio, eliminando assim os dois grandes tubos que correm lá em cima e que se partiram causando infiltrações na sala.
Deixei uma carta na administração a informar e a perguntar quando era a obra de reparação da junta de dilatação (que já está planeada), para se juntar o útil ao agradável e não ter eu que pagar o aluguer de uma plataforma elevatória para montar um algeroz.
Responderam que tem que se ver isso em assembleia geral.
Quando vinha a sair da casa, hoje, reparei que o Sr. Augusto já montou toda a parte que vai até ao limite da varanda. Chama-se a isto, não perder tempo.
Resta agora descobrir em que encrenca nos vamos meter com os vizinhos… porque eu pretendo viver ali muitos anos, de preferência sem me chatear com ninguém, porque viver sete anos e tal num prédio com uma vizinha de baixo que me culpa por tudo o que lhe corre mal na vida… obrigado, mas já dei.
Este post está meio confuso e desconexo… mas é mesmo assim que são os nossos dias neste momento. Fico a pensar que devia ter metido dois ou três dias de férias para resolver isto e se calhar o plano A não era mau, mas este plano B não está propriamente perfeito.
Estas situações são tramadas. Uma pessoa tem uma casa nova, com enorme potencial, tudo renovadinho, mas só vê o que está mal. Já não reparo como o chão é porreiro, a casa luminosa e espaçosa, a cozinha enorme e prática, o terraço fantástico para os miúdos; nada disso: vejo a porta que não fecha bem, a sanita que não veda e a sujidade que, aqui e ali, não sai dos azulejos novinhos em folha.
E já só associo í casa stress, cansaço, preocupações e montes de pessoas que eu não conheço, mas que sei que passam mais tempo na minha casa, do que eu. Sinto quase que sou o invasor quando lá vou e interrompo o trabalho.
Em Dezembro vai fazer um ano que vimos a casa pela primeira vez. Quando lá estivermos finalmente instalados, com as obras feitas, todos os acabamentos prontos e qualquer situação com o condomínio sanada, acredito que passará tanto tempo quanto o que passou até agora para nos sintamos em casa ali.
Depois de alguns avanços e recuos, dúvidas e incertezas e de viver duas semanas com a casa completamente de pantanas, mudámo-nos. Foi no dia 9 de Outubro. A transportadora Cá Vai Sintra apareceu por volta das 9 da manhã com seis homens e duas carrinhas Toyota onde iria caber quase tudo o que temos. Mas […]
Hoje praticamente não comi, passei o dia todo com a pulsação no dobro do usual e sinceramente já não tinha qualquer saudade deste tipo de ansiedade. Felizmente, com o tempo (e a idade?), consegui aprender a controlar o meu stress muito bem, mas hoje a coisa descambou. Tal como previsto, o empreiteiro começou a montar […]
Começou a chover mais a sério esta noite. Na verdade chovia tanto que achei melhor meter-me no carro e ir até í casa ver se a infiltração da sala não estaria a pingar fora do balde. Não estava. Mas ainda bem que lá fui porque no sótão, o cenário não era animador. Ouviam-se vários alegres […]
Não consigo imaginar o que passam as pessoas que, comprando uma casa para remodelar, apanham com empreiteiros fajutos que atrasam a obra quatro ou cinco vezes o prazo inicialmente previsto. É que a nossa obra está a horas, a cumprir o calendário e vou-vos dizer uma coisa: isto custa. Custa e não custa só dinheiro. […]