What’s in a name?
Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Dar nome a uma pessoa é, creio, das maiores responsabilidades que os pais têm.
Há a concepção, o parto, aqueles aninhos de alimentação e protecção e depois o resto da vida é com cada um, mas o nome fica.
Não é que não se possa mudar o nome, mas não é propriamente a prática mais comum.
Existem muitos métodos para escolher nomes. Uns metódicos (perdoem a redundância), outros mais aleatórios, mas nenhum, parece-me, particularmente fácil.
Se se deseja honrar a memória de um qualquer familiar, corre-se o risco de chamar Cesaltina a uma filha que terá que carregar para sempre o estigma de ter um dos mais horríveis nomes femininos jamais inventados.
Se pretendemos ser líricos, o nosso filho poderá passar a vergonha de se apresentar como Dr. Nuvem Arco-íris Santos, físico nuclear. Sim, porque um gajo chamado Nuvem Arco-íris, certamente quererá passar o resto da sua vida fechado num laboratório de física experimental.
Muita gente escolhe nomes da moda: outra coisa que não consigo compreender e que faz com que muita criança ande por aí com o peso inefável de se chamarem Salvador (desculpem lá se chamaram Salvador ao vosso filho, mas não consigo compreender…).
E depois os nomes mudam muito com o tempo, o que não ajuda.
Por exemplo, a Maria era a criada. Quantas anedotas não existem sobre criadas em que a moça se chama Maria? Hoje em dia já não se devem contar tantas, porque Maria virou nome chique. Há até quem ponha Maria a rapazes: António Maria, Afonso Maria… coisa que me escapa completamente, confesso.
Já Manuel, é outro exemplo de um nome simples e bastante antigo. Manuel soa a Rei, Manel soa a gajo porreiro, ou dono de tasca, mas se nasalarem o “e” e disserem Manêl, de repente soa tiozérrimo, sei lá.
E depois os nomes trazem uma certa carga semântica difícil de explicar e que certamente terá a ver com a experiência de cada um. Há nomes que parecem mais infantis, outros muito adultos, alguns parecem simplesmente “nome de avó”. Por qualquer razão inexplicável, na minha cabeça, Joana e Filipe parecem-me nomes de criança mas não de adulto; por outro lado, Carolina ou António parecem-me nomes de adulto, pesados para crianças.
Isto é a mim. A outros, certamente parecerá diferente, o que só complica mais as coisas.
Mas as considerações não acabam aqui. Há os nomes que só se põe para serem diminuídos: o José será sempre Zé, o Francisco, Chico e a Margarida será Guida a vida toda – que nome estamos a dar quando escolhemos um destes? Queremos que a nossa filha se chame mesmo Alexandra?… ou Xana?
Quando escolhemos o nome do nosso primeiro filho – Alexandre – foi precisamente porque gostávamos do nome e ainda mais do diminutivo: Alex.
O nome do Tiago foi espontâneo: ocorreu í mãe um belo dia e soou imediatamente certo. E agora estamos pela terceira vez incumbidos da missão de dar nome a um ser humano e estamos indecisos. Esta indecisão não me agrada, por diversos motivos… eu não ligo a fantasias e superstições, mas tenho uma atracção inegável por certos símbolos.
A aliança, por exemplo, é um símbolo que me atrai particularmente, embora, em toda a honestidade, muito disso se deva ao Tolkien; um bebé ter nome antes de nascer também é um acto simbólico – ninguém precisa de um nome recém nascido; mas por qualquer razão, na minha cabeça, é importante.
Então fizemos listas. Eu e a Dee, cada um sem ver a lista do outro, escolhemos vários nomes femininos de um livro com centenas de hipóteses. Confesso que Cesaltina não está em nenhuma das duas listas. A Dee escolheu:
- Joana
- Sofia
- Diana
- Helena
- Isabel
- Mónica
- Vera
E eu escolhi:
- Alice
- Catarina
- Helena
- Joana
- Lia
- Mafalda
- Margarida
- Matilde
- Vera
O único nome que já tínhamos falado entre nós era Joana. Achei curioso como Helena (provavelmente Lena par ao resto da vida) e Vera aparecem ambas na lista, principalmente este último que nunca sequer me tinha passado pela cabeça antes.
Já há bastante tempo que Joana está “em cima da mesa”. É uma das nossas escolhas mais prováveis. Claro que rima com banana e que tem que comer a papa e que é o nome de um pequeno insecto além de ser, como tantos outros, apenas a versão feminina de um nome masculino.
Mas é um nome bonito. Mas, na minha opinião, também os outros o são. E há mais nomes bonitos, há alguns que não estão na lista, apenas porque tentámos ser muito, muito específicos e escolher mesmo só aqueles que gostamos mesmo.
Hesitei muito em escrever este post precisamente porque acho que escolher um nome é uma responsabilidade – a minha mulher chama-se Dalila e – embora seja um nome bonito – a verdade é que teve que aturar muita chatice por causa dele. E essa responsabilidade cabe-nos, sem dúvida nem hesitação, a nós.