O Acordo Ortográfico trama-me a leitura

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Recentemente, estava a ler notí­cias sobre o fascinante tema do Orçamento do Estado quando empanquei numa frase.

Dizia que o “Governo adotou certas medidas”. E eu estava prestes a passar í  frente, mas ficou-me aquela… uma palavra nova, “adotou”, que eu, naturalmente, li como “a-dú-tou”; pensei tratar-se de algum termo económico até aqui desconhecido para mim e fiquei a pensar o que seria um adotamento de medidas; alguma espécie de sinónimo de adjudicação, talvez.

Depois de perder uns bons dois minutos com isto, percebi, claro, que a palavra em, causa era, de facto “adoptou” e que se tratava de uma adopção de medidas e não de um adotamento ou adotagem ou mesmo adotação.

E é assim que o acordo simplificador vai tornando a minha leitura mais lenta e complicada do que precisava de ser.

Mas já sei, eu estou a ficar velho, os meus filhos vão, infelizmente, aprender a escrever “adoção”, “receção” e “espetador” e suspirar e encolher os ombros quando o pai insistir que no seu tempo se escrevia “adopção”, “recepção” e “espectador”.

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23 comentários a “O Acordo Ortográfico trama-me a leitura”

  1. Dextro says:

    Não te preocupes, não és o único a sentir-te assim. Este acordo unilateral que só serve para beneficiar as editoras brasileiras na corrida í  edição de manuais escolares e demais livros nas ex-colónias portuguesas continua encravado na minha garganta também e é daqueles sapos que me custa mesmo muito a engolir.

    NOTA: o uso da palavra sapo não tem qualquer relação com o fantástico portal nacional que me vai em breve fazer enjoar pizza por mais uns meses.

  2. Eduardo Taborda says:

    Recentemente, estava a ler uma entrada de um blog sobre o fascinante tema do Acordo Ortográfico.

    Dizia “espetador”. Depois de perder uns minutos, ou melhor chegar ao fim do texto, percebi que era a nova forma de escrever espectador e não algo relacionado com a acção espetar. O que não era de estranhar vindo do autor do texto :P

    Obrigado pelo texto

    • JP says:

      Assim como teto

      teto (ê)

      s. m.

      1. Glândula mamária. = mama, mamilo, teta

      2. Saliência arredondada.

      e tecto

      tecto (ét)
      (latim tectum, -i)

      s. m.

      1. Superfí­cie lisa, abobadada ou lavrada que forma a parte superior de uma habitação. = telhado

      2. Parte superior e interior de um espaço coberto.

  3. No meu tempo, todos os advérbios de modo terminado em “mente” levavam acento agudo (extraordináriamente), a palavra “euro” escrevia-se “escudo”, campeão nacional era sinónimo de Benfica e Porto era uma cidade do norte do paí­s.

    • Manuel says:

      Concordo com o seu ponto de vista, em relação a esta polémica, mas julgo que, no respeitante aos advérbios de modo terminados em mente, o que o senhor Artur Couto quereria dizer era que o assento agudo do adjectivo extraordinário passava a assento grave, com a agregação do sufixo mente í  forma femenina do adjectivo; assim, o resultado seria EXTRAORDINÀRIAMENTE.
      Quanto a mim, que tenho 56 anos de idade, continuarei a usar a nossa grafia portuguesa pré-ACORDO DE SUBMISSíƒO CULTURAL, que é um ultraje para a pátria-mãe da LíNGUA PORTUGUESA. E podem crer que, mesmo estando incorrecto de acordo com a nova norma, ainda estarei melhor do que baralhado do Saramago.

  4. Espectador vai continuar a escrever-se espectador, porque o c nao é mudo.

    • Isso também era o que eu achava, mas já li a palavra “espetador” num texto qualquer.

      Pode bem ser que tenha sido verdadeiro erro, mas o problema é que agora, no fim diz que foi escrito ao abrigo do acordo e tu ficas sempre sem saber se é mesmo erro ou se agora se escreve assim.

      Além de que nem toda a gente pronuncia o C de espectador.

  5. cris says:

    Pois eu no outro dia li “aspeto” e pensei que era o utensí­lio para assar leitões, mas mal escrito. Eu não tenho a certeza (até porque não me preocupo em aprender este português decretado) mas acho que aspecto e espectador devem continuar a escrever-se com o c porque, justamente, a consoante não é muda. Outra coisa que me lixa é a “receção”, mas estamos em tempos de crise, não é verdade??

    • Cris, o C de aspecto não se lê; eu, pelo menos, nunca li. Quando a receção, bom, a crise cria recessão económica, receção é no átrio do hotel :)

      • Cris says:

        O c pode não se ler, mas dá outra pronúncia í  palavra. E a diferença escrita entre a recessão e a receção de hotel é óbvia, mas se pronunciares a coisa sem p a do hotel fica a parecer a crise, mas mal escrita. Eu não consigo ainda ir í  bola com este acordo. E estou tramada porque a partir de dia 1 de Janeiro vou ser obrigada a engoli-lo, visto que o meu trabalho é escrever…Vai ser um sapo e pêras!

        • Ah pois, isso da pronúncia também eu acho, mas isso não faz delas consoantes menos mudas. Enfim, era como um velhote no metro no outro dia a reclamar que “Marquês” estava mal escrito e um tipo mais novo concordava, mas explicava que no painel luminoso não cabem acentos, portanto estava “Marques” que era o que dava para escrever e o velhote explicou que não era isso que estava mal, o erro era o S que devia ser um Z!

          E era… no tempo dele, era. No nosso tempo, em vez de Marquez é Marquês.

          Ainda me lembro de ser miúdo e o meu pai me dizer que um dia, daqui a muitos anos, é bem provável que se escreva “faxaví´r”, em vez de “se faz favor”. E porque não…?

  6. Helena says:

    Artur, tenho ideia de que os advérbios de modo levavam era acento grave, que nos indicava que a vogal era aberta apesar de não se encontrar na sí­laba tónica.
    Cris, o português que tanto defendes também foi decretado um dia. Faz-me confusão uma coisa… Será que ninguém tem noção de que as lí­nguas evoluem e que o português nem sempre se escreveu como se escreve agora? Que durante o século XX sofreu várias alterações? Que os brasileiros foram pondo em prática os acordos ortográficos que faziam com Portugal e que Portugal nunca respeitava e que por isso as divergências ortográficas foram sempre cada vez maiores? E que este novo acordo também impõe mudanças na norma brasileira?
    Não digo que concorde com todas as alterações, até porque ainda não o estudei a fundo, mas é preciso compreender que se a ortografia do português se unificar, teremos uma lí­ngua mais forte e com mais expressão no mundo. Já alguém tentou ensinar português escrito a estrangeiros? Eu já, durante alguns anos foi o meu trabalho e posso assegurar que o mais irritante era ter de dizer “pois em Portugal escreve-se assim, mas no Brasil é de outra maneira”.

    • Lena, embora concorde plenamente que as coisas sofrem evolução e que temos que nos adaptar – e mais: que daqui a uns anos já ninguém pensa duas vezes antes de escrever e ler “adotar” – não concordo com o que dizes sobre o fortalecimento da lí­ngua; o inglês é indiscutivelmente a lí­ngua mais forte no planeta neste momento e tem, pelo menos, duas grafias: a britânica e a americana.

      • Helena says:

        Sim, mas tens de reconhecer que se o inglês é uma lí­ngua forte isso não se deve ao facto de ter duas grafias, mas sim ao poder económico dos múltiplos paí­ses que a falam. E, quanto a isso, nós e o Brasil não podemos competir. Não tem qualquer comparação. O Inglês é falado em grandes potências actuais e antigas, não é o nosso caso. Aliás, o inglês, graficamente, é uma lí­ngua obsoleta que não tem sido revista e cuja ortografia é uma verdadeira loucura cheia de incongruências e palavras homófonas que não lembram a ninguém. O português, apesar de tudo, é mais fonética e faz mais sentido. No entanto, o espanhol, por exemplo, a esse ní­vel é bastante melhor. Quase tudo o que diz se escreve. E acho que é para isso que serve a lí­ngua escrita, para ser compreensí­vel.

        • Eu não disse que a força da lí­ngua inglesa se devia í s duas grafias, disse apenas que a existência dessas grafias não contribui para o enfraquecimento da lí­ngua.

          Não discuto lí­nguas contigo, porque é a tua profissão e de certeza que eu acabaria por dizer uma qualquer bacorada :-)

          • Helena says:

            :) Disparate, não ias nada dizer bacoradas! É verdade que as duas grafias da lí­ngua inglesa não a enfraquecem, mas acredita que a lí­ngua portuguesa tem a ganhar com uma unificação de grafias em todos os paí­ses que a falem. Dificilmente a escrita influenciará a oralidade, normalmente é o contrário que acontece. Manteremos os nossos sotaques especí­ficos, expressões e vocabulário próprio de cada região, mas, pelo menos quando escrevermos, escrevemos com uma mesma norma. Claro que também me faz confusão ter de mudar a maneira como escrevo desde que aprendi a escrever em 1986, mas, pronto, é a vida. É como as leis!… :)

            • Elsa says:

              A unificaçao de grafias é boa e tal e tal … mas porque fomos nós a mudar? Porque nao mudaram eles? Acaso a lingua nao partiu deste paí­s? A forma deles era melhor que a nossa? Isso é que ainda n me explicaram.

              Nao quero saber de acordo nenhum, vou fazer como a escritora Rita Ferro ” este texto nao segue as regras do novo acordo ortografico “, com os meus filhos posso respeitar porque vai ser assim que vao aprender, mas a mim ninguem me vai obrigar, na experiencia que tenho tido é que so serviu para fomentar a confusao.

              • Helena says:

                Bem, Elsa, como já expliquei no meu post anterior, vários acordos foram sendo feitos ao longo do século XX entre os dois paí­ses, porém Portugal foi ignorando sucessivamente os acordos o que acabou por criar um fosso maior entre as grafias dos dois paí­ses. Para além disso, neste novo acordo também os brasileiros fizeram alterações í  sua grafia. Quanto a esse orgulho que tanta gente parece ter na nossa actual grafia (e que todos ignoram que é apenas uma das múltiplas grafias que Portugal já teve ao longo dos séculos), há que ser razoável e compreender que pelo menos para quem desempenha profissões que envolvam a escrita, não se poderá continuar a ignorar o acordo, porque isso corresponderia a uma série de erros ortográficos.
                É estranho ler um post sobre a defesa da nossa ortografia sem acentos. Pensei que tivesse sido escrito num teclado estrangeiro, mas há dois “é” acentuados, um “nós” e um “paí­s” por isso fiquei confusa.Como se pode defender a ortografia se nem sequer se sabe escrever? Realmente o seu post não segue as regras do novo acordo ortográfico, nem do antigo…

                • Cris says:

                  Eu também dou razão í  Helena, a nossa lí­ngua evolui, não é uma coisa morta. Eu não defendo uma estagnação, o que eu não gosto é de passar a ser obrigada a fazer algo por decreto quando este “Acordo” não serviu os interesses de ninguém a não ser das editoras. A ní­vel empresarial toda a gente sabe que as nossas vão ser “comidas” pelas brasileiras agora que já não é preciso adaptar as traduções. Se calhar é bem feito para nós, mas representa mais uma machadada na economia portuguesa. Mais uma recessão, portanto…Eu por mim vou aproveitando para escrever “errado” até Janeiro.

  7. Elsa says:

    Cara Helena,

    Peço desculpa so agora comentar, mas nao passei por aqui antes.
    Nao vou voltar a falar no acordo ortografico porque nao é esse assunto que agora me faz escrever.
    Nao, nao escrevi de um teclado estrangeiro, escrevo ja aqui de Lisboa. Mas devo-lhe dizer que sei escrever as palavras sem erros, pode haver “n” coisas que nao sei, mas escrever palavras acho que ainda acerto, em qualquer documento de trabalho, oficial ou o que podemos chamar de ” importante ” garanto lhe que tenho o maior dos cuidados com acentos, erros, etc. Mas estamos a comentar um post num blog que se quer ligeiro, nos posts, num qualquer chat, tudo o que se queira rapido sem grandes formalidades, uso abreviaçoes, sem acentos a nao ser que seja mesmo muito importante para o entendimento, como é o caso do “é” que podia ser confundido com “e” ou ” paí­s ” com ” pais “.
    Foi de muito mau tom, o seu discurso, nao me conhece, nao faz ideia de como escrevo ou nao no dia-a dia, tambem nao gosto muito de ler um texto com “k” em todo lado principalmente quando nem para abreviar serve, mas nem foi esse o caso.
    Sugiro que de futuro seja menos agressiva nas palavras, principalmente dirigidas a uma pessoa que nao conhece, isso tambem faz parte da boa educaçao.

  8. Lina says:

    Este acordo é uma verdadeira jogada económica que apenas favorece o Brasil e as suas editoras. É inadmissí­vel Portugal permitir este insulto í  nossa cultura e í  nossa identidade. Alguma vez os espanhóis ou os franceses iam permitir um atentado destes por parte dos paí­ses de lí­ngua oficial espanhola ou francesa???!!!! NUNCA. O problema é que somos governados por gente fraca e pobre de espí­rito que não nos sabe representar nem argumentar com quem de direito. Não passam de iletrados que apenas estão no pelouro para apoiarem o favoritismo pessoal e garantirem reformas milionárias.

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