Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Quando era miúdo, passava pelo menos três meses por ano na praia, ficava quase preto e um dos momentos altos em qualquer dia desse tempo era a altura em que via uma bandeira verde pendente, sem se mexer, no topo do poste.
Honestamente, poucas desilusões da minha vida de adulto se comparam com os dias em que via uma bandeira vermelha no topo daquele improvisado mastro de pau.
Depois os anos foram passando e, sinceramente, a praia começou a perder o interesse. Tirando ali uns anos em que o topless foi moda e eu tinha 14/15 anos e as probabilidades de encontrar uma miúda gira da escola com as maminhas ao léu na praia eram elevadas, comecei a ir cada vez menos í praia até que pura e simplesmente deixei de ir.
Então desde que me casei, em 98 e até o Tiago nascer em 2007 devo ter ido í praia menos de 10 vezes. E mais: das vezes que fui, cheguei, fiquei cerca de uma hora e fui invadido de um tédio tal que tive que me ir embora.
Agora que tenho um filho, isso mudou. Ir í praia voltou a ser divertido e no fundo, voltou a reflectir o que eu sentia quando era miúdo. Agora vou para a praia fazer alguma coisa em vez de não fazer nada (eu sou muito mau a não fazer nada, embora esteja sempre a dizer que era o que gostava de fazer na vida). Correr, cavar buracos ou “pisar as ondas”, é tudo um grande gozo e – não sei porque reacção química solar-marítima – uma sandocha ou umas batatas fritas sabem 20 vezes melhor comidas na praia.
Mas há uma coisa que permanece mistério para mim na relação do nosso povo com a praia. Eu até entendo que seja bom torrar ao Sol e – para quem consegue – não fazer nada. Percebo ainda melhor que seja giro ir para a praia com amigos, jogar í bola ou conversar; sei perfeitamente que é divertido mandar uns mergulhos e dar umas voltas í beira mar. Mas ir para a praia quando está mau tempo ultrapassa-me completamente.
Hoje fomos. O Tiago estava com uma cabin fever a roçar o insuportável e depois de ter pronunciado “gatinha” pela 53ª vez seguida (eu contei), decidi que tinha que o tirar de casa.
Preparámos tudo, arranquei a pobre da minha mulher gravidíssima de casa, metemo-nos no carro e fomos para a Costa. Mas, como acontece com frequência, estava vento.
Deixem-me sublinhar: estava um vento do caralho.
Ainda fizemos um pequeno esforço por ficar porque o Tiago, como sempre, despiu-se todo e já corria alegremente para cima e para baixo. Cavei um buraco junto í água e ele, todo satisfeito, saltou lá para dentro, correu í volta, enfim, o normal.
Mas o vento estava castigador e não parava; estava realmente muito desagradável e a piorar. Poucos minutos depois de termos chegado, o Tiago começou a chorar a pedir-me colo, “pai, o vento magoa!”
Estávamos literalmente a ser chicoteados com areia seca, apesar de estarmos na zona molhada. Enfim, to cut a long story short, estava absurdo, um dia horrível para se estar na praia e portanto voltámos para casa.
E então afinal o que é que eu não percebo na relação dos Portugueses com a praia?
É a dedicação quase religiosa í coisa da malta que lá estava. E não era assim tão pouca como isso. Estavam lá, sentados, sobrolho franzido, mãos a segurar o chapéu a cabeça para não voar, alguns tapando a cara com a mão para evitar levar com areia na tromba.
Cheguei mesmo a ver uma família inteira enfiada debaixo de um daqueles chapéus de Sol com resguardo de vento; quatro, metidos ali, de joelhos dobrados ao peito. Para quê? Não estavam a apanhar Sol, a passear, nadar, ler, conversar… não estavam sequer a descansar. Na verdade, estavam a sofrer!
Mas porra, não ir í praia é que não!
E os que não estavam na praia estavam no Fórum Almada .
É assim o Domingo da maioria dos Tugas.
Outra coisa que não percebo são as raparigas (como a minha babe) que querem ir para a praia para ficar lá o tempo todo a assar ao sol… ficam de um lado, vira depois para o outro, tudo para ganhar uma cor. Ir í praia sozinho só com raparigas consegue tornar-se mega secante!
Dude, se ainda não percebeste a obsessão das mulheres em ficar com melhor aspecto então é melhor inscreveres-te já num curso; quanto mais depressa aceitares isso menos te chateias :)
Touché! :)
a vantagem de estar no algarve é que posso escolher muito bem os dias em que vou í praia. há dias bem frios ou ventosos que um gajo diz “eh pah, que bela merda de tempo” e passa í beira mar e está aquilo cheio de gente. acontece principalmente em agosto, quando há mais tugas por cá.
Gosto particularmente da tua última frase.
claro, nós somos mouros!
Man se és português e é verão e não vais pra praia não és normal e deves ter qualquer problema na cabeça ! E se não andas a tentar aproveitar todas as oportunidades de não trabalhar para fugir para a praia tambem és esquisito e coiso.
Bom, se calhar sou mesmo esquisito… e coiso.
Ir para a praia fazer nada é um absoluto castigo. Também gosto de praia em movimento. A jogar í bola e tal com bastante gente. Agora estar sentado na toalha, í espera de nada é letal.
@Arzebiu: A função de um gajo nessas alturas é ajudar a prender e desprender as alças do bikini! :D
Pois, é um trabalho duro mas alguém tem de o fazer… ;-P
Não há nenhum mistério. Eu também já fui í praia em dias ventosos quando era miúdo e lembro-me das secas que apanhei. O que a minha mãe me dizia é que tinha gasto uma pipa de massa nos bilhetes de autocarro para voltar para casa e que o Sol podia aparecer a qualquer momento. Se não aparecesse não fazia mal, porque ficávamos bronzeados na mesma. Esta era a explicação dela. O que é certo é que até hoje não ponho os meus pezinhos na areia em zona de ventania. Baleal, hasta la vista, baby!