Ná última noite, para nos despedirmos de 6th Street, parámos numa barraca de hot dogs, algo que a ASAE nunca permitira, certamente. Creio que escolhemos todos um jalapeí±o hot dog com sauerkraut, cebola e mostarda e foi aquilo a que normalmente se chama “epic win”.
Alguém por aí ainda se lembra que ia comprar uma casa nova?
Pois é.
Já não aguento ouvir mais pessoas dizer-me que “ah isso agora é muito rápido!”. Ao que parece, os velhos 4 meses que se esperava desde que se decidia comprar uma casa até se ter a chave são coisa do passado, hoje em dia, em menos de um mês a casa é nossa.
Quando ouvi estas histórias vindas de vários lados disse í Dee: vais ver que connosco vai levar 4 meses na mesma.
No dia 6 de Janeiro fizemos a reserva da casa e no dia 22 de Março ainda não a temos. Felizmente não demos sinal, pelo que não estou preocupado com o lado financeiro da coisa, mas este atraso significativo já deitou por terra os vários planos que tínhamos feito em relação í casa, í s obras e ao nascimento da nossa filha em Julho.
O que se passa é que a fantástica e famosa Justiça Portuguesa foi metida ao barulho. No nosso caso, não é vida ou morte, é uma questão de esperar e pronto… imagino como será a vida das pessoas que têm a sua “sobrevivência” nas mãos da nossa Justiça.
A casa estava penhorada e, embora o actual proprietário devesse ter resolvido o problema antes de por a casa a venda, a verdade é que só foi tratar do assunto depois de nos termos disposto a comprá-la.
Já temos um recibo que comprova que ele de facto pagou a dívida, mas é necessária uma certidão do Tribunal para fazer os registos e proceder í escritura. Ora, a certidão foi pedida em Janeiro e nunca mais chega.
Ao que parece, alguém que o proprietário conhece e que trabalha no Tribunal foi investigar e percebeu que “o papel”, não estava no sítio certo. Só esta parte já me deixa completamente estupefacto. Ao que parece, o papel andava perdido e sem uma cunha dentro do Tribunal, perdido continuaria.
Essa tal pessoa terá colocado o papel na secretária da Juíza.
A Juíza foi duas semanas de férias, pelo que o papel ficou por assinar.
Entretanto, o papel lá foi assinado, suponho que a muito custo, pela Senhora Doutora Juíza – compreendo que tenha mais trabalho para fazer, o que não compreendo é porque é que estas coisas se processam desta forma absolutamente arcaica.
Então o ainda proprietário da nossa nova casa foi buscar o papel.
Mas não podia. O papel tem que ser levantado pelo advogado do senhor.
Então o advogado foi lá levantar o papel.
Mas não podia! O advogado tem que ir para o seu escritório, sentar-se e esperar até ser notificado pelo Tribunal para ir levantar o papel.
E o papel está lá, passado e assinado, í espera de ser levantado. E passaram-se já quase três meses desde que reservámos a casa.
As pessoas envolvidas neste processo não querem saber. Não é a vida deles, não lhes interessa. Continuamos a viver no país do Espera Porco.
Quando fizeste três anos, o teu pai estava em Austin, Texas, a participar no South by Southwest Interactive de 2010. Antes de partir, combinámos uma festa de aniversário com a família toda, bolo, prendas e etc mas infelizmente isso não me fez sentir particularmente melhor por não estar cá no teu dia de anos “a sério”.
Estas coisas de fazer anos podem não significar nada de especial e ser quando um homem quiser, como o natal, mas a verdade é que acabam por ter o significado que lhes damos e é inegável que me custou um bocado não estar presente nesse dia em particular.
De resto, o que dizer de ti, agora com três anos?
Acho que a minha memória de como costumavas ser está a esfumar-se um pouco e portanto custa-me imaginar uma altura em que não eras como és agora, o que é estranho, porque ainda há pouco tempo eras completamente diferente.
Agora parece-me completamente natural que contes como a roda do Lightning McQueen rebentou e ele precisou que o Guido lhe montasse uma nova, do teu filme favorito do momento, o “Cars”, enquanto que há uns meses me contorcia para que dissesses as tuas primeiras palavras.
Acho normal que subas para um banco e me tires um café na máquina Nespresso e que corras desvairadamente pela casa, quando há apenas dois anos atrás desesperava porque nunca mais começavas a andar.
Já nem penso duas vezes quando vais satisfeitíssimo para a escola, com um dos teus brinquedos preferidos na mão (geralmente um Lightning McQueen), ou quando í noite me contas que a Inês agarrou o bebé (o teu urso de peluche inseparável), quando há ano e meio estava preocupadíssimo que não te adaptasses í creche.
Birras? Sem dúvida. Ainda ontem… fomos jantar com os teus avós e fizeste uma berraria incompreensível porque não querias lá estar… até te passar, claro; duas horas depois foi berraria porque não querias voltar para casa.
Mas as tuas birras são normais, não são nem mais nem menos do que esperávamos e não são o fim do mundo – pelo menos tento convencer-me que durante os próximos dois ou três anos vão acabar.
E como os teus pais não estavam bem contigo a crescer, a ficar mais independente, a precisar de menos atenção e vigilância constante, a tua mãe está grávida de cinco meses. Por agora as tuas reacções ao facto são de quase indiferença, tirando o ocasional mimo na barriga ou a ocasional necessidade de reafirmação de que o “Tiago é bebé”, portanto vamos ver como, daqui a quatro meses, dás as boas vindas í tua irmã…
A manhã do último dia acabou por não ser particularmente produtiva por razões óbvias (ver noite do dia anterior), mas í tarde ainda assisti a duas sessões muito boas.
Primeiro, “Interactive Infographics” com Ben Fry, Casey Caplowe, Eric Rodenbeck e Shan Carter que falaram de data visualization e de como métodos gráficos simples podem ajudar a fazer sentido das toneladas de dados que é possível obter hoje em dia das mais diversas fontes.
Um bom método de exposição gráfica pode transformar uma tabela aborrecidíssima que apenas interessa a analistas num site interactivo de interesse para o grande público e qualquer um dos quatro oradores tinha não só muito para dizer sobre o assunto como bastantes exemplos fantásticos para mostrar.
Esta foi a última talk prática a que assisti e uma das que, juntamente com a do Chris Messina e a do Andy Baio tiveram impacto directo nos nossos planos futuros para o Pond.
Finalmente, tive o privilégio de assistir í palestra do Bruce Sterling, autor de Ficção Científica, um dos fundadores do cyberpunk e como ele próprio se intitula, futurista.
O discurso do Sterling foi mais um (de vários), pontos altos do SXSW e é praticamente impossível de transmitir a terceiros. É o que se chama um momento “you had to be there”. Não foi só a mensagem, mas também a forma que fez a diferença.
Gostaria de tentar passar a mensagem que ele deixou, mas honestamente, creio que seria incapaz de a fazer passar correctamente e acabaria por apenas levar a mal entendidos. Mas lembro-me de ter pensado nesta ideia, no fim: como teria sido se a internet existisse nos anos 20 do século passado, com todas as redes sociais, Facebooks, Flickrs e companhia, com toda a descontracção que temos em relação í privacidade, muito numa de “depois pensa-se nisso”? Isto, claro, lembrando que nos anos 30 e 40, o fascismo subiu ao poder na Europa.
Bruce Sterling não falou disto. Isto foi o que eu pensei depois de o ouvir falar, se é que me faço entender.
Foi um final brilhante para um evento brilhante com dezenas de milhares de pessoas, dezenas de palestras interessantes e uma organização quase irrepreensível.
O que faltou? Eventualmente um site melhor, uma rede wireless mais estável (nas salas com mais gente a coisa sofria) e um repositório de materiais das conferências teria sido interessante – vídeos, slideshows, etc.
Depois de sairmos do Austin Convention Center fomos ao Downtown Burger, uma casota de hamburgers logo ali ao lado, que tínhamos topado logo no primeiro dia e que não queríamos deixar de experimentar.
Valeu a pena. Os hamburgers eram excelentes como, aliás, toda a comida que comemos em Austin e ainda conhecemos uma violoncelista de quem infelizmente me esqueci o nome, já ali para participar no SXSW Music Festival, um festival í vontade 10 vezes maior que o Interactive.
Na última noite, o clima era completamente diferente na 6th Street. As coisas estavam bastante menos movimentadas e os bares menos cheios, além de que notámos claramente que a fauna tinha mudado visivelmente de montes de geeks com t-shirts de websites ou personagens de BD para tipos vestidos de cabedal com metade da cabeça rapada e piercings na cara toda.
Ainda jogámos umas mesas de pool no Buffalo para despedida e comemos um hot dog verdadeiramente épico, com salsicha de jalapeí±os fumada, mostarda, sauerkraut e cebola.
Resumamos.
Austin é uma cidade meio feiosa e acho que até estou a ser simpático. O centro é populado por hotéis, prédios de escritórios e parques de estacionamento com vários andares.
Não fomos para passear, portanto os dias foram passados em salas de conferência no Austin Convention Center e no Hilton, mesmo ali ao lado e por isso não vimos a cidade a fundo, mas por onde passámos, vimos sempre o mesmo ambiente urbano sem graça e notámos uma ausência quase total de lojas. Não sei onde estão as lojas… mas eu não vi nenhuma. Das duas uma, ou há uma parte da cidade que não vimos e que está super-populada de comércio, ou os habitantes de Austin sempre que precisam de comprar alguma coisa, metem-se no carro e vão ao mall.
O Conference Center é gigantesco e tem algumas salas que devem levar mais de mil pessoas, parece-me. Está bem organizado e sinalizado e quanto muito faltava-lhe uns sofás espalhados pelos corredores, já que haviam algumas mesas com cadeiras, mas poucas e muita gente sentada no chão pelos cantos, enquanto esperavam pela próxima sessão.
O tempo esteve bom, com Sol e temperaturas a chegar aos 26 graus, tirando dois dias em que choveu e esteve mais frio, mas deu para perceber que no Verão, o Sol deve ser implacável. O terreno é completamente plano e acho que só não se vê Dallas ou Houston dali por uma questão de distância.
O fulcro da vida de Austin parece ser mesmo a música. Intitulam-se “The Live Music Capital of the World”, sendo que, para os americanos, qualquer coisa que seja representativa de algo no país deles é imediatamente “capital do mundo” e mesmo dando algum desconto, o facto é que em Austin há música ao vivo por todo o lado.
Começa no aeroporto em que até uma pequena gift shop tem um palco montado e concretiza-se sobretudo na baixa da cidade em que praticamente todos os bares têm uma banda a tocar quase todas as noites da semana.
A música que se ouve é sobretudo rock, pop e blues e não, como já me têm perguntado, country. Esta música ao vivo nos bares também não é apenas um gajo com uma guitarrinha, são mesmo bandas inteiras, com guitarra, baixo, bateria e voz e nem é preciso entrar para as ouvir, já que muitas tocam í janela do bar e é possível ouvir na rua.
Outro dos pontos fortes é a comida. Já quando tinha estado em New York tinha percebido que os americanos percebem de comida e que o que recebemos cá, as cadeias de fast food, é apenas uma parte do todo.
Em downtown Austin não há cadeias de fast food. Não há McDonald’s, Wendy’s ou Burger King, há apenas os bares, restaurantes e barracas de hamburgers, pizza, sandwiches, hot dogs, bbq e tex mex. Praticamente tudo o que comemos era picante, mesmo que algumas coisas o fossem muito pouco e era tudo bom.
Só comemos algo menos interessante quando fomos ao mall em Barton Creek, em downtown era tudo bom. Os hambugers no Cedar Door, Dowtown Burger ou Casino El Camino, estes últimos tão grandes que mal os conseguíamos morder. A pizza de pepperoni com jalapeí±os do Ropollo ou os burritos, tacos e fajitas do El Arroyo, era tudo fantástico.
Ficou a faltar jantar no Stubb’s ou Iron Works, para comer um bifão texano; ainda tentámos ir ao Stubb’s, mas estava cheio í s nove da noite e já não aceitavam mais clientes. Foi uma pena, porque a carne dos hamburgers era estupenda e imagino que um bom prime rib-eye ou um t-bone feitos no fogo sejam de chorar por mais.
Concluo então que Austin é uma excelente cidade para ir a bares, ouvir música e comer bem (cheguei a mencionar os dogs do Frank?), muitos dos bares, aliás, combinam comida, bebida e música nas proporções certas, ou seja: muito de todos. Não me parece um bom destino turístico “só para passear” e certamente não para fazer compras; aliás, encontrar recuerdos para trazer para Portugal foi uma tarefa infrutífera, a menos que quisesse trazer merchandising da equipa local de futebol americano, os Longhorns, que são omnipresentes.
E quanto ao SXSW Interactive? Muito bom. Bem organizado, muito interessante, muito informal e descontraído, cheio de gente e com uma concentração de Macs e iPhones assustadora. Nem todas as apresentações eram interessantes e acaba por ser um bocado uma questão de sorte acertar nas realmente boas. Acho que tive essa sorte e quase todas a que assisti valeram bastante a pena.
Se têm andado a pensar ir e tiverem orçamento para isso, aconselho vivamente.
Ná última noite, para nos despedirmos de 6th Street, parámos numa barraca de hot dogs, algo que a ASAE nunca permitira, certamente. Creio que escolhemos todos um jalapeí±o hot dog com sauerkraut, cebola e mostarda e foi aquilo a que normalmente se chama “epic win”.
Alguém por aí ainda se lembra que ia comprar uma casa nova? Pois é. Já não aguento ouvir mais pessoas dizer-me que “ah isso agora é muito rápido!”. Ao que parece, os velhos 4 meses que se esperava desde que se decidia comprar uma casa até se ter a chave são coisa do passado, hoje […]
Quando fizeste três anos, o teu pai estava em Austin, Texas, a participar no South by Southwest Interactive de 2010. Antes de partir, combinámos uma festa de aniversário com a família toda, bolo, prendas e etc mas infelizmente isso não me fez sentir particularmente melhor por não estar cá no teu dia de anos “a […]
A manhã do último dia acabou por não ser particularmente produtiva por razões óbvias (ver noite do dia anterior), mas í tarde ainda assisti a duas sessões muito boas. Primeiro, “Interactive Infographics” com Ben Fry, Casey Caplowe, Eric Rodenbeck e Shan Carter que falaram de data visualization e de como métodos gráficos simples podem ajudar […]