Algumas coisas importantes sobre paternidade

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

O meu filho aproxima-se dos dois anos. Está na altura de começar a legar a futuros pais o conhecimento que tenho adquirido. Para bem (ou mal, não sei bem), da comunidade, aqui vão algumas pérolas para crianças até 2 anos:

1 – Quando pensamos que começámos a entender o nosso filho, ele muda; í s vezes, radicalmente. Ele pode parecer estar a alimentar-se bem, ou a dormir perfeitamente ou a gostar do banho. Nada disto é permanente: para a semana recusa-se a comer, acorda cinco vezes durante a noite e manda-te tomar banho a ti.

2 – A casa de banho é um santuário. A sério: durante os primeiros tempos, as vossas idas í  casa de banho vão parecer pequenas férias de luxo. Ali estarão, sentados numa bela poltrona, com um bom livro na mão ou o vosso puzzle favorito. Aconselho a que ponham água a correr no bidé, parece mesmo que estão numa cachoeira no Mato Grosso.

3 – “Tempo livre” torna-se um conceito complexo de compreender. Quase tão impossí­vel de perceber como será para os vossos amigos sem filhos entender porque vos apetece bater-lhes quando vos convidam para grandes parties até í s 2 da manhã.

4 – No iní­cio, não saberão fazer nada, serão toscos e mal-adaptados, incapazes de lidar com o mundo e de fazer seja o que for sem ajuda. E os vossos filhos também.

5 – Existe uma enorme probabilidade que deixem completamente de achar piada a graçolas sobre crianças, sobretudo se envolverem violência. Vão tentar lembrar-se de quando não tinham filhos e como podiam achar piada a anedotas de criancinhas sem braços ou que levaram com um frigorí­fico na cabeça, mas depois de serem pais, poderão rir-se para benefí­cio dos vossos amigos, mas lá no fundo estarão a pensar se a criancinha terá recuperado e como podem prender o vosso frigorí­fico í  parede, porque nunca se sabe.

6 – Se são gajos durões, comecem a preparar estratégias de explicar porque estão a chorar no fim do Wall-E. A sério, uma ou duas boas desculpas servem.

7 – Preparem-se para se sentirem mais jovens e mais velhos, tudo ao mesmo tempo. E para se portarem de formas ainda mais infantis que os vossos filhos. Finalmente, vão ter carta branca para serem putos. Se não se comportarem de forma infantil e ridí­cula para a vossa idade, estão a fazer qualquer coisa mal. A sério: gatinhar não estraga os joelhos, rebolar não chão não magoa as costas e fazer caretas não afecta a vossa posição social.

8 – Preparem-se para se tornarem mestres em ignorar ruí­dos de alto volume. Nomeadamente: berros, gritos, guinchos e choros. Há algo de verdadeiramente zen em conseguirmos sentar-nos calmamente a ler uma revista enquanto um puto de ano e meio se atira para o chão, bate com a cabeça nos móveis e grita como se o estivessem a levar para uma sessão de waterboarding presidida pelo próprio Dick Cheney. E o mais engraçado é que, na maioria das vezes, nem se percebe o que eles querem.

9 – Podem tentar, mas o mais certo é que, até aos dois anos, ele não jogue Playstation, não ligue nenhuma ao Star Wars e não compreenda o conceito de Co-Op Multiplayer em TeamFortress. Isso não deve ser impedimento de tentar.

10 – Nos piores dias de todos, quando já consideraram muito seriamente em atirar a famí­lia toda da janela (incluindo e provavelmente começando por vós próprios), os putos conseguem fazer uma coisa que mais ninguém na vossa vida consegue quando estão mesmo, mesmo, lixados: resolver tudo com um sorriso. Plim.

Se isto não funciona para vocês, façam o favor ao mundo e aos vossos futuros filhos… vão já í  farmácia comprar contraceptivos.

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12 comentários a “Algumas coisas importantes sobre paternidade”

  1. Brilhante! Ai como eu te percebo :-) Agora estou numa fase má, quando o meu filho já se andava a portar bem no carro e já dormia noites de 7 e 8 horas seguidas…eis que ele se lembra que afinal andar no carro é uma chatice (e berra até í  exaustão) e que a noite é para curtir de 2 em 2 horas…

    O que vale é que o sorriso do miúdo é lindo demais…e mesmo que não fosse, o meu coração ia sempre derreter-se

  2. Carla says:

    O meu filho antes dos dois anos já gostava (e gosta) de star wars, tudo por causa do irmão de seis anos, claro. O Yoda (Yoyo) é o preferido, mas no you tube (star wars lego) adora o Feet (Fé). Agora começou a explorar o Indiana Jones…

    De resto concordo na totalidade com o post.

  3. Bruno Figueiredo says:

    Hey, isto era para mim? Eh eh.

  4. Felix says:

    Vou ter gemeos..(glup…)

  5. artur says:

    Estás mesmo a ficar velho, meu filho… velho, no sentido de maduro, claro… Sabes que te invejo? Quando tu nasceste, eu tinha 20 anos e toda a imaturidade do mundo, portanto, não me apercebi de nada disto, nem tão pouco me questionei sobre esta grande missão que é ser pai. A experiência de cada um é única, mas todos temos isto em comum: o sorriso dos putos. Snif… snif…

  6. Dina says:

    Ah, que doces memórias… Cá em casa já são mesmo muito distantes, porque as últimas perguntas incluem temas do género “o que é que o Einstein queria explicar com a Teoria da Ratidade” e ” O Leonardo DaVinci era mesmo o homem mais inteligente do mundo, mesmo mais do que o Stephen Hawking, não era?”. E esta pobre mãe fica a olhar, antes de ir a correr para a Net fazer mais uma pesquisa desesperada… Ah – e mais duas razões porque é tão bom ser pai ou mãe:
    – passamos a ter uma óptima desculpa para ir ver todos, todinhos aqueles filmes da Disney que só dá jeito ver se devidamente acompanhados por uma criança tão entusiasmada quanto nós próprios, e
    – descobrimos que as nossas papilas gustativas são, afinal de contas, tremendamente adaptáveis, até í queles sabores intrigantes tipo bróculos, beterraba e assim…

  7. Isto faz-me pensar que não tenho vocação nenhuma para ser pai, estou tramado.

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