De banquinha montada e toca a aviar
Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Há uns anos valentes atrás, apareceu por aí uma coisa chamada IPO. É uma sigla que significa Inspecção Periódica Obrigatória. (no meu tempo usava-se a palavra sigla, agora diz-se acrónimo, mas não faz mal porque é a mesmíssima coisa) (pronto, pronto).
Os Portugueses gostam de inspecções. Lembro-me de andar na escola primária e de existir essa figura mítica, muito mais temida que a Directora da escola: o Inspector!
O inspector não estava na escola, mas podia aparecer a qualquer momento e… sei lá, inspeccionar! Sussurrava-se no recreio que o inspector tinha muito mais poderes que qualquer professora, mas nunca ninguém tinha visto um.
Mas tenhamos calma. A inspecção de veículos foi criada com muito boas intenções: andava por aí cada cangalho que mais pareciam caixões com rodas e havia que verificar um conjunto básico de funcionalidades dos veículos, obrigando os seus donos a mantê-los num estado minimamente aceitável.
O principal era a segurança e parece-me que foi uma boa iniciativa; aliás, já se praticava em vários outros países europeus, como é habitual em quase tudo o que por cá se adopta.
Lembro-me da primeira vez que levei um carro a uma IPO: foi o Fiat Punto azul do meu pai que tinha um problema chato no travão de mão, o que me deixou um pouco nervoso. Naquela altura, mandaram-me ligar as luzes, travar, virar as rodas, pí´r o travão de mão (que não me deixou ficar mal) e mediram as emissões do escape do carro.
Trigo limpo, farinha amparo. O carro passou e eu senti que tinha cumprido a missão: a estrada não estava ameaçada por maus travões, luzes maradas ou direcção desalinhada do Fiat Punto.
Saltemos para 2008 e para o meu Mercedes preto. Levado í inspecção na passada sexta-feira, foi chumbado. Luzes fundidas? Travão insuficiente? Escape poluidor?
Não, nada disto.
A janela de trás do lado do condutor, não abre.
Isso mesmo: a janela de trás, que eu nunca abri e nunca tive necessidade de abrir, está avariada. Eu sei que está avariada, porque está avariada desde que comprei o carro. Nunca funcionou e o carro sempre passou nas inspecções.
Mas este ano, esse perigo para a segurança rodoviária que é a minha janela traseira não passará!
O que é que há de errado neste filme? Para onde vai o dinheiro das inspecções? Não sei, mas gostava de saber, porque parece-me matemática simples que duas inspecções, pagas, rendem mais do que apenas uma.
O carro anda, trava, as luzes funcionam, o escape não polui mais do que é aceitável para aquele tipo de veículo… não é o que importa? Ao que parece, não. Quando mencionei o assunto no Twitter, choveram exemplos de pessoas: a porta não tem puxador por fora, o ajuste eléctrico do retrovisor não funciona (embora possa ajustá-lo manualmente), buracos em bancos, etc.
As regras que se encontram online dizem coisas como: “Quadro e Cabine – Realiza-se um exame ao exterior e ao interior do veículo com vista í detecção de pontos de corrosão, deformações, anomalias dos bancos e outros defeitos.”
“E outros defeitos”? Ou seja: o que me der na gana? Janelas que não abrem, por exemplo… tapetes rotos? Manípulos coçados? Tejadilhos com bolor? Tenham dó!
E a quantidade de chaços que parecem prontos a desmoronar-se que continuam a circular por aí? Cheira-me que o velho untar de mãos também é eficaz em resolver problemas de inspecção de veículos, é o que me parece.
Em suma, cheira-me a negócio e do proveitoso!