Durante muitos anos senti-me algo excluído: sempre fui um dos poucos que nunca partiu a cabeça.
Todos os miúdos contavam as suas histórias sobre partir a cabeça: fiz isto e aquilo e parti a cabeça, caí da bicicleta e parti a cabeça, já parti a cabeça três vezes.
E eu espantadíssimo… porra, é que a cabeça é rija! E como se não bastasse, uma fractura no crâneo não é uma brincadeira, lá está, de crianças. O que andavam a fazer todos estes putos para rachar a moleira a torto e a direito?
Depois de crescer, deixaram de ser as crianças com as histórias de cabeças partidas e passaram a ser os adultos: uns que contavam as suas próprias histórias e outros que falavam dos filhos: O Vicentinho lá partiu a cabeça, a Maria partiu a cabeça outra vez, aquela miúda põe-me doida!
Evidentemente, o ingénuo era eu. E fui-o durante muitos anos e só ao presenciar uma cabeça partida, há uns tempos atrás, me apercebi da verdade.
Pumba, lá foi o puto, de testa ao chão! “Já partiste a cabeça, Cristiano!”, exclamou o papá.
Era, como é evidente, um arranhão, uma ferida. Por vezes um lanho, quem sabe necessitando de alguns pontos, mas nunca, como é evidente, uma cabeça partida. Aprendi então, recentemente, que em Portugal, qualquer ferida ou golpe no corpo é… uma ferida ou um corte; mas na cabeça é uma fractura.
E assim sendo, com a cicatriz na sobrancelha para o provar e tudo… EU Jí PARTI A CABEí‡A!
Na passada sexta-feira, foi lançado na Europa um dos jogos mais antecipados dos últimos cinco anos: a nova criação de Will Wright, o “inventor” do Sim City e Sims. Chama-se Spore.
Anunciado há anos, o jogo tem todos os ingredientes típicos dos jogos de Wright com um tempero extra: praticamente tudo pode ser criado pelos jogadores e depois partilhado online.
Começamos como uma célula que, viajando num meteoro, aterra num novo planeta onde irá evoluir. A cada estágio de evolução, podemos remodelar o corpo da nossa criatura e acrescentar-lhe membros e orgãos para a tornar mais eficaz no papel que queiramos que desempenhe.
A evolução da célula vai ao extremo: da poça de água para a terra, de selvagem a social, de primitivo a explorador espacial. O jogo tem tudo para ser mais um estrondoso sucesso como SimCity e The Sims atrás de si.
Excepto um pormenor chamado DRM.
A editora e distribuidora do jogo, a nefasta, “aqui não há sangue”, Electronic Arts decidiu equipar o jogo com SecuROM, uma forma de Digital Rights Management particularmente castigadora, tratando, mais uma vez, os seus clientes como criminosos.
Pelo que tenho lido, o DRM impede a instalação em mais do que três PCs, sendo que qualquer mudança de hardware num PC conta como um novo PC, requerendo re-activação do jogo. Tendo em conta a velocidade com que alguns gamers trocam de placa gráfica hoje em dia, esta limitação torna a vida útil do jogo muito curta.
Como se não bastasse o DRM é praticamente inútil, porque o jogo já estava disponível em torresmos 4 dias antes do lançamento, com a única desvantagem de não se ter acesso í componente online.
Por causa desta “protecção” instalada pela EA, centenas de pessoas estão a ir í Amazon dar uma estrela ao jogo. Na altura em que escrevo isto, já ia em 1227 votos, sempre acompanhados de um comentário do género: “o jogo é óptimo, o DRM é péssimo”.
Pesquisando pela net, não consegui encontrar nenhum movimento concertado de boicote ao DRM do Spore que motivasse tantas centenas de pessoas a dar-se ao trabalho de ir í Amazon deixar o seu protesto. Será possível que este seja um movimento de massas espontâneo?
Será que é desta que as editoras apanham a dica de que o DRM é mau?
Enquanto espero para ver, vou ver como está a desenvolver-se a minha aldeiazinha de 12 habitantes…
Após as convenções de ambos os partidos – Democrata e Republicano – as sondagens recolhidas pelo Real Clear Politics apresenta uma média em que John McCain e a sua nova candidata a vice-Presidente, a fanática religiosa Sarah Palin, vão í frente de Barack Obama nas intenções de voto para as próximas eleições presidenciais no país que dita o nosso custo de vida.
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