In da House
Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Depois de ter visto o primeiro episódio da quinta season de House, M.D., li o post da Isa sobre o assunto e fiquei surpreendido.
Algo é absolutamente inegável: a qualidade das produções americanas de TV subiu grandemente nos últimos dez anos e teve um pico extraordinário nos últimos quatro ou cinco. Mais do que gerar boas séries de televisão e novas razões para estar em frente í TV que já desiludia muita gente, esta “onda” criou algo mais especial ainda: paixões.
As pessoas tornaram-se fanáticas de certas séries e criaram enormes expectativas em torno das mesmas.
Por exemplo: eu já sei como decorre uma season do 24. Uma ameaça terrorista enorme, um Jack Bauer renegado, um agente infiltrado no CTU, um Jack Bauer quase morto, a primeira ameaça resolvida apenas para revelar outra, muito mais grave, um Jack Bauer herói.
Nada disso tem qualquer impacto na enorme expectativa que sinto com cada nova season desta excelente série. E já lá vão seis seasons, com a sétima a começar no próximo dia 23 de Novembro.
Outras pessoas sentem isto em relação a outras séries e perdoam-lhes todas as óbvias falhas, repetitividade ou falta de soluções que acabam por surgir. Há quem nunca tenha reparado que o Lost podia ser a season 1, seguida da 4 que não se perdia nada. Há quem continue a seguir o Prison Break, apesar de apenas a primeira season ser verdadeiramente boa e por aí fora.
House, M.D. é uma das minhas séries de eleição e isso tem muito a ver com o personagem principal e Hugh Laurie, o actor que o interpreta. Um comediante britânico especializado em fazer figura de pateta (vide outra grande série: “Black Adder”), tornou-se um dos piores, mais frios e reles médicos jamais representados em TV.
E é precisamente por isso que não senti o mesmo que a Isa quando vi o primeiro episódio da quinta série. Porque Greg House é um traste que nunca desceu tão baixo como nesta rentrée.
Passamos o tempo a ver House, esperando que algo nele muda. Todos os personagens secundários estão lá para isso mesmo: uns tentam mudá-lo, outros tentam fazer ver os primeiros que isso é impossível, uns tentam lutar para que nunca se tornem como ele e finalmente, alguns esforçam-se por aceitá-lo com a esperança de que algo, um dia, o faça mudar.
A certa altura deste episódio, House apercebe-se que a paciente tem um feto em desenvolvimento fora do útero, usando o intestino como incubadora e diz para a Thirteen: “Yank the foetus. If she survives the surgery, she’ll be fine.” e, sem sequer olhar para a doente, passa-lhe uma caixa de kleenex.
Este médico não poderia trabalhar na “ER”, nem ser colega dos top models de “Grey’s Anatomy”. Gregory House é vil, egoísta e mesquinho. É manipulador e intersseiro. Mas é também o gajo que de repente, no meio de todos os jogos mentais e chantagens emocionais tem a ideia peregrina que salva o doente. É o único capaz de juntar todas as peças do puzzle de usar a intuição vinda de uma memória semi-esquecida de uma observação feita pelo canto do olho que lhe dá uma resposta para o problema.
E é esse equilibrio entre uma vilania que não suportariamos a outro ser humano e um brilhantismo capaz de resolver os casos mais bizarros da história da medicina (que por acaso aterram todos em NJ), que faz desta série uma das minhas favoritas de sempre.