Este fim de semana, fui ao cinema. Saí de lá insatisfeito com o filme, por diversas razões, muitas das quais tiveram a ver com o próprio filme: a história, personagens a mais, montagem bizarra, ritmo confuso, enfim, tudo coisas que outras pessoas usam para tecer gigantescos encómios a esse mesmo filme.
Mas um dos factores que contribuiu para a minha desilusão foi o cinema.
Houve uma altura em que ir ao cinema era absorvente. Foi um período de tempo em que eu tinha a idade certa, havia salas boas, o surround estava acabado de lançar, os filmes deixaram de ter intervalos e poucas pessoas tinham telemóvel.
Depois as coisas começaram a piorar e hoje em dia, sinceramente, já me é difícil decidir entre ir ao cinema ou fechar as cortinas em casa e ver um blu-ray na minha televisão.
Hoje em dia ir a uma sala de cinema não é uma experiência cinéfila, é um exercício de abstracção. Para nos concentrarmos num filme e nos sentirmos imersos na sua fantasia somos obrigados a ignorar casais em amena cavaqueira, jovens a mascar as suas pipocas e sorver as suas pepsis, pessoas com vidas sociais intensíssimas atendendo chamadas telefónicas, luzinhas e painéis LCD brilhando no escuro a toda a hora e… intervalos.
Para ver o Dark Knight precisei de ignorar o gajo na ponta da fila que não parou de sussurrar para a namorada, o filme inteiro, a fila de comedores de pipocas atrás de mim e a luzinha intermitente do Sony Ericsson da adolescente sentada ao meu lado.
Durante uma parte significativa do filme, assisti í s cenas olhando em frente, depois dava com um flash qualquer no meu campo de visão, obrigando-me a virar a cabeça para ver o que era. Depois voltava a olhar para o écrã. Alguns segundos depois lá estava o flash outra vez e a minha cabeça, involuntariamente a virar-se na sua direcção.
Ao que parece, a rapariga era incapaz de ver o filme sem o seu telemóvel na mão.
“Vim ao cinema para ver um filme e não para ouvir dois anormais conversar”, disse uma vez a minha mulher a um casal na fila atrás da nossa; “importam-se de não falar?”, perguntou a mulher do Gus quando fomos ver o Iron Man e o já clássico “CALEM-SE CARALHO!”, que tive que gritar uma vez para um grupo de adolescentes quando a minha raiva já se tornava ardente.
Tudo isto e a re-introdução do malfadado intervalo que mata completamente a acção de um filme e nos obriga a sair da história para ver uns anúncios e comprar umas sevenups tornam, para mim, cada vez menos compensadora a experiência de ir ao cinema.
Depois admirem-se quando tiverem cada vez mais salas vazias.
Depois de meses de espera fui finalmente ver o novo filme baseado no super-herói da Detective Comics, Batman. O filme, The Dark Knight, é o segundo realizado por Christopher Nolan com Christian Bale no papel do vigilante de Gotham City e vinha carregado de hype. Como é habitual, nestas circunstâncias, fiquei desiludido.
Quando o hype acabou e o filme estreou nas salas, as coisas continuavam a parecer muito animadoras: as críticas eram esfusiantes, o record de estrelas no IMDB foi batido e o filme senta-se no trono do “melhor de sempre“, com 9.3 estrelas de um total possível de dez. De notar que não ponho grande valor neste tipo de tops e charts, afinal de contas, mas esta é votada pelo público e demonstra, no mínimo, uma grande unanimidade em torno desta nova aventura do Batman.
Nada como um actor morto para vender bilhetes
Pouco depois de sair da sala percebi exactamente porque é que o filme não me satisfez: por um lado, não me senti com 15 anos, torcendo pelo super-herói, na beira da cadeira e por outro, não me senti com 35 anos, sentado a ver um bom filme em que me conseguisse imergir.
Sejamos claros: gostei do filme. Mas gostei bastante mais do Batman Begins.
Poderão seguir-se spoilers.
The Dark Knight parece contado aos solavancos. A história não flui bem, parece que há sempre algo que a prende e depois a solta abruptamente, fazendo-a tropeçar sobre si própria. Creio que o personagem de Harvey Dent está a mais ou demais.
Ou o tiravam do filme e se concentravam na luta entre o Batman e o Joker (“you won’t kill me because you’re too good and I won’t kill you because your too much fun!”), ou pelo menos apagavam-no um pouco: o seu carácter incorruptível, mais do que uma metáfora de um certo tipo de homem, torna-o uma caricatura desse mesmo tipo.
Este é um filme que falhou o seu alvo. O alvo era a luta entre o bem e o mal, entre o Batman e o Joker, que começa a esbater-se; era o tema da loucura que leva cidadãos comuns disparar sobre um outro porque lhes é lançado um repto por um louco, na TV. Este filme poderia ter mostrado um Batman como o de Frank Miller: farto, cansado, dorido levado ao extremo, preparado para matar o seu inimigo, levando-o í vitória.
Perderam-se.
E perderam o melhor Joker de sempre, que poderia ter desempenhado esse papel, nesse hipotético filme, tornando-o na obra assombrosa que toda a gente diz que o Dark Knight é.
Tem-se discutido se Heath Ledger foi melhor Joker que Jack Nicholson, mas essa discussão nem faz sentido. Ela só existe, creio, porque toda a gente tem medo de desrespeitar Nicholson. Mas eu não tenho razões para isso e posso-vos dizer que sim, Heath Ledger é obviamente o melhor Joker de sempre.
E nem sequer é por falha de Nicholson. São filmes diferentes, visões diferentes, oportunidades diferentes. O Joker de Ledger faz a melhor cena do filme, quando o louco criminoso se evade num carro da polícia, abanando a cabeça, de cabelo ao vento.
Aliás, o Joker é provavelmente o único personagem que surge no filme na quantidade certa. Se assim é e se Harvey Dent está a mais, então o próprio Batman está a menos.
Bruce Wayne e o seu alter-ego surgem pequenos. Menores que o excêntrico Joker, mas também menores que o heróico Dent. Wayne não parece ter motivações por aí além, embora pareça embevecido com a grandiosidade benfeitora de Dent – o que também é estranho – e acaba por se diluír quase como um personagem secundário.
Como com a série de filmes anterior, iniciada por Tim Burton, os personagens secundários têm mais protagonismo do que o cabeça de cartaz. Se em Batman Begins o filme se centra em Wayne e nas suas neuras e no nascimento do Batman, em The Dark Knight chegou a parecer-me despropositado o aparecimento do Batman na sala de interrogatório a estragar uma boa cena de diálogo entre Jim Gordon e o Joker.
E quando num filme do Batman, a entrada do dito em cena parece despropositada, algo não está lá muito bem.
Como nota final, algo que a Dee notou a meio do filme: não há sangue. Este é mais um daqueles filmes assépticos para toda a família. E podia ter. Não precisava de ser gratuito, nem muito, mas algumas cenas poderiam ser um bocadinho menos lavadas.
É um filme para a colecção, sim. Mas mais rapidamente vou rever o Iron Man, que pelo menos é divertidíssimo, do que o Dark Knight que… não é mau, mas…
Ontem, cansado e sentado no chão, a ver o Tiago brincar cheguei-me ao pé da minha mulher e beijei-a por vinte milhões de razões. Passado um bocado sinto um dedo no nariz. Era o Tiago.
Afastei-me dela e fiz o já tradicional “trrim”, correspondente ao dedinho no nariz.
Via Chichas, chegou-me este artigo da Gizmodo sobre o fabrico do Lego. É impressionante e vale a pena ler e, sobretudo, ver os três vídeos que mostram a fábrica completamente automatizada que transforma grânulos de pástico – um subproduto do diesel – em sets completos de Lego, prontos para colocar nas lojas.
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