BES Net e as ilusões dos “termos de utilização”

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

A melhor maneira de ganhar dinheiro é já o ter.

Os bancos funcionam mesmo assim: eles já têm o nosso dinheiro; têm-no todo. É fácil cobrarem-nos seja o que for porque não têm que nos mandar contas, nem andar atrás de nós com facturas: chegam lá, dizem “este é meu” e ‘tá feito.

Hoje fui ví­tima disso mesmo, dessa omnipotência do banco sobre o meu dinheiro e de outra coisa: dos eternos termos de utilização.

É suposto que os leiamos, mas ninguém os lê. E eu não acho que isso seja um defeito das pessoas: não se pode esperar de ninguém que leia documentos extensí­ssimos em letra miúdinha e, mesmo que se esperasse tal coisa, não se pode definitivamente esperar que memorizem tais regras e condições.

Hoje estava no BES Net a ver como anda o nosso dinheiro, tendo em vista a entrada do Tiago para um infantário. Anda como anda Portugal há 500 anos: assim-assim. Mas adiante… enquanto conversávamos sobre as nossas opções, fui clicando mais ou menos ao acaso no menu do BES, entrei em cheques, consulta de cheques e apercebi-me que era possí­vel consultar todos os cheques que já passei daquela conta desde 1999.

Cool!

Pensei eu, naí¯f. Cliquei e, espanto, deu erro. Muito bem, concluí­ que a coisa ainda não funcionava muito bem e passei í  frente. Mal sabia eu que tinha acabado de pagar €1,5 por tal ousadia.

Paguei €1,5 por clicar num link que, ainda por cima, não fez o que era suposto. Consultando o preçário, lá está, escarrapachado: a consulta de cheques online custa €1,5 por cheque. Nem vou discutir o quão bizarro me parece cobrar 300 paus para olhar para um cheque, mas o simples facto de eu não ter recebido qualquer aviso de que estava prestes a incorrer numa despesa, diz-me imediatamente que estou a lidar com um banco: o dinheiro não é meu; o dinheiro é deles e, por acaso, eles deixam-me usar algum dele de vez em quando.

Não me interessa que esteja referido no preçário que existe aquele custo, eu não tenho que saber o preçário de cor, as coisas não podem funcionar assim. Eu tenho que ser informado de que vou ter que pagar por completar uma operação!

Sou cliente do BES desde os 18 anos, portanto está quase a fazer mais anos que sou cliente do que os que não fui. Mas a cada dia que passa, mais me parece que isso vai ter que mudar em breve.

Usufruindo da possibilidade de apresentar uma reclamação online, escrevi-lhes o seguinte texto, com alguma esperança de não receber uma chapa-7, “devia ter lido os termos de utilização”:

Caros Srs,

Foi-me cobrada hoje a visualização de um cheque, um valor de 1,5 euros. Embora tenha posteriormente lido no preçário sobre a existência deste valor, é um erro crasso e indesculpável não apresentarem um aviso aos vossos clientes quando estão prestes a incorrer numa despesa resultante da utilização do BES Net.

Não sabia da funcionalidade de consulta de cheques, que me despertou curiosidade e por isso cliquei. O Clique custou-me 1,5 euros. O que se segue? Agora fico na dúvida sobre todos os links do BES Net.

Não podem esperar que os vossos clientes conheçam de cor e salteado o preçário de serviços e quais são pagos e quais são gratuitos.

Certamente que, num balcão, qualquer um dos vossos colaboradores me informaria de despesas relativas a qualquer serviço que eu solicitasse.

Não bastando o acima descrito, informo que a visualização de cheques falhou, não me tendo sido possí­vel sequer ver o cheque que tinha escolhido consultar.

Em suma, paguei 1,5 euros por absolutamente nada.

Espero, sinceramente, que revejam com urgência a usabilidade do BES Net pois de futuro hesitarei em recorrer-lhe, com receio de estar a pagar por clicar num link que nem funciona.

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19 comentários a “BES Net e as ilusões dos “termos de utilização””

  1. Ahedonia says:

    Owned :D
    Mas sim, estás coberto de razão, como é obvio. Quanto ao BES, fui cliente dos 16 aos 20 anos, quando, já na Univ, me dei conta que a minha conta Jovem Movimento, supostamente sem encargos, estava a tê-los, í  razão de 30 contos/Ano!
    Não cheguei a ler os termos de utilização, mas foi-me dito num balcão que tal era devido ao “elevado” numero de movimentos da minha conta, o que me pareceu completamente bizarro.
    1º Eu não tinha dinheiro. Nenhum.
    2º O dinheiro que caia na conta no inicio do mês, depressa desaparecia, como qq estudante deslocado sabe.
    Resultado:passei a dar uso í  conta CGD associada ao meu cartão de estudante… e pimba!

  2. João says:

    E o pior disto tudo é que o bes (com minúsculas) faz o que entende e as reclamações para o bando de portugal (não foi gralha) não servem de nada…

    Aqui está um relato: http://twolices.blogspot.com/2008/04/nacional-porreirismo-p.html

    É pena não se poder denunciar estes casos…Deveria haver um ente supremo das reclamações!

  3. André Gil says:

    O BES tem uma incrí­vel cobrança de amortização de 1,5€ por cada pagamento do empréstimo.

    Os bancos são o melhor negócio do mundo. Depois de passarmos para nome do banco uma casa (hipoteca), eles emprestam-nos até 90% do valor avaliado da casa. Depois temos hipótese de reaver a casa pagando ao banco o dobro daquilo que nos emprestaram. Pelo meio cobram diversas pequenas quantias avulsas.

    Ora digam lá se não é um bom negócio.

  4. morgy says:

    Já me fartei do BES há muito tempo, tive lá conta durante uns anos que fui obrigada a abrir por ter feito lá um estágiozeco de verão de 1 mês.
    A pinga de água foi não me deixarem fazer operações no homebanking diziam eles por “falta de provisão” quando lá havia dinheiro mais que suficiente.
    O meu pai que trabalhou no BES a vida toda foi logo o primeiro a dizer-me para ir lá cancelar as contas todas.
    Transferi o dinheiro todinho no Multibanco e depois fui lá fechar a conta!

  5. Macaco says:

    E para que banco foste? É que aos meus olhos, eles são todos a mesma choldra…

  6. Danger says:

    eu em tempos abri uma conta no BES tive a treta da conta durante quase 2 semanas ate ver que eles sao um bocado mais ladroes que os outros :P

  7. Macaco says:

    Mas qual é menos ladrão, afinal?

  8. Patricia says:

    É sabido que o BES é o pior, o mais caro, o que mais taxas cobra por tudo e por nada.
    Eu já fui cliente de 4 bancos diferentes, e há 10 anos que sou fiel ao BPI. Nunca tive uma única razão de queixa!

  9. Macaco says:

    É sabido? Xiça, deve ter saí­do uma circular que eu não li. O que eu sei é que as pessoas têm tendência para ver os bancos como clubes e os clubes a que não pertencem são sempre piores.

    Sempre que vejo alguém a fazer um crédito habitação num banco, seja qual for, vejo-os muito contentes com as condições até finalmente se aperceberem dos “catches” e depois o sorriso desaparece.

    Já vi pessoas convencidas que o banco não lhes cobrava taxas por operações, só porque não tinham olhado bem para o extracto.

    Já vi pessoas convencidas que o banco delas era eficiente só porque, na verdade, não iam muito ao banco.

    Gostava de saber se alguém tem informações concretas que justifiquem a seca monumental que é mudar de banco.

  10. zeta says:

    lol
    1,5€ mais IVA.. aconteceu-me exactamente o mesmo.. mas em outro banco.. curiosity killed the cat.. e pimba.. se queres ver os chequezinhos, dá cá o dinheirinho.. e pensei pra mim.. não tens os canhotos? então p’ra que foste ver?Desculpe a intromissão, costumo acompanhar as aventuras da dee e tiago, pois tenho um bebé da mesma idade (com menos 6 dias), e hoje passei por aqui.

  11. Sam says:

    Do BES já fugi há muito tempo! Fugi eu, a esposa, os meus pais, os pais dela… enfim, muitas estórias teria para contar dos abusos destes senhores (taxas e comissões estranhí­ssimas, contas duplicadas, seguros de saúde fictí­cios… enfim, muito twilight zone, mesmo…)

    Mudei para o Santander Totta… alguma papelada e burocracia e já está… pareceu o final do filme “The Mist”, mas ao contrário :-)

  12. Nuno Pimenta says:

    Realmente o BES e o Millenium (pelo menos nos tempos da Nova Rede) têm fama de se fazerem cobrar bastante bem. Do que ouço, porque os meus pais na sua vida profissional têm que contactar com vários bancos, a CGD e o BPI são os menos maus.
    Tenho experiência própria da CGD que é boa. Cobram poucas comissões e o WebBanking, apesar das interrupções nocturnas perfeitamente idiotas, funciona bem e, creio eu, não se paga mais por isso. Nunca experimentei as features dos cheques, portanto não posso avaliar.
    A experiência que tenho com o BPI é relativamente curta, mas sempre foram porreiros. No entanto a conta que tenho lá é um conta especial de estudante sem comissões pelo que não me parece ser um exemplo muito útil.

    E sim, o pessoal vê os bancos como clubes ou como partidos. Se se abre conta num banco o mais provável é não mudar e ficar adepto, o que é péssimo.

  13. Isabel Ferreira says:

    Permitam-me meter a “colherada” mas não resisti…Finalmente acho que o consumidor está a abrir os horizontes no que respeita ao comissionamento encapotado dos bancos. Exerço funções de Gestão na CGD e posso afirmar-te que não encontrarás banco mais transparente no mercado…e não é por ser colaboradora mas porque na competição em que me vi envolvida nos últimos anos me fartei de “desmontar” contratos e produtos financeiros de outras instituições. A lisura tem compensado e denoto uma grande necessidade por parte do cliente a voltar a ter confiança no seu banco e nos interlocutores. Posso tb garantir-te que nunca nos foi pedido para “ocultar” qualquer clausula menos apelativa. Os piores em falso Marketing são o Millenium BCP e o Totta (já me têm feito rir í  gargalhada…) O BPI é porreirinho…ou não fosse du nuorte …Boa sorte na prospecção.

  14. Macaco says:

    Obrigado a todos pela participação interessante.

    Isabel: fui cliente da CGD quando era miúdo, tinha lá uma continha, nada de especial e ficou-me para sempre marcada a ida a um balcão para preencher um papel e receber uma moedinha furada com um número que depois era chamado noutro balcão, para entregar o papel. Ficou-me na memória as horas de espera no balcão da CGD (para um adolescente então, pareciam dias).

    Suponho que já assim não seja, mas é uma imagem difí­cil de eliminar :-)

  15. Isabel Ferreira says:

    Compreendo perfeitamente a tua leitura. Eu própria era cliente do Bes (fechei-a pq eram uns verdadeiros chupas) e do BNU até ao estágio da faculdade em que, contrariada, abri a conta. A diferença é que conheci o Banco de dentro para fora percebes?…e o resto começou a diluir-se. As fichinhas já não existem de facto, apenas as mega Agências têm o sistema MS wait, pelo que aconselho sempre as agências mais pequenas. Deixo-te com os votos de uma boa noite e que um dia destes te deixes surpreender pela velhinha (132 anos) CGD, que possui mt sangue novo :)

  16. morgy says:

    Tenho conta na CGD desde que os meus pais me abriram conta hehe, ou seja, nem sei bem há quantos anos. Nunca tive problema nenhum com a Caixa (nem me cobraram a anuidade do cartão de crédito quando o fui cancelar).
    Também não sou fiel a banco nenhum, já tive contas no BES e noutro por causa de contratos de trabalho e se a do BES resistiu até í  pinga final a do outro banco foi cancelada no dia que sai da tal empresa. O crédito habitação é da Caixa Galicia, descoberto pelo meu pai que ainda trabalhou uns anos no crédito habitação e conhecia as vantagens e condições de quase todos (e me disse logo BES nem pensar!), a conta da casa é no BPI, e o crédito habitação do tiago foi parar ao Barclays!
    Mas a verdade é que quando chegou a altura de abrir conta para o pequenote, escolhemos a CGD. Não houve dúvidas.
    Da minha experiência com o BPI também não tenho qualquer queixa, e tanto para a CGD, como para o BPI e Caixa Galicia faço quase tudo por homebanking, logo não há filas. A única coisa a apontar são mesmo os downtimes rí­diculos do homebanking da CGD. Com os outros nunca tive tal coisa.

  17. Macaco says:

    Mesmo com toda esta informação de todos vós (já agora, obrigado), continuo a não me sentir muito convencido que mudar de banco seja prático e as vantagens de uns e outros compensem a trabalheira que dá.

    Só o ter que fazer nova escritura por causa da mudança do crédito da casa já me dá pesadelos.

  18. Isa says:

    Apesar disso tudo, nós só não desistimos do bes por uma razão muito simples: o homebanking. ainda não vi melhor e mais completo, e raramente falha. o bes directo também nunca nos deixou ficar mal apesar de nem sempre acharmos piada a algumas comissões.
    seguros de vida: check, nem sei quantos são, estão sempre a aparecer. comissões e taxas maradas: check, mas muitas vezes a culpa é da nossa má gestão. de resto, não desgosto, até diria que quando precisamos deles, estiveram lá.

    tive durante muitos anos conta no totta e nem vê-lo! bpi, idem idem, pela péssima experiência que os meus pais tiveram. cgd, não me pareceu má, mas fiquei irritadissima por saber que uma transferência interbancaria demorava alguns três dias (isto há uns anos, não sei se ainda é assim). millenium não conheço mas nem me atrevia, pelo que vejo nas noticias, é o mais corrupto deles todos.

    é como se diz: venha o diabo e escolha!

  19. zelia says:

    obrigada pela informação!

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